(Para Tiva Pisetta)
Um dia houve uma Urda Alice Schoenau. Na altura de 1950, era alguém revolucionária na pacata e antiga cidade de Blumenau. Trabalhava como frentista do posto de gasolina (quantos postos de gasolina haveria então?), usava calças compridas. Minha mãe a admirava tanto que pôs em mim o nome dela. Nunca a conheci pessoalmente, mas no bauzinho de madeira onde se guardavam tais coisa, na nossa casa, havia uma foto dela – era loira e muito bonita. Quando cresci e passei a votar, um dos mesários da minha mesa eleitoral, a cada eleição me perguntava se eu era parente de Urda Alice Schoenau. Eram as antigas mesas eleitorais em que votei com o velho título, na Artex e no Colégio Celso Ramos. Aquele mesário me falou, algum dia, alguma coisa, sobre essa minha xará viver, à época, na cidade de Indaial, mas a gente nunca se encontrou. Penso se ela ainda vive, se aquele antigo mesário ainda vive. Votava na Garcia quando era uma mocinha.
Depois, teve o caso de Tiva Pisetta, uma moça de Rodeio/SC que era enfermeira do Dr. Ernani Senra, o médico que me botou viva no mundo, em antiga clínica dos altos da Rua XV, em Blumenau, onde meus pais moravam então. Essa moça, Tiva Piseta, por aqueles dias, foi madrinha de uma sobrinha que nasceu, e escolheu para ela o nome de que gostara tanto, não sei se por minha casa ou par causa de Frau (ou Fräulein) Schoenau, e lá em Rodeio foi batizada uma Maria Urda Alice, a quem, também, nunca conheci.
Assim, há ou houve pelo menos três Urdas Alices sobre a face da terra, e fico pensando na mãe daquela primeira que sei, de onde desencantou tal nome!
O triste, aqui, foi o que aconteceu com Tiva Pisetta. Era uma jovem, então, e foi tomada por um câncer, no tempo que tal coisa era sentença de morte. A sentença logo se cumpriu. Meus primeiros anos foram ouvindo referências a ela e ao seu sofrimento, com minha mãe nos deixando por algumas horas pra ir a Rodeio visita-la, o que, então era uma viagem. Um dia, acho que quando tinha três anos, minha mãe de novo foi para Rodeio para o enterro dela, e eu fiquei no nosso jardim, despetalando dálias coloridas, flor que nunca compreendi.
Houve que passar o tempo e eu ter um carro para ir com minha mãe a Rodeio, ao túmulo de Tiva Piseta, aquela moça que me cuidara nos meus primeiros vagidos e que deixara tão boa lembrança em minha mãe.
Assim, houve ou há outras Urdas Alices neste planeta. Gostaria de saber se mais alguém cometeu tal loucura para com uma menininha. Acho um nome bem pesado de carregar, mas estou a leva-lo pela vida fora.
Vivas ou mortas, Urda Alice Schoenau e Maria Urda Alice, abençoem-me, nesta madrugada em que estou especialmente cansada! Talvez suas energias possam me ajudar!
Blumenau, 08 de Novembro de 2015.
Urda Alice klueger
Escritora, historiadora e doutora em Geografia
urdaaliceklueger@gmail.com
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