ACORDANDO / FONTE OCULTA - ALBERTO DE OLIVEIRA



               ACORDANDO

Quero-te, vem! se acaso da neblina
Do sonho as formas desatar te é dado,
Se não és sonho tu, se ora acordado,
Posso tocar-te, sombra peregrina!


Com o mesmo rosto pálido e magoado,
Triste o sorriso a boca purpurina,
Com o todo, enfim, de aparição divina,
Rompe da névoa, meigo vulto amado!


Encarna-te! aparece! exurge! acode!
E em minha fronte a coma ondeante e escura,
Cheia de orvalhos, úmida, sacode;


Mas se te dói pisar este medonho
Chão de abrolhos que eu piso, imagem pura,
Torna outra vez a aparecer-me em sonho.




                        FONTE OCULTA

Entre umas pedras metida,
Rolando clara e modesta,
No coração da floresta
Vive uma fonte escondida.


Receosa de ser ouvida,
Talvez abafando um ai,
Quase sem queixa ou murmúrio
Fluindo vai;


E de ser vista receosa,
O vivo fio adelgaça;
E assim ignorada passa,
Passa ligeira e medrosa.


Tal em alma desditosa
Que já não ama nem crê,
Se escoa um fio de lagrimas
Que ninguém vê...

0 comentários:

Postar um comentário