O filósofo Voltaire, autor de "Cândido", notabilizou-se por divulgar ideias filosóficas.
François Marie Arouet, que se tornou conhecido como Voltaire, nasceu em uma família rica e aristocrática, em Paris, em 21 de novembro de 1694. Sua mãe morreu depois do parto. François Marie tinha a saúde fraca. Estudou em um colégio jesuíta, onde aprendeu dialética e teologia. Quando jovem, seu padrinho o introduziu numa vida desregrada entre poetas e cortesãs. Seu pai acabou por mandá-lo para a casa de um parente, que continuou a lhe dar liberdade.
Arranjou também que ele se tornasse pajem do marquês de Châteauneut. François Marie partiu com esse embaixador para Haia, na Holanda e lá conheceu Olympe Runoyer, ou Pimpette, por quem se apaixonou. Descoberto o romance, foi mandado de volta à casa paterna.
Em Paris François se tornou amante de Susanne de Livry, a quem dedicou versos e poemas cômicos. Em 1715 escreveu a peça "Édipo" e o poema "Henríada", um épico sobre Henrique 4o. Graças à sua imprudência e às suas anedotas que falavam sobre conspirações, acabou preso na Bastilha, onde adotou o nome de Voltaire.
Depois de quase um ano, foi libertado. Após uma briga com o duque de Sully, cavaleiro de Rohden foi obrigado a exilar-se por três anos na Inglaterra. Em Londres conheceu os poetas Young e Pope, o escritor Swift e o filósofo Berkeley. A liberdade de expressão, a tolerância religiosa e a filosofia inglesa o agradaram. Estudou a obra de Newton e, em 1734, propagou suas idéias na França com as "Cartas Filosóficas".
Aos 40 anos, Voltaire se apaixonou pela marquesa de Châtelet, Emile de Bretiul, de 28 anos. No castelo de Cyrei, os dois passaram os dias estudando física, metafísica, história. Lá Voltaire escreveu novelas irônicas e bem humoradas: "Alzire", "Mérope", "O Filho Pródigo", "Maomé", "O Mundano", "O Ingênuo" e "Cândido".
Aos poucos, Voltaire retomou os contatos com a França e virou historiógrafo real. Ele e a marquesa foram para Paris onde em 1746 foi eleito a Academia Francesa. Após a morte da marquesa em 1749, Voltaire aceitou o convite de seu amigo, Frederico 2o da Prússia, para ser seu professor de francês.
Tudo ia bem até que Voltaire publicou um panfleto atacando Malpertuis, protegido do rei e presidente da academia de Berlim. Fugindo da raiva real, estabeleceu-se em Genebra onde terminou suas maiores obras históricas: "Um Ensaio sobre o Costume e o Espírito das Nações e sobre os Principais Fatos da História, de Carlos Magno a Luís 13"; e "A Era de Luís 14".
Quando saiu de Genebra, Voltaire foi para Ferney. Publicou seu "Dicionário Filosófico" em 1764, com ideias revolucionárias, com críticas ao Estado e a religião. No entanto, Voltaire não era propriamente um gênio da filosofia e sim um homem de espírito, um agitador cultural, um divulgador de ideias, que expandiu o questionamento filosófico para além dos muros das universidades, principalmente através da literatura de ficção, com seus contos filosóficos.
Morreu em sua cidade natal, a 30 de maio de 1778.
FONTE: UOL EDUCAÇÃO
TRATADO SOBRE A TOLERÂNCIA - TRECHOS
HISTÓRIA ABREVIADA DA MORTE DE JEAN CALAS
"...Onde o perigo e as vantagens são iguais, o espanto cessa e até mesmo a piedade se enfraquece;... se um pai de família inocente é entregue às mãos do erro, da paixão ou do fanatismo..."(pg. 11)
"Nesse estranho caso, tratava-se de religião, de suicídio, de parricídio; tratava-se de saber se um pai e sua mãe haviam estrangulado o próprio filho para agradar a Deus, se um irmão havia estrangulado seu irmão..." (pg.11)
"... e encontraram Marc-Antoine no andar térreo, em que funcionava a loja, vestido somente com as roupas íntimas e enforcado no gancho de uma porta, sua casaca dobrada sobre o balcão; não apenas sua camisa estava arrumada, como seus cabelos estavam bem penteados: ele não tinha no corpo qualquer ferida..." (pg. 12)
"Algum fanático no meio da multidão gritou que Jean Calas havia enforcado o próprio filho, Marc-Antoine. Esse grito foi repetido e, num instante, tornou-se unânime; outros acrescentaram que o morto abjuraria ao protestantismo no dia seguinte; que sua família e mais o jovem Lavaisse o haviam estrangulado por ódio contra a religião católica:..."(pg. 13)
"Desse modo, a única coisa que faltava ao infeliz que havia provocado sua própria morte era a canonização; a população inteira o considerava um santo; alguns o invocavam, outros iam rezar na igreja sobre seu túmulo, outros lhe pediam milagres, outros ainda contava milagres que ele já havia realizado. Um monge ergueu a lápide e arrancou-lhe alguns dentes para dispor de relíquias duradouras. ... que um jovem enlouqueceu depois de haver rezado noites seguidas sobre o túmulo do novo santo, sem ter conseguido obter o milagre que lhe implorava."(pg. 14/15)
"...Até parece que o fanatismo, indignado pelos poucos sucessos que obteve da razão, debate-se conta ela com raiva ainda maior." (pg. 15)
"...A fraqueza de nossa razão e a insuficiência de nossas leis se fazem sentir todos os dias, mas em que ocasião se descobre melhor sua inadequação do que quando a preponderância de uma única voz leva um cidadão ao suplício?" (pg. 17)
"Pierre Calas, quando saía da cidade, encontrou um abade conversor, que o fez voltar para Toulosse; ele foi encerrado em um convento de dominicanos e, enquanto estava lá, foi forçado a cumprir todos os rituais do catolicismo: em parte era o que ele mesmo queria, era o preço do sangue de seu pai; a partir de então, a religião que se quisera vingar deu-se por satisfeita." (pg. 18)
"...Muitas dessas pessoas que são chamadas na França de devotas proclamaram em altas vozes que era melhor supliciar na roda um velho calvinista inocente do que expor oito dos conselheiros de Languedoc ao reconhecimento de que se havia enganado." (pg. 20)
"... que se fez nascer no espírito das pessoas imparciais e mais sensatas o desígnio de apresentar ao público algumas reflexões sobre a tolerância, sobre a indulgência, sobre a comiseração,..." (pg. 20)
"...É, portanto, do interesse do gênero humano que examinemos se a religião deve ser caridosa ou bárbara." (pg. 21)
"Sabe-se bem demais quais foram os custos desde que os cristãos começaram a disputar por dogmas: correu sangue, seja nos cadafalsos, seja nas batalhas, desde o século quarto até os dias de hoje." (pg. 23)
Voltaire -Tratado sobre a Tolerância - Tradução de William Lagos. L&PM Pocket,Porto Alegre, setembro de 2008, reimpressão: abril de 2011.
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