CONVITE


Resposta: 
1. Angelical
2. Insossa
3. Têxtil
4. Vespertino
5. Etária
6. Gutural / estomacal
7. Pluviais
8. Filatélica
9. Vítreo
10. Docente

                           A Linguaruda

Publicado em: - ÚLTIMOS CONTOS. Marcado: Séc. XIX, Tchekhov


Natália Mikailovna, senhora garbosa e ainda jovem, chegou pelo trem de Jalta, onde passara o verão. Depois, durante o jantar falou sem parar, descrevendo as belezas daquela região. O marido, feliz com o retorno da esposa, a observava com os olhos cheios de ternura, ante a excitação dela, limitando-se apenas a fazer algumas perguntas esporádicas. 

- Ouvi dizer que a vida lá está muito cara… – observou ele.

– Cara? Como vou dizer? Não é tão cara quanto dizem. Eu tinha com a Júlia Petrovna, um bom apartamento, bem confortável, por vinte rublos por dia. Precisa saber se controlar. Se vai se fazer um passeio aos montes, por exemplo ao Al-Ptri, se gasta mais… O cavalo, o guia… Tudo isso encarece, e muito… Mas, querido, que belos montes! Tu não imaginas como são altos! Mil vezes mais altos que a igreja… E em cima, neve! Nada mais do que neve… Embaixo, pedras, apenas… Ah, que beleza…

– A respeito disso, durante a sua ausência, fiquei preocupado quando li a respeito das crueldades praticadas pelos guias… Não é verdade que são perversos?

Natália fez uma careta e balançou a cabeça, negativamente. 

– São como todos os tártaros – respondeu ela. – Além disso, só os vi de longe, uma ou duas vezes… Falaram a esse respeito, mas não dei muita importância… Sempre senti aversão aos circassianos, aos gregos, aos mouros…

– Me parece que são uns espertalhões…

– Pode ser… Mas tem algumas sem vergonhas que…

Seu semblante se transtornou e ela chegou a se levantar, como se visse o diabo. Encarou o marido com os olhos dilatados:

– Vasitchka! Tu não imaginas quantas mulheres levianas há no mundo! Que imoralidade! E não de classe baixa ou mesmo média, não! Aristocratas da alta!… Eu não acreditava no que via! Nunca mais vou esquecer! Só quem não tem princípios pode chegar a esse ponto… E nem me atrevo a contar! Veja só a Júlia Petrovna, minha companheira de viagem… Tem um marido tão bom, dois filhos, considerada da melhor sociedade… Quer passar por uma santa, mas sabes o que fazia? Tu não vais acreditar! Mas que fique entre nós… Me dás a palavra de honra que não dirás a ninguém!?

– Ora, que idéia! Vou contar para quem?

– Bom, vou confiar em ti!

Recostou-se na cadeira, aguçou o olhar e começou:

– Imagine! Um dia, Júlia Petrovna saiu a cavalo para um passeio pelos montes. Era um dia lindo e ela saiu na frente com o seu guia. Eu ia atrás. Cerca de dois ou três quilômetros do vilarejo, ela soltou um grito, levando as mãos ao peito. Se o tártaro não a agarrasse ela teria caído e poderia ter se machucado com gravidade… Corri para junto dela com o meu guia, para ver o que tinha acontecido e ela me respondeu que se sentia mal, que parecia que ia morrer. Imagine só! Assustada eu tentei convencê-la a voltar. Ela choramingava que não podia, que estava para morrer. Me disse até que se desse um passo a mais iria morrer! Choramingava dizendo que sentia vertigens. Então pediu a mim e a Suleiman que fôssemos apanhar um remédio que ela tinha no nosso apartamento…

– Espera aí, querida – interrompeu o marido. – Há pouco me dizias que não tinha visto os tártaros senão ao longe e me vens com esse Saleiman que a acompanhava?

– Não me venha com asneiras! – rompeu a esposa em reclamar. – Abomino essas suspeitas! Não suporto isso! É um absurdo!

– Não estou suspeitando de nada, mas porque mentir? Tu passeavas com os guias tártaros… porque esconder?

– Quando queres, és impossível! – protestou ela indignada. – Estás com ciúmes de Sulieman! É isso! Mas queria ver como irias ao monte sem guia! Ah! Queria ver mesmo! Se não conheces aquela região e seus costumes e dificuldades, faria melhor se calasse! Escute e aprenda! Lá não se pode dar um passo sem guia.

– É natural!

– Me faze o favor de deixar esses sorrisinhos bobos! Não sou uma Júlia qualquer para agüentá-los. Não quero passar por santa, mas não me permitiria certas coisas… Será que não vês que Mametkul passava o tempo todo com a Júlia? Comigo não! Quando dava onze horas eu já dizia: “Suleiman, estás liberado!” e o meu tartarosinho ia-se embora… Eu o tratava com muita serenidade e assim mesmo, às vezes vinha falar de dinheiro e gastos extras, mas logo eu me eximia do que não estava combinado. Han! Han! Sabes, Vasitchka? Ele tinha uns olhos negros como o carvão, uma carinha morena, uma graciosa cara de tártaro… Han! Han! Mas eu o tratava com muita firmeza!

– Imagino que sim… – murmurou o esposo, entretido com as bolinhas de pão.

– Estás maluco, Vasitchka? Completamente louco? Já sei o que estás pensando! Conheço a tua cabeça! Mas te asseguro que quando estávamos passeando não se conversava nunca! Íamos, por exemplo, nos montes ou na cascata de Ucha-Su e eu ordenava ao Suleiman que ficasse atrás. Entende? E o pobrezinho tinha que ir atrás mesmo! Não o deixava esquecer-se que ele era um tártaro e eu a esposa de um conselheiro de Estado! Han! Han!

