AH! O LAGO TITICACA - Urda Alice Kleuger

Era bem assim que eu pensava nele desde que o vi pela primeira vez, numa foto no meu livro de Geografia, lá nos tempos de Ginásio: “Ah! O Lago Titicaca!”. Aquela foto em preto e branco do meu livro de Geografia acompanhou-me pela vida afora e, muitos anos depois, em 1993, acabei indo conhecer o lago mais alto do mundo. Nessa época, eu já tinha visto muitas outras foto­grafias do mesmo, já falara com pessoas que o conheciam pessoalmente - enfim, era quase uma expert em Lago Titicaca.

Meus sonhos para o Lago Titicaca eram lindos: eu caminharia durante horas pelas praias que o margeiam, dentro de uma tarde idílica e amena, vendo os mais incríveis panoramas; eu passearia de barco, lentamente, sobre as suas águas que sabia azuis, numa perfeita comunhão com a natureza andina, por horas inesquecíveis, nascidas do sonho suscitado por um livro de Geo­grafia.

Na prática, não foi nada assim. Já fazia dias e dias que eu e minha amiga Sônia vínhamos viajando pelos alti­planos bolivianos, região extremamente árida, seca, e carente de oxigênio (está-se a 4.000 m de altitude). Apesar da aridez e do mal-estar da altitude, é lindo conhecer a Bolívia, com sua cultu­ra tão diferente da nossa, e eu achava que chegar ao Lago Titicaca seria a parte mais linda da viagem.

Saímos, enfim, uma manhã, de La Paz para o Lago Titicaca. Não é longe, e a aproximação dele deu uma melhorada na aridez geral e apareceram arvorezinhas, roças, vegetação em geral, e, principalmente, o estupendo azul do Lago, a se esgueirar pelos entremeios da paisagem de morrinhos, tão lindo ao sol que a minha alma parecia florescer - estava, enfim, chegando ao meu livro de Geografia do Ginásio!

Atravessamo-lo no Estreito de Quitina, e como fiquei surpresa ao ver nele navios de verdade, e a Capitania dos Portos à sua beira! Era uma travessia pequena, que se fez de bal­sa, e eu ansiava por chegar à Copacabana, às suas margens, onde nos demoraríamos por mais de um dia!

Copacabana é a praia do boliviano. Estação balneária muito freqüentada no verão, estava quase abandonada quando lá chegamos, no mês de maio. Além do Lago, a cidade tem a nos oferecer o Santuário de Nossa Senhora de Copacabana, a padroeira da Bolívia, uma praça, diversas ruas, um banco, e um mingintório público (onde se faz xixi), palavra nova do espanhol para mim.

É claro que Sônia e eu dirigimo-nos ao Lago tão logo arranjamos hotel e comemos alguma coisa. Meu coração ba­tia forte de emoção (e de falta de oxigênio) enquanto negociava com um barqueiro um passeio pelo Lago. Embarcamos, eu a molhar a mão na água límpida e gelada da esteira do barco, crente estar vivendo um dos maiores sonhos da minha vida - quando o barqueiro voltou. O passeio todo durara 15 minutos, e não houve o que fi­zesse o safado do barqueiro voltar para a água.

Braba com ele, era hora da outra parte do sonho: longas caminhadas à beira do lago mais alto do mundo. Dei os primeiros passos confiante, mas, 20 metros depois, tive que desistir: a altitude me tirava as forças, o coração dispara­va, a cabeça parecia que ia explodir diante do esforço. Tivemos que contentar-nos, eu e Sônia, em ficarmos sentadas num pedaço de madeira, enquanto, na nossa frente, uma família boliviana apro­veitava para lavar roupa dentro do Lago gelado.

Quando o mal-estar da altitude melhorou um pouco, voltamos lentamente à cidadezinha de Copacabana, passando pelo mingintório público. Gastamos uns 15 minutos conhecendo o Santuário de Nossa Senhora de Copacabana, e depois descobrimos que nada mais havia para fazer às margens do Lago Titicaca. Tu­ristas de todas as partes do mundo, tão aborrecidos quanto nós, espalhavam-se pela praça ou compravam algum artesanato. Todos falavam um pouquinho de espanhol, e quando conversávamos com algum, o papo era invariavelmente o mesmo:

- Vocês são de onde?

- Somos do país tal.

- E vão até onde?

- Vamos a Machupichu.

E aí acabava o vocabulário deles, e o tédio voltava para todos nós. O que foi bom, no Lago Titicaca, foram as trutas, enormes trutas grelhadas que se comia por três dólares, regadas a cuba-libre. Mas os sonhados passeios transformaram-se em desilusão.

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Blumenau, 18 de agosto de 1996.

ÊXTASE: CONTO - KATHERINE MANSFIELD

Êxtase
(1918)

Embora tivesse trinta anos, Bertha Young ainda passava por momentos como aquele, quando queria correr em vez de andar, dar passos de dança subindo e descendo da calçada, brincar de rolar um aro, jogar algo para cima e apanhar no ar ou ficar parada e apenas rir – à toa –, simplesmente rir à toa.

O que fazer se você tem trinta anos e, ao dobrar a esquina da própria rua, de repente é tomada por uma sensação de êxtase, êxtase absoluto! – como se tivesse engolido um pedaço luminoso daquele sol da tarde e que ardesse em seu peito, irradiando uma chuvinha de centelhas em cada partícula, até cada uma das pontas dos dedos...?

Ah, não há maneira de explicar isso sem soar “embriagada e confusa”? Como a civilização é estúpida! Por que ter um corpo se é preciso mantê-lo fechado em um estojo como um raro, um raríssimo violino?

“Não, isso a respeito do violino não é exatamente o que eu quero dizer”, pensou, ao correr degraus acima, tatear na bolsa em busca da chave – que ela esquecera, como sempre – e chacoalhar a caixa de correio.

– Não é bem isso, porque... obrigada, Mary. – Ela entrou no vestíbulo. – A babá já voltou?

– Sim, Madame.

– E as frutas, chegaram?

– Sim, Madame. Chegaram.

– Pode trazer as frutas para a sala de jantar? Vou fazer um arranjo antes de subir.

A sala de jantar estava escura e bem fria. Ainda assim, Bertha tirou o casaco; não podia suportar aquele aperto nem mais um instante, e o ar frio envolveu seus braços.

Mas em seu coração ainda permanecia aquele local luminoso e brilhante – aquela chuva de pequenas centelhas espalhando-se. Era quase insuportável. Ela quase não ousava respirar por medo de intensificá-la, contudo, respirava, respirava profundamente. Quase não ousou olhar para o espelho frio – mas olhou, e o espelho lhe devolveu uma mulher radiante, sorrindo, com lábios trêmulos, com grandes olhos escuros, e um ar de escuta, de espera por algo... divino... e ela sabia que algo aconteceria... inevitavelmente.

Mary trouxe as frutas em uma bandeja, uma tigela de vidro e um prato azul, muito bonito, com um brilho estranho, como se tivesse sido mergulhado em leite.

– Posso acender a luz, Madame?

– Não, obrigada. Estou enxergando muito bem.

