Pelos cantos, às vezes entre temerosos sussurros, falcatruas, roubos, desaparecimentos, fortunas, subornos, códigos de silêncio são motivo de longas histórias, irreais aos olhos e ouvidos de ouvintes com dificuldade de mensurar o que significa a palavra “bilhões”, por exemplo.
Roupas feitas sob encomenda, brilhosos sapatos, cabelos bem aparados, viagens deslumbrantes, hotéis de luxo impensável, jantares de sonho, companhias dispostas e inacessíveis sequer aos sonhos dos cidadãos que respiram ares normais, esses pobres ares que estão aí, à nossa disposição. Cidadãos lembrados apenas como massa de manobra, consumidores e provedores. Bajulados pelos poderosos, às vezes, pois é preciso que existam aqueles que consomem e sustentam.
Amigos viram inimigos e inimigos viram amigos do peito, a depender das conveniências de momento ou de futuro, pois às vezes não vale a pena digladiar-se ou eliminar quem, no fundo, pode ser bem útil para seus propósitos. De qualquer forma, melhor tomar cuidado nesse ambiente pantanoso, repleto de traições e delações, pois quem já mudou de lado uma vez, pode fazê-lo novamente.
Estando do mesmo lado ou lados contrários, a forma de agir é sempre similar: aproveitam-se de comoções e desgraças, de necessidades não atendidas de quem se contenta com quase nada, e fazem fortunas incalculáveis, não importa quanto custam em miséria, doenças, vidas. Nada, para eles, merece respeito, e como instituições e empreendimentos foram construídos são apenas detalhes que não devem ser considerados.
São conhecidos e reconhecidos, mas sempre há multidões que os bajulam, admiram, riem de suas piadas sem graça, criam mitos, falam de suas fortunas com admiração e entusiasmo. Nunca falta quem os trate como heróis e não admite o que verdadeiramente são.
Manipulam autoridades, submetem juízes, compram testemunhas, saem ilesos e, quando condenados, culpam quem os condenou. Raramente são realmente presos e, quando isso acontece, muitas vezes, usufruem de mordomias impensadas. Da prisão, continuam a mandar e desmandar em suas redes criminosas.
Julgam-se intocáveis e onipotentes, e parece que o são mesmo.
Este é um resumo da trajetória do crime organizado na história da humanidade, mas não tem como evitar uma sensação bem brasileira e atual de “déjà vu”.
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