Ela deu uma gargalhada meio forçada e fez uma cara de assustada logo em seguida:

– Mas a Júlia! Hum! Esta Júlia! A gente pode fazer uma travessura, distrair-se! Porque não? Precisamos aliviar um pouco a tensão e a frivolidade da vida mundana, penso eu! Temos que nos divertir, mas nos conter dos excessos, para poder exigir que nos respeitem. Fazer escândalos? Ah! Isso não! Mas imagina que ela estava com ciúmes de mim! Que tolice! Uma vez Mametkul chegou e ela não estava. Então o fiz entrar e conversamos um tempo. São muito interessantes esses tártaros… A tarde passou sem percebermos. De repente chega Júlia, como uma tempestade! Brigou comigo e com Mametkul, armando uma cena horrível! Isto, Vasitchka, eu não aceito…

Com um “hum” muito eloqüente, ela franze as sobrancelhas e girou pela sala com passos firmes.

– Então, pelo que vejo, te distraíste bem! – disse o marido sorrindo.

– Que estúpido! Já sei tudo o que estás pensando! Tens sempre idéias maliciosas! Mas daqui para frente, já sei que não te contarei nada! Nada mesmo!

E calou-se, com uma cara de arrependida.

Anton Tchekhov
Extraído do site Contos Web

As Duas Cachorras
Publicado em: - ÚLTIMOS CONTOS.  Séc. XX.

Moravam no mesmo bairro. Uma era boa e caridosa; outra, má e ingrata.
A boa, como fosse diligente, tinha a casa bem arranjadinha; a má, como fosse vagabunda, vivia ao léu, sem eira nem beira.
Certa vez… a má, em véspera de dar cria, foi pedir agasalho à boa:
– Fico aqui num cantinho até que meus filhotes possam sair comigo. É por eles que peço…
A boa cedeu-lhe a casa inteira, generosamente.
Nasceu a ninhada, e os cachorrinhos já estavam de olhos abertos quando a dona da casa voltou.
– Podes entregar-me a casa agora?
A má pôs-se a choramingar.
– Ainda não, generosa amiga. Como posso viver na rua com filhinhos tão novos? Conceda-me um novo prazo.
A boa concedeu mais quinze dias, ao termo dos quais voltou.
– Vai sair agora?
– Paciência, minha velha, preciso de mais um mês.
A boa concedeu mais quinze dias; e ao terminar o último prazo voltou.
Mas desta vez a intrusa, rodeada dos filhos já crescidos, robustos e de dentes arreganhados, recebeu-a com insolência:
– Quer a casa? Pois venha tomá-la, se é capaz…

Moral da Estória: 
Para os maus, pau!

Monteiro Lobato
Extraído do site Universo das Fábulas

SOMBRA: EDGAR ALLAN POE

Publicado em: - ÚLTIMOS CONTOS. Séc. XIX. 23 


Vós que me ledes por certo estais ainda entre os vivos; mas eu que escrevo terei partido há muito para a região das sombras. Por que de fato estranhas coisas acontecerão, e coisas secretas serão conhecidas, e muitos séculos passarão antes que estas memórias caiam sob vistas humanas. E, ao serem lidas, alguém haverá que nelas não acredite, alguém que delas duvide e, contudo, uns poucos encontrarão muito motivo de reflexão nos caracteres aqui gravados com estiletes de ferro. O ano tinha sido um ano de terror e de sentimentos mais intensos que o terror, para os quais não existe nome na Terra. Pois muitos prodígios e sinais haviam se produzido, e por toda a parte, sobre a terra e sobre o mar, as negras asas da Peste se estendiam. Para aqueles, todavia, conhecedores dos astros, não era desconhecido que os céus apresentavam um aspecto de desgraça, e para mim, o grego Oinos, entre outros, era evidente que então sobreviera a alteração daquele ano 794, em que, à entrada do Carneiro, o planeta Júpiter entra em conjunção com o anel vermelho do terrível Saturno. O espírito característico do firmamento, se muito não me engano, manifestava-se não somente no orbe físico da Terra, mas nas almas, imaginações e meditações da Humanidade. Éramos sete, certa noite, em torno de algumas garrafas de rubro vinho de Quios, entre as paredes do nobre salão, na sombria cidade de Ptolemais. Para a sala em que nos achávamos a única entrada que havia era uma alta porta de feitio raro e trabalhada pelo artista Corinos, aferrolhada por dentro. Negras cortinas, adequadas ao sombrio aposento, privavam-nos da visão da lua, das lúgubres estrelas e das ruas despovoadas; mas o ressentimento e a lembrança do flagelo não podiam ser assim excluídos.

Havia em torno de nós e dentro de nós coisas das quais não me é possível dar conta, coisas materiais e espirituais: atmosfera pesada, sensação de sufocamento, ansiedade; e, sobretudo, aquele terrível estado de existência que as pessoas nervosas experimentam quando os sentidos estão vivos e despertos, e as faculdades do pensamento jazem adormecidas. Um peso mortal nos acabrunhava. Oprimia nossos ombros, os móveis da sala, os copos em que bebíamos. E todas se sentiam opressas e prostradas, todas as coisas exceto as chamas das sete lâmpadas de ferro que iluminavam nossa orgia. Elevando-se em filetes finos de luz, assim que permaneciam, ardendo, pálidas e imotas. E no espelho que seu fulgor formava sobre a redonda mesa de ébano a que estávamos sentados, cada um de nós, ali reunidos, contemplava o palor de seu próprio rosto e o brilho inquieto nos olhos abatidos de seus companheiros. Não obstante, ríamos e estávamos alegres, a nosso modo – que era histérico – , e cantávamos as canções de Anacreonte – que são doidas -, e bebíamos intensamente, embora o vinho purpurino nos lembrasse a cor do sangue. Pois ali havia ainda outra pessoa em nossa sala, o jovem Zoilo. Morto, estendido a fio comprido, amortalhado, era como o gênio e o demônio da cena. Mas ah! Não tomava ele parte em nossa alegria! Seu rosto, convulsionado pela doença, e seus olhos, em que a Morte havia apenas extinguido metade do fogo da peste, pareciam interessar-se pela nossa alegria,, na medida em que, talvez, possam os mortos interessar-se pela alegria dos que têm de morrer. Mas embora eu, Oinos, sentisse os olhos do morto cravados sobre mim, ainda assim obrigava-me a não perceber a amargura de sua expressão. E mergulhando fundamente a vista nas profundezas do espelho de ébano, cantava em voz alta e sonorosa as canções do filho de Teios. Mas, Pouco a pouco, minhas canções cessaram e seus ecos, ressoando ao longe, entre os reposteiros negros do aposento, tornavam-se fracos e indistintos, esvanecendo-se. E eis que dentre aqueles negros reposteiros, onde ia morrer o rumor das canções, se destacou uma sombra negra e imprecisa, uma sombra tal como a da lua quando baixa no céu, e se assemelha ao vulto dum homem: mas não era a sombra de um homem, nem a de um deus, nem a de qualquer outro ente conhecido. E, tremendo um instante entre os reposteiros do aposento, mostrou-se afinal plenamente sobre a superfície da porta de ébano. Mas a sombra era vaga, informe, imprecisa, e não era sombra nem de homem, nem de deus, de deus da