Havia tangerinas e maçãs com manchas rosadas. Algumas peras amarelas, macias como seda, algumas uvas verdes cobertas por um brilho prateado e um cacho grande de uvas púrpuras. Estas, ela comprara para que combinassem com o tom do novo tapete da sala de jantar. Sim, isso parecia muito improvável e absurdo, mas foi exatamente por isso que as comprara. Na loja, ela havia pensado: “Preciso ter algumas em tom púrpura para que a mesa combine com o tapete.” E isso parecera fazer sentido naquele momento.

Quando terminou de fazer duas pirâmides com aquelas formas arredondadas e brilhantes, ela se afastou da mesa para avaliar o efeito, e realmente era muito interessante. Como a mesa escura parecia se dissolver na penumbra, o prato de vidro e a tigela azul pareciam flutuar. Era tão incrivelmente bonito, de acordo com seu humor daquele momento, claro... e ela começou a rir.

“Não, não. Estou ficando histérica.” Pegou a bolsa e o casaco e correu pelas escadas acima até o quarto do bebê.

A Babá estava sentada em uma mesa baixa dando o jantar à Pequena B, após o banho. O bebê usava uma camisola de flanela branca e um casaquinho de lã azul, o cabelo fino e escuro estava penteado, preso em um rabinho engraçado. Ao ver a mãe, ela olhou para cima e começou a pular.

– Agora, minha linda, coma tudo e seja uma boa menina – disse a Babá, movendo os lábios de um jeito que Bertha conhecia, e aquilo significava que mais uma vez ela viera ao quarto do bebê no momento errado.

– Ela se comportou bem, Babá?

– Ela foi um docinho a tarde inteira – murmurou a Babá. – Fomos ao parque e, quando a tirei do carrinho, um cachorro grande apareceu e colocou a cabeça no meu joelho. Ela agarrou a orelha dele e puxou. Ah, devia ter visto.

Bertha quis perguntar se não era muito perigoso deixá-la agarrar a orelha de um cachorro desconhecido. Mas não ousou. Ela se levantou olhando para as duas, com as mãos caídas ao lado do corpo, como a garotinha pobre diante da garotinha rica com a boneca.

A menina a olhou outra vez, fitou-a, e então sorriu de um modo tão encantador que Bertha não conseguiu evitar pedir:

– Ah, Babá, me deixe terminar de dar o jantar dela enquanto você arruma as coisas do banho.

– Bem, Madame, não se deve trocar a pessoa que cuida dela quando está comendo – disse a Babá, ainda falando baixo. – Isso a deixa agitada, é bem capaz de perturbar o bebê.

Como isso era absurdo. Por que, então, ter um bebê se ele deve ser mantido – não em um estojo como um violino raro, raríssimo – e sim no colo de outra mulher?

– Ah, eu preciso! – disse ela.

Muito ofendida, a Babá lhe entregou o bebê.

– Não a deixe agitada depois de jantar. A senhora sabe que a agita, Madame. E depois ela me dá tanto trabalho!

Graças a Deus! A Babá saiu do quarto com as toalhas de banho.

– Agora eu tenho você só para mim, coisinha rica – disse Bertha, enquanto o bebê se recostava em seu colo.

Ela comia com prazer, esticava os lábios na direção da colher e, então, balançava as mãozinhas. Algumas vezes, não deixava a colher entrar na boca; e outras, logo que Bertha a enchia, ela jogava tudo aos quatro ventos.

Quando a sopa terminou, Bertha virou-se para a lareira.

– Você é um amor... Você é um amor! – disse, beijando seu bebê quentinho. – Estou orgulhosa de você. Eu adoro você. Adoro.

E de fato ela adorava tanto a Pequena B: quando ela jogava o pescoço para a frente, seus delicados dedinhos do pé que brilhavam translúcidos à luz das chamas da lareira – e toda aquela sensação de êxtase voltou outra vez, e outra vez ela não sabia como expressá-la: o que fazer com aquilo?

– A senhora foi chamada ao telefone – disse a Babá, retornando triunfante e tomando a sua Pequena B.

Ela correu para o andar de baixo. Era Harry.

– Ah, é você, Ber? Veja só. Vou me atrasar. Vou pegar um táxi e chegar o mais rápido que puder, mas então sirva o jantar em dez minutos, pode ser? Está bem?

– Sim, claro. Ah, Harry!

– Sim?

O que tinha a dizer? Não tinha nada a dizer. Ela queria apenas ficar mais um momento perto dele. Não podia gritar simplesmente: “Não foi um dia divino?”

– O que é? – insistir a vozinha do outro lado.

– Nada. Entendu – disse Bertha, e pôs o fone no gancho, pensando em quanto a civilização era mais do que estúpida.

Eles tinham convidados para o jantar. Os Norman Knights – um casal perfeito: ele estava para inaugurar um teatro, e ela estava muito interessada em decoração de interiores –, um rapaz, Eddie Warren, que acabara de publicar um pequeno livro de poemas e que todos convidavam para jantar, e um “achado” de Bertha chamado Pearl Fulton. Bertha não sabia o que a Srta. Fulton fazia. Elas haviam se conhecido no clube e Bertha caíra de amores por ela, já que sempre caía de amores por mulheres bonitas que tinham algo estranho a respeito de si.

O mais curioso era que, embora elas tivessem se encontrado várias vezes e realmente conversado, Bertha não conseguia decifrá-la. Até certo ponto, a Srta. Fulton era, de maneira extraordinária, incrivelmente franca, mas o ponto certo estava lá, e além disso ela não iria.

Havia algo além disso? Harry disse “não”. Achava-a um tanto enfadonha, e “fria como todas as louras, talvez com um toque de anemia no cérebro”. Mas Bertha não concordava com ele; ao menos, ainda não.

– Não, a maneira que ela tem de inclinar a cabeça um pouco para o lado, sorrindo, há algo por trás disso, Harry, e eu preciso descobrir o que é.

– Deve ser um bom estômago – respondeu Harry.

Ele fazia questão de provocá-la com respostas do tipo... “fígado insensível, minha querida” ou “apenas flatulência” ou “mal dos rins”... e assim por diante. Por alguma razão estranha, Bertha gostava, e quase o admirava por isso.

Ela foi para a sala de visitas e acendeu a lareira; em seguida, pegou as almofadas que Mary arrumara com tanto cuidado, jogando-as de volta às poltronas e aos sofás, uma por uma. Isso fez toda a diferença: imediatamente a sala se encheu de vida. Quando ia jogar a última, surpreendeu-se abraçando-a contra o corpo – de uma forma apaixonada, apaixonada. Mas isso não extinguia o fogo em seu peito. Ah, não, teve um efeito contrário!

As janelas da sala de visitas se abriam para um balcão com vista para o jardim. E no outro lado, contra o muro, havia uma árvore alta e delgada, uma pereira na mais plena e generosa floração; erguia-se perfeita, como se pairasse contra o céu em tom de jade. Mesmo àquela distância, Bertha não pôde deixar de notar que não tinha um só botão ou pétala caídos. Embaixo, nos canteiros, as tulipas vermelhas e amarelas pareciam curvar-se na penumbra, com o peso das flores. Um gato cinzento rastejou pela relva, arrastando a barriga, e outro, negro, o seguiu como uma sombra. A aparição dos gatos, tão veloz e precisa, provocou em Bertha um estranho calafrio.

– Os gatos são criaturas que dão arrepios! – balbuciou e, afastando-se da janela, começou a andar de um lado para o outro...

