Resposta:
1. Organização das Nações Unidas
2. Transportes Aéreos Portugueses
3. Instituto Médico Legal
4. Aliança Democrática
5. União Nacional dos Estudantes
6. Ministério Público
7. Confederação Brasileira de Futebol
8. Índice de Massa Corporal
9. Organização Mundial da Saúde
10. Produto Interno Bruto
11. Fundo Monetário Internacional
12. Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros
13. Instituto Nacional do Seguro Social
14. Organizações Não Governamentais
15. Fundação Nacional do Índio
16. Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística
17. Trabalho de Conclusão de Curso
18. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
19. Quociente de Inteligência
20. Código de Endereçamento Postal
Faça-me verbo!
Se ficares além de mim,
fale de tempestades,
tormentas e tormentos,
calmarias,
conte, sorria.
Cante,
fale amenidades,
diga os defeitos,
declare qualidades,
sem esquecer-te da alegria.
Conte que fui mais que imperfeita
furacão, ventania,
controversa,
fui noite e fui dia!
Fale de meu lado negro
sem olvidar-te da poesia.
Fale de tudo,
mas não te esqueça da flor.
Quero-a muito vermelha,
ainda em botão.
Quero teu pranto também,
Declare, amor,
uma saudade.
Não tem furte de palavras,
faça-me verbo!
Assim deve ser.
Fale de mim só verdade,
quando, para sempre, eu me for.
Odenilde Nogueira Martins
Liquidez
Ah! Me consome um cansaço destas gentes
Tão desfeitas na liquidez dos desafetos
E dos afetos que somem, magicamente,
Escorrendo em um diluir-se perverso,
Perdidas dos amores, dementes
Desencontradas na solidão do universo.
Transmutadas criaturas vazias, úteis objetos!
Esquecido de valores o homem
No emaranhado de transações,
Triste numerário despido,
Pelas batalhas do ter deflagradas
Tal qual espectro disforme
Dissipa-se do ser, vira nada!
Odenilde Nogueira Martins - 06/08/14
Resposta:
1. análise 2. paralisia 3. rejeição 4. fricção 5. ascensão 6. sumiço 7. escravidão 8. catequese 9. rejeição 10. aprisionamento
Resposta: 1. objeto direto 2. agente da passiva 3. sujeito 4. objeto indireto 5. predicativo do sujeito 6. adjunto adverbial 7. complemento nominal 8. aposto 9. vocativo 10. adjunto adnominal
PARA TI
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida.
MIA COUTO
Mulheres e Literatura
A Literatura ficou durante muito tempo restrita à ótica masculina. A relação mulheres e Literatura aconteceu posteriormente, mostrando que a arte não é uma questão de gênero.
O dia 8 de março é internacionalmente reconhecido como o Dia da Mulher e disso, leitor, você já deve saber. Que tal fazermos uma breve análise sobre a participação feminina no mundo das letras? Você conhece as representantes femininas na arte literária? Por que será que quando pensamos em Literatura, na maioria das vezes, apenas nomes masculinos nos vêm à memória? É hora de ler para aprender, pois, quando conhecemos, temos a oportunidade de ganhar novos referenciais, certo?
Até pouco tempo, se pensarmos um pouco sobre nossa história recente, as mulheres estavam relegadas aos trabalhos domésticos e à criação dos filhos. Não que essas não sejam tarefas nobres, mas à mulher estava destinado o ofício de ser esposa, enquanto o marido saía para o trabalho e tinha um contato social mais intenso. As mulheres que fugiam à regra e arriscavam-se a ocupar lugares ou ofícios de predominância masculina eram malvistas e jamais recebiam o mesmo reconhecimento que os homens. Esse “apagamento” da voz feminina aconteceu em diversos setores da sociedade, inclusive na Literatura. Não que as mulheres não produzissem Literatura, mas certamente não recebiam as mesmas honrarias que os homens. No Brasil, temos várias representantes que produziram verso e prosa, adentrando em um universo que até então era extremamente masculino.