Grécia, de deus da Caldéia, de deus egípcio. E a sombra permanecia sobre a porta de bronze, por baixo da cornija arqueada, e não se movia, nem dizia palavra alguma, mas ali ficava parada e imutável. Os pés do jovem Zoilo, amortalhado, encontravam-se, se bem me lembro, na porta sobre a qual a sombra repousava. Nós, porém, os sete ali reunidos, tendo avistado a sombra no momento em que se destacava dentre os reposteiros, não ousávamos olhá-la fixamente, mas baixávamos os olhos e fixávamos sem desvio as profundezas do espelho de ébano. E afinal, eu, Oinos, pronunciando algumas palavras em voz baixa, indaguei da sombra seu nome e lugar de nascimento. E a sombra respondeu: “Eu sou a SOMBRA e minha morada está perto das catacumbas de Ptolemais, junto daquelas sombrias planícies infernais que orlam o sujo canal de Caronte”. E então, todos sete, erguemo-nos, cheios de horror, de nossos assentos, trêmulos, enregelados, espavoridos, porque o tom da voz da sombra não era de um só ser, mas de uma multidão de seres e, variando suas inflexões, de sílaba para sílaba, vibrava aos nossos ouvidos confusamente, como se fossem as entonações familiares e bem relembradas dos muitos milhares de amigos que a morte ceifara.

Edgar Allan Poe
Extraído do site Nox in Vitro
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10 erros graves na redação do vestibular


Abaixo, você encontrará 10 “pecados mortais” mais comuns: repetições que geram circularidade textual, uso indiscriminado de adjetivos como “enfeites” das frases, metáforas desgastadas (clichés, lugares-comuns), abstrações grosseiras. Além disso, no texto dissertativo deve-se evitar o uso sistemático de linguagem coloquial: procure lembrar-se sempre de que o corretor não procura encontrar em seu texto uma linguagem pura, que não tem defeitos, apurada, correta, mas que também não tolerara o uso de termos gíricos ou o abuso de expressões coloquiais.

Além desses fatos, o mau uso de pronomes relativos, de truísmos e dos chamados ditos populares – ou mesmo citações banais – também desgasta enormemente seu texto. No entanto, é preciso ressaltar aqui um fato: você pode evitar tudo isso, mas se não for bem informado, se não buscar conteúdos para discutir e debater, opinar e criticar, seu texto terá, com certeza, o pior de todos os defeitos: alienação dos contextos atuais. E esse é, sem dúvida, o maior de todos os perigos.

Para ilustrar o início das dicas, vejam este poema escrito por Paulo Leminski.

Língua Mátria

“Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.”

Em um tempo de redação para vestibular, além da estrutura, que deve ser bem cuidada, de nos informarmos bem para que não cometamos deslizes, devemos evitar os chamados “pecados mortais da redação”. Tome nota:

1- Lugares-comuns ou clichês, adjetivos cristalizados, desgastados pelo uso:

Não há nada mais desgastante para um texto do que o costume de repetir infinitamente os chamados clichês ou o que chamamos de “senso comum”. Fuja disso, forme opiniões próprias com expressões também suas, que carreguem os seus pontos-de-vista de maneira absolutamente particular quando articulados. Veja “ótimos” maus exemplos:

“É uma tristeza muito grande ver até aonde o Brasil chegou.”
“Devemos lutar, com o coração cheio de esperanças, por uma pátria livre e por um povo feliz”
“Os governos devem fazer enormes esforços para que o povo desta Pátria possa ser considerado pessoas valorizadas.”
“A crise de energia é apenas uma parte da questão.”

2- Linguagem coloquial e abstrações grosseiras:

Você já ouviu falar que a teoria na prática é outra, não ouviu? Pois, então, acrescente a isso uma outra circunstância também já citada: falar é uma coisa e escrever é outra, completamente diferente.
Você já leu que, às vezes, carregamos os vícios da fala para o texto que estamos escrevendo. Evite isso, vigie-se constantemente. Observe os erros mais frequentes:

a) Se o apagão vai vir para ficar… (Se o apagão virá…)
b) O presidente pegou e pensou que o povo brasileiro era burro. (O presidente pensou (imaginou) que o povo brasileiro fosse…)
c) A nível de competência, João é muito mais que José. (João é mais competente que José. A expressão a nível de jamais deve ser usada como ordem indicadora ou comparativa)
d) Com a derrota da inflação, o povo ficou hiper feliz. ((…) ficou demasiadamente feliz)
e) E as deploráveis expressões coloquiais: isto quer dizer que… isto significa que… que podem ser vastamente usadas na fala (os professores usam muito, observe), mas são condenadas na escrita.
f) Então, diante das tristezas que vemos acontecer a este país, paramos e pensamos, é preciso mudar! (Aqui, o parar é apenas expressão coloquial, não use, exclua-o!)