Como os junquilhos aromatizavam a sala quente! Muito forte? Ah, não. E ainda assim, atirou-se numa poltrona, como se estivesse recuperada, e pressionou as mãos contra os olhos.

– Estou tão feliz... tão feliz! – murmurou.

E ela parecia ver a maravilhosa pereira dentro de suas pálpebras com os botões completamente em flor como um símbolo da própria vida.

Sem dúvida – sem dúvida, ela tinha tudo. Era jovem. Harry e ela estavam apaixonados como sempre e se davam maravilhosamente bem, e eram mesmo bons companheiros. Tinha um bebê encantador. Não precisavam se preocupar com di­nheiro. A casa e o jardim os satisfaziam plenamente. E os ami­-gos – modernos, amigos incríveis, escritores e pintores e poetas ou pessoas interessadas em questões sociais: exatamente o tipo de amigos que desejavam ter. E havia os livros, e havia a música, e ela encontrou uma modista maravilhosa, e eles iriam para o exterior no verão e a nova cozinheira deles fazia omeletes maravilhosas...

– Estou sendo ridícula. Ridícula!

Ela se sentou; mas se sentiu muito tonta, quase embriagada. Deve ter sido a primavera.

Sim, foi a primavera. Agora estava tão cansada que não podia se arrastar até o andar de cima para se vestir.

Um vestido branco, um colar de contas de jade, sapatos e meias verdes. Não foi intencional. Ela pensou nessa combinação horas antes de parar diante da janela da sala de visitas.

As pregas do vestido farfalharam levemente quando ela entrou no vestíbulo e beijou a Sra. Norman Knight, que tirava um casaco laranja divertidíssimo, com uma fileira de macacos pretos em torno da bainha e que subiam na frente da roupa.

– ... Por quê? Por quê? Por que a classe média é tão enfadonha, sem nenhum senso de humor?! Minha querida, estou aqui somente por um acaso. Norman foi um anjo protetor. Porque meus queridos macaquinhos perturbaram tanto a todos no trem que no fim um homem simplesmente me devorou com os olhos. Não riu, não achou graça, o que eu teria adorado. Não, apenas encarou, e me perturbou o tempo todo, o tempo todo.

– Mas o melhor de tudo foi – disse Norman, colocando um monóculo com aro de tartaruga no olho –, você não se importa que eu lhe conte isso, Face, não é? (Na casa deles, e entre os amigos, se chamavam Face e Mug.) O melhor de tudo foi quando ela, sentindo-se totalmente farta daquilo, virou-se para a mulher ao seu lado e disse: “Você nunca viu um macaco?”

– Ah, sim! – A Sra. Norman Knight também riu. – Isso também não foi o máximo?

E algo mais engraçado era que agora, sem o casaco, ela de fato parecia uma macaca muito inteligente, que até fizera para si mesma, com cascas de banana, aquele vestido de seda amarela. E seus brincos de âmbar pareciam duas pequenas castanhas penduradas.

– Essa é uma queda trágica, uma queda trágica! – disse Mug, parando diante do carrinho do bebê. – Quando o carrinho entra na sala... – E ele não completou o resto da citação.

A campainha tocou. Era o esbelto e pálido Eddie Warren, (como sempre) em um estado de desespero agudo.

– Esta é a casa certa, não é? – suplicou ele.

– Ah, acho que sim; espero que sim – disse Bertha alegremente.

– Tive uma experiência horrível com o motorista de táxi; ele era tão sinistro. Não conseguia fazê-lo parar. Quanto mais eu batia e chamava atenção, mais rápido ele ia. E à luz da lua essa figura bizarra com a cabeça chata curvada sobre o volantezinho...

Ele deu de ombros, puxando uma imensa echarpe de seda branca. Bertha notou que as meias eram brancas também: muito charmoso.

– Mas que horror! – gritou ela.

– Sim, realmente foi – disse Eddie, seguindo-a até a sala de visitas. – Eu me vi levado eternamente em um táxi atemporal.­

Ele conhecia os Norman Knight. De fato, iria escrever uma peça para Norman Knight, quando o projeto do teatro avançasse.

– Então, Warren, como vai a peça? – perguntou Norman Knight, deixando o monóculo cair e proporcionando ao olho a chance de respirar, antes de atarrachá-lo de novo debaixo da lente.

– Ah, Sr. Warren, que meias engraçadas! – comentou a Sra. Norman Knight.

– Eu estou tão contente por ter gostado delas – disse ele, olhando os próprios pés. – Elas parecem ter ficado bem mais brancas desde que a lua apareceu. – E virou o seu rosto jovem, magro e tristonho para Bertha. – Há uma lua, você sabe.

– Tenho certeza de que sempre há, sempre! – Ela queria gritar.

Realmente ele era uma pessoa das mais atraentes. Mas Face também era, agachada diante do fogo com suas pregas de casca de banana, e também Mug, fumando um cigarro e dizendo, enquanto batia a cinza:

– Por que o noivo deve se atrasar?

– Ora, aí está ele.

Bang, a porta da frente se abriu e se fechou.

– Olá a todos. Desço em cinco minutos – gritou Harry.

Eles ouviram-no subir as escadas. Bertha não podia deixar de sorrir: ela sabia como ele adorava agir sob forte tensão. Afinal, qual é a importância de mais cinco minutos? Mas ele fingiria para si mesmo que importavam além da conta. E então faria questão de chegar à sala extravagantemente calmo e controlado.

Harry tinha tanto gosto pela vida. Ah, como ela apreciava isso nele. E sua paixão pela luta – por encarar tudo que surgia contra si como mais um teste de poder e coragem –, isso ela também entendia. Mesmo quando ocasionalmente podia lhe fazer parecer um pouco ridículo àqueles que não o conheciam bem... Mas havia momentos nos quais ele se atirava numa batalha onde não havia batalha... Ela conversava e ria e, antes de sua chegada (justamente como imaginara), até esquecera que Pearl Fulton não havia aparecido.

– Será que a Srta. Fulton se esqueceu?

– Acho que sim – disse Harry. – Ela tem telefone?

– Ah! Agora vem um táxi.

E Bertha sorriu com aquele ar de propriedade que sempre assumia quando suas descobertas femininas eram recentes e misteriosas.

– Ela vive em táxis.

– Vai engordar se continuar assim – disse Harry friamente, tocando o sino para o jantar. – Uma perigosa ameaça para as mulheres louras.

– Harry... não – advertiu Bertha, rindo para ele.

Outro momento passou enquanto esperavam, rindo e falando, esbanjando tempo à toa, sem perceber. E então a Srta. Fulton chegou, toda de prateado, com uma fita cor de prata prendendo o cabelo louro muito claro, e entrou sorrindo, com a cabeça um pouco inclinada para o lado.

– Estou atrasada?

– Não, de maneira alguma – disse Bertha. – Entre.

Bertha a pegou pelo braço e seguiram para a sala de jantar.

O que havia no toque daquele braço frio que podia atiçar – atiçar – e começar a arder – a arder aquela chama do êxtase com a qual Bertha não sabia lidar?

A Srta. Fulton não olhou para ela; mas raramente olhava para as pessoas diretamente. As pálpebras pesadas cobriam parte dos olhos e um meio sorriso estranho ia e vinha dos lábios como se vivesse mais de ouvir do que de ver. Mas de repente Bertha entendeu, como se o olhar mais longo e íntimo tivesse acontecido entre as duas, como se tivessem dito uma para a outra: “Você também?”, que Pearl Fulton, mexendo a bela sopa vermelha no prato cinza, estava sentindo exatamente o que ela sentia.

