JOÃO PESSOA - PARAÍBA - MONUMENTO A ARIANO SUASSUNA
A HISTÓRIA DA LITERATURA DE CORDEL
A história da literatura de cordel começa com o romanceiro luso-holandês da Idade Contemporânea e do Renascimento. O nome cordel está ligado à forma de comercialização desses folhetos em Portugal, onde eram pendurados em cordões, lá chamados de cordéis. Inicialmente, eles também continham peças de teatro, como as de autoria de Gil Vicente (1465-1536).Foram os portugueses que trouxeram o cordel para o Brasil desde o início da colonização. Na segunda metade do século XIX começaram as impressões de folhetos brasileiros, com características próprias daqui. Os temas incluem desde fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas , temas religiosos, entre muitos outros. As façanhas do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1900-1938) e o suicídio do presidente Getúlio Vargas (1883-1954) são alguns dos assuntos de cordéis que tiveram maior tiragem no passado. Não há limite para a criação de temas dos folhetos. Praticamente todo e qualquer assunto pode virar cordel nas mãos de um poeta competente.
No Brasil, a literatura de cordel é produção típica do Nordeste, sobretudo nos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. Costumava ser vendida em mercados e feiras pelos próprios autores. Hoje também se faz presente em outros Estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O cordel hoje é vendido em feiras culturais, casas de cultura, livrarias e nas apresentações dos cordelistas.
Os poetas Leandro Gomes de Barros (1865-1918) e João Martins de Athayde (1880-1959) estão entre os principais autores do passado.[1]
Todavia, este tipo de literatura apresenta vários aspectos interessantes e dignos de destaque.
As suas gravuras, chamadas xilogravuras, representam um importante espólio do imaginário popular
pelo fato de funcionar como divulgadora da arte do cotidiano, das tradições populares e dos autores locais (lembre-se a vitalidade deste gênero ainda no nordeste do Brasil), a literatura de cordel é de inestimável importância na manutenção das identidades locais e das tradições literárias regionais, contribuindo para a perpetuação do folclore nacional;
Pelo fato de poderem ser lidas em sessões públicas e de atingirem um número elevado de exemplares distribuídos, ajudam na disseminação de hábitos de leitura e lutam contra o analfabetismo;
A tipologia de assuntos que cobrem, crítica social e política e textos de opinião, elevam a literatura de cordel ao estandarte de obras de teor didático e educativo.
Fonte do texto: Wikipedia
PRINCIPAIS CORDELISTAS BRASILEIROS
:: Apolônio Alves dos Santos Natural de Guarabira, PB, transferiu-se para o Rio de Janeiro no ano de 1950, onde exerceu a profissão de pedreiro, até viver da sua poesia. Seu primeiro folheto foi "MARIA CARA DE PAU E O PRÍNCIPE GREGORIANO", publicado ainda em Guarabira.
Faleceu em 1998, em Campina Grande, na Paraíba, deixando aproximadamente 120 folhetos publicados e acreditando ser o folheto "EPITÁCIO E MARINA", o mais importante da sua carreira de poeta cordelista.
A Discussão do Carioca com o Pau-de-Arara
Autor: Apolônio Alves dos Santos
Já que sou simples poeta
poesia é meu escudo com ela é que me defendo já que não tive outro estudo vou mostrar para o leitor que o poeta escritor vive pesquisando tudo
Certo dia feriado
sendo o primeiro do mês fui tomar uma cerveja no bar de um português lá assisti uma cena agora pego na pena para contar pra vocês
Quando eu estava sentado
chegou nessa ocasião um velho pernambucano daqueles lá do sertão com a maior ligeireza foi se sentando na mesa pediu uma refeição
O português logo trouxe
um prato grande sortido o nortista vendo aquilo ficou logo enfurecido com um gesto carrancudo começou mexendo tudo depois falou constrangido
Patrício não leve a mal
nem me queira achar ruim toda espécie de comida que você tem é assim? desculpe minha expressão mas a sua refeição não vai servir para mim
Nesta hora o português
ficou zangado também lhe respondeu ora bola donde é que você vem? difamando deste jeito me diga qual o defeito que esta comida tem?
O nortista disse eu sofro
um ataque entistinal a carne está quase podre o arroz tem muito sal o feijão está azedo de comer eu tenho medo que pode me fazer mal
— O meu estômago não dá
pra receber este entulho prefiro morrer de fome mas não como este basculho pois comendo sei que morro lá no norte nem cachorro não come todo bagulho
O português respondeu
você é péssimo freguês vá embora e faz favor não vir aqui outra vez mas antes tem que pagar não posso lhe perdoar a desfeita que me fez
O nortista disse eu pago
que isto não me embaraça para você não pensar que eu vim comer de graça mas o nortista de nome embora morra de fome mas não come esta desgraça
Acontece que ali
se achava um carioca disse ele só conhece farinha de mandioca todo nortista poeira só gosta de macacheira girimum e tapioca
Disse o nortista é porisso
que o nordestino é forçoso porque no meu velho norte se come pirão gostoso com farinha de mandioca aqui só dá carioca doente tuberculoso
C. — Respondeu o carioca
não queira tanto agravar seu nordeste é muito bom mas lá ninguém quer ficar deixou lá seu pé de serra e veio pra minha terra para poder escapar
N. — Aqui também me pertence
o nortista respondeu eu sou nato brasileiro o Brasil é todo meu o homem precisa andar para poder desfrutar do país onde nasceu
C. — O carioca rompeu
nordestino é curioso além de ter olho grande é demais ambicioso chega aqui se amaloca na terra do carioca doente tuberculoso
N. — Disse o nortista é porque
nosso Rio de Janeiro precisa do nordestino pois é um povo ordeiro pra quem derrama suor aqui no Rio é melhor para se ganhar dinheiro
C. — Mas no Rio de Janeiro
tem operário de sobra não precisa nordestino vir aqui fazer manobra nordestino é atrevido aqui já é conhecido por camondonga de obra
N. — Você me diz isso tudo
pra me desclassificar mas aqui as companhias preferem mais empregar os nordestinos que vem pois carioca não tem coragem de trabalhar
C. — É porque o carioca
gosta da civilidade não é defeito ninguém viver da facilidade pois ninguém não é cavalo pra viver criando calo sem haver necessidade
N. — O carioca só gosta
de viver da malandragem do jogo e da bebedeira do vício e da vadiagem porisso o país da gente não pode ir para a frente por causa da pilantragem
C. — O carioca está certo
pensando assim pensa bem o carioca não gosta de ser sujeito a ninguém nem dá valor a operário que só vive do salário luta muito e nada tem
N. — Já eu penso diferente
você precisa entender que nosso mundo é composto de tudo precisa ter se não fosse o operário o rico milionário como podia viver?
C. — Mas o nortista trabalha
porque é muito uzurario tem alguém que vem pra qui mas lá é proprietário pois devido a ambição enfrenta até fundação com os olhos no salário
N. — É porque o nordestino
é um homem acostumado a só viver do trabalho não ignora o pesado não é como o carioca que só vive da fofoca da malandragem e do fado
C. — Tinha graça o carioca
se misturar com cimento como faz o nordestino que chega ficar cinzento carioca só procura um emprego que figura moral e comportamento
N. — Não é todo carioca
que tem a capacidade de assumir um emprego de alta dignidade precisa de estudar para assumir um lugar de responsabilidade
C. — Você aí está certo
o estudo está na frente porque o mundo ficou para o mais inteligente assim diz quem for ativo o operário é cativo num país independente
N. — Pois eu gosto do trabalho
e vivo sempre disposto pois o homem que trabalha a Jesus dá grande gosto porque Deus disse a Adão hás de ganhar o teu pão com o suor do teu rosto
C. — Então você é Adão
que veio do paraíso faça lá o que quiser que de você não preciso nem vou na sua maloca porque sou um carioca que honro o chão onde piso
N. — Nem de você eu preciso
que você é fracassado pelos traços já se vê que você é pé rapado e quem fala deste jeito só pode ser um sujeito ignorante atrasado
C. — Disse o carioca eu vivo
com minha alma tristonha vou embora para onde o nordestino nem sonha vou esconder minha cara para este pau-de-arara não me matar de vergonha | |||||
:: Arievaldo Viana Lima Poeta popular, radialista e publicitário, nasceu em Fazenda Ouro Preto, Quixeramobim-CE, aos 18 de setembro de 1967. Desde criança exercita sua verve poética, mas só começou a publicar seus folhetos em 1989, quando lançou, juntamente com o poeta Pedro Paulo Paulino, uma caixa com 10 títulos chamada Coleção Cancão de Fogo. É o criador do Projeto ACORDA CORDEL na Sala de Aula, que utiliza a poesia popular na alfabetização de jovens e adultos. Em 2000, foi eleito membro da ABLC, na qual ocupa a cadeira de nº 40, patronímica de João Melchíades Ferreira. Tem cerca de 50 folhetos e dois livros públicados: O Baú da Gaiatice e São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel.
.História da Rainha Esther
Autor: Arievaldo Viana
Supremo Ser Incriado
Santo Deus Onipotente Manda teus raios de luz Ilumina a minha mente Para transformar em versos Uma história comovente
Falo da vida de Ester
Que na Bíblia está descrita Era uma judia virtuosa E extremamente bonita Por obra e graça divina Teve venturosa dita
Foi durante o cativeiro
Do grande povo Judeu Um rei chamado Assuero Naqueles tempos viveu E com o nome de Xerxes Na História apareceu.
O rei Assuero tinha
Pelo costume pagão Um harém com muitas musas As mais belas da nação Mas era a rainha Vasti Dona do seu coração.
Porém a rainha Vasti
Caiu no seu desagrado Pois embora fosse bela Não cumpriu um seu mandado Vasti, durante um banquete Não quis ficar a seu lado.
Com isto o Rei Assuero
Bastante se enfureceu Mandou buscar outras moças E por fim ele escolheu Esther, a bela judia Sobrinha de Mardoqueu.
Porque os seus conselheiros
Consideraram uma ofensa A bela rainha Vasti Não vir a sua presença Perdeu a rainha o posto Foi esta a dura sentença.
Ester era flor mais bela
Filha do povo judeu Porém perdeu os seus pais Logo depois que nasceu Foi viver na companhia De seu tio Mardoqueu.
Dentre as mulheres mais belas
Ester foi a escolhida Pra ser a nova Rainha Pelo rei foi preferida Mardoqueu disse à sobrinha: - Não revele a sua vida!
- Pois nosso povo é cativo
E vive na opressão Talvez o rei não a queira Vendo a sua condição É melhor guardar segredo Sobre seu povo e nação.