3- Verdades evidentes (os conhecidos truísmos):

Os chamados truísmos são denunciadores, em primeiro lugar, da fragilidade de nossas ideias, que se deixam assentar sobre o óbvio; em segundo, denunciam o uso do senso comum, das obviedades constantes que ouvimos.
Veja os exemplos:

O primeiro turno das eleições brasileiras acontece sempre em outubro…
Os homens, que são animais racionais…

4- Excesso de adjetivação para caracterizar circunstâncias fatos e acontecimentos:

O magnífico, inesperado e formidável desempenho da CPI da Corrupção…

5- Queísmo (encadeamento de quês sequenciados):

O certo é que, sabedores de que foram escolhidos pelo povo que neles votou de maneira inocente, os políticos que desonram tais votos que…

Observação: não existe apenas o queísmo; nas redações somos atacados por “maisismo”, ‘poisismo”…

6- Uso de provérbios ou ditos populares:

Cuide bem disso e não corra riscos. Quando estamos sob forte pressão para escrever nossa dissertação no vestibular, acabamos por lançar mão de tais estranhezas. Fuja de todos eles: empobrecem o texto.

7- Uso de gírias:

“O problema da violência é algo de que não podemos fugir. Por décadas sucessivas, assistimos ao abandono de um número incontável de neguinhos muitos caras geram os filhos e não querem assumir. Esses caras são, na maioria, gente da pesada que não deixa de curtir seu baratoso, não dando a mínima para os filhos.”

8-Análise dos temas propostos utilizando emoções exageradas:

“Os bandidos são assassinos impiedosos que nunca compreenderão o que é ser humano. Roubam, matam e furtam, não levando em consideração a vida dos inocentes. Suas almas malditas hão de arder no fundo dos infernos e Deus não terá misericórdia deles.
Morte aos bandidos!”

9- Mau título:

Outra tendência do vestibulando é colocar um título banal na dissertação. Não se esqueça de que ele, o título, é como se fosse o nosso cartão de apresentação para o corretor. Evite usar títulos longos ou, pelo contrário, títulos formados apenas por artigo + substantivo (ou artigo + adjetivo + substantivo (A reforma agrária / A beleza do país). É fatal.

10- Tente não analisar o tema proposto sob apenas um dos ângulos da questão:

Afinal, já aprendemos que (para conhecer o gato, é preciso conhecer o ponto de vista do rato. “E a lição de Alice no País das Maravilhas é uma bela e inesquecível lição: “Se queres, Alice, conhecer o ponto de vista do gato, conheças também o ponto de vista do rato.”

http://guiaedicas.com/10-erros-graves-na-redacao-do-vestibular/

Linguagem – socialização e enunciação

hagar

Vamos conversar sobre a tirinha? Nela, observamos os recursos utilizados pelo cachorro e pelo papagaio para se comunicar, o cachorro rosna, mostra os dentes e altera seu olhar; o papagaio, que imita sons, reproduz palavras que ouve dos humanos com quem convive. Até aqui, tudo muito convencional. Porém, no último quadrinho, construindo o humor da tira, o papagaio, diante da ameaça do cachorro, é capaz de, “racionalmente”, criar uma frase de acordo com sua necessidade, assumindo uma característica exclusiva do ser humano: produzir enunciados. Daí a sensação de estranhamento que toma conta de Hagar (observe a expressão de seu rosto) e de nós, leitores.

LINGUAGEM E SOCIALIZAÇÃO

“Somente o homem é um animal político, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. A linguagem permite ao homem exprimir-se e é isso que torna possível a vida social”, disse Aristóteles (384-322 a.C).
O filósofo grego definiu o homem como político no sentido do vocábulo grego politikós, ou seja, cidadão, aquele que é capaz de viver na polis (cidade), em sociedade. E ele atribuía à capacidade de linguagem, que nos é inerente, o fato de os seres humanos conseguirem viver em sociedade.
A linguagem animal, constituída pela emissão de sons e comportamentos determinados, permite e garante a sobrevivência e perpetuação das espécies. Há, porém, grandes diferenças entre a linguagem animal e a linguagem humana. Enquanto a primeira é estática e condicionada, não consciente, a segunda é fruto do raciocínio, e a expressão por meio dela é consciente e intencional, não meramente instintiva. E mais, a linguagem humana é dinâmica e criativa.
Num primeiro momento, pode-se definir linguagem humana como todo sistema que, por meio da organização de sinais, permite a expressão ou a representação de ideias, desejos, sentimentos, emoções. Essa representação possibilita a leitura, o que concretiza a dinâmica da interação, da comunicação e, consequentemente, da socialização. Num segundo momento, pode-se defini-la como a capacidade inerente ao ser humano de aprender uma língua e de fazer uso dela.

“A linguagem é a capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los [...]. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido. [...] Nas práticas sociais, o homem cria a linguagem verbal. Ela é um dos meios para representar, organizar, transmitir o pensamento de forma específica. Há a linguagem verbal, a não verbal e seus cruzamentos verbo-visuais, audiovisual, audioverbo-visuais…”

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): ensino médio – Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 1998. p. 6.

LINGUAGEM VERBAL E LINGUAGEM NÃO VERBAL

“[…] texto, em sentido lato, designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (quer se trate de um poema, quer de uma música, uma pintura, um filme, uma escultura, etc), isto é, qualquer tipo de comunicação realizada através de um sistema de signos”.

FÁVERO, L R; KOCH, I. V. Linguística textual: introdução. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2000. p. 25.

