MANUEL BANDEIRA


Chama e Fumo

Amor – chama, e, depois, fumaça…
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa…

Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor – chama, e, depois, fumaça…

Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimando o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa…

Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor – chama, e, depois, fumaça…

A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa…

Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linha a arder!
Amor – chama, e, depois, fumaça…

Porquanto, mal se satisfaça
(Como te poderei dizer?…),
O fumo vem, a chama passa…

A chama queima. O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas… tem de ser…
Amor?… – chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa…

( Manuel Bandeira, Teresópolis, 1911 )
(Poema digitado e conferido por mim mesmo e Rebeca dos Anjos em 2 de novembro de 2012, publicado em Bandeira de bolso: uma Antologia Poética - Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 27)


Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
( Manuel Bandeira )


Versos Escritos N’água

Os poucos versos que aí vão,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.

Neles porás tua tristeza
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza…

Quem os ouviu não os amou.
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou.
( Manuel Bandeira )





0 comentários:

Postar um comentário