E os outros? Face e Mug, Eddie e Harry, suas colheres levantavam e abaixavam – guardanapos passados ligeiramente nos lábios, pão esmigalhado, tilintar de garfos e copos, e conversas.

– Eu a encontrei no Alpha Show, criaturinha esquisitíssima. Não só tinha cortado o cabelo, mas parecia ter tirado um bom pedaço das pernas e dos braços e do pescoço e do pobre narizinho também.

– Ela não é muito liée a Michael Oat?

– O que escreveu Love in False Teeth?

– Ele quer escrever uma peça para mim. Um ato. Um homem. Decide se matar. Dá todas as razões por que deve fazer isso e por que não deve. E assim que ele muda de opinião tanto para fazer ou deixar de fazer: cai o pano. Não é má ideia.

– Como vai chamar isso: “Problema de estômago”?

– Acho que já vi a mesma ideia em uma revista francesa bem desconhecida na Inglaterra.

Não, eles não tinham a mesma sensação. Eles eram uns queridos – queridos –, e ela adorava tê-los ali, à sua mesa, e oferecer comida e vinhos deliciosos. Para dizer a verdade, desejava lhes dizer como eram encantadores, e que grupo decorativo compunham, como pareciam estimular uns aos outros e como lhe faziam lembrar uma peça de Tchekhov!

Harry estava se deleitando com o jantar. Era parte de – bem, não exatamente de sua natureza, e certamente não de sua pose – seu disso ou daquilo, falar sobre comida e se vangloriar de sua “paixão imodesta pela carne branca da lagosta” e “sorvetes de pistache – verdes e frios como as pálpebras das dançarinas egípcias”.

Quando olhou para ela e disse: “Bertha, esse soufflée está excelente!”, ela quase poderia chorar com um prazer infantil.

Ah, por que ela sentia tanta ternura em relação ao mundo todo esta noite? Tudo estava bom – e correto. Tudo que acontecia parecia preencher novamente sua taça transbordante de êxtase.

E, ainda, no fundo da sua mente, estava a pereira. Agora deveria estar prateada, à luz da lua do pobre Eddie, prateada como a Srta. Fulton, que se sentava ali girando uma tangerina nos dedos finos, tão pálidos que pareciam emitir luz.

O que ela simplesmente não podia entender – o que era fenomenal – era como fora capaz de adivinhar o estado de espírito da Srta. Fulton de maneira tão precisa e instantânea. Não duvidou de que estava certa, nem por um momento, e mesmo assim o que a faria continuar? Quase nada.

“Acho que isso realmente acontece muito, muito raramente entre as mulheres. Nunca entre os homens”, pensou Bertha. “Mas, enquanto eu estiver fazendo café na sala de visitas, talvez ela dê um sinal.”

O que queria dizer com isso ela não sabia, e o que aconteceria depois daquilo ela não podia imaginar.

Enquanto pensava assim, ela se viu falando e rindo. Pre­cisava falar por causa de seu desejo de rir.

“Preciso rir ou vou morrer.”

Mas quando percebeu a maniazinha engraçada de Face enfiar algo dentro do decote – como se também mantivesse uma pequena e secreta reserva de nozes ali – Bertha precisou enfiar as unhas nas palmas das mãos para não rir muito.

Finalmente estava terminado. E:

– Venham ver minha cafeteira nova – disse Bertha.

– Nós só temos uma nova cafeteira de quinze em quinze dias – disse Harry. Desta vez, Face pegou o braço de Bertha; a Srta. Fulton inclinou a cabeça para o lado e seguiu.

Na sala, o fogo havia diminuído para um vermelho bruxuleante como “um ninho de bebês de fênix”, disse Face.

– Não acenda a luz agora. É tão bonito.

E abaixou junto ao fogo outra vez. Ela sempre sentia frio... “Sem seu casaquinho de flanela vermelha”, pensou Bertha.

Naquele momento, a Srta. Fulton “deu o sinal”.

– Você tem um jardim? – disse a voz fria e sonolenta.

Isso foi tão primoroso da parte dela que tudo o que Bertha podia fazer era obedecer. Ela atravessou a sala, puxou as cortinas e abriu as janelas compridas.

– Aí está! – disse, inspirando o ar.

E as duas mulheres ficaram de pé lado a lado olhando a esguia árvore florida. Embora estivesse parada, como a chama de uma vela, parecia alongar-se, esticar-se para cima, tremer no ar puro, ficar cada vez mais e mais alta aos olhos atentos – como se fosse tocar a borda da lua redonda e prateada.

Quanto tempo elas passaram de pé ali? Como se ambas tivessem sido capturadas pelo círculo de luz extraterrena, entendendo perfeitamente uma a outra, criaturas do outro mundo, e imaginando o que fariam com todo esse tesouro extasiante que queimava dentro do peito e caía de seus cabelos e de suas mãos em flores prateadas?

Para sempre – por um momento? E a Srta. Fulton murmurou:­

– Sim. É exatamente isso.

Ou Bertha havia sonhado?

Então a luz foi acesa, Face fez café e Harry disse:

– Minha querida Sra. Knight, não me pergunte pelo meu bebê. Nunca a vejo. Não vou me interessar nem um pouco até que tenha um amante. – E, por um momento, Mug tirou seus olhos da estufa e então colocou o monóculo outra vez, e Eddie Warren bebeu café e largou a xícara com uma expressão angustiada como se tivesse visto e engolido uma aranha.

– O que quero fazer é dar uma chance a esses jovens. Acho que Londres está fervilhando com peças de primeira que ainda não foram escritas. O que quero lhes dizer é: “Aí está o teatro. Sigam.”

– Minha querida, sabe que vou decorar uma sala para Jacob Nathans. Ah, estou tão tentada a fazer um desenho de uma loja de peixe frito, o espaldar das cadeiras no formato de frigideiras e lindas batatas fritas bordadas nas cortinas.

– O problema com nossos jovens escritores é que eles ainda são muito românticos. Não se pode embarcar num navio sem ficar enjoado e precisar de uma bacia. Então, por que eles não têm a coragem de pedir a bacia? Um poema horrível sobre uma garota que era violentada por um mendigo sem nariz no bosquezinho...

A Srta. Fulton afundou na poltrona mais baixa e macia, e Harry passou os cigarros.

Pela maneira como ele ficou de pé diante dela e como balançava a caixa de prata dizendo abruptamente: “Egípcios? Turcos? Da Virgínia? Todos estão misturados”, Bertha percebeu que ela não só o entediava; ele realmente não gostava dela. E pela maneira que a Srta. Fulton disse: “Não, obrigada, não vou fumar”, sentiu o mesmo, e ficou magoada.

“Ah, Harry, não a odeie. Está enganado a respeito dela. Ela é maravilhosa, maravilhosa. Além disso, como pode se sentir de modo tão diferente a respeito de alguém que significa tanto para mim?

Vou tentar lhe dizer o que tem acontecido quando estivermos na cama esta noite. Tudo o que ela e eu temos compartilhado.”