Quando pensamos em linguagem como sistema organizado de sinais, associamos essa palavra à noção de linguagem verbal, ou seja, de língua. Mas linguagem, como já vimos, tem um conceito mais amplo: é todo sistema que permite a expressão ou representação de ideias e se concretiza em um texto.

Na linguagem visual, o signo é a imagem. Assim como acontece com a linguagem verbal, há inúmeros modos de organização dos signos visuais, decorrentes da relação que o ser humano estabelece entre a realidade e sua representação. Os artistas se valem intencionalmente desse recurso, procurando fazer o apreciador reagir diante dessa representação e levantar questionamentos sobre o que é de fato real e o que é imaginário e, indo mais além, sobre a própria ordenação do real. O crítico de arte Giulio Argan comenta: “Magritte pinta um cachimbo e escreve embaixo: ‘Isso não é um cachimbo’. De fato, não é um cachimbo; e a própria palavra cachimbo, que designa o cachimbo, não é um cachimbo. Eis o contraste entre coisas e signos na vida cotidiana”. (ARGAN, Giulio Cario. Arte Moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.)

cachimbo

De fato, o desenho ou a foto de um cachimbo – ou a palavra cachimbo – não são o objeto cachimbo (uma pessoa não pode fumar o desenho, a foto ou a palavra). O objeto é a coisa; o desenho, a foto, a palavra são representações.
Cientes disso, podemos perceber a existência de diferentes linguagens à nossa volta. Linguagens que apelam a todos os nossos sentidos.
A linguagem da pintura explora linhas, cores, formas, luminosidade; a da escultura se vale de formas, volumes, tipos de material para a sua expressão. Os cartazes luminosos das ruas comerciais, por meio de luzes, figuras e linguagem verbal, tentam nos dizer alguma coisa. As histórias em quadrinhos que, via de regra, exploram imagens e palavras, realizam o cruzamento verbo-visual.
Representações simbólicas surgiram antes mesmo da escrita, como as gravuras rupestres e o sistema hieroglífico dos egípcios, em que signos, à maneira de desenhos, retratavam seres, situações, ritos e até histórias, expressas, primitivamente, sobre pedra, madeira e papiro. Na era da internet, utilizando o computador, os navegadores da rede mundial criaram um código especial para se comunicar, aproveitando os sinais gráficos oferecidos pelo teclado (as chamadas “caracteretas”::-) = sorriso;:-( = tristeza;;-) = piscada, cumplicidade; escrever com letras maiúsculas significa gritar, etc).
Outro exemplo de linguagem não verbal é a dos gestos, elaborada para a comunicação de surdos-mudos, em que sinais feitos com as mãos correspondem às letras e aos números.
Como você percebeu, diversos são os tipos de textos e os códigos utilizados na interação social, e um dos mais importantes é a língua. Recapitulando, reconhecemos dois grandes tipos de sistemas de signos:

• linguagem verbal => aquela que utiliza a língua (falada ou escrita);
• linguagem não verbal => aquela que utiliza qualquer código que não seja a palavra.

Neste blog o foco é a linguagem verbal, especificamente a língua portuguesa falada no Brasil. E mais: o livro apresenta uma característica fundamental da linguagem verbal que é a de se referir ou descrever a si mesma, portanto ele é um exemplo de metalinguagem.

OS SIGNOS VISUAIS

Signos visuais são componentes básicos dos códigos que possibilitam a expressão de uma ideia substituindo determinados objetos. Assim, são signos visuais o sinal vermelho do semáforo indicando “pare”, o polegar erguido numa mão fechada indicando “sim, OK”, etc.
Segundo a relação com o objeto a que se refere, o signo visual pode assumir diferentes representações do real. Destacamos três:
ícone: signo que apresenta relação de semelhança ou analogia com o objeto a que se refere (é metafórico). São ícones: a fotografia, o diagrama, a planta de uma casa, etc.
índice: signo que mantém uma relação natural causal, ou de contiguidade física, com o objeto a que se refere (é metonímico). São índices: a fumaça, que indica a presença de fogo; a nuvem negra no céu indicando chuva; uma pegada indicando a passagem de alguém ou de algum animal; a posição do cata-vento que indica a direção do vento, etc.
símbolo: signo que se fundamenta numa convenção social e que, por isso, mantém uma relação convencional com o objeto a que se refere; é arbitrário, imotivado. São símbolos: o signo linguístico, a pomba branca (representação da paz), a cor vermelha (representação de perigo), a auréola (representação de santidade, pureza).

O SIGNO LINGUÍSTICO

Na linguagem verbal, que tem a língua como código, os signos linguísticos são os responsáveis pela representação das ideias. Esses signos são as próprias palavras, que, por meio da produção oral ou escrita, associamos a determinadas ideias. Daí afirmar-se que os signos linguísticos apresentam dois componentes: uma parte material, concreta (o som ou as letras), que denominamos significante; outra abstrata, conceituai (a ideia), que denominamos significado.

“[...] signos são entidades em que sons ou sequências de sons – ou as suas correspondências gráficas – estão ligados com significados ou conteúdos. [...] Os signos são assim instrumentos de comunicação e representação, na medida em que, com eles, configuramos linguisticamente a realidade e distinguimos os objetos entre si”.

VILELA, M.; KOCH, I. G. V. Cromática da língua portuguesa. Coimbra: Almedina, 2001. p. 17.

SIGNO LINGUÍSTICO

SIGNIFICANTE + SIGNIFICADO

papagaio
significante: sequência sonora: /papagaio/ (ou representação gráfica: papagaio).

significado (conceito): ave da espécie dos psitaciformes ou psitacídeos, geralmente de penas verdes, que imita bem a voz humana.