Não pretendo alongar-me,
Porém vos digo o que sei: Mardoqueu era versado Na ciência e na Lei Trabalhava no palácio Era empregado do rei.
Mardoqueu um dia soube
Que dois guardas do portão Tramavam secretamente Perversa conspiração Eram Bagatã e Tares Homens de mau coração.
Tramavam matar o rei
E Mardoqueu descobriu A conversa dos dois homens Ele sem querer ouviu Foi avisar a Ester E ela ao rei preveniu.
Assuero indignado
Com esta conspiração Mandou ligeiro prender Os dois guardas do portão Eles descobriram tudo Quando os pôs em confissão
Os dois guardas receberam
Um castigo exemplar Provada a sua traição O rei os manda enforcar Depois mandou os escribas Em seus anais registrar.
Mardoqueu perante o rei
Subiu muito de conceito Deu-lhe o rei um alto posto Por ser honrado e direito Por isso era invejado Por Aman, um mau sujeito.
Este Aman de quem vos falo
Era o Primeiro Ministro Um dos homens mais perversos De quem se teve registro Tramava contra os judeus Um plano mau e sinistro.
Por força de um decreto
Queria que o povo inteiro Se ajoelhasse a seus pés Sendo ele um embusteiro Queria ser adorado Igual ao Deus Verdadeiro.
Isso era um grande martírio
Para a raça dos judeus Porque só dobram os joelhos Em adoração a Deus Fato que desperta a ira Dos pagãos e dos ateus.
O Ministro indignou-se
Com todo o povo judeu Porque não obedeciam Aquele decreto seu Pensava em aniquilar A raça de Mardoqueu.
Mandou baixar um Edito
Marcando a hora e o dia Para o povo ajoelhar-se Porém Aman não sabia Que a bela rainha Ester Era uma princesa judia.
Mardoqueu leu o decreto
Gelou de medo e pavor Comunicou a Ester Que Aman, em seu furor Queria exterminar A raça do Redentor.
- Querida Ester, disse ele
Venho triste lhe contar Que o Primeiro Ministro Jura por Marduk e Isthar Que o nosso povo judeu Decidiu eliminar.
- Esse Decreto já foi
Pelo rei sancionado Armou para nós a forca O dia já está marcado Matará todo judeu Que não ver ajoelhado.
- Meu tio, responde Ester
Eu nada posso evitar Pois quem se apresenta ao rei Sem ele próprio chamar Por um decreto real Manda na hora enforcar.
Deixemos aqui Ester
Lamentando pesarosa Vamos tratar de Aman Criatura orgulhosa E saber o que tramava Esta cobra venenosa.
Disse ele a Assuero:
- Há um povo no reinado Que tem um costume estranho Não cumpre nenhum mandado Que fira algum mandamento Por seu Deus determinado.
- Constitui um mau exemplo
Para outros povos e assim Considero que este povo Viver conosco é ruim Eu quero a tua licença Porque quer dar-lhes fim.
Lavrou-se então o decreto
Do extermínio judeu Aman pegou uma cópia E em praça pública leu Somente por ter inveja Da glória de Mardoqueu.
Naquela noite Assuero
Não podendo dormir mais Mandou chamar seus escribas Para lerem os editais Entre estes documentos Encontravam-se os Anais.
O leitor sabe que o rei
Foi salvo de um atentado Por dois porteiros teria Sido ele assassinado Se não fosse Mardoqueu Ter o caso desvendado.
Pergunta então Assuero
Depois que o escriba leu Os anais onde constavam Os feitos de Mardoqueu: - Me diga qual foi o prêmio Que este homem recebeu?
- Nenhum prêmio, majestade...
Responde o escriba ao rei Então Assuero disse: - Agora compensarei O grande favor prestado, Gratidão é uma lei!
No outro dia Aman
Foi ao Palácio enredar Quando Assuero o viu Tratou de lhe perguntar: - Que deve ser feito ao homem Que o rei pretende honrar?
Pensando que era pra si
Aquela grande honraria Aman disse: - Majestade Eis então o que eu faria Com minhas roupas reais Este homem eu vestiria
Depois o faria montar
Um cavalo ajaezado Com os arreios de ouro E o brasão do reinado Por alguém muito importante Ele seria puxado.
E nas ruas da cidade
O guia deve bradar Assim o rei Assuero Manda agora publicar: - Este é um homem de bem Que o rei pretende honrar!
- Muito bem, diz Assuero
Bonito plano, este seu Mande selar meu cavalo Da forma que concebeu E nele faça montar Nosso amigo Mardoqueu.
Aman ficou constrangido
Mas resolveu perguntar Qual o homem, majestade Que o cavalo irá guiar Disse o rei: - És tu, Aman Quem o deve anunciar.
Aman saiu se mordendo
Foi o cavalo arrear Depois mandou Mardoqueu Sobre o mesmo se montar Mas intimamente dizia Em breve irei me vingar.
E pelas ruas de Susa
Foi Mardoqueu aclamado Vestindo as roupas reais Num bom cavalo montado E pelo ministro Aman O ginete era puxado.
O leitor deve lembrar
Que Ester, a bela rainha Já sabia do decreto E qual a sorte mesquinha Destinada a seu povo Porém o medo a detinha.
Há dias que ela esperava
Uma oportunidade Para falar com o rei Contar-lhe toda a verdade E, em favor de seu povo Implorar-lhe a piedade.
Mas o tempo ia passando
Como o rei não a chamou A dura pena de morte Decida ela enfrentou Foi à presença do rei Lá chegando se curvou.
Disse o rei: - Minha querida
A lei não é para ti Não temas, pois não pretendo Fazer qualquer mal a si Diga-me logo o que queres Porque tu vieste aqui?
Disse ela: - Majestade
Viva em paz, a governar O motivo que me trouxe É que vim de convidar Para um singelo banquete Que pretendo preparar.
Este banquete eu vou dar
Na noite de amanhã Quero apenas que convides O nosso ministro Aman Espero que não me faltes Espero com grande afã.
Disse o rei: - Vá sossegada
Por certo, não faltarei Ao banquete que darás Como sem falta eu irei E o Primeiro Ministro Em breve convidarei.
Ester não disse mais nada
Tratou de se retirar Chamou as suas criadas Foi depressa preparar O banquete que em breve Ela haveria de dar.
No outro dia Aman
Pelo rei foi convidado Porém, como ignorava O que estava preparado Compareceu orgulhoso Bastante lisonjeado.
Na presença do ministro
Assuero perguntou Diz-me agora, ó rainha Por que razão me chamou? Então Ester decidida Por esta forma falou:
- Majestade eu tenho a honra
De ser a tua consorte Porém a mão do destino Quer turvar a minha sorte Porque o meu próprio povo Está condenado à morte!
Diz o rei: - Quem concebeu
Este plano tão malvado? Por que motivo o teu povo À morte foi condenado? Disse ela: Foi Aman Ele é o grande culpado!
Pois este homem se julga
Acima do próprio Deus Quer que todos se ajoelhem E cumpram os desígnios seus Por isso ele planeja Exterminar os judeus.
Quando ela disse aquilo
Aman não pôde falar Tremia ali de pavor Sem puder se explicar E o rei indignado O mandou encarcerar.
No outro dia Aman
À morte foi condenado Na forca que ele havia Pra Mardoqueu preparado Por um capricho da sorte Foi nela própria enforcado. | |||||
:: Cego Aderaldo Cantador famoso, voz excelente, veia política apreciável. Era um dos mais inspirados de quantos que existiram nos sertões do Ceará. "Aderaldo Ferreira Araújo" era seu verdadeiro nome. Nasceu no Crato, viveu em Quixadá e morreu em Fortaleza, beirando os 90 anos, em 1967. Tomou parte em cantorias que marcaram épocas. Os versos que escreveu são lidos e conhecido em todo o Brasil. | |||||
:: Elias A. de Carvalho Pernambucano de Timbaúba, além de poeta, que com tanto entusiasmo contou e cantou as coisas do seu estado e do Brasil, foi também emérito sanfoneiro, repentista e versejador, sendo intensa a sua atividade, sem prejuízo para a profissão de enfermeiro, na qual era diplomado. Trabalhou no sanatório Alcides Carneiro, em Corrêas, na cidade de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, ligação que lhe permitiu preparar um importante trabalho intitulado "O ABC do corpo humano", entre os tantos outros que escreveu ao longo de sua vida. | |||||
:: Expedito Sebastião da Silva Expedito Sebastião da Silva nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará, em 20 de janeiro de 1928 (dia de São Sebastião) e viveu toda a sua vida na terra do Padre Cícero, até falecer no dia 8 de agosto de 1997. Além de bom poeta, foi tipógrafo e revisor da gráfica de José Bernardo da Silva, tendo assumido, com a morte deste, a gerência da Tipografia São Francisco, rebatizada nos anos 70 como Literatura de Cordel José Bernardo da Silva e posteriormente como Lira Nordestina, como é conhecida até hoje.
De origem camponesa, conseguiu freqüentar a escola, chegando a concluir a quA opinião dos romeiros sobre a canonização do Pe. Cícero pela igreja brasileira
Autor: Expedito Sebastião da Silva
No dia 8 de julho
Do ano setenta e três A Igreja Brasileira Deciciu por sua vez Aqui em nossa nação Do padre Cícero Romão A canonização fez
Realizou-se em Brasília
Essa canonização Sendo que do Santo Papa Não houve autorização Por aí o leitor veja Foi à nossa santa igreja A maior porfanação
Quinhentos e onze padres
No momento se acharam Também trinta e quatro bispos Ali se apresentaram E de jornais e revistas Centenas de jornalistas O ato presenciaram
Romeiros da mãe de Deus
Essa canonização Que a Igreja Brasileira Fez, não tem efeito não É uma trama ilusória Que fere a santa memória Do padre Cícero Romão
Pois a Igreja Católica
Apostólica Romana Por ser fundada por Cristo Tem a ordem soberana De canonizar na terra Outra assim fazendo erra E a boa fé engana
Mesmo o nosso padre Cícero
A luz brilhante do norte Como um fiel pastor Foi um baluarte forte Da Santa Mãe Soberana E a Igreja Romana Defendeu até a morte
Deixou no seu testamento
Com toda realidade Assinada por seu punho Como cunho da verdade A prova como um diploma Pra com a igreja de Roma A sua fidelidade
O nome do padre Cícero
Ninguém jamais manchará Porque a fé dos romeiros Viva permanecerá Pois nos corações dos seus Foi ele um santo de Deus É e pra sempre será
E portanto o padre Cícero
Sempre foi santificado Pelos seus fiéis romeiros De quem é bastante amado Finalmente é uma asneira A Igreja Brasileira Fazê-lo canonizado
Essa canonização
Feita, num sistema inculto Os romeiros consideram Como um verdadeiro insulto Que a todo mundo engana E com cinismo profana Um admirável vulto
Creio se o padre Cícero
Vivo estivesse com nós Seria ele o primeiro A opor-se em alta voz De forma alguma queria Por completo repelia Essa farsa de algoz
Pois ele nos seus sermões
dizia com paciência: A Santa Igreja Romana De Deus é a pura essência Não devemos desprezá-la Portanto vamos amá-la Fiéis com obediência
- Sem a Igreja Católica
Apostólica Romana Ninguém pode se salvar Porque a alma é profana Por ser a religião Que conduz todo cristão Para a corte soberana
Aí se vê claramente
A grande veneração E o respeito que tinha O padre Cícero Romão Pela igreja de Cristo Que proveniente a isto Sofrera perseguição
O padre Cícero com vida
Honrou a sua batina E à igreja de Cristo Tinha obediência fina Não dava nenhum conceito Q quem faltasse o respeito Pra com a santa doutrina
Como é que certos padres
Não conheceram direito O padre Cícero de perto Procuram com desrespeito Canonizá-lo por conta? É à Igreja uma afronta Ou um rebelde despeito?
