Poemas / Onévio Antonio Zabot

ADEUS ÀS BREVES GOTEIRAS

Ao ver a velha escola tombada pelo tempo
Senti uma dor infinita no coração.
Ali parada acenava para o mundo...

Socorro...! 

Desolada - pedia socorro à pequena escola.
Todos os alunos que por ali cruzaram subitamente
Reencontraram-se... Silêncio profundo.

Cumprimentam-se um a um como se estivessem
Assistindo a primeira aula... Manhãs de outrora. 
Estendem as mãos, rezam uma prece, doce glamour! 
Cena inesquecível, pássaros retornam aos ninhos.
Saudade danada que não acaba.

Quanta saudade, ó Deus!
Daqueles momentos fagueiros...
Quanta saudade...!
Rever companheiros, recreio de sempre,
Embora ali nunca tivesse estudado.

Não sei por que aquela
Era também minha escola.
O mesmo professor,
As mesmas carteiras d´outrora .

...Ali estive como extensionista,
Bem mais tarde que as andorinhas.
Que o diga Carlos Iarochinski
E seus atrevidos bem te vis.
O mundo é assim, nada podemos fazer...
Despistar o próprio destino.

Ao ver a escolinha abandonada...
Portas e janelas puídas - telhas tombadas no chão.
Beijo a velha porta carcomida.
Por onde tantos sonhos adentraram.

E lá estava o quadro negro:
Letras graúdas traçadas a giz:
Adeus às breves goteiras.

(Onévio Antonio Zabot)
Homenagem a Escola Isolada da Estrada Santa Catarina onde fiz minha primeira reunião como extensionista rural em Joinville (1979), hoje abandonada (2015), fruto da nucleação do ensino.


INDÓCEIS CARAVANAS

Sigam-me,
Disse o profeta. 

E todos o seguiram.

Primeiro as aves,
Depois as montanhas.

Os leões 
E suas mansas patas.

O vento,
E as brancas baleias semoventes.

Caminhar.
Luzes de caminhar.

Bois 
Mugiram.

Mansos bois:
Áspera memória.

Gramados ergueram-se:
Folhas novas.

Algas.
Incontáveis algas.

Raízes,
E o vento de sempre.

E todos seguiram:
Indóceis caravanas.

Seguiram de seguir,
Como cabras seguem.

Como bodes seguem:

Faca amolada
Afiando lua.

(Onévio, 2012)


AMIGO DAS NOITES VAGAS 

Pobre cão, tiveste a prisão como destino. 
Jamais sentiste o gosto da liberdade, 
Nem o cheiro das campinas em flor. 
E morreste, abandonado, numa noite de calor. 

Quantas noites intrigado olhaste a lua,
Quantas noites namoraste as estrelas.
E de tanto vê-las sonhaste com elas.
Mas agora estas com elas, e pode tê-las.

Aonde vagas, pelos campos do Senhor,
Amigos te recebem de abraços abertos.
E ladras feliz, velho cão companheiro!
Um grito de liberdade ecoa decerto.

Namorador de estrelas, a benção, enfim:
A boa brisa dos campos verdejantes...
E corres, corres pelas estradas do céu...
Nada lhe é estranho, tudo é fascinante.

Curta, curta o céu Nico velho de guerra!
Mas não esqueça aqui debaixo, da gente.
Quando puder, dê uma escapada, apareça.
Ficaremos felizes, em vê-lo novamente.

Traga notícias de lá... Mandaremos de cá.
Se foste amigo, mais ainda agora serás.
Erguer pontes no céu - que bela missão!
Unindo gente daqui com a gente de lá.

Um abraço aos amigos. Sentimos tua falta,
Mas vamos em frente, cheios de boa fé.
E um consolo que nos conforta somente:
Um dia estaremos juntos - se Deus quiser.
(Onévio )

Homenagem a Nico, bravo Nico (2010)


ÁRVORES AMIGAS

Onde dormem meus passarinhos
Que com que alegria fizeram seus ninhos, 
Mas que a esta hora não mais estão por aqui. 

Se foram acaso às calendas,
Assim que a noite cobriu o mundo
E sopram os ventos do frio inverno.

A esta hora, Santo Deus, que frio!
É o inverno com seu manto encarnado
A cobrir os campos gelados.

Mas esta hora onde repousam meus passarinhos,
Ressabiados passarinhos que tanto quero bem!
Quem por eles... Alguém acaso os salvará!

Há árvores aqui por perto
E há árvores ao longe.
Há árvores por todo o lado, árvores amigas.

É lá que dormem os passarinhos,
Domem meus passarinhos por lá...
Nas copadas verdes embalados a sonhar.

Respondam-me, ó fadas da mãe-natureza, 
Por favor, respondam-me,
Ó filhas prediletas do anoitecer.

Onde, onde...
Onde dormem meus passarinhos
Nestas frágeis horas.. Onde?!

Enquanto houver árvores amigas,
Responderam as fadas a soluçar...
Pássaros, pássaros amigos sempre haverá.

(Onévio)
Joinville, 17 de Julho, 2017


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Onévio Antonio Zabot

4 comentários:

Zabot disse...

Estimada Odi - nestas horas, horas vicejantes do entardecer, tuas palavras me comovem. Muito obrigado, obrigado mesmo companheira. Tenho profunda admiração, por você, por tua família. E dona Alice... O que dizes de Dona Alice, tua mãe por quem sempre tive profundo carinho.

Zabot disse...

Ode, OBRIGADO. Deus te abençoe. Onévio

Zabot disse...

Ode, não há como agradecer tamanha bondade. Obrigado, abraço fraterno.

Zabot disse...

Odi, és maravilhosa em verso e prosa. Obrigado querida amiga, permita-me assim chamá-la.

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