Coesão textual – Tecendo a teia…
Texto para os exercícios 1 a 4
Na aurora dos anos sessenta, Júlio Cortázar anunciou o fim da leitura e o desaparecimento dos leitores, num mundo de tal forma saturado de escrita que os livros deixam de ser palavras que circulam: são só objetos que entulham o espaço.
É verdade que as leituras, ou ainda, as não-leituras de alguns nunca contribuíram tanto para que outros escrevessem: discursos de jornalistas, pedagogos ou políticos prescrevendo como salvar o que ainda pode ser salvo; discursos de historiadores, sociólogos e semiólogos analisando o que se lê, de que forma se lê ou não se lê, para compreender como se chegou a esse ponto. E mesmo quando procuram se distanciar de seu objeto, os trabalhos científicos sobre a leitura fazem parte dos universos que estudam. Quaisquer que sejam seus temas, métodos e conclusões, tais trabalhos constituem a maior prova de que o gesto de ler, indissociável do ingresso na modernidade cultural, perdeu sua transparente evidência.
Hoje, as grandes esperanças ligadas a uma divisão igualitária do ler parecem decepcionantes e os debates públicos soam como uma queixa unânime (“não se lê mais!”), denunciando uma moléstia social inaceitável que atinge tanto os grevistas iletrados e as crianças que fracassam na escola como os dirigentes de empresas das nossas sociedades técnicas.
Anne-Marie Chartier e Jean Hébrard. Discursos sobre a leitura – 1880-1980.
1. No parágrafo introdutório do texto, com quais recursos dissertativos os autores procuram envolver o leitor na discussão que apresentam?
2. Que tipo de argumentação alicerça o segundo parágrafo do texto? Com que finalidade?
3. Em que sentido o terceiro parágrafo apresenta coesão e coerência em relação aos anteriores?
4. Por quais razões podemos afirmar que o texto lido constitui uma dissertação clássica?
Instrução para os exercícios de 5 a 14
Corrija os erros de coesão que ocorrem nas frases que seguem.
5. “Conheci Maria Elvira, onde me amarrei.”
6. “Ele sempre foi bom, porém honesto.”
7. “Os alunos não entenderam todos os assuntos. Assuntos estes que foram aprofundados.”
8. “Todos querem uma vaga na USP, mesmo sabendo que a USP faz exames de seleção rigorosos.”
9. “Os artistas sempre foram marginais. Eles têm, às vezes, momentos de glória, mas eles sobrevivem por teimosia. Apesar de tudo – da fama e da decadência -, os artistas são uma espécie de espelho da sociedade.”
10. “Eles fugiam da polícia. A polícia foi mais rápida e prendeu eles.”
11. “Ele era escritor sério e ela era professora honesta e o poder cegou eles.”
12. “Há um grande número de pessoas que não entendem e não se interessam por política.”
13. “Lembrou-se que havia um bilhete. Bilhete este que desapareceu entre os velhos papéis da escrivaninha.”
14. “Fritz Muller preferia bacalhoada e Severina preferia feijoada. Ele, Fritz Muller, não sabia pedir e ela, Severina, não sabia obedecer.”
Gabarito dos exercícios de coesão textual
1. Os autores procuram envolver o leitor na discussão que apresentam, delimitando o tema e o ponto de vista a ser defendido: a crise da leitura no mundo moderno, associada à saturação da escrita.
2. No segundo parágrafo, com a finalidade de desenvolver as ideias apresentadas na introdução, os autores enumeram diversos discursos sobre leitura provocados exatamente pela falta de leitores e assim justificam por meio de exemplos a tese apresentada.
3. Na medida em que apresentam a conclusão, reafirmando a tese ou o ponto de vista apresentado e desenvolvido argumentativamente, os autores ao mesmo tempo retomam (coesão) e generalizam (coerência com o contexto dissertativo) suas afirmações.
4. Podemos afirmar que o texto lido constitui uma dissertação clássica porque ele se estrutura em três parágrafos, que apresentam a seguinte configuração: o primeiro parágrafo introduz o tema, delimitando o ponto de vista a ser defendido, no segundo aparecem os argumentos que o sustentam e, finalmente, no terceiro, há uma conclusão, que reafirma e generaliza o que foi colocado.
5. Conheci Maria Elvira, pela qual me apaixonei (ou à qual me liguei). Erros: emprego do conectivo (onde) e de impropriedade vocabular (amarrei).
6. Ele sempre foi bom e honesto. Erro: emprego do conectivo (porém).
7. Os alunos não entenderam todos os assuntos que foram aprofundados. Erros: emprego do anafórico e de repetição.
8. Todos querem uma vaga na USP, mesmo sabendo que ela faz exames de seleção rigorosos. Erro: repetição. Correção: uso do anafórico “ela”.
9. Os artistas sempre foram marginais. Têm, às vezes, momentos de glória, mas sobrevivem por teimosia. Apesar de tudo — da fama e da decadência —, são uma espécie de espelho da sociedade. Erro: repetição. Correção: Obter-se-ia a coesão por elipse do sujeito.
10. Eles fugiam da policia que os prendeu. Erro: repetição. Correção: emprego de anafóricos (gue e os).
11. Ele era escritor sério, e ela, professora honesta, mas o poder cegou-os (ou os cegou). Erros: repetição e uso inadequado do conectivo. Correção: elipse do verbo “ser”, uso do anafórico “os”, emprego correto do conectivo “mas”.
12. Há um grande número de pessoas que não entendem política e não se interessam por ela. Erro: emprego da mesma palavra relacional (preposição “por”) para verbos que regem preposições diferentes (erro de unificação regencial). Correção: explicitar a regência do verbo entender (rege objeto direto, nesse contexto), aproximar dele o termo “política” e retomá-lo depois com o anafórico “ela”, regido pela preposição “por” (obrigatória para ligar objeto indireto)
13. Lembrou-se de que havia um bilhete que desapareceu entre os velhos papéis da escrivaninha. Erros: o verbo “lembrar-se” rege preposição “de” (erro de emprego do conectivo), repetição (falta de anafórico). Correção: preposição “de” obrigatória e uso do anafórico “que”.
14. Fritz Muller preferia bacalhoada, e Severina, fejjoada. Aquele não sabia pedir, e esta não sabia obedecer. Erro: repetições desnecessárias. Correção: elipse do verbo “preferir” e uso dos anafóricos “aquele” e “esta”.
http://maiseducativo.com.br/exercicios-de-coesao-textual-com-gabarito/
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