Selecionamos para você alguns poemas produzidos por escritoras brasileiras nos quais podemos notar claramente, presente nos versos, a perspectiva feminina. Vale lembrar que além de exímias poetas, as mulheres também produziram prosa da melhor qualidade, representadas por escritoras como Clarice Lispector e Rachel de Queiroz, esta última primeira mulher a ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras, ambiente até então frequentado apenas por escritores. Em diversas temáticas, em diferentes épocas, a voz feminina conquistou seu espaço na Literatura e nas demais manifestações artísticas, provando que lugar de mulher é na Literatura, lugar de mulher é em qualquer lugar em que ela queira estar. Boa leitura!
Meu Deus, me dê a coragem
Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.
Clarice Lispector
Dez chamamentos ao amigo
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
Hilda Hilst
Serenata
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.
Cecília Meireles
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Adélia Prado
Aventura na Casa Atarracada
Movido contraditoriamente
por desejo e ironia
não disse mas soltou,
numa noite fria,
aparentemente desalmado;
- Te pego lá na esquina,
na palpitação da jugular,
com soro de verdade e meia,
bem na veia, e cimento armado
para o primeiro a andar.
Ao que ela teria contestado, não,
desconversado, na beira do andaime
ainda a descoberto: - Eu também,
preciso de alguém que só me ame.
Pura preguiça, não se movia nem um passo.
Bem se sabe que ali ela não presta.
E ficaram assim, por mais de hora,
a tomar chá, quase na borda,
olhos nos olhos, e quase testa a testa.
Ana Cristina Cesar
http://www.alunosonline.com.br/portugues/mulheres-literatura.html
Metalinguagem na poesia
A metalinguagem é um recurso muito utilizado pelos poetas que, ao escreverem poemas sobre o fazer poético, tentam explicar para o leitor seus sentimentos diante das palavras.
Musa dos poetas, a poesia vira o próprio objeto de análise quando o assunto é a metalinguagem.
“[...] Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na floresta noturna/Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema/Triste/Solitário/Único/Ferido de mortal beleza.”
(Trecho de O poema – Mario Quintana)
Escrever um poema é, como já dizia Drummond, “penetrar surdamente no reino das palavras”. Parece que a procura pela poesia é uma constante na vida dos poetas, que se dedicam à arte de escrever versos e também à arte de escrever versos sobre os próprios versos. Eis que surge a metalinguagem na poesia.
“[...] Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave? [...]”
(Trecho do poema Procura da poesia, de Carlos Drummond de Andrade)
Afinal, o que é metalinguagem poética? A metalinguagem acontece quando a linguagem se debruça sobre si mesma: a poesia feita sobre a própria poesia. Quando o poeta reflete sobre o fazer poético, parece explicar para si mesmo e para os leitores o momento catártico que permeia a criação e dá vida a um poema. Selecionamos para você cinco poemas metalinguísticos em língua portuguesa, escritos em diferentes momentos por diferentes poetas. Boa leitura!
Catar feijão
1.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão, entra um risco:
o de entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quanto ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
(João Cabral de Melo Neto)
Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
(Carlos Drummond de Andrade)
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Fernando Pessoa)
De Gramática e de Linguagem
E havia uma gramática que dizia assim:
"Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta".
Eu gosto das cousas. As cousas sim !...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? Não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso...João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...
(Mario Quintana)
Profissão de fé
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
De ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
[...]
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
(Olavo Bilac)
Por Luana Castro Alves Perez
O eu poético e o autor
O assunto que ora se evidencia – o eu poético e o autor –, nos remete a uma importante e recorrente discussão que diz respeito ao eu lírico presente nas criações literárias. Fala-se tanto dele, embora muitas vezes desconheçamos as particularidades que o definem. Assim, com base nessa premissa, propomo-nos a discutir acerca destes aspectos peculiares, de forma a compreendermos a diferença existente entre quem escreve, no caso o autor; e a própria voz que se revela em meio às muitas criações artísticas que compõem o universo literário, o eu poético.