Pois a Igreja Romana
De forma nenhuma aprova Essa canonização Feita nesta igreja nova Se eles estão a pensar Que fácil vão nos laçar Nos laçarão uma ova!
Ele dizia: O diabo
todos os dias peleja Para pegar os cristãos Pois é o que mais deseja Muitos poderão cair Se por acaso ele vir Laçando pela igreja
Mas estamos preparados
Conosco ninguém embroma Porque é o padre Cícero Do romeiro e ninguém toma Que espera conformado Pra vê-lo canonizado Por nosso Papa de Roma
Já ouvi alguém dizer
O padre Cícero merece Ser enfim canonizado Já que o Papa se esquece Proveniente a demora Vem outra igreja de fora E o seu valor reconhece
Mas a Igreja Romana
Primeiramente precisa Fazer sobre o indicado Uma severa pesquisa Depois de colher com jeito Todos os dados direitos É que ela canoniza
Não é só meter a cara
Como quem vai fazer guerra E ludibriar a fé Dos cristãos aqui na terra Assim era ser profana… Pois a Igreja Romana De forma nenhuma erra
Aqui não estou falando
Contra a canonização De que é merecedor O padre Cícero Romão Minha pena aqui acusa A quem dele o nome usa Fazendo profanação
Acho grande hipocrisia
E desaforo daquele Que somente por ouvir Muito falar sobre ele Quer ao povo se unir Para bem alto subir Na sombra do nome dele
Sabem que o padre Cícero
O santo de Juazeiro Tem romeiros espalhados Por este Brasil inteiro Então canonizam ele Pra fazer do nome dele Uma chama de dinheiro
Lá no céu o padre Cícero
Não pode estar satisfeito Vendo o seu santo nome Maculado desse jeito E ainda depois disso Vendo a igreja de Cristo Sem o devido respeito
Mas ele apesar de tudo
Usará de complacência Pedirá penalizado À Divina Providência Pro castigo revogar E com amor perdoar Essa desobediência
Aqui nós do padre Cícero
E da Virgem padroeira Não estamos de acordo Com a Igreja Brasileira O nosso padre estimado Queremos canonizado Não assim dessa maneira
Sua canonização
Nós desejamos que seja Feita pelo Santo Papa Da forma qu’ele festeja Mandar então colocá-lo No altar de toda igreja
Todos seus fiéis romeiros
Que com fé o amam tanto Num quadro tem ele em casa No mais destacado canto Pra quem chegar ali veja Que só falta à Santa Igreja Declará-lo como santo
Esperamos que o Papa
Antes que nos venha a morte Canonize o padre Cícero E brade numa voz forte: "EU DECLARO FERVOROSO SANTO CÍCERO MILAGROSO DE JUAZEIRO DO NORTE" | |||||
:: Firmino Teixeira do Amaral Foi o mais brilhante poeta popular do Piauí. Nasceu no povoado de Amarração (Luís Correia-PI) e mudou-se muito jovem para Belém-PA, tornando-se o principal poeta da Editora Guajarina, de Francisco Lopes. Escreveu a famosa Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, tida por muitos como real, mas, ao que tudo indica, foi fruto de sua imaginação. Nesta obra ele criou um novo gênero na cantoria: o "trava-língua".
Dentre as obras de sua autoria destacam-se "Pierre e Magalona", "Bataclã", "O Filho de Cancão de Fogo", "O Casamento do Bode com a Raposa" e a peleja mais genial e popular de todos os tempos: a de Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, que chegou a ser gravada por Nara Leão e João do Vale no disco OPINIÃO.
| |||||
:: Francisco das Chagas Batista Publicou, em 1902, seu primeiro folheto, Saudades do Sertão, em Campina Grande, PB. Na década de 1910, trabalhou como carregador de água e lenha e operário da Estrada de Ferro de Alagoa Grande. Por volta de 1911 estabeleceu a livraria Popular Editora, em João Pessoa, PB. Em 1929, publicou Cantadores e Poetas Populares, pela Editora Batista Irmãos. Entre suas obras poéticas estão os folhetos A Vida de Antonio Silvino (1904), História Completa de Lampeão (1925), As Manhas de um Feiticeiro (1930) e A Escrava Isaura (1930). "Francisco das Chagas Batista não foi cantador mas um dos mais conhecidos poetas populares. Sua produção abundantíssima forneceu vasto material para a cantoria." - Luís da Câmara Cascudo. | |||||
:: Francisco Sales Arêda Francisco Sales Arêda nasceu em Campina Grande, Paraíba, aos 25 de outubro de 1916. Grande poeta popular, foi cantador de viola, cordelista e vendedor de folhetos nas feiras. Faleceu em janeiro de 2006 em Caruaru, Pernambuco. Cantou de 1940 a 1954, a partir de quando abandonou a viola dedicando-se exclusivamente a escrever seus folhetos e romances, entre os quais destaca-se “O homem da vaca e o poder da fortuna”, adaptado para o teatro por Ariano Suassuna. Seu primeiro folheto foi “O casamento e herança de Chica Pançuda com Bernardo Pelado”, publicado em 1946. Sua obra é extensa e passa de uma centena de títulos, alguns dos quais ainda inéditos. Costumava usar o acróstico FSALES no final de seus poemas.
Mal assombrada peleja de Francisco Sales
com o "Negro Visão" Autor: Francisco Sales Arêda
Senhores, quem é poeta
está sujeito encontrar com espírito maconheiro cheio de truque e azar que na vida foi poeta morreu inda quer versar.
Digo assim porque comigo
deu-se uma trapalhada: noite de senhor São João eu caí numa emboscada que pensei me acabar sem ver o fim da jornada.
Já fazia cinco anos
que eu havia abandonado a arte de cantoria mas recebi um chamado para atender um amigo dessa vez fui obrigado.
Peguei a viola e fui
cheio de neurastenia era longe e cheguei tarde na casa da cantoria já encontrei tudo em festa na mais perfeita harmonia.
Assim que entrei no salão
logo a viola afinei e com a ordem de todos a cantar continuei porém nos primeiros versos todo agitado fiquei.
Sentindo um grande calor
e uma tremura geral como quem estava sentindo pelo corpo um grande mal dando a conhecer ao povo um desarranjo fatal.
Nisso alguém bateu na porta
pediu licença e entrou era um negro estranho e feio que a todo mundo assombrou com uma viola velha junto de mim se sentou.
E foi dizendo em voz alta
vim pra aqui sem ser chamado porque gosto de cantar com cantador preparado recorde o que aprendeu se firme e cante animado.
Com essas frases senti
correr o suor na testa o cabelo arrepiou-se como quem se desembesta fiquei todo amortecido igual quem se manifesta.
Porém vi que era o jeito
abraçar a discussão dei volta no pensamento a Deus pedi permissão mandei o negro seguir e fiquei de prontidão.
N.: - Ligue o fio umbilical
na esfera mentalista dentro do quadro da sorte com sistema realista desdobrando a consciência em busca de nova pista.
F.S.: - Negro, quem és tu assim
com tanto estilo e linguagem me dizes de onde vens pelo mundo sem paragem qual é tua procedência originada com margem.
N.: - Eu venho dos hemisférios
zodiacais do destino nasci entre três planetas em um globo palatino sou livre igualmente o vento faço tudo que imagino.
F.S.: - Mas não é assim que quero
saber sua identidade me diga seus pais quem são Estado e localidade que anos tens, onde vives não negue a realidade.
N.: - Sou filho de dois cativos
do país dos sofrimentos já tenho 300 anos conheço todos relentos moro nos 32 pontos que forma a rosa dos ventos.
F.S.: - Negro, já conheci que tu
não pertence a ser humano com tua filosofia me tapeias todo plano mas quero saber teu nome para sair do engano.
N.: - Eu me chamo Angó Visão
fui quem instruí Nogueira Preto Limão, Hugolino Mufumbão e Pimenteira andei junto com Romano e Inácio da Catingueira.
F.S.: - Credo em cruz, Ave-Maria
Mãe de Cristo redentor Este negro é o demônio inimigo traidor que anda desacatando os filhos do criador.
N.: - Você já vem com parolas
como fez Joaquim Sem Fim botando santo no meio e me chamando ruim fazendo a mesma besteira para ver se ataca a mim.
F.S.: - Todo mundo tem direito
de defender seu papel só você não se defende por ser infame e cruel porém eu tenho por mim Jesus Cristo e São Miguel.
N.: - Eu não empato você
ter lá sua devoção nem fazer seu fraseado com santos e oração eu quero é cantar repente e dar-lhe uma lição.
F.S.: - Quem é você tão sabido
pra conhecer mais do que eu nem rebaixar o poder que a natureza me deu se veio com essa idéia pode dizer que perdeu.
N.: - Essa sua natureza
eu conheço ela a fundo sou capaz de descrever toda origem do mundo desde o mais potente ser ao mais péssimo vagabundo.
F.S.: - Você faz parte da fera
que iludiu Adão e Eva manchando a lei do dever com o fruto da reserva mas não pense que me arrasta para o caminho da treva.
N.: - Adão e Eva pecaram
por uma contradição mas aquilo foi somente para haver a geração mesmo sem haver pecado não havia salvação.
F.S.: - Mas a culpa de Adão
foi por causa da serpente que atacou de surpresa a pobre Eva inocente e fez ambos se perderem pelo pecado somente.
