Sabedoria sobre rodas - Donald Malschitzky

Por segurança, as regras mudaram e os para-choques traseiros dos caminhões já não exibem as famosas frases; sobraram para os dianteiros e para as carrocerias. Frases espirituosas, maldosas, preconceituosas, divertidas e tiradas melhores do que em muitos stand up shows ainda tornam o estar na estrada algo divertido. Com a chegada do verão, os previsíveis engarrafamentos podem ser uma oportunidade de passear entre caminhões e ler com mais calma; quem sabe, rir um pouco.

“Os homens não criam juízo porque não sabem o que ele come” faz pensar e deduzir que muitos sabem o que ele come, sim, mas preferem que ele morra de inanição. 

Há muita filosofia e conhecimento no âmago da “filosofia de para-choque”. ”A felicidade não é um destino onde chegamos, mas sim uma maneira de viajar”;“Um falso amigo é um inimigo secreto”; “Se não fosse o otimista, o pessimista nunca saberia como é infeliz”; “Imbecil não tem tédio”; “O pessimista considera o Sol um fazedor de sombras”; “A calúnia é como carvão, quando não queima, suja”; “Seja dono de sua boca para não ser escravo de suas palavras”. Para definir o desespero, esta é perfeita: “Pra quem tá se afogando, jacaré é tronco.”

O português é assassinado sem piedade, mas não deixa de ser divertido: “Muitos mim segui, mas só Deus mim acompanha”. Mas cuidado com o que vai dizer, pois outro adverte: “ É facio falar di mim, dificio é fazer o que faso”; afinal, “A vida mi insina”.

As melhores são as espirituosas, mesmo que nem sempre politicamente corretas (talvez aí esteja a maior graça): “Aqui jaz minha sogra; descanso em paz”; “O cigarro adverte: o governo é prejudicial à saúde”; “Ser canhoto é fácil; difícil é ser direito”; “Preguiça é hábito de descansar sem estar cansado”; “Escreveu, não leu? Então é burro”; “Nasci pelado, careca e sem dente; o que vier é lucro”; “Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer”; “Sou pobre e feliz: uma das duas é mentira”. Para os companheiros de estrada: “Eu sonhava ter um caminhão, agora nem durmo”.

O academicismo tende a desconsiderar a sabedoria popular, ou a olhá-la com condescendência prepotente, como se valesse menos antes de traduzida para os clássicos. Ilusão, e a resposta está nos para-choques: “Rico tem veia poética; pobre tem varizes”.

E sempre é bom lembrar: “Se você não é inteligente, seja engraçado”.