ZÉ DA LUZ
Severino de Andrade Silva, nasceu em Itabaiana, PB, em 29/03/1904 e
faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965. O trabalho de Zé da Luz é
conhecido pela linguagem matuta presente em seus cordéis.
Brasi Caboco
Autor: Zé da Luz
O qui é
Brasí Caboco?
É um Brasi diferente do Brasí das capitá. É um Brasi brasilêro, sem mistura de instrangero, um Brasi nacioná!
É o Brasi qui não veste
liforme de gazimira,
camisa de peito duro,
com butuadura de ouro...
Brasi caboco só veste,
camisa grossa de lista,
carça de brim da “polista”
gibão e
chapéu de coro!
Brasi
caboco num come
assentado nos banquete, misturado cum os home de casaca e anelão... Brasi caboco só come o bode seco, o feijão, e as veiz uma panelada, um pirão de carne verde, nos dias da inleição quando vai servi de iscada prus home de posição.
Brasi caboco num sabe
falá ingrês nem francês,
munto meno o português
qui os outros fala imprestado...
Brasi caboco num inscreve;
munto má assina o nome
pra votar pru mode os home
Sê gunverno e diputado
Mas porém. Brasi caboco,
é um Brasi brasileiro,
sem mistura de instrangero
Um Brasi
nacioná!
É o Brasi
sertanejo
dos coco, das imbolada, dos samba, dos vialejo, zabumba e caracaxá! É o Brasi das vaquejada, do aboio dos vaquero, do arranco das boiada nos fechado ou tabulero! É o Brasi das caboca qui tem os óio feiticero, qui tem a boca incarnada, como fruta de cardoro quando ela nasce alejada!
É o Brasi das promessa
nas noite de São João!
dos carro de boi cantano
pela boca
dos cocão.
É o Brasi
das caboca
qui cum sabença gunverna, vinte e cinco pá-de-birro cum a munfada entre as perna! Brasi das briga de galo! do jogo de “sôco-tôco”! É o Brasi dos caboco amansadô de cavalo!
É o Brasi dos cantadô,
desses caboco afamado,
qui nos verso improvisado,
sirrindo, cantáro o amô;
cantando choraro as mágua:
Brasi de Pelino Guedes,
de Inácio da Catingueira,
de Umbelino do Texera
e Romano
de Mãe-d’água!
É o Brasi
das caboca,
qui de noite se dibruça, machucando o peito virge no batente das jinela... Vendo, os caboco pachola qui geme, chora e soluça nas cordas de uma viola, ruendo paxão pru ela!
É esse o Brasi caboco.
Um Brasi bem brasilero,
sem mistura de instrangêro
Um Brasi nacioná!
Brasi, qui foi, eu tô certo
argum dia discuberto,
pru Pêdo
Arves Cabrá.
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