N.: - Mas o eterno por ser
um juiz tão poderoso para que deixou Lusbel entrar no jardim mimoso e botar Adão e Eva no pecado rigoroso?
F.S.: - Negro, não seja tão ruim
querendo a Deus maltratar você sabe que Lusbel foi autor de todo azar por se ver perdido quis a nossos pais complicar.
N.: - É certo que Adão tem culpa
porque a lei transgrediu mas quando Lusbel pecou e lá do trono caiu pra não entrar no jardim por que Deus não proibiu?
F.S.: - E por que foi que Lusbel
quando ficou lá no trono substituindo a ordem de Deus eterno patrono orgulhou-se e propôs guerra querendo do céu ser dono.
N.: - Aquilo foi pra poder
dar começo às gerações pois o eterno podia ter privado essas razões mas deixou Lusbel assim para cumprir-se as lições.
F.S.: - Negro, você não tem jeito
de se chegar na verdade mas eu vou tirá-lo agora com o credo da trindade para nunca mais zombar do grande Deus de bondade.
N.: - Veja que asneira sua
falando em reza pra mim se reza salvasse gente não havia ninguém ruim eu conheço tudo isso do começo até o fim.
F.S.: - Mas na reza tem prodígio
que nos faz admirar quem não se benze e não reza não pode a Deus alcançar fica assim como você de mundo a fora a atentar.
N.: - Eu não ando atrás de reza
que não sou padre nem papa ando atrás de quem canta com consciência no mapa e o mais sabido do mundo das minhas mãos não escapa.
F.S.: - Você diz assim porque
é triste inconscencioso já perdeu todos direitos de nosso Deus poderoso não sabe o que é verdade só ver o quadro horroroso.
N.: - Eu conheço a descendência
de Adão, Eva e Abraão Moisés, David e Jacó Manassés e Salomão mas nunca vi nenhum salvo por valor de oração.
F.S.: - Se oração não valesse
Jesus não tinha orado São Pedro e todos apóstolos nenhum tinha acompanhado a religião dos santos para abater o pecado.
N.: - O Cristo orou porque quis
mas já tinha a salvação e por isso qualquer um se meta nessa ilusão reze e não pratique o bem pra ver se tem o perdão.
F.S.: - Negro, você me parece
que foi materialista desses que só dar valor no que pega e está a vista protesta toda verdade difamador anarquista.
N.: - Não queira saber quem sou
nem me julgue bom ou mau cante mesmo se souber e se defenda no grau se tiver cantiga bote ou entregue o lombo ao pau.
F.S.: - Eu canto porque conheço
rima, métrica e posição sentido, frase e conjunto sistema e complicação não é pra um negro imundo vir a mim passar lição.
N.: - Homens de muita ciência
como Leandro e Zé Duca Romano, Hugolino e outros precisaram minha ajuda quanto mais um Zé Ninguém que na vida nada estuda.
F.S.: - Negro, não seja gabola
naquilo que não convém seu estado miserável e consciência não tem um infeliz como tu nunca ajudou a ninguém.
N.: - Você é quem diz assim
por não ter compreensão mas provo que Pedra Azul Ventania e Azulão, Serrador, Carneiro e Lino a todos eu dei lição.
F.S.: - Esses homens foram mestres
da poesia simbólica enquanto vivo seguires a religião católica não precisaram de ti e nem da força diabólica.
N.: - Pedro Limão e Quirino
e Josué de Teixeira, Pirauá, Laurindo e Gato e Manuel Cabeceira eu defendi muito eles no braço da regra inteira.
F.S.: - Meus senhores do salão
cada um traga uma cruz e vamos rezar o credo no claro da santa luz pra desterrar este negro inimigo de Jesus.
N.: - Você pensa que reza santa e cruz
me faz medo de noite nem de dia se previna e chame por Maria para ver se ela te conduz faça força que hoje vim apuz de enfrentar um poeta em todo artigo não me assombro, não corro e prossigo da forma que quiser eu também quero de qualquer lado que vir eu lhe espero não há santo que lhe empate ir comigo.
F.S.: - Mas eu creio em Deus Pai e Poderoso
que criou o Céu e a nossa terra também criou em Jesus aonde encerra o poder de um astro glorioso um só filho do espírito venturoso Divino Cordeiro e inocente que padeceu pelos homens cruelmente foi perseguido, preso e arrastado para com seu sangue imaculado nos livrar das ciladas da serpente.
N.: - Você pensa que com isso se defende
mas para mim és maluco e muito fraco de qualquer feito te boto no bisaco e a força de meu braço é quem te prende meu poder hoje aqui ninguém suspende vou provar-te daqui a meia hora que tu chegas a meus pés e me per si nem te Cristo te livra hoje aqui de um acocho da alma pular fora.
F.S.: - Meus senhores da sala é necessário
arranjar-se um cordão e água benta pra lançar-se esta fera violenta com a força da Virgem do Rosário e pedimos a Cristo do sacrário que nos mande o anjo Gabriel descer com o Arcanjo São Miguel trazendo a espada e a balança para ver se nos livra desta trança e expulsar esta fera tão cruel.
N.: - Vem você com rosário e com Maria
se valendo de medalha e balanceiro chamando por todo alcoviteiro que não há precisão em cantoria mas não pense que com esta bruxaria me faz medo nem me tange num segundo e meu astro é teórico e tão profundo como a luz que clareia a imensidade eu também tenho força e liberdade pra fazer qualquer coisa neste mundo.
F.S.: - Venha a mim São Gregório e São Bernardo
Santo Cristo do Ipojuca e São José São Francisco padroeiro em Canindé São João Batista e São Ricardo Santo Antônio de Lisboa tão amado São Severino dos Ramos padroeiro São Jorge com a lança de guerreiro Defendei-me das portas do inferno São Pedro com as chaves do eterno me guardai deste negro traiçoeiro.
N.: - Não é com isto que pensa que me atrasa
nem me faça correr de sua vista vamos ver quem ganha esta conquista e quem corre primeiro desta casa quero ver se você não se arrasa cantando comigo este duelo que sou forte no perigo e no flagelo e não temo enfrentar um cantor só você estando nas unhas de Angó não há santo que o livre do cutelo.
F.S.: - Maria imaculada Mãe de Cristo
pelo verbo encarnado em vossa luz defendei-me com o nome de Jesus e vinde a mim pra ver se eu resisto não deixai que aqui o anti-Cristo lance mão de mim e mais alguém protegei-me Maria sumo bem pelo sangue que banhou a Santa Cruz e hora divina que Jesus foi nascido na gruta de Belém.
N.: - Arre com tanto pedido
deste cantor tão teimoso só fala em santo e rosário isto é que é ser caviloso nem canta e só dá maçada com este abuso horroroso.
Levantou-se da cadeira
rodando em cima de um pé e disse: - Eu não canto mais porque estou dando fé quem discutir com um doido é esgotar a maré.
E nesse momento o galo
cantou saudoso e bonito o negro se remexeu soltou um tremendo grito fez corrupio na sala e se sumiu o maldito.
Todo povo que estava
ali na reunião sentiu um cheiro abafado de breu, enxofre e carvão rezaram o credo e o ofício da Virgem da Conceição.
Faço ponto, meus amigos
Sobre a tremenda porfia A todos peço desculpas Lendo esta poesia Espero de cada um Sua boa garantia. | |||||
:: Gonçalo Ferreira da Silva Poeta, contista, ensaista. Nasceu em Ipu, Ceará, no dia 20 de dezembro de 1937. Autor fecundo e de produção densa, principalmente no campo de literatura de cordel, área que mais cultiva e que mais ama. Poeta intuitivo, de técnica refinada, chega a ser primoroso em algumas estrofes. É, porém, a abrangência dos temas que aborda que o situa entre os principais autores nacionais, tendo produzido diversos títulos com a temática de ciência e política. Quando participa de congressos e festivais é comum vê-lo contando histórias em versos rimados e de improviso. Hoje vive no Rio de Janeiro e é presidente da ABLC.
.Labareda - O Capador de Covardes
Autor: Gonçalo Ferreira da Silva
Como criação divina
a vida fosse entendida representaria a morte simples porta de saída para conduzir o homem à plenitude da vida.
Os audazes bandoleiros
do cangaço no sertão não davam valor à vida disprovidos de noção do que ela representa para o Pai da Criação.
Numa das reuniões
que sempre fazia às tardes Lampião chamou um cabra e lhe falou sem alardes: - Tu serás o Labareda o capador de covardes.
Os componentes do grupo
do famoso Lampião tinham seus nomes-de-guerra e muitos tinham função embora não fosse regra também não era excessão.
Coube ao negro Zé Baiano
o cruel ferro abrasante, Mariano, a palmatória para o sujeito arrogante, a peixeira, a Labareda para capar delatante.
Porém a Virginio coube
a responsabilidade de julgar caso por caso e conforme a gravidade o errado recebia a dura penalidade.
Cunhado de Lampião
Virginio era igual um mano ditava suas sentenças, mas provou que era humano ao perdoar Bentivi quando traiu Zé Baiano.
Emílio Ferreira, um
dos padres mais importantes aconselhou Labareda a capar os semelhantes porém deixá-los com vida por mais que fossem arrogantes.
Realmente Labareda
não tinha instinto malvado principalmente porque nunca capava zangado desempenhava o trabalho como quem cumpre um mandado.
Mas um dia caparia
com ódio no coração por vingança que é por dever porque numa ocasião sofreu de um miserável uma dura traição.
Lampião ao sequestrar
o filho de um fazendeiro mandou Labareda para trazer de volta o dinheiro em troca da liberdade do jovem prisioneiro.
Labareda foi cumprir
a ordem do capitão porém teve, infelizmente, interrompida a missão quando já tinha o dinheiro escondido no gibão.
No momento em que o recado
do chefe era transmitido um cabra do fazendeiro se encontrava escondido assim, sigilosamente, foi Labareda seguido.
Pois todos os pormenores
o cabra do fazendeiro ouvia, até a quantia que ganharia em dinheiro se pregasse uma surpresa eficaz no cangaceiro.
Quando Labareda tinha
o dinheiro empacotado juntamente com um recibo devidamente assinado saiu sem notar que era por alguém observado.
Para sair da fazenda
na direção do sertão tinha uma vereda orlada de densa vegetação ao longo da qual não tinha vestígio de habitação.
Com a rapidez felina
do gato maracajá o cabra do fazendeiro subiu num pé de Ingá envolto em muitas espessas ramas de maracujá.
Providencia paulada
quando Labareda ia passando sob o Ingá na fronte dela caía desmaiando até sem tempo de ver o que acontecia.