Por exemplo, a palavra papagaio traz a ideia de “ave da espécie dos psitaciformes ou psitacídeos, geralmente de penas verdes, que imita bem a voz humana”. Entretanto, tal ligação entre representação (significante) e ideia (significado) é totalmente arbitrária, ou seja, não há nada indicando que deve haver uma relação entre elas. Trata-se de uma convenção; caso contrário não saberíamos a que a palavra papagaio faz referência. A significação das palavras tem de ser obrigatoriamente comum ao grupo social que faz uso de um mesmo código ou língua, para que a mensagem produzida possa ser entendida por todos.
Outro detalhe importante: a palavra papagaio não é o papagaio (a palavra papagaio não tem condições de imitar a sua voz, por exemplo), mas quando a pronunciamos (ou lemos), imediatamente nos vem a ideia da ave conhecida como papagaio. A coisa mencionada pode não estar diante de nós, mas o simples fato de evocá-la, dizendo a palavra que a nomeia, é suficiente para que sua imagem nos venha à mente.
O signo linguístico, isoladamente, não tem outra finalidade a não ser representar alguma coisa e, por isso, dizemos que a palavra isolada é neutra. No entanto, por diversas associações, um mesmo signo linguístico pode assumir diferentes significados:


O papagaio de Hagar é muito dócil.

Neste caso se refere à ave da espécie dos psitaciformes ou psitacídeos, geralmente de penas verdes, que imita bem a voz humana.


Essa menina é um papagaio.

Neste caso, menina tagarela ou que repete tudo o que escuta.


Os meninos brincaram a tarde toda de empinar papagaio.

Neste caso, brinquedo que consiste em uma armação de varetas de madeira leve, coberta de papel fino, e que, por meio de uma linha, se empina, mantendo-se no ar.

Vimos, portanto, que é o arranjo da palavra, sua articulação e combinação num enunciado textual (falado ou escrito) que concretiza e exterioriza uma ideia e a faz assumir este ou aquele sentido.

LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA

Como você já viu, o ser humano utiliza diversos tipos de linguagem para expressar suas impressões -representar coisas, seres, ideias, sentimentos -, dentre elas a linguagem verbal.
A língua é um sistema de representação constituído por palavras e por regras que as combinam, permitindo que expressemos uma ideia, uma emoção, uma ordem, um apelo, enfim, um enunciado de sentido completo capaz de estabelecer comunicação. É importante salientar que essas palavras e regras são comuns a todos os membros de uma determinada sociedade. Isso significa que a língua pertence a toda uma comunidade, como é o caso da língua que você fala – a língua portuguesa.

Quando um membro da comunidade, isto é, um falante faz uso da língua, ele realiza um ato de fala. A fala é um ato individual e depende de várias circunstâncias: do que vai ser falado e de que forma, da intencionalidade, do contexto, de quem fala e para quem se está falando. No entanto, o falante vale-se de um código já convencionado e instituído antes de ele nascer, ou seja, a criatividade de seu uso individual está limitada à estrutura da língua e às possibilidades que ela oferece.
Fonte:http://queroaprenderportugues.com.br/linguagem-socializacao-e-enunciacao/ 

Barroco


1. A arte barroca originou-se na Itália (séc. XVII), mas logo alcançou outros países da Europa, atingindo também o continente americano por meio da ação de colonizadores portugueses e espanhóis. Sobre o Barroco, assinale a alternativa incorreta.

a) Foi um movimento influenciado pela Contrarreforma.
b) A arte barroca é cheia de detalhes, beirando o exagero.
c) O sentimento de angústia gerado pela Contrarrefor­ma não se desenvolveu em Portugal.
d) Antíteses e paradoxos são figuras de linguagem muito usadas pelos autores do Barroco.
e) O homem do período Barroco oscila entre os prazeres da carne e as imposições religiosas.

2. Esta estrofe pertence ao poeta barroco Gregório de Matos.

Se basta a vos irar tanto um pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Das figuras de linguagem elencadas a seguir, qual delas podemos encontrar na referida estrofe?

a) Hipérbole.
b) Elipse.
c) Antítese.
d) Contraste.
e) Comparação.

3. Leia este final do soneto "Discreta e formosíssima Maria", de Gregório de Matos.

Oh Não aguardes que a madura idade

te converta essa flor, essa beleza,

em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

Nele estão presentes as seguintes características:

a) o tema da juventude - metáforas - amor platônico.
b) o tema da velhice - antíteses - misticismo religioso.
c) o tema carpe diem - antíteses - enumeração caótica.
d) o tema corpediem - metáforas - religiosidade medieval.
e) o tema carpe diem - metáforas - enumeração gradativa.

4. A respeito do poeta Gregório de Matos, é correto afirmar:

a) As poesias atribuídas a ele são classificadas em amorosas, religiosas, graciosas, encomiásticas, satíricas e obscenas.
b) Nas poesias amorosas e religiosas, afastou-se do português erudito, chegando a criar um estilo notadamente brasileiro.
c) Não foi poeta cultista, como era de se esperar; enveredou pelo conceptismo para poder expressar as tensões do espírito barroco.
d) Por desprezar a contribuição da linguagem brasileira, criou uma poesia, no geral, monótona, salvando-se apenas nos poemas fesceninos (obscenos).
e) Embora conhecido como "Boca do inferno", escreveu poesias satíricas sem nenhum poder de crítica, cujos versos não passam de meros "destemperas verbais".

5. Na escultura barroca O êxtase de Santa Teresa, de Gian Lorenzo Bernini, podem ser verificadas as características a seguir, exceto

a) a perfeição anatômica.
b) os resquícios do Renascimento.
c) o uso frequente de temas religiosos.
d) a completa ausência de sensualidade.
e) a grande preocupação com os detalhes.

6. Embora o poema apresente temática religiosa, é possível vislumbrar nele um pouco do "Boca do inferno". Assinale a alternativa que justifique essa afirmativa sobre o soneto de Gregório de Matos.

a) Deus oferece o perdão em troca de lisonjas.
b) Embora Deus ofereça o perdão, o poeta nega recebê-lo.
c) O poeta pede perdão tentando negociá-lo com Deus.
d) Não há perdão para o poeta, pois ele insiste em negar que é pecador.
e) O poeta não reconhece que pecou e não vê necessidade de pedir perdão.