E, com essas últimas palavras, algo estranho e quase horripilante passou pela mente de Bertha. E esse algo cego e sorridente sussurrou: “Essas pessoas vão embora logo. A casa ficará silenciosa,silenciosa. As luzes vão se apagar. E você e ele ficarão sozinhos no quarto escuro – a cama quente...”

Ela se levantou rápido da cadeira e correu ao piano.

– Que pena que ninguém toque! – ela disse. – Que pena que ninguém toque.

Pela primeira vez na vida, Bertha Young desejou o marido.

Ah, ela o amara, é claro, esteve apaixonada de algum modo, mas não daquela maneira. E é claro que, da mesma forma, tinha entendido que ele era diferente. Discutiram isso tantas vezes. A princípio ficou terrivelmente preocupada ao descobrir que era tão fria, mas depois de algum tempo isso pareceu não importar. Eram tão francos um com o outro – tão bons companheiros. Isso era o melhor de ser moderno.

Mas agora – ardentemente! Ardentemente! A palavra lhe doía em seu corpo ardente! Era a isso que aquela sensação de êxtase lhe levava? Mas então...

– Minha querida – disse a Sra. Norman Knight –, sabemos que é uma desfeita. Mas somos vítimas do tempo e do trem. Moramos em Hampstead. Foi tão bom.

– Acompanho vocês até o vestíbulo – disse Bertha. – Adorei a visita. Mas não podem perder o último trem. Isso é tão ruim, não é?

– Um uísque antes de ir, Knight? – convidou Harry.

– Não, obrigado, meu velho.

Bertha apertou ainda mais a mão dele, agradecida por isso.

– Boa noite, adeus – gritou do degrau de cima, sentindo que esse seu eu estava livre deles para sempre.

Quando voltou à sala de visitas, os outros estavam de ­partida.

– ... Então você pode vir no meu táxi parte do trajeto.

– Eu ficaria tão agradecida por não ter de enfrentar outro motorista sozinha depois da minha terrível experiência.

– Você pode pegar um táxi no ponto bem no final da rua. Só precisa andar mais um pouco.

– Que bom. Vou colocar meu casaco.

A Srta. Fulton foi em direção ao vestíbulo e Bertha a seguia quando Harry quase a empurrou ao passar.

– Vou ajudá-la.

Bertha sabia que ele estava arrependido da indelicadeza – ela o deixou passar. Como ele era infantil em alguns aspectos. Tão impulsivo... tão... simples.

E ela e Eddie ficaram perto da lareira.

– Já viu o novo poema de Bilk chamado “Table d’Hôte”? – perguntou Eddie gentilmente. – É maravilhoso. É da última Antologia. Tem um exemplar? Eu adoraria lhe mostrar. Começa com um verso incrivelmente bonito: “Por que sempre deve ser sopa de tomate?”

– Sim, eu conheço – disse Bertha.

E ela foi silenciosamente até a mesa em frente à porta da sala e Eddie deslizou silenciosamente atrás dela. Ela pegou o livrinho e lhe deu; não emitiram ruído algum.

Enquanto ele consultava o livro, ela virou a cabeça para o vestíbulo. E ela viu... Harry com o casaco da Srta. Fulton nos braços e a Srta. Fulton com as costas voltadas para ele e a cabeça inclinada.

Ele jogou o casaco de lado, colocou as mãos nos ombros dela e a puxou violentamente contra si. Os lábios dele disseram “Eu te adoro”, e a Srta. Fulton passou os dedos da cor do luar no rosto dele e deu o seu sorriso sonolento. As narinas de Harry tremeram; tinha os lábios crispados em um horrendo sorriso quando sussurrou: “Amanhã”, e com as pálpebras a Srta. Fulton disse: “Sim.”

– Aqui está – disse Eddie. – “Por que sempre tem de ser sopa de tomate?” É tão verdadeiro, não acha? Sopa de tomate é tão pavorosamente eterna.

– Se preferir – disse a voz de Harry do vestíbulo, muito, muito alta, – posso telefonar e pedir um táxi aqui na porta.

– Ah, não. Não é preciso – disse a Srta. Fulton, que se aproximou de Bertha e lhe estendeu os dedos finos.

– Adeus. Muito obrigada.

– Adeus – disse Bertha.

A Srta. Fulton segurou a mão dela por um instante a mais.

– Sua pereira é linda! – murmurou.

E então foi embora, com Eddie a seguindo, como o gato negro seguindo o gato cinzento.

– Vou fechar a loja – disse Harry, extravagantemente calmo e contido.

“Sua pereira é linda – linda – linda!”

Bertha simplesmente correu até as amplas janelas.

– Ah, o que vai acontecer agora? – gritou.

Mas a pereira estava linda, repleta de flores e imóvel como sempre.

(Tradução de Mônica Maia)


Katherine Mansfield foi uma escritora de contos que nasceu na Nova Zelândia e morreu muito jovem, de tuberculose, em 1923. Seus contos são muito admirados por grandes escritores: Virginia Woolf deixou registrado em seu diário que tinha ciúmes de Katherine Mansfield, por causa do estilo da escrita dela. As duas chegaram a se conhecer, frequentaram a casa uma da outra, trocaram cartas e escreveram em revistas da época sobre seus respectivos livros (com comentários inflamados que acabou por abalar a amizade delas); Clarice Lispector pegou um livro dela da prateleira de uma biblioteca e não conseguiu parar de ler, leu todo o conto em pé, admirada; Vinícius de Moraes escreveu um soneto para ela. Enfim, Katherine Mansfield viveu pouco, mas deixou um belo registro sobre a vida, as sutilezas do cotidiano reveladas em situações surpreendentes.

Oficina de conto / agende-se

Será no dia 23/09, das 09:00 às 17:00h, Harmonia Lira - Joinville

OFICINA DE CONTOS

PROGRAMA

OBJETIVO: Estudar e analisar o conto mundial e o conto brasileiro; desvendar a estrutura e a linguagem do conto; incentivar novos contistas; aprimorar a arte do conto.

PÚBLICO: professores, escritores, estudantes.

CONTEÚDO:
- AS ORIGENS DO CONTO
- O CONTO MUNDIAL
- O CONTO BRASILEIRO
- O CONTO LATINO AMERICANO
- CONTO, NOVELA E ROMANCE
- A ESTRUTURA DO CONTO
- A LINGUAGEM DO CONTO
- MINICONTOS
- DICAS DE COMO ESCREVER O CONTO


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PALESTRANTE: DAVID GONÇALVES - escritor, professor e mestre em Literatura Brasileira, premiado nacionalmente, com mais de 20 livros publicados, entre eles: Geração viva, contos, Bola de fogo, contos, O sol dos trópicos, romance, Sangue verde, romance, Pés-vermelhos, contos, Entrem e sejam bem-vindos, contos.

Pés-vermelhos - adquira seu exemplar

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Adquira seu exemplar através do email: david.goncalves@uol.com.br

Desabafo

Rodrigo Janot falou em organização criminosa: Lula, Dilma, Palocci, Mantega, Gleisi, Edinho, Paulo Bernardo, Vaccari. Quem era mesmo o chefe da quadrilha? E os demais quadrilheiros? Que a Nação não permita que se safem! Vamos lá! Acorda, povo! Está na hora de deixar de lado qualquer ideologia partidária! O que se tem visto, não dá pra negar e acreditar em inocência! Inocentes são os que acreditam nessa corja! Pronto! Falei! Causa-me incredulidade ver gente defendendo essa gente! Hora de defendermos a nós mesmos!