No mundo escuro dos sonhos
Labareda mergulhou ele mesmo nunca soube qual o tempo que durou desde a hora em que caiu até quando despertou.
Recobrando a consciência
verificou abismado que o pacote de notas havia sido roubado restava só o recibo no seu bolso colocado.
Lampião ainda estava
com o grupo reunido estranhando com razão o tempo já transcorrido achando que Labareda tinha desaparecido.
Fitando o refém com ódio
Lampião foi taxativo: - Se Labareda morrer ou mesmo ficar cativo toco fogo na fazenda e depois lhe queimo vivo.
Lampião mandou dois cabras
que fizeram o fazendeiro dizer o nome do homem, o possível paradeiro para obrigá-lo, com .a força a devolver o dinheiro.
Num belo dia em que o Sol
para o poente caía num povoado distante o dito homem bebia cana, sem saber que aquele era o seu mais negro dia.
O grupo do Lampião
com um refém da fazenda invadiu o povoado e ao penetrar na venda Lampião, frio e sinistro disse: - Sujeito, se renda.
- Cadê aquele dinheiro
roubado lá na vereda empacotado e atado com nós num pano de seda? Já sabe o que quer dizer prestar conta a Labareda?
Com dignidade o homem
disse: - Sei que estou marcado.. pelo que ouvi falar já sei que vou ser capado mas não vou tremer diante dum bandoleiro safado.
Tais palavras foram ditas
com tanta convicção, com tanto furor selvagem, com tão voraz decisão que houve um silêncio tenso no grupo do Lampião.
Foi o capador do bando
quem o silêncio rompeu: - Vou resolver este assunto pois este homem é meu e se alguém morrer em luta terá que ser ele ou eu.
Só se viu quando um machado
sinistro riscou o ar sem que o opositor pudesse se desviar o homem caiu roncando no piso sujo do bar.
Uma peixeira afiada
surgiu repentinamente nos dedos de Labareda que o capou prontamente mostrando os ovos do homem para a multidão presente.
Foi este mais um capítulo
de maldade e tirania da história do nordeste para ser contado um dia que acaso for abordado assunto de valentia. | |||||
:: João Ferreira de Lima João Ferreira de Lima era pernambucano de São José do Egito, onde nasceu em 3 de novembro de 1902. Faleceu em Caruaru, Pernambuco, em 19 de agosto de 1972. Além de poeta, era astrólogo. Foi autor do mais célebre almanaque popular nordestino, o Almanaque de Pernambuco.
Em sua obra destacam-se, pelo menos, dois grandes clássicos da Literatura de Cordel: "Proezas de João Grilo" e "Romance de Mariquinha e José de Sousa Leão". Sobre o folheto “As proezas de João Grilo” convém ressaltar o seguinte: João Ferreira de Lima o escreveu originalmente em sextilhas, num folheto de oito páginas, intitulado “As palhaçadas de João Grilo”. Por volta de 1948, a obra foi ampliada para 32 páginas na tipografia de João Martins de Athayde, pelo poeta Delarme Monteiro. As estrofes que foram acrescentadas são todas em setilhas, sendo fácil identificar quais são as de autoria de João Ferreira de Lima.
| |||||
:: João Martins de Athayde Nasceu no dia 24 de junho de 1880, em Cachoeira da Cebola, no município de Ingá, Paraíba. Trabalhou como mascate e atraído pela febre da borracha, foi para o Amazonas onde teve 25 filhos com as caboclas das tabas indígenas. Retornou ao nordeste e transferiu-se para Recife, onde fez curso de enfermagem.
Em 1921, já com bela fortuna amealhada, comprou o famoso projeto editorial de Leandro Gomes de Barros, tornando-se o maior editor de literatura de cordel de todos os tempos. Vendo que oitenta por cento dos folhetos vendidos nas feiras era de humor ou de pelejas, e tendo especial vocação para duelos verbais, inclinou sua pena para esse tipo de produção. Usando personagens reais e fictícias, escreveu mais de uma dezena de pelejas até hoje muito procuradas e lidas, como a de "Serrador e Carneiro".
| |||||
:: João Melchíades Ferreira João Melchíades Ferreira da Silva nasceu em Bananeiras-PB aos 7 de setembro de 1869 e faleceu em João Pessoa-PB, no dia 10 de dezembro de 1933. Foi sargento do exército. Combateu na Guerra de Canudos e na questão do Acre. É autor do primeiro folheto sobre Antônio Conselheiro e de mais de 20 folhetos, dos quais destacamos "ROMANCE DO PAVÃO MYSTERIOZO", "COMBATE DE JOSÉ COLATINO COM CARRANCA DO PIAUÍ", "ROLDÃO NO LEÃO DE OURO", "HISTÓRIA DO VALENTE ZÉ GARCIA" e "A GUERRA DE CANUDOS". | |||||
:: Joaquim Batista de Sena Joaquim Batista de Sena nasceu no dia 21 de maio de 1912, em Fazenda Velha, do termo de Bananeiras, hoje pertencente ao município de Solânea-PB. Faleceu no distrito de Antônio Diogo (Redenção-CE) no início da década de 90. Autodidata, adquiriu vasto conhecimento sobre cultura popular e era um defensor intransigente da poesia popular nordestina. Começou como cantador de viola, permanecendo três anos neste ofício, no final da década de 30.
Sena era um grande poeta, de verve apurada e rico vocabulário. Conhecia bem os costumes, a fauna, a flora e a geografia nordestina, motivo pelo qual seus romances eram ricos em descrições dessa natureza. Pode-se dizer que com a sua morte, fechou-se um ciclo na poesia popular nordestina e o gênero “romance” perdeu um de seus maiores poetas.
| |||||
:: José Camelo de Melo Resende Os pesquisadores Átila de Almeida e José Alves Sobrinho, em sua obra Marcos e Vantagens, de 1981, assinalam que José Camelo de Melo Resende nasceu a 20 de abril de 1885, em Pilõezinhos, Paraíba, e faleceu em Rio Tinto, Paraíba, em 1964. Poeta fecundo, de fértil imaginação, bom de métrica, rima e oração, compôs verdadeiros clássicos da literatura de cordel. Pertence a segunda geração dos grandes poetas populares nordestinos, ao lado de Manoel Camilo dos Santos, Severino Borges e João José da Silva.
Sua obra mais famosa, “Romance do pavão mysteriozo”, tem uma história controversa. Segundo os pesquisadores, esse folheto foi escrito originalmente com 40 páginas, em 1923 para ser cantado em suas apresentações. João Melchíades Ferreira, ajudado por Romano Elias da Paz, obteve uma cópia do mesmo e o reescreveu com apenas 32 páginas, publicando como obra de sua autoria. Consta que José Camelo, desgostoso com o sucesso obtido por Melchíades, findou rasgando os seus originais.
| |||||
:: José Costa Leite José Costa Leite nasceu em Sapé, Paraíba, aos 27 de julho de 1927. Escreve desde os 20 anos de idade e é autor de centenas de títulos. É também um festejado xilógrafo, com técnica muito pessoal e apurada. Dentre os títulos de sua produção destacam-se "A FILHA QUE MATOU O PAI POR CAUSA DE UMA PITOMBA", "A MOÇA QUE PISOU SANTO ANTÔNIO NO PILÀO PRA CASAR COM O BOIADEIRO", "A VIDA DE JOÃO MALAZARTE","O CONSELHO DA MOCIDADE", entre outros. | |||||
:: José Pacheco Há controvérsia sobre o lugar de nascimento de José Pacheco. Para alguns, ele nasceu em Porto Calvo, Alagoas; há quem firme ter sido o autor de "A Chegada de Lampião no Inferno", pernambucano de Correntes. A verdade é que José Pacheco, que teria nascido em 1890, faleceu em Maceió na década de 50, havendo quem informe a data de 27 de abril de 1954, como a do seu falecimento. Seu gênero preferido parece ter sido o gracejo, no qual nos deu verdadeiros clássicos. Escreveu também folhetos de outros gêneros. | |||||
:: Leandro Gomes de Barros O paraibano Leandro Gomes de Barros, pioneiro na publicação de folhetos rimados, é autor de uma obra vastíssima e da mais alta qualidade, o que lhe confere, sem exageros, o título de poeta maior da Literatura de Cordel. Nascido em Pombal-PB, em 19 de novembro de 1865, faleceu no Recife-PE, em 04 de março de 1918, deixando um legado cerca de mil folhetos escritos, embora centro cultural algum registre tal façanha.
Foi, porém, o maior editor antes de João Martins de Athayde, que o sucedeu. O vigoroso programa editorial de Leandro levou a Literatura de cordel às mais distantes regiões, graças ao bem sucedido projeto de redistribuição através dos chamados agentes.
O Cavalo que Defecava Dinheiro
Autor: Leandro Gomes de Barros
Na cidade de Macaé
Antigamente existia Um duque velho invejoso Que nada o satisfazia Desejava possuir Todo objeto que via
Esse duque era compadre
De um pobre muito atrasado Que morava em sua terra Num rancho todo estragado Sustentava seus filhinhos Na vida de alugado.
Se vendo o compadre pobre
Naquela vida privada Foi trabalhar nos engenhos Longe da sua morada Na volta trouxe um cavalo Que não servia pra nada
Disse o pobre à mulher:
_ Como havemos de passar? O cavalo é magro e velho Não pode mais trabalhar Vamos inventar um "quengo" Pra ver se o querem comprar.
Foi na venda e de lá trouxe
Três moedas de cruzado Sem dizer nada a ninguém Para não ser censurado No fiofó do cavalo Foi o dinheiro guardado
Do fiofó do cavalo
Ele fez um mealheiro Saiu dizendo: _ Sou rico! Inda mais que um fazendeiro, Porque possuo o cavalo Que só defeca dinheiro.
Quando o duque velho soube
Que ele tinha esse cavalo Disse pra velha duquesa: _Amanhã vou visitá-lo Se o animal for assim Faço o jeito de comprá-lo!
Saiu o duque vexado
Fazendo que não sabia, Saiu percorrendo as terras Como quem não conhecia Foi visitar a choupana, Onde o pobre residia.
Chegou salvando o compadre
Muito desinteressado: _Compadre, Como lhe vai? Onde tanto tem andado? Há dias que lhe vejo Parece está melhorado...
_É muito certo compadre
Ainda não melhorei Porque andava por fora Faz três dias que cheguei Mas breve farei fortuna Com um cavalo que comprei.
_Se for assim, meu compadre
Você está muito bem! É bom guardar o segredo, Não conte nada a ninguém. Me conte qual a vantagem Que este seu cavalo tem?