Gabarito dos exercícios

1- C
2- C
3- E
4- A
5- D
6- C

http://www.analisedetextos.com.br/

"O velho sempre novo" - trecho do prefácio por José Fernandes


O VELHO SEMPRE NOVO - prefácio

José Fernandes
Foto de Marília Núbile

Não existe tema velho, ou ultrapassado, para a literatura. Em decorrência, não existe a tão propalada morte da poesia ou da ficção. Na arte literária, tudo é novo, tudo é atual. Evidente que o novo depende da capacidade de criação, como se o escritor estivesse sempre repetindo o faça-se do princípio. Como se estivesse, não! Ele está sempre recriando o criado, imprimindo-lhe tons inusitados, chamando-o ao tempo presente. Evidente que enxergá-lo como novo depende do tamanho e da profundidade do olho de quem lê, ou seja, do conhecimento e da percepção do que realmente seja criação, do que seja elevação ao sublime, entendido como superlativo do belo. 

Essas reflexões, sem dúvida, advém de um artefato literário de grande impacto estético, quais sejam os contos de Odenilde Nogueira Martins, que compõem Caso Encerrado, que temos a incontida honra de prefaciar. O conto, que dá nome ao livro, passa verdadeira rasteira no leitor, ao colocar centenas de homens aguardando o momento da abertura de inesperado garimpo naquela região. Todavia, a retroescavadeira encontrava-se ali para a função cruel de efetuar o (des)enterro do corpo sepultado clandestinamente da namorada do filho do fazendeiro, a quem nada afeta, em resultado do poder político-econômico de seu pai. A estrutura do conto, ao desviar o foco para a garimpagem, revela a capacidade do narrador de proceder um contraponto dissonante que converte a narrativa em verdadeira obra de arte, à medida que instaura forte ironia e, sobretudo, a maldade do riso advindo do inesperado do acontecimento. Ironia que se adensa, se observarmos o título do conto, que revela a qualidade e a intensidade do desmando a que até a justiça se submete.

Este é um trecho do prefácio de meu livro "Caso encerrado" que está em andamento.

TRANSVELEJAR...Rubenio Marcelo



TRANSVELEJAR...

ávidas de sagas e renovações
transvelejando o tempo
vão as naus cortando horizontes...


nelas
a marinhagem não se cansa:
renova-se com prelúdios de violinos
e minuetos noturnos 
vindos das torres estelares 
que a bombordo e estibordo
balizam a suavidade das jornadas...

lemes, velas, estais,
leves púlpitos de popas e proas,
tudo 
a barlavento ou sotavento
flutua – e faz flutuar – azul
nestas naus viajoras
[que transcendem os mitos 
e os hemisférios cotidianos]
ostentando o pavilhão da primazia...
– naus visionárias
planadoras
de mares e ares...

mesmo secular,
não há rotina no trilar das sete salvas...
a continência é da alma
– e esta é flama invicta,
é albatroz diligente:
reinaugura-se a cada soar da lira!...

grávidas de misteres e revelações,
transnavegando na quintessência do inefável,
seguem as naus eternizando messes...


* Poema do meu novo livro "Veleiros da Essência" (Ed. Life, 2014, prefaciado por José Fernandes e com apresentação de Raquel Naveira) - livro que pode ser adquirido nas Livrarias: Leitura (Shopping Campo Grande), Leparole, e Casa do Artesão, e também na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

Necrológio dos desiludidos do amor


Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

( Carlos Drummond de Andrade )
(Publicado em Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 136 e 137)



Questões de interpretação de texto + gabarito



A melhor forma de aprender a usar corretamente a Língua Portuguesa é estudando e fazendo exercícios de qualidade. Para um estrangeiro a dificuldade é ainda maior porque ele precisa aprender os sentidos da nossa linguagem figurada.

Responda as questões de 1 a 10 de acordo com o texto abaixo:

O primeiro dever passado pelo novo professor de português foi uma descrição tendo o mar como tema. A classe inspirou-se, toda ela, nos encapelados mares de Camões, aqueles nunca dantes navegados; o episódio do Adamastor foi reescrito pela meninada.
Prisioneiro no internato, eu vivia na saudade das praias do Pontal onde conhecera a liberdade e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema de minha descrição.
Padre Cabral levara os deveres para corrigir em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que escutassem com atenção o dever que ia ler. Tinha certeza, afirmou, que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. Eu acabara de completar onze anos.
Passei a ser uma personalidade, segundo os cânones do colégio, ao lado dos futebolistas, dos campeões de matemática e de religião, dos que obtinham medalhas. Fui admitido numa espécie de Círculo Literário onde brilhavam alunos mais velhos. Nem assim deixei de me sentir prisioneiro, sensação permanente durante os dois anos em que estudei no colégio dos jesuítas.
Houve, porém, sensível mudança na limitada vida do aluno interno: o padre Cabral tomou-me sob sua proteção e colocou em minhas mãos livros de sua estante. Primeiro “As Viagens de Gulliver”, depois clássicos portugueses, traduções de ficcionistas ingleses e franceses. Data dessa época minha paixão por Charles Dickens. Demoraria ainda a conhecer Mark Twain, o norte-americano não figurava entre os prediletos do padre Cabral.
Recordo com carinho a figura do jesuíta português erudito e amável. Menos por me haver anunciado escritor, sobretudo por me haver dado o amor aos livros, por me haver revelado o mundo da criação literária. Ajudou-me a suportar aqueles dois anos de internato, a fazer mais leve a minha prisão, minha primeira prisão.

Jorge Amado

1. Padre Cabral, numa determinada passagem do texto, ordena que os alunos:
a) façam uma descrição sobre o mar;
b) descrevam os mares encapelados de Camões;
c) reescrevam o episódio do Gigante Adamastor;
d) façam uma descrição dos mares nunca dantes navegados;
e) retirem de Camões inspiração para descrever o mar.