Odenilde Nogueira Martins - 06/09/2017

Roda viva - crônica / Donald Malschitzky

Pelos cantos, às vezes entre temerosos sussurros, falcatruas, roubos, desaparecimentos, fortunas, subornos, códigos de silêncio são motivo de longas histórias, irreais aos olhos e ouvidos de ouvintes com dificuldade de mensurar o que significa a palavra “bilhões”, por exemplo.

Roupas feitas sob encomenda, brilhosos sapatos, cabelos bem aparados, viagens deslumbrantes, hotéis de luxo impensável, jantares de sonho, companhias dispostas e inacessíveis sequer aos sonhos dos cidadãos que respiram ares normais, esses pobres ares que estão aí, à nossa disposição. Cidadãos lembrados apenas como massa de manobra, consumidores e provedores. Bajulados pelos poderosos, às vezes, pois é preciso que existam aqueles que consomem e sustentam.

Amigos viram inimigos e inimigos viram amigos do peito, a depender das conveniências de momento ou de futuro, pois às vezes não vale a pena digladiar-se ou eliminar quem, no fundo, pode ser bem útil para seus propósitos. De qualquer forma, melhor tomar cuidado nesse ambiente pantanoso, repleto de traições e delações, pois quem já mudou de lado uma vez, pode fazê-lo novamente.

Estando do mesmo lado ou lados contrários, a forma de agir é sempre similar: aproveitam-se de comoções e desgraças, de necessidades não atendidas de quem se contenta com quase nada, e fazem fortunas incalculáveis, não importa quanto custam em miséria, doenças, vidas. Nada, para eles, merece respeito, e como instituições e empreendimentos foram construídos são apenas detalhes que não devem ser considerados.

São conhecidos e reconhecidos, mas sempre há multidões que os bajulam, admiram, riem de suas piadas sem graça, criam mitos, falam de suas fortunas com admiração e entusiasmo. Nunca falta quem os trate como heróis e não admite o que verdadeiramente são.

Manipulam autoridades, submetem juízes, compram testemunhas, saem ilesos e, quando condenados, culpam quem os condenou. Raramente são realmente presos e, quando isso acontece, muitas vezes, usufruem de mordomias impensadas. Da prisão, continuam a mandar e desmandar em suas redes criminosas.

Julgam-se intocáveis e onipotentes, e parece que o são mesmo.

Este é um resumo da trajetória do crime organizado na história da humanidade, mas não tem como evitar uma sensação bem brasileira e atual de “déjà vu”.

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O Muro de Berlim - Urda Alice Klueger

Em 1961, quando construíram o Muro de Berlim, eu tinha nove anos, e mal-e-mal sabia que Berlim ficava na Alemanha. Essas coisas de Alemanha dividida, de pós-guerra, de bloco capitalista e socialista, eram todas coisas das quais eu ainda não tinha consciência. Sabia, porém, como não podia deixar de ser, que a Alemanha havia sofrido muito durante a guerra, pois ouvia as inúmeras histórias das pessoas de Blumenau, que mandavam pacotes com comida e roupa para seus parentes do castigado país, e espantava-me ao saber que as roupas enviadas tinham que ser lavadas uma vez, para não parecerem novas, e outros detalhes assim, coisas que uma criança do pós-guerra, em Blumenau, sempre acabava ouvindo.

Havia, até, uma piada que eu achava engraçada e tétrica, que circulava nessa época, sobre a história de se mandar pacotes com comida para a Alemanha. Uma família escreveu para seus parentes de lá informando que seguia pelo correio (via navio) uma caixa com pó para pudim. Acontece que a avó da família, que vivia aqui em Blumenau, morreu. Ela sempre tinha pedido que, quando morresse, fosse cremada, e suas cinzas enviadas à Alemanha. A família cumpriu seu desejo: cremou a avó, colocou suas cinzas numa caixa, e enviou a mesma, via aérea, para a Alemanha. Seguiu uma carta, também, explicando que estariam chegando as cinzas da avó, só que tal carta se atrasou. Quando chegou a caixa com as cinzas, os parentes de lá acharam que era a caixa com o pó para pudim, e não deu outra: fizeram pudim com as cinzas da avó, comeram a avó. Piada sem graça que circulava em Blumenau na década de sessenta.

Pois bem, a Alemanha, para mim, ainda era aquela do pessoal que fez pudim com a avó, quando, um dia, na igreja, o padre falou sobre uma coisa estarrecedora: uma cidade fora brutalmente dividida por um muro que separara pais de filhos, irmãos de irmãos, amigos de amigos. Pintou as coisas com as piores cores (e as cores eram feias mesmo), e convidou o pessoal da missa para ir ver uma exposição fotográfica sobre o assunto, que passava pela cidade, e que estava exposta no nosso Teatro Carlos Gomes.

Um dia ou dois depois, aquilo ainda estava na minha cabeça, e avisei minha mãe que ia ver a exposição. Creio, hoje, que aquela foi a primeira vez que entrei no nosso imponente Teatro Carlos Gomes, que parecia muito mais imponente ainda por eu só ter nove anos.

Gente, eu não esqueci daquilo até hoje! Sem quem me orientasse na exposição (fora sozinha), devo ter passado horas e horas olhando aquelas fotos e lendo as legendas. Aquilo era muito mais chocante do que o padre falara: as imagens tinham uma força como eu não sabia, uma força que as décadas seguintes aproveitariam com força nos meios de comunicação, mas que, naqueles tempos de rádio, a gente ainda não conhecia.

Cruamente cruel, lá estava o muro tapando as janelas dos prédios, deixando os moradores sem luz. Sem disfarces, lá estavam as guaritas com os soldados armados, que vigiavam a faixa de cem metros, cheia de obstáculos, onde não se podia passar. Lá estavam os rolos de arame farpado, as armadilhas, o terreno minado. E, o que era pior para mim, lá estava o muro interrompendo as ruas – e se interrompessem a minha rua, e eu não pudesse mais ir para a escola, ou na casa da tia Fanny? A agressão daquelas fotos entrou na minha pequena alma de nove anos com toda a força: acho que foi a primeira vez que dei de cara, mesmo, com a crueldade. O padre já tinha falado que muitas pessoas estavam morrendo metralhadas, por lá, na tentativa de fugir para Berlim Ocidental, e minha imaginação fértil via as pessoas correndo sob o foco dos holofotes e sendo ceifadas por armas poderosas. O horror daquilo ficou indelevelmente marcado na minha vida. Creio que, quando saí de lá, senti alívio: Berlim era muito longe, numa remota Alemanha, país onde se comiam avós pensando-se que eram pudins – aquilo nunca aconteceria na minha pequena realidade de Blumenau.

Quase trinta anos depois, em 1989, quando o muro caiu, eu senti um alívio imenso. A minha angústia de 1961 vivera comigo todos aqueles anos. E eu exultei como os jovens alemães de 1989 exultaram, e, meses depois, vi um pedacinho de muro que um rapaz de Blumenau havia recebido como souvenir: ingênuo e inofensivo, o pedacinho de muro estava numa caixinha de jóias, apoiado sobre algodão. Não parecia ter aquele horror de 1961, mas eu sabia que tinha.

Urda Alice Klueger - Blumenau, 28 de junho de 1997.