Disse o pobre: _Ele está magro
Só o osso e o couro, Porém tratando-se dele Meu cavalo é um tesouro Basta dizer que defeca Níquel, prata, cobre e ouro!
Aí chamou o compadre
E saiu muito vexado, Para o lugar onde tinha O cavalo defecado O duque ainda encontrou Três moedas de cruzado.
Então exclamou o velho:
_Só pude achar essas três! Disse o pobre: _Ontem à tarde Ele botou dezesseis! Ele já tem defecado, Dez mil réis mais de uma vez.
_Enquanto ele está magro
Me serve de mealheiro. Eu tenho tratado dele Com bagaço do terreiro, Porém depois dele gordo Não quem vença o dinheiro...
Disse o velho: _meu compadre
Você não pode tratá-lo, Se for trabalhar com ele É com certeza matá-lo O melhor que você faz É vender-me este cavalo!
_Meu compadre, este cavalo
Eu posso negociar, Só se for por uma soma Que dê para eu passar Com toda minha família, E não precise trabalhar.
O velho disse ao compadre:
_Assim não é que se faz Nossa amizade é antiga Desde os tempo de seus pais Dou-lhe seis contos de réis Acha pouco, inda quer mais?
_Compadre, o cavalo é seu!
Eu nada mais lhe direi, Ele, por este dinheiro Que agora me sujeitei Para mim não foi vendido, Faça de conta que te dei!
O velho pela ambição
Que era descomunal, Deu-lhe seis contos de réis Todo em moeda legal Depois pegou no cabresto E foi puxando o animal.
Quando ele chegou em casa
Foi gritando no terreiro: _Eu sou o homem mais rico Que habita o mundo inteiro! Porque possuo um cavalo Que só defeca dinheiro!
Pegou o dito cavalo
Botou na estrebaria, Milho, farelo e alface Era o que ele comia O velho duque ia lá, Dez, doze vezes por dia...
Aí o velho zangou-se
Começou loga a falar: _Como é que meu compadre Se atreve a me enganar? Eu quero ver amanhã O que ele vai me contar.
Porém o compadre pobre,
(Bicho do quengo lixado) Fez depressa outro plano Inda mais bem arranjado Esperando o velho duque Quando viesse zangado...
O pobre foi na farmácia
Comprou uma borrachinha Depois mandou encher ela Com sangue de uma galinha E sempre olhando a estrada Pré ver se o velho vinha.
Disse o pobre à mulher:
_Faça o trabalho direito Pegue esta borrachinha Amarre em cima do peito Para o velho não saber, Como o trabalho foi feito!
Quando o velho aparecer
Na volta daquela estrada, Você começa a falar Eu grito: _Oh mulher danada! Quando ele estiver bem perto, Eu lhe dou uma facada.
Porém eu dou-lhe a facada
Em cima da borrachinha E você fica lavada Com o sangue da galinha Eu grito: _Arre danada! Nunca mais comes farinha!
Quando ele ver você morta
Parte para me prender, Então eu digo para ele: _Eu dou jeito ela viver, O remédio tenho aqui, Faço para o senhor ver!
_Eu vou buscar a rabeca
Começo logo a tocar Você então se remaxa Como quem vai melhorar Com pouco diz: _Estou boa Já posso me levantar.
Quando findou-se a conversa
Na mesma ocasião O velho ia chegando Aí travou-se a questão O pobre passou-lhe a faca, Botou a mulher no chão.
O velho gritou a ele
Quando viu a mulher morta: _Esteja preso, bandido! E tomou conta da porta Disse o pobre: _Vou curá-la! Pra que o senhor se importa?
_O senhor é um bandido
Infame de cara dura Todo mundo apreciava Esta infeliz criatura Depois dela assassinada, O senhor diz que tem cura?
Compadre, não admito
O senhor dizer mais nada, Não é crime se matar Sendo a mulher malcriada E mesmo com dez minutos, Eu dou a mulher curada!
Correu foi ver a rabeca
Começou logo a tocar De repente o velho viu A mulher se endireitar E depois disse: _Estou boa, Já posso me levantar...
O velho ficou suspenso
De ver a mulher curada, Porém como estava vendo Ela muito ensanguentada Correu ela, mas não viu, Nem o sinal da facada.
O pobre entusiasmado
Disse-lhe: _Já conheceu Quando esta rabeca estava Na mão de quem me vendeu, Tinha feito muitas curas De gente que já morreu!
No lugar onde eu estiver
Não deixo ninguém morrer, Como eu adquiri ela Muita gente quer saber Mas ela me está tão cara Que não me convém dizer.
O velho que tinha vindo
Somente propor questão, Por que o cavalo velho Nunca botou um tostão Quando viu a tal rabeca Quase morre de ambição.
_Compadre, você desculpe
De eu ter tratado assim Porque agora estou certo Eu mesmo fui o ruim Porém a sua rabeca Só serve bem para mim.
_Mas como eu sou um homem
De muito grande poder O senhor é um homem pobre Ninguém quer o conhecer Perca o amor da rabeca... Responda se quer vender?
_Porque a minha mulher
Também é muito estouvada Se eu comprar esta rabeca Dela não suporto nada Se quiser teimar comigo, Eu dou-lhe uma facada.
_Ela se vê quase morta
Já conhece o castigo, Mas eu com esta rabeca Salvo ela do perigo Ela daí por diante, Não quer mais teimar comigo!
Disse-lhe o compadre pobre:
_O senhor faz muito bem, Quer me comprar a rabeca Não venderei a ninguém Custa seis contos de réis, Por menos nem um vintém.
O velho muito contente
Tornou então repetir: _A rabeca já é minha Eu preciso a possuir Ela para mim foi dada, Você não soube pedir.
Pagou a rabeca e disse:
_Vou já mostrar a mulher! A velha zangou-se e disse: _Vá mostrar a quem quiser! Eu não quero ser culpada Do prejuízo que houver.
_O senhor é mesmo um velho
Avarento e interesseiro, Que já fez do seu cavalo Que defecava dinheiro? _Meu velho, dê-se a respeito, Não seja tão embusteiro.
O velho que confiava
Na rabeca que comprou Disse a ela: _Cale a boca! O mundo agora virou Dou-lhe quatro punhaladas, Já você sabe quem sou.
Ele findou as palavras
A velha ficou teimando, Disse ele: _Velha dos diabos Você ainda está falando? Deu-lhe quatro punhaladas Ela caiu arquejando...
O velho muito ligeiro
Foi buscar a rabequinha, Ele tocava e dizia: _Acorde, minha velhinha! Porém a pobre da velha, Nunca mais comeu farinha.
O duque estava pensando
Que sua mulher tornava Ela acabou de morrer Porém ele duvidava Depois então conheceu Que a rabeca não prestava.
Quando ele ficou certo
Que a velha tinha morrido Boto os joelhos no chão E deu tão grande gemido Que o povo daquela casa Ficou todo comovido.
Ele dizia chorando:
_Esse crime hei de vingá-lo Seis contos desta rabeca Com outros seis do cavalo Eu lá não mando ninguém, Porque pretendo matá-lo.
Mandou chamar dois capangas:
_Me façam um surrão bem feito Façam isto com cuidado Quero ele um pouco estreito Com uma argola bem forte, Pra levar este sujeito!
Quando acabar de fazer
Mande este bandido entrar, Para dentro do surrão E acabem de costurar O levem para o rochedo, Para sacudi-lo no mar.
Os homens eram dispostos
Findaram no mesmo dia, O pobre entrou no surrão Pois era o jeito que havia Botaram o surrão nas costas E saíram numa folia.
Adiante disse um capanga:
_Está muito alto o rojão, Eu estou muito cansado, Botemos isto no chão! Vamos tomar uma pinga, Deixe ficar o surrão.
_Está muito bem, companheiro
Vamos tomar a bicada! (Assim falou o capanga Dizendo pro camarada) Seguiram ambos pra venda Ficando além da estrada...
Quando os capangas seguiram
Ele cá ficou dizendo: _Não caso porque não quero, Me acho aqui padecendo... A moça é milionária O resto eu bem compreendo!
Foi passando um boiadeiro
Quando ele dizia assim, O boiadeiro pediu-lhe: _Arranje isto pra mim Não importa que a moça Seja boa ou ruim!
O boiadeiro lhe disse:
_Eu dou-lhe de mão beijada, Todos os meus possuídos Vão aqui nessa boiada... Fica o senhor como dono, Pode seguir a jornada!
Ele condenado à morte
Não fez questão, aceitou, Descoseu o tal surrão O boiadeiro entrou O pobre morto de medo Num minuto costurou.
O pobre quando se viu
Livre daquela enrascada, Montou-se num bom cavalo E tomou conta da boiada, Saiu por ali dizendo: _A mim não falta mais nada.
Os capangas nada viram
Porque fizeram ligeiro, Pegaram o dito surrão Com o pobre do boiadeiro Voaram de serra abaixo Não ficou um osso inteiro.
Fazia dois ou três meses
Que o pobre negociava A boiada que lhe deram Cada vez mais aumentava Foi ele um dia passar, Onde o compadre morava...
Quando o compadre viu ele
De susto empalideceu; _Compadre, por onde andava Que agora me apareceu?! Segundo o que me parece, Está mais rico do que eu...
_Aqueles seus dois capangas
Voaram-me num lugar Eu caí de serra abaixo Até na beira do mar Aí vi tanto dinheiro, Quanto pudesse apanhar!..
_Quando me faltar dinheiro
Eu prontamente vou ver. O que eu trouxe não é pouco, Vai dando pra eu viver Junto com a minha família, Passar bem até morrer.
_Compadre, a sua riqueza
Diga que fui eu quem dei! Pra você recompensar-me Tudo quanto lhe arranjei, É preciso que me bote No lugar que lhe botei!..
Disse-lhe o pobre: _Pois não,
Estou pronto pra lhe mostrar! Eu junto com os capangas Nós mesmo vamos levar E o surrão de serra abaixo Sou eu quem quero empurrar!..
O velho no mesmo dia
Mandou fazer um surrão. Depressa meteu-se nele, Cego pela ambição E disse: _Compadre eu estou À tua disposição.
O pobre foi procurar
Dois cabras de confiança Se fingindo satisfeito Fazendo a coisa bem mansa Só assim ele podia, Tomar a sua vingança.
Saíram com este velho
Na carreira, sem parar Subiram de serra acima Até o último lugar Daí voaram o surrão Deixaram o velho embolar...
O velho ia pensando
De encontrar muito dinheiro, Porém secedeu com ele Do jeito do boiadeiro, Que quando chegou embaixo Não tinha um só osso inteiro.
