Lançamento dia 29 de outubro a partir das 19:30 horas no Instituto Internacional Juarez Machado, localizado na rua Lages, 994, no bairro América em Joinville (SC).
PARA CELEBRAR A PRIMAVERA, UM POEMA DE JOSÉ FERNANDES - GOIÁS
NATUREZA VIVA COM PONTOS
O sangue do crepúsculo se deita no leito
do rio para amar os peixes na brancura das águas
e espalhar o viver pelas beiradas limosas
do encanto e do húmus burburinhando alevinos.
A manhã arrasta o sol e se debruça sobre o verde
para o fervor da ventania nas folhas e nos ramos
que bebem água pelos barrancos emprumados
de sua altivez de pedras mergulhadas no tempo.
Nas escamas dos dourados o sol se enfeita de brilho
e aguarda o lusco-fusco para se despedir da lua
com as mãos estendidas pela abóbada celeste
a fim de saciar a sede do dragão de São Jorge.
Cada tuiuiú que pousa nas copas do vento
sabe de cor as normas de todas as folhas do verão
e viaja altaneiro nas estradas das chalanas
que vencem os remansos todos do outono.
Nas romãs, eu colho as sementes dos pássaros
e caminho para o vermelho da tarde: repouso
nos olhos dos sapos que intanham a noite
e seus mistérios de rio e água indovoltandoindo..
A palavra de Nelson Bortoletto
A PALAVRA
Gosto da palavra
distraída
descoberta na hora certa,
à loa concebida,
para a delícia do contexto.
Não para fazer
rima ou ritmo
mas, para ser sentida.
Gosto da poesia
da entrelinha
que entre a verdade que dizeis
e a minha
propõe sintonizar os sentimentos.
Não se constrói
poesia ou pensamento
com erudição de dicionário.
Pois que se
torna o texto mercenário,
fugaz e torpe, falso e salafrário.
Sem eternidade e
movimento.
VOO MORTO
Um
pássaro azul
jaz morto sobre o gramado.
Nenhum
sinal de violência,
apenas morte.
Natural,
implacável, inadiável.
O
último destino de qualquer vida,
a única angústia justificável.
Fora
ele um belo pássaro
e flutuara solenemente
sobre o teto deste nosso inferno.
Deu-se
em mim um sentimento terno
que pode ser um tácito prenúncio.
Que
poesia dará de mim
tão triste anúncio?
O CORPO
No meio
da avenida
o corpo do homem
ainda morno
contava uma história.
No peito por certo
um amor residira ...
alojara - se agora
o letal projétil
disparado de perto
pelo rejeitado
que louco vingava
o sonho perdido.
E num instante de fúria
estendera
em meio aos passantes
um corpo ex amante,
ex sopro de vida.
NAUFRÁGIO
A
exasperada palavra,
rouca,
gutural, inesperada,
veio no
grito abafado
do amante,
Cujo amor
agora sucumbia.
Onde
andaria a alegria?
E aquele
ardor apaixonado,
do fogo
que vigoroso ardia
na fluidez
do canto,
na
eloquente picardia?
Onde
andaria a luz do dia?
Seu barco,
chacoalhando em desencanto,
sobre um
mar de angústia e pranto
agora
navegava à revelia.
Como se
todo o amor e um outro tanto
ameaçassem
adernar, sem salvação,
na
incompletude abissal
que em dor
nutria.
VERBORRAGIA
Ô... verborrágicos,
toda paixão é vasta!
Para que tantas palavras
se um simples suspiro basta?
Viver ...
Viver
Ser errante entre certezas
Desmanteladas...
Esquartejadas.
Dúvidas...
Um desejo inefável de partir
e... partir-se.
Andante embrenhado em jardins,
precipícios, veredas,
subúrbios e becos sem fim.
O corpo cansado,
a alma em labareda,
tenho o mundo vivendo em mim.
Odenilde Nogueira Martins – 03/09/15
Prosa x Verso, poema x poesia
1. Prosa x Verso
Prosa é o texto escrito de forma corrida, dividido em parágrafos. Num texto em prosa, as informações seguem em linha até a margem direita, continuando na linha seguinte até o fim do parágrafo.
Verso é uma divisão diferente, que acontece em poemas. O verso não leva a informação até o fim da linha, não atrela o fim da linha ao fim da informação. Verso também é o nome dado a cada uma das linhas de um poema (ou canção, que no caso é escrito sob a forma de poema).
Assim, todo texto verbal (com palavras) que existe ou é escrito em prosa ou em verso.
2. Poema x Poesia
Poema é uma estrutura dividida em versos. Um grupo de versos forma uma estrofe. Todas as estrofes juntas formam um poema.
Poesia, não. Poesia refere-se, antes, a tudo o que nos toca. A poesia é a arte da palavra - e, enquanto arte, tem a função de nos encantar ou de nos provocar sentimentos ruins. Em suma, poesia é aquilo que mexe com nossos sentimentos.
Quando trabalho esses conceitos com meus alunos, costumo dizer que "poema é o corpo, poesia é alma". Assim, é possível encontrar poesia na vida, em outras artes e até mesmo em textos em prosa. Um por-do-sol colorido pode ser poético se nos tocar de alguma forma. Não se esqueça de que a arte é aquilo que nos aproxima da nossa dimensão mais humana.
Veja:
O texto de Eduardo Galeano é escrito em prosa. Mas seu lirismo é tal que não podemos negar que ele é, sim, um texto poético - ou seja, que esse texto tem poesia.
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