1. O que te motiva a escrever?
Desde pequeno sempre gostei muito de ler e tinha como projeto escrever. Já escrevi vários contos e poemas, mas não havia ainda escrito nenhum romance. No ano de 2012 resolvi colocar este projeto em prática.
Meu projeto envolve escrever romances, embora goste muito de escrever poesias e contos.
2. Como se dá o processo criativo na tua vida cotidiana?
Eu fico maturando a ideia, imaginando as cenas e depois as escrevo. Gosto de acordar cedo para escrever ou então a noite, quando há silêncio e mistério no ar. Algumas vezes um fato me chama a atenção e eu fico com aquilo em mente, num processo de criação, até se transformar num poema ou conto. No caso dos romances eu fico criando o enredo e escrevo um pouco e vou mudando o curso da trama enquanto escrevo.
3. Quais são os ROMANCISTAS E CONTISTAS mundiais e nacionais de sua preferência?
Existem vários autores que são meus favoritos. Gosto de Saramago, Morris West, Hemingway, Konsalink, Kundera, é difícil querer citar alguns, pois sempre se comete injustiça com os demais. Gosto de autores nacionais também, atuais como o Luiz Veríssimo, a Ligia Fagundes Telles e os antigos, como Machado de Assis, Alencar, Euclides da Cunha e tantos outros. Sempre digo que não há como recomendar um autor ou livro que seja imperdível, pois acredito que todas as pessoas deveriam ler pelo menos 100 livros na sua vida. Certamente elas veriam o mundo de forma bem diferente.
4. SETE LUAS é o seu primeiro romance? Quais as dificuldades que encontrou quando escrevia?
Sete Luas é meu segundo romance. O primeiro se chama “O Eterno Barnes”, um médico que tentava se tornar eterno, transferindo os dados de seu cérebro para o de um paciente.
A maior dificuldade, o grande problema de escrever é a disciplina e a motivação, pois fico constantemente me perguntando se vale a pena escrever ou não, ou se a história tem fundamento.
5. Quais as dificuldades que o escritor enfrenta para escrever e publicar? Enfim, por que existem mais cronistas do que contistas e romancistas?
Vejo que o grande problema é a criação e o enredo, o surgimento e desenvolvimento da ideia. Escrever é difícil e penoso, exige esforço e dedicação, embora quem esteja fora sempre ache que é fácil.
Analisando por essa ótica, a crônica se torna menos difícil (não mais fácil) em razão de tratar do cotidiano, da experiência que se visualiza, ou seja, o cronista traduz o que vê. O conto já envolve a criação de um mundo imaginário, que pode ser baseado na realidade ou não. Penso que exige mais esforço e mais criatividade. Já o romance necessita da trama dos personagens se entrelaçando nesse mundo imaginário, envolvendo muito mais esforço criativo e muito mais desenvolvimento.
Penso que os cronistas são mais vistos, pois precisam alimentar a mídia diuturnamente, já os contistas e romancistas não tem como expor seu trabalho com tamanha frequência. Mas não creio que existam graduações na arte de escrever. Como em todas as manifestações artísticas existem os bons e os ruins, sempre ao alvitre do humor do leitor.
Já publicar um livro é mais difícil ainda, os custos são altos e a grande maioria que publica acaba arcando com os custos praticamente sozinho.
6. Em que situação está, hoje, o ensino de literatura nas escolas? Como ela pode ser melhorada?
Vejo o livro como a grande conquista do ser humano e que está perdendo terreno gradativamente para outros meios de mídia.
Por essa razão temos hoje um grande desafio que é o despertar nas crianças e jovens o prazer da leitura. A mídia virtual está tomando o lugar dos livros convencionais e não está sobrando tempo para ler. Não sou especialista em educação, mas fui professor por muitos anos e percebo que hoje as “cartilhas” são muito direcionadas, não despertando o interesse pela leitura. Para melhorar esse quadro as escolas precisam se adequar ao moderno, “ambientando” o livro, criando mecanismos de incentivo à leitura, promovendo eventos literários, ou seja, trazer o livro para o centro do ensino.
7. Qual é a temática central de SETE LUAS? Por que escolheu este tema?
A temática trata de uma tribo indígena que precisa ser realocada em razão da inundação de suas terras pela represa de Belo Monte, no Pará. O livro mostra a discussão do progresso e seu preço, a busca desenfreada do lucro e a pureza do conhecimento indígena. É um romance onde tento demonstrar o contraste entre a pureza do coração de alguns e a avareza que busca o lucro desenfreado. Acredito que é um livro sensível e humano.
Escolhi o tema a partir de contatos que mantive com indígenas e ao perceber que por trás de sua condição de penúria havia conhecimentos inexplorados. Me aprofundei no tema e surgiu o romance.
8. No momento, você está preparando outro livro? De contos, poesias, crônicas ou romance?
Estou com o projeto de iniciar um outro romance, estou ainda na fase de pesquisa e desenvolvimento da ideia. Posso adiantar que é uma história ambientada em Jerusalém.
9. Por que o brasileiro lê tão pouco? Como isso poderia ser melhorado?
Falta-nos o hábito de leitura. Falta os pais lerem ou contarem histórias para seus filhos, falta tomarmos consciência do tesouro que o livro é. Infelizmente os trabalhos envolvendo o incentivo à leitura são feitos por poucos abnegados. Nosso país busca a qualquer custo erradicar o analfabetismo, mas não contabiliza os analfabetos funcionais, aqueles que dizem saber ler, mas não compreendem que leem. E o acesso ao livro é ruim, seja no custo, seja na distribuição, seja no alcance. Não temos uma política nacional voltada para o incentivo à leitura.
10. A Internet pode mudar a forma de escrever? De que forma ela pode ajudar a divulgar a literatura?
Estamos passando por uma revolução, onde o livro acaba sendo rotulado como algo chato e tedioso. Estamos na era “fast”, tudo tem que ser rápido e abreviado, ninguém mais consulta dicionário e o vocabulário está sendo reduzido a poucas palavras e, ainda por cima, abreviadas.
Esse processo acaba por nos embrutecer, porque as palavras traduzem sentimentos e se diminuirmos o uso das palavras, diminuímos consequentemente a percepção dos sentimentos, as nuances que podem ser formadas pelo uso dessa ou daquela palavra. Hoje temos aplicativos que escrevem romances baseados nas características de determinado autor. Mas esses aplicativos não conseguem urdir tramas que envolvem sentimentos, pois isso é intrínseco do ser humano, pelo menos até hoje.
No entanto, a internet pode servir como ferramenta poderosa de divulgação, pois atinge rapidamente muitas pessoas ao mesmo tempo. Infelizmente a quantidade de material imprestável que circula é altíssima. Hoje temos dificuldade de separar o que é bom do que é ruim. Acredito que aos poucos vamos caminhando para melhor.
É provável que o livro convencional desapareça, mas creio que a leitura não vai desaparecer, pois é a única forma de saber o que meu semelhante pensa.