Este livrinho nos mostra
Que a ambição nada convém Todo homem ambicioso Nunca pode viver bem, Arriscando o que possui Em cima do que já tem.
Cada um faça por si,
Eu também farei por mim! É este um dos motivos Que o mundo está ruim, Porque estamos cercados Dos homens que pensam assim. | |||||
:: Manoel Camilo dos Santos Manoel Camilo dos Santos nasceu em Guarabora, Paraíba, no dia 9 de junho de 1905. Foi cantador na década de 30. Tendo de cantar em 1940, dedicou-se a escrever e editar folhetos. Iniciou as atividades editoriais em sua cidade natal, indo continuá-las em Campina Grande, onde reside. A Folhateria Santos, por ele fundada, cede, anos depois, seu lugar a A "ESTRELA" DA POESIA, que ele mantém mais como um símbolo, sob cuja égide vem fazendo publicar os raros folhetos que ainda escreve.
Manoel é membro fundador da Academia Brasileira de Cordel, onde ocupa a cadeira nº 25, que tem como patrono Inácio Catingueira. Repentista e violeiro, é autor de mais de 80 folhetos.
O Sabido sem Estudo
Autor: Manuel Camilo dos Santos
Deus escreve em linhas tortas
Tão certo chega faz gosto E fez tudo abaixo dele Nada lhe será oposto Um do outro desigual Por isto o mundo é composto
Vejamos que diferença
Nos seres do Criador A águia um pássaro tão grande Tão pequeno um beija-flor A ema tão corredeira E o urubu tão voador
Vê-se a lua tão formosa
E o sol tão carrancudo Vê-se um lajedo tão grande E um seixinho tão miúdo O muçu tão mole e liso O jacaré tão cascudo
Vê-se um homem tão calado
Já outro tão divertido Um mole, fraco e mofino Outro valente e atrevido Às vezes um rico tão tolo E um pobre tão sabido
É o caso que me refiro
De quem pretendo contar A vida d’um homem pobre Que mesmo sem estudar Ganhou o nome de sábio E por fim veio a enricar
Esse homem nunca achou
Nada que o enrascasse Problema por mais difícil Nem cilada que o pegasse Quenguista que o iludisse Questão qu’ele não ganhasse
Era um tipo baixo e grosso
Musculoso e carrancudo Não conhecia uma letra Porém sabia de tudo O povo o denominou O Sabido Sem Estudo...
Um dia chegou-lhe um moço
Já em tempo de chorar Dizendo que tinha dado Cem contos para guardar Num hotel e o hoteleiro Não quis mais o entregar
O Sabido Sem Estudo
Disse: - isto é novidade? Se quer me gratificar Vamos lá hoje d etarde Se ele entregar disse o moço: - Dou ao senhor a metade
O Sabido Sem Estudo
Disse: - você vá na frente Que depois eu vou atrás Quando eu chegar se apresente Faça que não me conhece Aí peça novamente
O Sabido Sem Estudo
Logo assim que lá chegou Falou com o hoteleiro Este alegre o abraçou O rapaz nesse momento Também se apresentou
O Sabido Sem Estudo
Disse: - Eu quero me hospedar Me diga se a casa é séria Pois eu preciso guardar Quinhentos contos de réis Pra depois vir procurar
Respondeu o hoteleiro:
- Pois não, a casa é capaz Agora mesmo eu já ia Entregar a este rapaz Cem contos que guardei dele Há pouco dias atrás
Nisto o dono do hotel
Entrou e saiu ligeiro Com um pacote, disse ao moço: - Pronto amigo, seu dinheiro Confira que está certo Pois sou homem verdadeiro
Aí o Sabido disse:
- Ladrão se pega é assim Você enganou o tolo Mas foi lesado por mim Vou metê-lo na polícia Ladrão, safado, ruim
O hoteleiro caiu
Nos pés dele lhe rogando: - Ó meu senhor não descubra Disse ele: - só me dando A metade do dinheiro Que você ia roubando
O hoteleiro prevendo
A derrota em que caía Além de ir pra cadeia Perder toda freguesia Teve que gratificar-lhe Se não ele descobria
Foi ver os cinqüenta contos
No mesmo instante lhe deu Outros cinqüenta do moço Ele também recebeu E disse: - nestas questões Quem ganha sempre sou eu
E assim correu a fama
Do Sabido Sem Estudo Quando ele possuía Um cabedal bem graúdo O rei logo indignou-se Quando lhe contaram tudo
Disse o rei: - e esse homem
Sem nada ter estudado Vive de vencer questão? Isso é pra advogado Vou botá-lo num enrasque Depois o mato enforcado
O rei mandou o chamar
E disse: - eu quero saber Se o senhor é sabido Como ouço alguém dizer Vou decidir sua sorte Ou enricar ou morrer
Você agora vai ser
O médico do hospital E dentro de quatro dias Tem que curar afinal Os doentes que lá estão De qualquer que seja o mal
Se você nos quatro dias
Deixar-me tudo curado De forma que fique mesmo O prédio desocupado Ganhará cinco mil contos Se não será degolado
Está certo disse ele
E saiu dizendo assim: - O rei com essa asneira Pensa que vai dar-me fim Pois eu vou mostrar a ele Se isto é nada pra mim
E chegando no hospital
Disse à turma de enfermeiros: - Vocês podem ir embora Eu sou médico verdadeiro De amanhã em diante aqui Vocês não ganham dinheiro
Porque amanhã eu chego
Bem cedo aqui neste canto Mato um destes doentes E cozinho um tanto ou quanto Com o caldo faço remédio E curar os outros eu garanto
Foram embora os enfermeiros
E ele saiu calado Os doentes cada um Ficou dizendo cismado - Qual será o que ele mata? Será eu? Isto é danado!...
Outro dizia consigo:
- Será eu o caipora? Mais tarde um disse: - E eu Estou sentindo melhora Outro levantou e disse: - Estou melhor, vou embora
Um amarelo que estava
Batendo o papo e inchado Lavantou-se e disse: - Eu Estou até melhorado Pois já estou me achando Mais forte, gordo e corado
Já estou sentindo calor
De vez em quando um suor Um doente disse: - Tu Estás é muito peior Disse o amarelo: - Não Vou embora, estou melhor
E assim foram saindo
Cada qual para o seu lado Quando chegava na porta Dizia: - Vôte danado! O diavo é quem fica aqui Pra amanhã ser cozinhado
Um moço disse que ouviu
Um mudo e surdo dizer Que um cego tinha visto Um aleijado correr Sozinho de madrugada Já com medo de morrer
De fato um aleijado
Que tinha as pernas pegadas Foi dormir, quando acordou Não achou os camaradas A casa estava deserta E as camas desocupadas
Com medo pulou da cama
E as pernas desencolheu Rasgou a "péia" no meio E assombrado correu Dizendo: - Fiquei dormindo E nem acordaram eu!...
No outro dia bem cedo
O Sabido Sem estudo Chegando no hospital Achou-o deserto de tudo Sorriu e disse consigo: - Passei no rei um canudo
O Sabido Sem Estudo
Chegou no prazo marcado Na corte e disse ao rei: - Pronto já fiz seu mandado Os doentes do hospital Já saiu tudo curado
O rei foi pessoalmente
Percorrer o hospital Não achando um só doente Disse consigo afinal: - Aquele ou é satanás Ou um ente divinal
Deu-lhe o dinheiro e lhe disse:
- Retire-se do meu reinado O Sabido Sem Estudo Lhe disse: - Muito obrigado Pra ganhar dinheiro assim Tem às ordens um seu criado | |||||
:: Manoel d'Almeida Filho Publicou em João Pessoa PB, em 1936, A Menina que Nasceu Pintada com as Unhas de Ponta e as Sobrancelhas Raspadas, seu primeiro folheto. Entre 1965 e 1995, trabalhou como selecionador de folhetos de cordel para a Luzeiro Editora, em São Paulo, o que lhe conferiu grande importância no mercado editorial do gênero. Em 1995 tornou-se membro da ABLC, no Rio de Janeiro. Escreveu dezenas de folhetos , entre os quais Vicente, o Rei dos Ladrões (1957), Peleja de Zé do Caixão com o Diabo (1972), Vida, Vingança e Morte de Corisco (1986 ), Briga de São Pedro com Jesus por Causa do Inverno. O Milagre da Apolo 13 (1986), Como Ser Feliz no Casamento (1988), Os Amigos do Barulho e o Bandido Carne Frita (1991) e A Afilhada da Virgem da Conceição (1995). | |||||
:: Manoel Monteiro Manoel Monteiro da Silva ou simplesmente Manoel Monteiro, como assina seus trabalhos, nasceu em Bezerro, Pernambuco, no dia 4 de Fevereiro de 1937. É o mais importante cordelista brasileiro em atividade, com uma produção densa e diversificada, abarcando toda a área da atividade humana.
Seguro no ofício de escrever versos rimados e metrificados, suas narrativas são envolventes e prendem o leitor do princípio ao fim, além da influência verbal, própria dos grandes mestres. Em razão da qualidade de sua produção, a literatura de cordel está sendo indicada para a grade escolar de várias cidades brasileiras.
| |||||
:: Mestre Azulão José João dos Santos, Mestre Azulão, é natural de Sapé, Paraíba, onde nasceu aos 8 de janeiro de 1932. Cantador de viola e poeta de bancada, autor de mais de 100 folhetos, vive há vários anos no Rio de Janeiro e atuou na famosa Feira de São Cristóvão, abrindo caminho para outros poetas nordestinos que lá se estabeleceram. É um dos poucos cantadores vivos que ainda cantam romances, sendo freqüentemente convidado para apresentações em universidades brasileiras e até do exterior. Tem trabalhos publicados pela Tupynanquim Editora.
