A MINHA PIEDADE

A Bourbon e Meneses 

Tenho pena de tudo quanto lida 
Neste mundo, de tudo quanto sente, 
Daquele a quem mentiram, de quem mente, 
Dos que andam pés descalços pela vida, 

Da rocha altiva, sobre o monte erguida, 
Olhando os céus ignotos frente a frente, 
Dos que não são iguais à outra gente, 
E dos que se ensanguentam na subida! 

Tenho pena de mim... pena de ti... 
De não beijar o riso duma estrela... 
Pena dessa má hora em que nasci... 

De não ter asas para ir ver o céu... 
De não ser Esta... a Outra... e mais Aquela... 
De ter vivido e não ter sido Eu... 

© FLORBELA ESPANCA 
In Charneca em flor, 1931 

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