– Conta, moço, conta! – pediam as crianças, que ouvindo a palavra assombração, abandonaram a ciranda.
– Se vocês insistem... Depois, nada de ficar com medo! Então, parece que estou escutando o Raul contar:
“– Vocês podem perguntá pra qualquer morador das fazendas por aí. Eles vão dizer que viram também. Eu tinha ido pra cidade e me demorei. Era umas dez da noite, quando peguei a estrada, que tem aquele capão, antes da fazenda Santa Luzia. Tava uma escuridão que só. O céu tava encoberto, ameaçando chuva. Pisei no acelerador pra chegar antes que descesse água. Dali a pouco, vi uma luz batendo no espelho retrovisor. Soltei um palavrão. Quem será que era o barbeiro que vinha atrás com luz alta? Diminuí a velocidade e dei lugar pro sujeito passar. Ele continuou atrás. Luz alta me cegando. Dali a pouco, percebi que me alcançava, rápido demais! Vai bater em mim! – pensei, segurando com força o volante, me preparando pra batida. Rapaz do céu! Vi a luz se erguer, passar por cima do carro e seguir adiante, na minha frente! Só vi a luz, carro que é bom, nada. Eu juro, por esta luz que tá me alumiando, que é a mais pura verdade!
– O senhor, pelo menos, tava de carro, compadre. Quando isso me aconteceu, eu tava a pé, voltando de um baile. Aconteceu a mesma coisa! Olhei pra trás e vi a luzinha. Ela foi chegando cada vez mais perto de mim. E eu cismado porque não ouvia o ronco do motor. Olhei pra trás, tinha sumido, quando virei pra frente, lá ia, na minha frente. Eu não sou medroso não, mas nunca mais peguei aquela estrada de noite, sozinho – reforçava o causo outro trabalhador.”
Verdade é que a tal luzinha continua perseguindo aqueles que se aventuram à noite por aquelas bandas.
A luzinha - Causos da roça - Odenilde Nogueira Martins
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