Para tanto, observemos as palavras de Mário de Andrade, expressas no prefácio do livro “Pauliceia desvairada”:
Quanto sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi.
Com base nessas sábias palavras podemos ter uma noção, mesmo que ainda vaga, de que o poeta não pode ser confundido com o enunciador de um poema, no caso o chamado “eu poético”. A título de reforçarmos a presente afirmação vejamos o conceito do que vem a ser o eu lírico:
Voz que expressa suas emoções no poema, um eu poético, simulado, inventado pelo poeta que não pode ser confundido com o próprio poeta.
Fonte: NICOLA, José de. Painel da literatura em língua portuguesa: teoria e estilos de época do Brasil e Portugal: livro do professor /José de Nicola; colaboração Lorena Mariel Menón. São Paulo: Scipione, 2006.
Aproveitando a oportunidade, analisemos duas importantes criações, uma fazendo referência a Carlos Drummond de Andrade e outra a Fernando Pessoa, poeta português:
Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Carlos Drummond de Andrade
LISBON REVISITED (Lisboa Revisitada)
Não: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-a!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro a técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havermos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja a companhia!
Ó céu azul – o mesmo de minha infância –
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
[...]
Álvaro de Campos
Elas, quando analisadas, levantam o seguinte questionamento: haveria um ponto de contato, uma identificação entre os dois poetas e as vozes que se revelam por meio de ambas as artes? Carlos Drummond se assemelha ao eu lírico por ser natural de Itabira; assim como Fernando Pessoa, mesmo em se tratando de um de seus heterônimos (frutos de um poeta que se desdobrou em vários “eus”), no caso, Álvaro de Campos, estaria revelando traços do próprio Fernando Pessoa, tido em “carne e osso”. Devemos, pois, chegar à conclusão de que embora em algumas vezes possa ocorrer um ponto de contato entre essa relação (poeta x eu lírico), há que sempre fazermos tal diferenciação.
Por Vânia Maria do Nascimento Duarte
Verossimilhança
No intuito de dar ênfase ao assunto que ora emerge, observaremos o universo literário, tido como arte. Pois bem, mesmo tendo em mente que toda criação é fruto de concepções ideológicas, sendo estas reflexos de um contexto “social” como um todo, ela se materializa como sendo transfiguração do real, visto que do contrário não seria Literatura, mas sim um documentário, uma biografia.
Partindo de tal pressuposto, temos agora embasamento para discutir sobre o que vem a serverossimilhança. Quando falamos em transfiguração do real, fazemos referência a um mundo imaginário, a algo criado pelo próprio artista. No entanto, não é porque a estória não é verdadeira que ela não deve possuir uma lógica, uma equivalência com a verdade.
Verossimilhança provém do latim verisimilis, cujo sentido se atém a “provável”, ou seja, a narrativa precisa ser constituída de um universo possível, no intuito de provocar no leitor a sensação de que algo pode realmente existir, acontecer. Assim, os fatos não precisam corresponder de forma exata ao universo exterior, mas necessariamente precisam ser verossímeis, semelhantes à realidade.
Com base nesse aspecto, podemos afirmar que a ficção, de uma forma geral, apresenta dois aspectos básicos, sendo estes:
* Verossimilhança externa – Trata-se daquilo que é aceito pelo senso comum, tido como possível, provável.
* Verossimilhança interna – Caracteriza-se pela coerência narrativa, ou seja, pela sequência temporal dos fatos. Esses, por sua vez, devem suceder temporalmente, isto é, uma causa (um fato), desencadeia uma consequência, dando origem a novos fatos e assim sucessivamente. Quando essa sucessão, por um motivo ou outro, se torna contraditória, constata-se que a narrativa adquiriu um aspecto inverossímil.
