– É a mais pura verdade! Ninguém me contou. Eu vi! Não só eu. O Júnior também viu. Ele estava em nossa casa. Tinha vindo passar o fim de semana.
– Conta logo, papai! Conta!
– Não sei não! Periga ter gente aqui que não vai conseguir dormir.
– Conta! A gente não tem medo de nada!
– Está bem! Depois não quero ninguém na porta do meu quarto. Combinado?
– Combinado! Ninguém vai!
– Está certo! Era uma noite de lua cheia. Lá fora estava quase tão claro como está aqui. Depois de um dia inteiro de brincadeira, eu e Junior fomos dormir cedo. O dia seguinte ia ser de mais diversão. A gente estava tão cansado que adormeceu sem escovar os dentes. Lá pelo meio da noite, eu acordei com os latidos da cachorrada. Parecia que estavam avançando em alguém. Pensei que pudesse ser um gato ou um gambá. Virei pro lado, disposto a ignorar. Mas, daí, ouvi os cavalos relincharem na cocheira, e os cachorros avançarem com mais brabeza. Se fosse gato ou gambá, os cavalos não iam se agitar daquele jeito. Então, pensei que podiam estar sendo atacados por alguma serpente. Tinha muita cobra por causa do celeiro. Cobra adora lugar que tem milho. Levantei da cama e saí pra varanda espiar. Não acendi as luzes que era para os avós de vocês não acordarem. Do lado de fora da cocheira, estava o Malhado, corcoveando como se estivesse sendo esporeado, parecia que alguém estava montado nele em pelo e o segurava pela crina. O bicho estava doido, tentando se livrar do que estava grudado em seu lombo. Ah! Meus filhos, fiquei apavorado! Nisso chegou o Junior, muito assustado, agachou ao meu lado e ficamos assistindo à peleja do Malhado. De repente, ele se acalmou e só bufava. Os cachorros continuavam avançando em alguma coisa que não conseguíamos ver. Achei que devia acordar o pai pra ver o que estava acontecendo. Quando fiz menção de me levantar, o pobre animal soltou um relinchado agoniado e desabalou pelo pasto. A cachorrada toda atrás. Nem precisei chamar o pai, deu tempo de ele ver a corrida do Malhado. Até hoje não sei o que aconteceu. Na época, acreditava que era o Saci-Pererê fazendo estripulia.
– Pai, você não acha que era bom vender os cavalos? – perguntou um dos filhos de Daniel.
Cavalo disparado - Causos da roça - Odenilde Nogueira Martins
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