A proposta revelada diante deste intento – entender um pouco mais sobre a arte literária – nos remete a algumas afirmações proferidas por este ensaísta, jornalista e crítico literário – Afrânio Coutinho, assim manifestadas:
“A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros e com os quais ela toma corpo e nova realidade”.
Tais dizeres, magníficos por sinal, permitem-nos compreender que a literatura, assim como todas as outras artes, se concebe como um produto social, ou seja, ela é fruto da experiência do artista que vive numa determinada época, cercado de ideologias, norteado por uma visão própria do mundo que o rodeia e, sobretudo, influenciado pelos ditames sociais de seu tempo. Sendo assim, aproveitando-se de tais pressupostos, ele decide expressar seu posicionamento diante de tudo isso e, assim, reinventa, recria essa realidade fazendo uso da própria palavra.
Mediante o atributo desse “reinventar” é que o texto literário, mesmo que se assemelhe aos outros por se utilizar da linguagem verbal, apresenta seus pontos divergentes, uma vez que nele predomina a função poética da linguagem, e, como tal, constatamos todo um trabalho com a linguagem. Para tanto, como o objetivo do artista é promover o prazer estético, ele usufrui de inúmeros recursos linguísticos, apostando assim no trabalho com o ritmo, com a sonoridade e no próprio uso das figuras de linguagem. Assim, ao analisarmos as palavras de Mário Quintana, constatamos que ele tão somente reafirma as que dissemos anteriormente. Vejamos:
Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Fonte: QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM,1980.
Não raro acontece quando nos atemos a uma das muitas criações de Carlos Drummond de Andrade, intitulada “A procura da poesia”, quando em um de seus versos ele nos revela:
[...]
Chega mais perto e contemple as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
[...]
A chave nada mais é que o poder da criação – intrínseco à capacidade imaginadora do artista que, indubitavelmente, não hesitará em abrir as portas e permitir que nos enveredemos por esse inimaginável mundo artístico. Diante dessa realidade, o intento maior da seção com a qual você compartilhará é permitir que estabeleça uma expressiva familiaridade com as figuras, levando-se em conta as eras literárias a que pertenceram, as quais representaram todo este cenário.
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