Donald Malschitzky - Por respeito, peço respeito

Pelas mães que choraram e procuraram e morreram sem encontrar, sem saber, sem viver sua esperança, pelas mães dos rebentos que cresceram e resolveram sonhar na hora errada, no lugar errado e se transformaram em saudade de lembrança, peço respeito, por favor.

Pelos filhos que dormiam e não viram os pais serem levados e não os reconheceram quando voltaram, magros e amargos, com medo pintado nos olhos, é preciso respeito.

Pelos meninos que vestiram de verde e, enfileirados, foram ensinados a não pensar e a odiar quem não conheciam e acreditar numa realidade que sequer imaginavam, e cresceram sem saber a diferença sutil entre a verdade e os berros dos insanos, peço compreensão e respeito, pois muitos não sabiam.

Pelos que olharam sobre os muros e pelas frestas da brisa da liberdade, e por ela e pela crença deram de si e se deram e enfrentaram carrascos que não eram pais, pois não mereciam sê-lo. Por seus gritos de desespero, peço um silêncio de respeito.

Pelos que andavam esquivos pelas ruas e mudavam de casa e liam livros proibidos, e que temiam o temor dos que já não podem confiar, peço um voto de respeito.

Pelos que escreviam e tinham suas letras riscadas, pelos que cantavam e viram calar sua canção, pelos que dançavam e riam e falavam nos palcos e tiveram os palcos invadidos, um aplauso de respeito.

Pelos que queriam contar o que acontecia, mas não podiam, pelos que queriam declamar na praça, e foram proibidos, peço respeito, tardio, mas respeito.

Pelos que foram arrancados de sua pátria e tiveram que respirar outras faces e outras línguas, e dormir com vontades que pareciam cada vez mais longínquas, peço respeito.

Pelos que, por herança ou convicção, acreditaram que não era assim, que essas coisas não aconteciam, que o caminho era correto, e eram honestos em sua convicção, um compreensivo respeito.

Mas, sobretudo, peço respeito àqueles que, de repente, sofrem a imensa desilusão provocada pela ação dos traidores travestidos de faróis. Por respeito a eles, peço, por favor, desconstruam a parede monocromática que construíram com nossa utopia e sem nossa autorização. 


1 comentários:

Donald Malschitzky disse...

Obrigado pela postagem, Ode. Abração

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