Que ora devo esperar de algum rever,
Da flor ainda fechada deste dia?
Com Paraíso e Inferna a te envolver,
Na indecisão tua alma se angustia! -
Adeus, ó dúvidas! No umbral dos Céus
Ela te leva a alçar nos braços seus.
No Paraíso então foste acolhido,
Como se jus fazendo á vida eterna;
Finda a esperança, e o desejo contido
Cá estava pois a meta mais eterna;
E ao contemplar da singular beleza
Secava a fonte ansiosa da tristeza.
Quão ligeiro o bater de asas do dia,
Parecendo os minutos a empurrar!
Fiel selar da noite, um beijo iria
No sol vindouro assim querer ficar.
as horas transcorriam tão normais
E meigas como irmãs, mas nunca iguais.
Esse beijo final, cruel doçura,
Uma trama de afetos desfazia.
O andar se esquiva da soleira escura,
Donde um anjo flamante o repelia.
O olhar se volta, percorrendo a estrada
Porém frustrou-se: a porta está fechada.
Teu próprio coração se fecha então,
Qual nunca aberto houvesse estado à hora
bendita junto dela, qual se não
Competisse em fulgor com o céu de outrora.
E a atmosfera se enche de aflição,
Desânimo, remorso, repreensão.
Não te resta ainda o mundo?Tais rochedos
Coroados não estão de sombras santas?
Não mudaram as safras? Com arvoredos
Entre prados e o rio não te encantas?
Formas não vêm e vão perenemente?
No arquear da grandeza transcendente?
No azul celeste, como um serafim
que a lembra na esbeltez, uma figura
Paira mimosa e vaporosa e assim
Das nuvens sai, ganhando mais altura:
Ei-la a reinar em dança prazenteira;
das imagens amadas a primeira.
( GOETHE - TRILOGIA DA PAIXÃO - TRADUÇÃO DE LEONARDO FRÓES, L&PM POCKET, REIMPRESSÃO, SETEMBRO, 2010 )
0 comentários:
Postar um comentário