No intuito de verificarmos como a inverosimilhança externa pode se manifestar, atentemo-nos a dois exemplos, retratados a seguir:
- As narrativa fantásticas, muito bem representadas por Murilo Rubião, Franz Kafka, José J. Veiga, entre tantos outros, por meio de uma atmosférica ilógica trabalham a questão do inverossímil. Analisemos alguns fragmentos extraídos da obra de José J. Veiga, “A hora dos ruminantes”:
Frequentemente surgiam brigas, e seus estremecimentos repercutiam longe, derrubavam paredes distantes e causavam novas brigas, até que os empurrões, chifradas, ancadas forçassem uma arrumação temporária. O boi que perdesse o equilíbrio e ajoelhasse nesses embates não conseguia mais se levantar, os outros o pisavam até matar, um de menos que fosse já folgava um pouco o aperto – mas só enquanto os empurrões vindos de longe não restabelecessem a angústia.
[...]
- Outro exemplo pode ser evidenciado por meio de um fato bastante interessante: imaginemos que os fatos de uma narrativa qualquer se desenrolem nos anos 1960, em um contexto que apresenta telefones celulares, e tantas outras tecnologias com as quais atualmente convivemos. Seria um pouco improvável, não é verdade?
Por Vânia Maria do Nascimento Duarte
A literatura como arte
Fazê-lo(a) compactuar com as intenções a que nos prestamos diante da criação de um reservatório artístico como este é tão somente propiciar a estreita familiaridade com alguns dos nobres representantes do cenário de que se compôs a nossa literatura, bem como aquela considerada universal. Assim, para não deixá-los perdidos na memória, enlevemo-nos com os encantamentos expressos nas palavras do imortal Carlos Drummond de Andrade, fragmentos esses retratados na “Procura da poesia”:
[...]
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
[...]
Por meio delas, achamo-nos no direito de reconhecer que as palavras estão realmente à nossa volta, livre, soltas, porém, ainda em estado de dicionário. Mas, como afirma o próprio Drummond, ao longo de toda a extensão do poema em referência, todos nós temos a habilidade de apresentarmos a chave e darmos asas aos nossos sentimentos, darmos vazão à nossa capacidade imaginativa e fazermos delas (as palavras) nossa mais bela expressão da própria alma. Por isso, caro(a) usuário(a), desejamos fazer com que entenda que a literatura representa uma arte cuja matéria-prima se resguarda na própria palavra, palavra essa uma vez adornada, trabalhada, impregnada de intenções, de recursos múltiplos, de figuratividade plena.
Assim, pautados nessas perspectivas, acreditamos que daremos conta de que, ao final, conscientize-se de que o reconhecimento de todos os aspectos, sejam esses formais (ligados ao plano da estética) ou discursivos (ligados ao plano das ideias), torna-se imprescindível para que reconheça o verdadeiro valor da arte literária propriamente dita, uma arte que se perpetua tempo afora, contemplando gerações e gerações de leitores. Dessa forma, não deixe de aproveitar essa imperdível oportunidade proporcionada somente para você, nosso(a) maior contemplado(a). Navegue e permita se encantar com toda a magia de que se impregnam as palavras trabalhadas por meio dessa linguagem, única, ímpar, envolvente: a literária.
http://www.alunosonline.com.br/portugues/a-literatura-como-arte.html
Literatura
A proposta revelada diante deste intento – entender um pouco mais sobre a arte literária – nos remete a algumas afirmações proferidas por este ensaísta, jornalista e crítico literário – Afrânio Coutinho, assim manifestadas:
“A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros e com os quais ela toma corpo e nova realidade”.
