A PALAVRA
Gosto da palavra
distraída
descoberta na hora certa,
à loa concebida,
para a delícia do contexto.
Não para fazer
rima ou ritmo
mas, para ser sentida.
Gosto da poesia
da entrelinha
que entre a verdade que dizeis
e a minha
propõe sintonizar os sentimentos.
Não se constrói
poesia ou pensamento
com erudição de dicionário.
Pois que se
torna o texto mercenário,
fugaz e torpe, falso e salafrário.
Sem eternidade e
movimento.
VOO MORTO
Um
pássaro azul
jaz morto sobre o gramado.
Nenhum
sinal de violência,
apenas morte.
Natural,
implacável, inadiável.
O
último destino de qualquer vida,
a única angústia justificável.
Fora
ele um belo pássaro
e flutuara solenemente
sobre o teto deste nosso inferno.
Deu-se
em mim um sentimento terno
que pode ser um tácito prenúncio.
Que
poesia dará de mim
tão triste anúncio?
O CORPO
No meio
da avenida
o corpo do homem
ainda morno
contava uma história.
No peito por certo
um amor residira ...
alojara - se agora
o letal projétil
disparado de perto
pelo rejeitado
que louco vingava
o sonho perdido.
E num instante de fúria
estendera
em meio aos passantes
um corpo ex amante,
ex sopro de vida.
NAUFRÁGIO
A
exasperada palavra,
rouca,
gutural, inesperada,
veio no
grito abafado
do amante,
Cujo amor
agora sucumbia.
Onde
andaria a alegria?
E aquele
ardor apaixonado,
do fogo
que vigoroso ardia
na fluidez
do canto,
na
eloquente picardia?
Onde
andaria a luz do dia?
Seu barco,
chacoalhando em desencanto,
sobre um
mar de angústia e pranto
agora
navegava à revelia.
Como se
todo o amor e um outro tanto
ameaçassem
adernar, sem salvação,
na
incompletude abissal
que em dor
nutria.
VERBORRAGIA
Ô... verborrágicos,
toda paixão é vasta!
Para que tantas palavras
se um simples suspiro basta?
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