"O velho sempre novo" - trecho do prefácio por José Fernandes


O VELHO SEMPRE NOVO - prefácio

José Fernandes
Foto de Marília Núbile

Não existe tema velho, ou ultrapassado, para a literatura. Em decorrência, não existe a tão propalada morte da poesia ou da ficção. Na arte literária, tudo é novo, tudo é atual. Evidente que o novo depende da capacidade de criação, como se o escritor estivesse sempre repetindo o faça-se do princípio. Como se estivesse, não! Ele está sempre recriando o criado, imprimindo-lhe tons inusitados, chamando-o ao tempo presente. Evidente que enxergá-lo como novo depende do tamanho e da profundidade do olho de quem lê, ou seja, do conhecimento e da percepção do que realmente seja criação, do que seja elevação ao sublime, entendido como superlativo do belo. 

Essas reflexões, sem dúvida, advém de um artefato literário de grande impacto estético, quais sejam os contos de Odenilde Nogueira Martins, que compõem Caso Encerrado, que temos a incontida honra de prefaciar. O conto, que dá nome ao livro, passa verdadeira rasteira no leitor, ao colocar centenas de homens aguardando o momento da abertura de inesperado garimpo naquela região. Todavia, a retroescavadeira encontrava-se ali para a função cruel de efetuar o (des)enterro do corpo sepultado clandestinamente da namorada do filho do fazendeiro, a quem nada afeta, em resultado do poder político-econômico de seu pai. A estrutura do conto, ao desviar o foco para a garimpagem, revela a capacidade do narrador de proceder um contraponto dissonante que converte a narrativa em verdadeira obra de arte, à medida que instaura forte ironia e, sobretudo, a maldade do riso advindo do inesperado do acontecimento. Ironia que se adensa, se observarmos o título do conto, que revela a qualidade e a intensidade do desmando a que até a justiça se submete.

Este é um trecho do prefácio de meu livro "Caso encerrado" que está em andamento.

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