As letras de luto


Morre João Ubaldo Ribeiro, aos 73 anos
Escritor foi vítima de embolia pulmonar na madrugada desta sexta-feira no Rio
POR O GLOBO
18/07/2014 7:22 / ATUALIZADO 18/07/2014 10:21
Joao Ubaldo Ribeiro, escritor. - Leonardo Aversa / Agência O Globo

RIO — O escritor João Ubaldo Ribeiro, de 73 anos, 7º ocupante da cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras e colunista do GLOBO e do "Estado de S.Paulo", morreu em casa na madrugada desta sexta-feira, no Leblon.

Autor de clássicos como “Sargento Getúlio” (1971) e “Viva o povo brasileiro” (1984), Ubaldo Ribeiro recebeu o Prêmio Camões, maior honraria da literatura em língua portuguesa, em 2008. Ele foi eleito para a ABL em 1993 para a cadeira número 34, no lugar do jornalista e escritor Carlos Castello Branco (1920-1993).
— Foi uma surpresa, um choque para a academia — disse Geraldo Holanda Cavalcanti, presidente da ABL. Ele estava muito bem disposto, em um momento de plena produção literária. É uma grande perda para as letras. Ele renovou a literatura brasileira. Com a publicação de "Viva o povo brasileiro", ele inaugurou uma nova etapa do nosso romance. É um momento bastante doloroso, logo depois da perda de outro grande, o Ivan Junqueira (jornalista,poeta e crítico literário morto no dia 3).

"Viva o povo brasileiro" ganhou o prêmio Jabuti em 1984. O livro, recheado de humor, recria quase quatro séculos da História do país, incluindo episódios marcantes, como a Guerra do Paraguai e a Revolta de Canudos, a partir da vida de personagens anônimos do povo brasileiro.

Ubaldo Ribeiro também teve obras adaptadas para o cinema e a TV. O romance "Sargento Getúlio", por exemplo, inspirou um longa-metragem de Hermano Penna em 1983, com Lima Duarte no papel principal. O livro narra a saga de Getúlio Santos Bezerra, sargento da PM que busca a proteção de um político após matar a própria mulher e passa a ter de servi-lo. Tendo como tema o banditismo no sertão, rendeu ao autor o Prêmio Jabuti em 1972 (na categoria revelação). O filme levou cinco Kikitos no Festival de Gramado.


Já o romance "O sorriso do lagarto" ganhou adaptação de Walther Negrão e Geraldo Carneiro para minissérie na TV Globo, em 1991, com Maitê Proença, Tony Ramos e Raul Cortez dando vida ao triângulo amoroso que marca a história. Nela, o biólogo João Pedroso (Tony Ramos) se envolve com Ana Clara (Maitê Proença), casada com o corrupto secretário de Saúde Ângelo Marcos (Raul Cortez), que planeja levar a especulação imobiliária para a paradisíaca ilha de Santa Cruz.

João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Ilha de Itaparica, na Bahia, em 23 de janeiro de 1941. Ele foi criado até os 11 anos no estado do Sergipe, onde seu pai trabalhava como professor e político. Antes de voltar para Itaparica, o escritor passou um ano em Lisboa e um ano no Rio de Janeiro.

INÍCIO NO "JORNAL DA BAHIA"

Formado em Direito pela Universidade da Bahia em 1962, Ubaldo Ribeiro jamais advogou. Ele fez pós-graduação em Administração Pública pela mesma instituição e mestrado de Administração Pública e Ciência Política pela Universidade da Califórnia do Sul, nos EUA.

A formação literária do escritor começou já nos seus primeiros anos de estudante. Ele foi um dos jovens escritores brasileiros que participaram do International Writing Program da Universidade de Iowa.

Entre outras atividades, o romancista, cronista, jornalista e tradutor foi professor da Escola de Administração e da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e professor da Escola de Administração da Universidade Católica de Salvador.

Entre 1990 e 1991, morou em Berlim, a convite do Instituto Alemão de Intercâmbio (DAAD – Deutscher Akademischer Austauschdienst). Ao retornar ao Brasil, passou a viver no Rio de Janeiro.

Seu primeiro emprego foi como repórter no "Jornal da Bahia", onde também viria a atuar mais tarde como redator, chefe de reportagem e colunista.

Em entrevista ao GLOBO em junho de 2012, ele comentou a atividade:

— O jornalismo me deu os macetes e recursos redacionais a que sua prática leva, bem como o senso de disciplina para não "furar a pauta", qualquer que seja ela, e escrever mesmo quando não se está disposto. E, entre os escritores brasileiros, grande número deles, ou a maior parte, é e tem sido de jornalistas. Pessoalmente tenho orgulho disso.

Ele também escrevia para o diário alemão "Frankfurter Rundschau". E já colaborou com publicações como o jornal "Diet Zeit" (Alemanha), "The Times Literary Supplement" (Inglaterra), "O Jornal" (Portugal), "Jornal de Letras" (Portugal), "Folha de S. Paulo" e "A Tarde".

João Ubaldo Ribeiro deixa a mulher, Berenice de Carvalho Batella Ribeiro, e quatro filhos: dois de seu casamento anterior, com Mônica Maria Roters, e dois com Berenice.

A ABL informou que o corpo chegará à sede da academia às 10h para o velório. Ainda não há informações sobre o local e o horário do enterro.

OBRA

Romances:

- "Setembro não tem sentido" (1968);

- "Sargento Getúlio" (1971);

- "Vila Real" (1979);

- "Viva o povo brasileiro" (1984);

- "O sorriso do lagarto" (1989);

- "O feitiço da Ilha do Pavão" (1997);

- "A casa dos budas ditosos" (1999);

- "Miséria e grandeza do amor de Benedita" (2000);

- "O albatroz azul" (2009).

Contos:

- "Lugar e circusntância". Conto para participar da antologia : "Panorama do conto baiano" (1959)

- "Josefina", "Decalião" e "O Campeão". Escreve três contos para participar da coletânea de contos " Reunião";

- "Vencecavalo e o outro povo" (1974);

- "Livro de histórias" (1981);

- "Contos e crônicas para ler na escola" (2010).

Crônicas:

- "Sempre aos domingos" (1988);

- "Um brasileiro em Berlim" - crônicas originalmente publicadas no jornal "Frankfurter Rundschau" e em livro, na Alemanha. (1995);

- "Arte e ciência de roubar galinhas" - coletânea de textos publicados na imprensa. (1999);

- "O conselheiro come" (2000);

- "A gente se acostuma a tudo" (2006);

- "O rei da noite" (2008).

Ensaio:

- "Política: quem manda, por que manda, como manda" (1981).

Literatura infanto-juvenil:

- "Vida e paixão de Pandonar, o cruel" (1983);

- "A vingança de Charles Tiburone" (1990).

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