2. Segundo o texto, para executar o dever imposto por Padre Cabral, a classe toda usou de um certo:
a) conhecimento extraído de “As viagens de Gulliver”;
b) assunto extraído de traduções de ficcionistas ingleses e franceses;
c) amor por Charles Dickens;
d) mar descrito por Mark Twain;
e) saber já feito, já explorado por célebre autor.

3. Apenas o narrador foi diferente, porque:
a) lia Camões;
b) se baseou na própria vivência;
c) conhecia os ficcionistas ingleses e franceses;
d) tinha conhecimento das obras de Mark Twain;
e) sua descrição não foi corrigida na cela de Padre Cabral.

4. O narrador confessa que no internato lhe faltava:
a) a leitura de Os Lusíadas;
b) o episódio do Adamastor;
c) liberdade e sonho;
d) vocação autêntica de escritor;
e) respeitável personalidade.

5. Todos os alunos apresentaram seus trabalhos, mas só foi um elogiado, porque revelava:
a) liberdade;
b) sonho;
c) imparcialidade;
d) originalidade;
e) resignação.

6. Por ter executado um trabalho de qualidade literária superior, o narrador adquiriu um direito que lhe
agradou muito:
a) ler livros da estante de Padre Cabral;
b) rever as praias do Pontal;
c) ler sonetos camonianos;
d) conhecer mares nunca dantes navegados;
e) conhecer a cela de Padre Cabral.

7. Contudo, a felicidade alcançada pelo narrador não era plena. Havia uma pedra em seu caminho:
a) os colegas do internato;
b) a cela do Padre Cabral;
c) a prisão do internato;
d) o mar de Ilhéus;
e) as praias do Pontal.

8. Conclui-se, da leitura do texto, que:
a) o professor valorizou o trabalho dos alunos pelo esforço com que o realizaram;
b) o professor mostrou-se satisfeito porque um aluno escreveu sobre o mar de Ilhéus;
c) o professor ficou satisfeito ao ver que um de seus alunos demonstrava gosto pela leitura dos clássicos portugueses;
d) a competência de saber escrever conferia, no colégio, tanto destaque quanto a competência de ser bom atleta ou bom em matemática;
e) graças à amizade que passou a ter com Padre Cabral, o narrador do texto passou a ser uma personalidade no colégio dos jesuítas.

9. O primeiro dever… foi uma descrição… Contudo nesse texto predomina a:
a) narração;
b) dissertação;
c) descrição;
d) linguagem poética;
e) linguagem epistolar.

10. Por isso a maioria dos verbos do texto encontra-se no:
a) presente do indicativo;
b) pretérito imperfeito do indicativo;
c) pretérito perfeito do indicativo;
d) pretérito mais que perfeito do indicativo;
e) futuro do indicativo.

Releia a primeira estrofe e responda as questões de 11 a 13


Cheguei, Chegaste, Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada.
E a alma de sonhos povoada eu tinha.

11. À ordem alterada, que o autor elabora no texto, em busca da eufonia e ritmo, dá-se o nome de:
a) antítese;
b) metáfora;
c) hipérbato;
d) pleonasmo;
e) assíndeto.

12. E a alma de sonhos povoada eu tinha. Na ordem direta fica:
a) E a alma povoada de sonhos eu tinha.
b) E povoada de sonhos a alma eu tinha.
c) E eu tinha povoada de sonhos a alma.
d) E eu tinha a alma povoada de sonhos.
e) E eu tinha a alma de sonhos povoados.

13. Predominam na primeira estrofe as orações:
a) substantivas;
b) adverbiais;
c) coordenadas;
d) adjetivas;
e) subjetivas.

Releia a segunda estrofe para responder as questões de 14 a 17:


E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha

14. O objetivo preso (presa) refere-se a:
a) estrada;
b) vida;
c) minha mão;
d) tua mão;
e) vista.

15. Coloque nos espaços em branco os verbos ao lado corretamente flexionados no imperativo afirmativo segunda pessoa do singular.
……………………………(parar) na estrada da vida; ……………………(manter) a luz de teu olhar.
a) pára – mantém
b) paras – manténs
c) pare – mantenha
d) pares – mantenhas
e) parai – mantende

16. Tive da luz que teu olhar continha. Com luz no plural teríamos que escrever assim:
a) Tive das luzes que teu olhar continha.
b) Tive das luzes que teus olhares continha.
c) Tive das luzes que teu olhar continham.
d) Tive das luzes que teus olhares continham.
e) Tiveram das luzes que teus olhares continham.

17. Tive da luz que teu olhar continha.

A oração destacada, em relação ao substantivo luz, guarda um valor de:
a) substantivo;
b) adjetivo;
c) pronome;
d) advérbio;
e) aposto.

Releia as duas últimas estrofes para responder as questões de 18 a 20:


Hoje, segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

18. Sujeito do verbo umedecer (umedece):
a) a partida;
b) os teus olhos;
c) tu;
d) ela;
e) o pranto.

19. O verbo comover (comove) refere-se no texto (e por isso concorda com ela) à palavra:
a) o pranto;
b) a dor;
c) teus olhos;
d) te;
e) partida.

20. Assinale a alternativa onde aparece um verbo intransitivo.
a) Hoje seques de novo.
b) Nem o pranto os teus olhos umedece.
c) Nem te comove a dor de despedida.
d) E eu, solitário, volto a face.
e) Vendo o teu vulto.

Gabarito dos exercício de interpretação

01.A, 02. E, 03. B, 04. C, 05. D, 06. A, 07. C, 08. D, 09. A, 10. C

11. C, 12. D, 13. C, 14. D, 15. A, 16.A, 17. B, 18. E, 19. B, 20.A

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