A LEITURA DE IMAGEM NA INTERPRETAÇÃo
A análise do discurso tende a se concentrar na linguagem e nos contextos de seus significados, mas os objetos (e as imagens) também estabelecem e mantêm seus próprios discursos. Entender isso é essencial na interpretação de textos. Por exemplo, o trono de um rei estabelece seu próprio discurso. É um discurso que tem a intenção de dar autoridade e status ao seu usuário. Veja o exemplo abaixo:
Em geral, os discursos ajudam a formar nossas idéias sobre o mundo por meio de formas reguladas de uso. Os discursos consistem em áreas diferentes do conhecimento, normas vividas de experiência, estruturas de organização e tipos de identidade. Os discursos estabelecem as fronteiras desses elementos por meio de formas estabelecidas que criam ou refletem aspectos particulares da sociedade e da cultura. Por exemplo, há discursos profissionais (evidentes na linguagem dos peritos médicos e jurídicos), discursos de competição (que prevalecem nas idéias ocidentais sobre economia e política econômica), discursos de solidariedade (que se manifestam por intermédio das várias religiões e por meio da idéia de um estado nacional), discursos de aprendizado (que são criados e sustentados pelos sistemas educacionais convencionais), discursos de sexismo (que são
palpáveis nas expressões tanto verbais quanto visuais de indivíduos que pensam que os homens são superiores às mulheres de algum modo), e muitos outros discursos, que tanto formam quanto replicam nossas atitudes diante de diferentes pessoas, estilos de vida, instituições, objetos, imagens e textos.
Considere, por exemplo, os discursos de limpeza (que compartilham os diversos assuntos da área da saúde). Esses discursos têm prevalecido na cultura ocidental desde o período vitoriano e são promovidos de diversas maneiras e por meio de diferentes mídias (como, por exemplo, os panfletos educativos, histórias televisivas, livros sobre cuidados com a casa, dicas em revista de boa qualidade e anúncios de produtos de limpeza). Esses discursos atuam de modos diversos e por intermédio de mídias diferentes, para fazer com que o que já é conhecido (que a limpeza é importante para manter a boa saúde) pareça uma simples questão de bom-senso. De fato, esse é o objetivo de todos os discursos dominantes: fazer parecer que aquilo que é um produto cultural e social pareça ser natural e óbvio.
HALL, Sean. Isto significa isso, isso significa aquilo: guia de semiótica para iniciantes. São Paulo: Rosari, 2008. p. 147-148.
Para não esquecer:
Discurso: Uso da língua em uma situação de interação social específica, sujeito a fatores extralinguísticos associados ao contexto quando se produz um texto. Corresponde à voz de um grupo social.
Texto: espaço onde o discurso se materializa. É uma unidade linguística concreta pela qual um indivíduo manifesta o discurso do grupo ao qual pertence por meio dos recursos expressivos de que a língua dispõe.
Ideologia: sistemas de idéias sustentadas por um grupo social, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos.
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