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A garra de um Pé-Vermelho - cordel / Afonso de Sousa Cavalcanti

As energias de um grande escritor
Foram canalizadas com bom frescor,
Na exata criação de uma bela saga. 
Ele organizou louvores à terra vermelha
E buscou em sua alma aquela centelha
Que o Criador lhe deu nas horas vagas.

O sonho de Santônio de ser proprietário,
Carregou sua família a um novo cenário 
Para ela experimentar um novo labor.
Ao lado de Isabel e abraçado às crianças
Aquele pai olha os céus e vê esperanças,
Não importando com o infortúnio e a dor. 

A Quadrínculo já estava no mapa traçada
E as distâncias se venciam por estradas
Que ziguezagueavam em todas as direções. 
Surgia ali um cenário social, religioso e político,
Não podendo contar com um povo crítico,
Mas sim uma massa rendida por seduções.

A trama da saga da grande obra Pés Vermelhos
É de fato um modelo, um enorme espelho
Que o escritor David Gonçalves ao povo entrega.
No tecido das ideias, facilmente se vê o oprimido,
Pois o escritor argumenta e não quer alarido
Acerca da defesa do pobre que o rico esfrega.

O grande romance não poupa jagunços e valentões,
Não esconde a luxúria, a vaidade, o sexo e as paixões,
Ele vai fundo: filosofa, faz críticas ao certo e ao errado.
O analista da saga viaja no tempo e faz justiça social,
Enfrenta os poderosos e apresenta um trato igual,
Usa de sua sensibilidade e pelo diálogo é acompanhado.

Cafeicultores, trabalhadores, religiosos, comerciantes,
Todos os que formam a Quadrínculo são significantes,
Pois sem eles, sem as ações deles, não haveria a memória.
Gabriel não teria aparecido e se entusiasmado a escrever,
Bons e maus não viriam à próspera Quadrínculo para ser
Os personagens pés vermelhos apresentados na história.

E para findar e deixar o registro desse pretenso cordel,
Chamo os personagens históricos Santônio e Isabel
Que ajudaram na colonização do Estado do Paraná.
Então foi preciso dar nome a todos os personagens
Da obra Pés Vermelhos, uma riqueza de mensagens
Que o escritor renomado lapidou e hoje se nos dá.

Afonso de Sousa Cavalcanti - Mandaguari, 2 de setembro de 2017.
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30 livros obrigatórios para ler durante a vida, segundo a Amazon



A empresa de comércio eletrônico Amazon disponibilizou em seu site uma lista com 100 livros para ler durante a vida, que inclui publicações de diferentes gêneros e para todas as idades. A Bula refinou a seleção e escolheu, dentre os 100 títulos, 30 romances canônicos, que são absolutamente necessários. Além de verdadeiras obras-primas de seus autores, os livros são aclamados pelo público e pela crítica em todo o mundo. Entre eles, estão clássicos fundamentais como “O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald; “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger; e “O Sol é Para Todos”, de Harper Lee. As descrições foram adaptadas das sinopses das editoras.

POR JÉSSICA CHIARELI


O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald

Publicado em 1925, “O Grande Gatsby” é um livro sobre a Era do Jazz, os anos prósperos e loucos que sucederam a Primeira Guerra Mundial. Depois de dois romances e vários contos de sucesso, Fitzgerald estava disposto a escrever algo novo, extraordinário, belo e simples. Não podia ter sido mais bem-sucedido. Com este livro, ele conquistou seu lugar entre os maiores escritores de seu tempo.
O Conto de Aia, de Margaret Atwood

O livro é ambientado em um futuro próximo e tem como cenário Gilead, um Estado teocrático e totalitário, localizado onde um dia existiu os Estados Unidos. Anuladas por uma opressão sem precedentes, as mulheres não têm direitos, e são divididas em categorias: esposas, marthas, salvadoras e aias. As aias são as que pertencem ao governo e existem unicamente para procriar.

O Estrangeiro, de Albert Camus

A trama é centrada nas desventuras de Mersault, condenado à morte por matar um homem a troco de nada. O protagonista leva uma vida banal, que sai do controle quando ele recebe, indiferentemente, a notícia da morte da mãe. Após descobrir a fatalidade, ele comete o crime, é preso e julgado. Todos os fatos são apresentados de uma maneira gratuita, sem sentido, apenas mais um homem arrastado pela correnteza da vida.

O Mundo se Despedaça, de Chinua Achebe

O romance é considerado o fundador da literatura moderna nigeriana. Ele narra a história de Okonkwo, guerreiro da etnia Ibo, estabelecida no sudeste da Nigéria, às margens do rio Níger. Com a chegada do colonizador branco — que traz consigo o cristianismo, uma nova forma de governo e a polícia — , os valores Ibo são abalados, e ocorre um choque de culturas.

A História Secreta, de Donna Tartt

Richard Papen é admitido na seleta Hampden, uma universidade frequentada pela elite norte-americana. Ele e outros cinco alunos são selecionados por um professor para se dedicarem ao estudo da Grécia Antiga. O grupo passa os fins de semana em uma antiga casa de campo, onde fazem discussões filosóficas regadas a muito álcool. Certa vez, o encontro termina em uma orgia cujo ponto culminante é um ato de violência.

Servidão Humana, de W. Somerset Maugham

“Servidão Humana” é um dos romances mais emblemáticos do século 20 e a obra-prima de Somerset Maugham. A narrativa é centrada em Philip Carey, que sai de casa em busca de uma carreira como artista em Paris. No entanto, seus planos são colocados em xeque quando ele se apaixona perdidamente por uma mulher. Em nome do desejo, ele aceita o desafio de abrir mão de sua dignidade para conquistá-la.

A Época da Inocência, de Edith Wharton

Vencedor do Prêmio Pulitzer de 1921, o romance destaca a inquietação da sociedade aristocrata nova-iorquina do fim do século 19 com a chegada da condessa Ellen Olenska. Ela retorna aos Estados Unidos após desfazer o casamento na Europa e se aproxima de Newland Archer, noivo de sua prima, a bela May Welland. Os dois acabam se apaixonando em uma época em que manter as aparências era mais importante que o amor e a felicidade.

O Complexo de Portnoy, de Philip Roth

Alexander Portnoy é um jovem e bem-sucedido advogado nova-iorquino, que tenta resolver seus problemas sexuais no divã de um psicanalista. O personagem discorre alternadamente sobre o passado — a infância, a adolescência dedicada à prática da masturbação e a tentativas frustradas de perder a virgindade — e sua vida atual — o relacionamento conflituoso com a amante, a separação e uma viagem a Israel.

Os Contos Escolhidos, de Alice Munro

A coleção reúne 28 contos marcados por humor e um poder emocional incomparável. Alice Munro conta a história de personagens singulares, como um caixeiro-viajante que leva seus filhos a uma viagem de última hora; e uma mulher abandonada que precisa escolher entre a sedução e a solidão. As tramas despretensiosas sucumbem o leitor a um encanto que não o permite desgrudar os olhos das páginas.

