Rita
Subitamente
o ronco de um motor se faz ouvir ao longe. Como que impulsionadas por molas,
todas as cabeças se voltam em direção ao ruído. O veículo vem na velocidade máxima
que a poeirenta estradinha permite. Quando se torna visível, o espanto é geral e
o silêncio é quebrado pelo grito de alguém:
___ Vão carregar o ouro no carro que leva
defunto para despistar! Vamos entrar!
Aqueles, que estavam
de guarda, nada puderam fazer diante da turba ensandecida que avançava feito
trator, disposto a derrubar tudo o que encontrasse pela frente.
___ Não deu pra impedir delegado! – tentava
desculpar-se um dos policiais que fora encarregado de conter a multidão,
impedindo que entrasse na fazenda. ___ Agora danou-se! Rapidamente, a multidão chegou ao local onde
a polícia estava e o rabecão estacionara.
A
cena que se seguiu era indescritível! A expressão no rosto daquelas pessoas
era, no mínimo, bizarra. Ia da mais absoluta decepção a mais completa
satisfação. Emudecidos pela surpresa, procuravam entender o que estava
acontecendo. O que era aquilo que jazia do lado de fora da cratera que fora
aberta?
Um corpo misturado com a lama!Irreconhecível!
Um, não! Dois! Eram dois corpos! Que decepção para àqueles que esperavam ouro.
Que satisfação para os que ali estavam para banquetear-se com a desgraça
alheia!
___ Nunca vi nada igual em toda a minha vida!
Quem seria capaz de uma atrocidade dessas? –perguntava-se o delegado. ___ Levem
para a necropsia!
A
ordem foi cumprida rapidamente diante dos olhares atônitos de todos. A esposa
do fazendeiro desmaiou, pois não suportara tão brutal visão. O fazendeiro não
conseguia articular uma palavra sequer. Quem plantara aqueles corpos ali, e por
quê?
Lentamente
a população começou a se dispersar. Excitamento e decepção. Alguns ainda se
demoraram por ali. Precisavam ser solidários, oferecendo apoio à família e,
quem sabe, obter mais informações.
O
dia seguinte, foi de intensa movimentação na pequena cidade. Em todos os
lugares públicos, era possível se encontrar investigadores, tentando resolver o
caso de alguma maneira e especulando sobre os abjetos fatos. Nadine não teria
como matar e transportar o corpo até a fazenda. Por que faria isso? E a
máquina, como ela teria tirado do barracão da fazenda? Impossível! Nadine era inocente! Até fora solta!
A
autópsia revelara que o primeiro corpo encontrado era de Rita e o segundo, era
de um feto no sexto mês de gestação e que fora cruelmente arrancado do ventre
materno.
Quinze
dias se passaram sem que as investigações avançassem. A poeira já se assentava e, já havia até, quem
achasse que a própria Rita era a culpada pelos crimes. Era natural que acabasse
mal, é assim que acabam as mulheres de vida fácil. De acordo com a população,
os crimes estavam solucionados e o culpado encontrado: Rita, a própria vítima!
A
arma do crime não fora encontrada, o operador da retroescavadeira também não,
Salvador – o filho do fazendeiro, principal suspeito e amante de Rita – tinha
um álibi mais do que provado e comprovado. Caso encerrado e arquivado como
insolúvel!
1 comentários:
Muito bom. Gostei do conto. Que é mesmo um conto, porque conto é o que você conta para nós.
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