Camisinhas para todos
Autor: José João dos Santos (Mestre Azulão)
AIDS é uma moléstia
De temeridade imensa Você vê televisão? Ouve rádio, lê imprensa? Não fique aí de joelhos Tome logo meus conselhos Para evitar a doença
AIDS não pega no beijo
Nem num aperto de mão É transmitida no sangue Através da transfusão Ou na extração de dente Se usar de um doente A agulha da injeção
Criança também tem AIDS
Transmitida pelos pais Vítimas duma transfusão Ou farras e bacanais Mata, avião, trem e carro Apesar que o cigarro Está matando muito mais
Você tem uma mulher
Formosa igualmente Lua Porém não se satisfaz Ainda quer mulher da rua Ou transa com a vizinha Use uma camisinha Pra não transmitir pra sua
Amantes e namorados
Ouçam bem o que lhes digo Podem beijar, abraçar, Chupar da cara ao umbigo Seja fêmea, seja macho Só do umbigo pra baixo É que começa o perigo
Até mesmo os astronautas
Que conheceram grande parte do Cosmo, em viagem a lua Mostrando façanha e arte Viram planetas pequenos, Usam camisa de Vênus Antes de chegarem à Marte
Um fazendeiro baiano
Que mora em Alagoinhas Quando leu pelos jornais Comprou dez mil camisinhas Até pra bois e cavalos Principalmente pros galos Que transam com mil galinhas
Esse também tem um jegue
Reprodutor violento E está preocupado Com a vida do jumento Vai fazer o jegue usar Camisa, pra não pegar AIDS a qualquer momento
Uma garota me disse
Porém me pediu um segredo Que apesar de donzela Da AIDS tem muito medo Vai comprar a camisinha Pra quando ficar sozinha Usar na ponta do dedo
Se não criarem uma droga
Que salva a humanidade A AIDS vai provocar Uma grande mortandade Pior que a segunda guerra De todos os povos da terra Vai morrer mais da metade
Quando aproximar-se o fim
Diz a sagrada escritura Vem a desobediência Guerra, nudez e loucura O povo em Deus perde a crença E aparecerá a doença Que a medicina não cura
O povo está corrompido
No tóxico, sexo, no vício Ódio, maldade e ganância Gerando guerra e suplício O mundo está num vulcão Com toda população Na beira do precipício
Satanás plantou no mundo
Sua semente do mal Inventando toda espécie de vício sexual Vem aí por recompensa Desconhecida doença Pra destruição total
Não adianta conselho
De pastor, Papo de Roma Essa geração perdida Ouve o conselho e não toma Essa gente corrompida Vai ser toda destruída Como o povo de Sodoma
Somente imoralidade
Toma corpo e continua Mulher de bunda de fora Na televisão, na rua, Não existe mais pudor Pra esses só tem valor Pederasta e mulher nua
Os nossos filhos não podem
Assistir televisão Porque em todos canais Só tem esculhambação Casal nu e cena louca Chupando a língua e a boca Ensinando a perdição
A televisão foi feita
Pra nos mostrar coisa pura Ensinar aos nossos filhos Patriotismo e cultura Porém da roça e a cidade Só mostra imoralidade Livre de toda censura
Devassidão, crime e roubo
Televisão tudo tem Trazidas pelas imagens Que pros nosso lares vêm Violência em todo estilo A criança vê aquilo Depois vai fazer também
Ensina moça andar nua
Mulher trair o marido Garota aprender o sexo Garoto virar bandido Nessa transação imensa De crime, tóxico e doença Deixou o mundo perdido
Deus lá de cima está vendo
Na terra tanta maldade Permite que aconteça Uma grande mortandade Pra esse povo perdido Devassado e corrompido Se acabar mais da metade
Está aí o exemplo
Da AIDS com seu efeito Se espalhando no mundo Matando a torto e a direito Diz o rádio e a imprensa Que essa infernal doença Não há médico que dê jeito
Os maiores cientistas
Estão tentando descobrir Um remédio para a AIDS Parar ou diminuir Mil esforços estão fazendo E cada estão vendo A doença progredir
Testes com milhões de plantas
Fazem nos laboratórios Sangue e peles de animais Mas são testes provisórios Depois de analisados Não acharam resultados De cunhos satisfatórios
Estão firmes no propósito
De descobrir num segundo Uma droga positiva Que tenha efeito profundo Enquanto não acontece A AIDS se estende e cresce Por toda parte do mundo
E o número de doentes
Todo o dia está crescendo Uns andando pela rua Uns em coma, outros morrendo Por aí tem muita gente Que está em casa doente De AIDS e nem está sabendo
Quem é rico gasta muito
Pra mais uns dias viver Tomando remédios caros Mas o pobre sem poder Fica gemendo e chorando Lá numa cama esperando Só a hora de morrer
Se descobrirem um remédio
Que cure com resultado Quem compra é capitalista Milionário e potentado Só cura o doente nobre E o miserável do pobre Tem é que morrer lascado
É como diz a piada
Do humorista jocoso Na terra vale quem tem Por ser rico e poderoso E diz quando se sacode Rico vive porque pode Pobre vive de teimoso
Já dei minha opinião
Ao leitor que me entender Zombar de ninguém não quero Uma coisa eu quis dizer Lembre meu leitor amado Aquele velho ditado O pobre vem pra sofrer | |||||
:: Patativa do Assaré "Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui a 5 de março de 1909, no Sítio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Com a idade de doze anos, frequentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses, porém sem interromper muito o trabalho de agricultor.
Saí da escola lendo o segundo livro de Felisberto de Carvalho e daquele tempo para cá não frequentei mais escola nenhuma. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam. Nunca quis fazer profissão de minha musa, sempre tenho cantado, glosado e recitado, quando alguém me convida para este fim."
Saudação ao Juazeiro do Norte
Autor: Patativa do Assaré
Mesmo sem eu ter estudo
sem ter do colégio o bafejo, Juazeiro, eu te saúdo com o meu verso sertanejo Cidade de grande sorte, de Juazeiro do Norte tens a denominação, mas teu nome verdadeiro será sempre Juazeiro do Padre Cícero Romão.
O Padre Cícero Romão
que, vocação celeste foi, com direito e razão o Apóstolo do Nordeste. Foi ele o teu protetor trabalhou com grande amor, lutando sempre de pé quando vigário daqui, ele semeou em ti a sementeira da fé.
E com milagre estupendo
a sementeira nasceu, foi crescendo, foi crescendo Muito ao longe se estendeu com a virtude regada foi mais tarde transformada em árvore frondosa e rica. E com luz medianeira inda hoje a sementeira cresce, flora e frutifica.
Juazeiro, Juazeiro
jamais a adversidade extinguirá o luzeiro da tua comunidade. morreu o teu protetor, porém a crença e o amor vive em cada coração e é com razão que me expresso tu deves o teu progresso ao Padre Cícero Romão
Aquele ministro amado
que tanto favor nos fez, conselheiro consagrado e o doutor do camponês. contradizer não podemos E jamais descobriremos O prodígio que ele tinha: Segundo a popular crença, curava qualquer doença, com malva branca e jarrinha.
Juazeiro, Juazeiro
tua vida e tua história para o teu povo romeiro merece um padrão de glória. De alegria tu palpitas, ao receber as visitas de longe, de muito além, Grande glória tu viveste! Do nosso caro Nordeste tu és a Jerusalém.
Sempre me lembro e relembro,
não hei de me deslembrar: O dia 2 de Novembro, tua festa espetacular pois vem de muitos Estados os carros superlotados conduzindo os passageiros e jamais será feliz aquele que contradiz a devoção dos romeiros.
No lugar onde se achar
um fervoroso romeiro, ai daquele que falar, contra ou mal, do Juazeiro. Pois entre os devotos crentes, velhos, moços e inocentes, a piedade é comum, porque o santo reverendo se encontra ainda vivendo no peito de cada um.
Tu, Juazeiro, és o abrigo
da devoção e da piedade. Eu te louvo e te bendigo por tua felicidade, me sinto bem, quando vejo que tu és do sertanejo a cidade predileta. Por tudo quanto tu tens recebe estes parabéns do coração de um poeta. | |||||
:: Raimundo Santa Helena Raimundo Luiz do Nascimento nasceu em Santa Helena, município fundado por seu pai, que morreu em 1927 combatendo o bando de Lampião. Saiu de casa aos 11 anos, disposto a vingar a morte do pai. Em Fortaleza, no Ceará, trabalhou como trocador de ônibus, garçom, baleiro e engraxate. Em 1943 ingressou na escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. Participou da Segunda Guerra mundial, sendo por duas vezes condecorado pelo presidente da República.
Em 1945 publicou seu primeiro cordel, "Fim da guerra". Fundou a Cordelbras. Em 1983 recebeu juntamente com Gilberto Freyre, Augusto Ruschi e Jorge Amado o Prêmio Porto de São Mateus de Resistência cultural. Tem cerca de 2 milhões de exemplares de mais de 300 títulos em circulação. Foi criador da Feira de São Cristovão, no Rio de Janeiro. Escreveu ainda os livros "Lampião e o sangue de meu pai" e "Um marujo na esquina do mundo".
| |||||
:: Severino Milanês Severino Milanês da Silva nasceu em Vitória de Santo Antão, Pernambuco. Faleceu em seu estado natal, em 1956. Repentista e poeta de bancada, exerceu com aprumo sua atividade poética, tanto na cantoria quanto no folheto. De sua bibliografia constam vários títulos dos gêneros discussão e peleja. A considerar também a lista de romances de amor e histórias de princesas e príncipes encantados, é de se atribuir a Milanês predileção por esses dois temas. | |||||
:: Silvino Pirauá Silvino Pirauá de Lima nasceu em Patos, em 1848 e faleceu em Bezerros, Pernambuco, em 1923. Cantador e poeta popular, foi tido como o discípulo amado de Romano do Teixeira, o célebre cantador que travou com Inácio da Catingueira legendária peleja. Ao lado de Ugolino Nunes da Costa e Romano Caluete, seu mestre, Silvino é considerado um dos maiores da poesia popular nordestina. Juntamente com Leandro Gomes de Barros, é considerado um dos criadores da literatura de folhetos.
Além de bom improvisador e glosador, introduziu várias inovações formais na poesia popular: foi um dos primeiros a usar a sextilha e é tido como criador do "martelo agalopado". Autor de uma das várias versões que se conhece da peleja de Romano do Teixeira com Inácio da Catingueira, escreveu, entre outros títulos: "História do capitão do navio", "As três moças que quiseram casar com um s´moço", "verdadeira peleja de São francisco Romão" e "A vingança do sultão".
|
3 comentários:
Nada a comentar. Gostaria só de saber da professora ODE MARTINS se pode uma professora que dá aula para um sexto ano (crianças com 11 e 12anos) pedir uma pesquisa sobre um cordel, mencionar o nome do cordelista, pedir para escrever o número de versos, o número de sílabas poéticas por versos e o esquema de rimas? Sou avô de um menino de 11 anos tenho formação acadêmica e estou me sentindo perdido, pois não domino a nomenclatura sobre cordéis. Eu escolhi Apolônio Alves dos Santos e o trabalho DISCUSSÃO DO CARIOCA COM O PAU - DE - ARARA. Se puder me responder eu lhe agradeceria meu mluzanini@hotmail.com M. Luiz Zanini.
Obrigada por compartilhar seus conhecimentos. Atividades excelentes.
Obrigada por compartilhar suas atividades. Todas com excelente qualidade.
Postar um comentário