Tais dizeres, magníficos por sinal, permitem-nos compreender que a literatura, assim como todas as outras artes, se concebe como um produto social, ou seja, ela é fruto da experiência do artista que vive numa determinada época, cercado de ideologias, norteado por uma visão própria do mundo que o rodeia e, sobretudo, influenciado pelos ditames sociais de seu tempo. Sendo assim, aproveitando-se de tais pressupostos, ele decide expressar seu posicionamento diante de tudo isso e, assim, reinventa, recria essa realidade fazendo uso da própria palavra.
Mediante o atributo desse “reinventar” é que o texto literário, mesmo que se assemelhe aos outros por se utilizar da linguagem verbal, apresenta seus pontos divergentes, uma vez que nele predomina a função poética da linguagem, e, como tal, constatamos todo um trabalho com a linguagem. Para tanto, como o objetivo do artista é promover o prazer estético, ele usufrui de inúmeros recursos linguísticos, apostando assim no trabalho com o ritmo, com a sonoridade e no próprio uso das figuras de linguagem. Assim, ao analisarmos as palavras de Mário Quintana, constatamos que ele tão somente reafirma as que dissemos anteriormente. Vejamos:
Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Fonte: QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM,1980.
Não raro acontece quando nos atemos a uma das muitas criações de Carlos Drummond de Andrade, intitulada “A procura da poesia”, quando em um de seus versos ele nos revela:
[...]
Chega mais perto e contemple as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
[...]
A chave nada mais é que o poder da criação – intrínseco à capacidade imaginadora do artista que, indubitavelmente, não hesitará em abrir as portas e permitir que nos enveredemos por esse inimaginável mundo artístico. Diante dessa realidade, o intento maior da seção com a qual você compartilhará é permitir que estabeleça uma expressiva familiaridade com as figuras, levando-se em conta as eras literárias a que pertenceram, as quais representaram todo este cenário.
http://www.alunosonline.com.br/portugues/literatura.html
Polissemia
Antes mesmo de nos “deleitarmos” mediante os recursos inimagináveis oferecidos pela linguagem, sugere-se como “entrada” uma reflexão acerca do discurso concernente aos enunciados linguísticos, assim elucidados:
Nossas mãos requerem um cuidado maior durante esta estação, posto que o clima predominante é o seco.
Que prato divino! Sua mãe tem mesmo mãos de fada para cozinhar.
Precisamos dar cabo a todo este desânimo que nos assola.
Como o pai de Gustavo é cabo do exército, ele também pretende seguir a carreira militar.
Constatamos que se constituem de termos idênticos (mãos/cabo). Contudo, parte-se do pressuposto que tais termos estão condicionados a um dado contexto – condição elementar para que possamos analisar o sentido retratado por estes. Assim sendo, façamos uma análise no intuito de detectá-lo:
O sentido do vocábulo “mãos” no primeiro exemplo refere-se a uma parte constitutiva do corpo humano, enquanto que no segundo se atém à noção de habilidade, aptidão para exercer atividades relacionadas à culinária.
No terceiro enunciado, temos que “cabo” se encontra condicionado à ideia de desapego, ou seja, livrar-se de algo inconveniente, que importuna. De acordo com último, temos que o mesmo termo já se refere a uma posição hierárquica, em se tratando dos estágios condizentes ao campo profissional em questão.
Servimo-nos destes pressupostos para mais uma vez constatarmos o dinamismo e a flexibilidade da qual se perfaz a língua, posto que uma mesma palavra pode revelar distintos sentidos, bastando para isso, somente estar inserida em uma circunstância linguística de forma específica – modalidade ora concebida como polissemia que, literalmente, a começar pelo radical “-poli”, já nos induz à presente significação: “diversidade”. Vejamos ainda outros casos representativos:
Venha experimentar seu vestido, pois faltam somente as mangas para que ele fique pronto.
Uma das frutas saudáveis, e que eu aprecio é a manga.
Tenha cuidado ao recostar aí, pois o braço do sofá está solto.
Como era previsível, Pedro quebrou o braço em uma de suas terríveis peraltices.
http://www.portugues.com.br/gramatica/polissemia.html