O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger

Originalmente publicado em 1951, “O Apanhador no Campo de Centeio” só alcançou o sucesso de público anos depois, apesar de bem recebido pela crítica. A trama é centrada no adolescente Holden Caufield, que narra as aventuras pela estrada até as ruas noturnas de Nova York, onde passa o fim de semana. A viagem não é apenas externa, mas, principalmente, pelo interior do jovem em um período crucial do seu desenvolvimento. O romance gerou bastante polêmica após acusações de que estaria estimulando o comportamento psicótico nos jovens. Especialmente após a morte de John Lennon, quando um exemplar da obra foi encontrado com o assassino do artista.

O Diário de Anne Frank

“O Diário de Anne Frank”, publicado originalmente em 1947, se tornou um dos relatos mais impressionantes das atrocidades e horrores cometidos contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A força da narrativa desta adolescente — que mesmo com sua pouca experiência de vida foi capaz de escrever um testemunho de humanidade e tolerância — a tornou uma das figuras mais conhecidas do século 20.

As Correções, de Jonathan Franzen

Jonathan Franzen, uma das revelações da literatura americana, conta uma saga contemporânea tragicômica, que vai de Nova York à Lituânia, e expõe dramas pessoais, crises conjugais e os conflitos que separam duas gerações de uma típica família dos Estados Unidos nos anos 1990. Sucesso de público e crítica, o romance recebeu o National Book Award 2001.

O Sol é Para Todos, de Harper Lee

Considerado um livro sobre racismo e injustiça, “O Sol é Para Todos” conta a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos, em 1930, e enfrenta represálias da comunidade racista. A trama é narrada pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça.

A Estrada, de Cormac McCarthy

Em um futuro não muito distante, o planeta encontra-se totalmente devastado. As cidades foram transformadas em ruína, as florestas se transformaram em cinzas, os céus ficaram turvos e os mares se tornaram estéreis. Os poucos sobreviventes vagam em bandos. Um homem e seu filho não possuem praticamente nada. Apenas cobertores puídos, um carrinho de compras com poucos alimentos e um revólver com algumas balas.

On The Road, de Jack Kerouac

Sal Paradise é o narrador de “On The Road”. Ele vive com sua tia em Nova Jersey, Estados Unidos, enquanto tenta escrever um livro. Em Nova York, conhece um andarilho chamado Dean Moriarty. Dean é cinco anos mais novo que Sal, mas compartilha o seu amor por literatura e jazz e a ânsia de correr o mundo. Tornam-se amigos e, juntos, atravessam os Estados Unidos, de New Jersey até a Costa Oeste.

Homem Invisível, de Ralph Ellison

“Homem Invisível” é a história de um jovem negro que sai do sul racista dos Estados Unidos e se muda para o Harlem, em Nova York, nos primeiros anos do século 20. Com o passar do tempo, entre experiências frequentemente contraditórias, o protagonista conhece um mundo muito diferente daquele que idealizou. Invisível para brancos racistas, e também para negros radicais, ele deseja apenas ser como é.

Lolita, de Vladimir Nabokov

“Lolita” é um dos mais importantes romances do século 20. Polêmico e irônico, ele narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, de 12 anos. Nabokov compôs a maior parte do manuscrito — que ele mesmo chamou de “bomba-relógio” — entre 1950 e 1953. Nos dois anos seguintes, ouviu recusas de várias editoras. O livro foi publicado apenas em 1955.

O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel García Márquez

Ainda muito jovem, o telegrafista, violinista e poeta Gabriel Elígio Garciá se apaixonou por Luiza Márquez, mas o romance enfrentou a oposição do pai da moça, coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento enviando a filha ao interior numa viagem de um ano. Para manter seu amor, Gabriel montou, com a ajuda de amigos telegrafistas, uma rede de comunicação que alcançava Luiza onde ela estivesse.

O Sol Também se Levanta, de Ernest Hemingway

“O Sol Também se Levanta” retrata os conflitos e frustrações dos norte-americanos e ingleses em Paris, após a Primeira Guerra Mundial. A trama é centrada em diferentes personagens: Jake Barnes, jornalista emasculado por um ferimento de guerra; Lady Brett Ashley, jovem viúva inglesa; Robert Cohn, escritor em busca de seu caminho; Mike Campbell, um playboy inglês; e Pedro Romero, um toureiro espanhol.

O Nome da Rosa, de Humberto Eco

Durante a última semana de novembro de 1327, em um mosteiro franciscano italiano, paira a suspeita de que os monges estejam cometendo heresias. O frei Guilherme de Baskerville é, então, enviado para investigar o caso, mas tem sua missão interrompida por excêntricos assassinatos. A morte, em circunstâncias insólitas, de sete monges em sete dias, conduz uma narrativa violenta, que atrai por seu humor, crueldade e sedução erótica.

A Sangue Frio, de Truman Capote

Com o objetivo de fazer uma reportagem sobre o assassinato do casal Clutter e seus dois filhos, ocorrido em 1959 na cidade de Holcomb, nos Estados Unidos, Truman Capote passou mais de um ano na região, entrevistando os moradores e investigando as circunstâncias do crime. Sem gravador ou bloco de notas, munido apenas de sua prodigiosa memória, Capote produziu um clássico do jornalismo literário.

Catch-22, de Joseph Heller

O clássico de Joseph Heller é ambientado na Segunda Guerra Mundial. Antibelicista e satírico, ele consagrou Joseph Heller no meio literário. A obra foi livremente inspirada nas próprias experiências do autor, que entrou para a United States Army Air Corps e aos 20 anos foi enviado para a Itália, onde voou em 60 missões de combate como bombardeador em um B-25.

Grandes Esperanças, de Charles Dickens

“Grandes Esperanças” é centrado em Pip, um órfão criado rigidamente pela irmã num lar humilde e disfuncional. Após herdar inesperadamente uma fortuna, ele rejeita a família e os amigos por se envergonhar da própria origem, e decide se mudar para Londres. Na nova cidade, ele conhece Estella, com quem deseja se casar. No entanto, a mulher rejeita seus sentimentos.

Os Filhos da Meia-Noite, de Salman Rushdie

Nascido à meia-noite de 15 de agosto de 1947, momento oficial da independência da Índia, Salim Sinai tem seu destino imbricado com a história do país. Um mar de aventuras fantásticas narradas no estilo irônico e exuberante de Rushdie. A obra rendeu ao autor o Booker Prize de 1981, e também o de 1993, que foi conferido ao melhor livro publicado durante os primeiros 25 anos do prêmio literário britânico.

Matadouro 5, de Kurt Vonnegut

O livro conta a enlouquecida, fantasiosa, sarcástica, engraçada, satírica, irônica e triste história de Billy Pilgrim, um americano médio e interiorano que passa a se deslocar no tempo e visita diversos momentos de sua própria vida. O ponto crucial da existência de Billy é o episódio em que ele — um soldado lutando na Segunda Guerra — é feito prisioneiro e vivencia o bombardeio da cidade alemã de Dresden.

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen

A história é centrada no lar dos Bennet, família com não menos que cinco noivas em potencial: Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia. Quando o sr. Bingley e o sr. Darcy, dois jovens distintos, chegam a Hert­fordshire, todas ficam em alerta: eles são solteiros, bonitos e, claro, donos de uma boa fortuna. O que poderia ser uma típica história de amor é, na verdade, um espetáculo de grandes personagens e diálogos sagazes.

Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

O livro descreve um governo totalitário, num futuro próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instalados em suas casas ou em praças ao ar livre. A leitura deixou de ser meio para aquisição de conhecimento crítico e tornou-se apenas instrumental.

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