O escritor francês Patrick Modiano, 69 anos, é o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2014. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (9), em Estocolmo, às 8h (horário de Brasília). Além do título, o escritor ganha também 8 milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão). Neste ano, a lista contou com 210 indicados, sendo 36 estreantes.
Modiano é considerado o principal escritor francês da atualidade. Paris é um tema recorrente em suas obras. Por ele refletir sobre ruas, pessoas e outros aspectos da capital francesa, críticos dizem que ele está para Paris como Woody Allen está para Nova York. O secretário-permanente da Academia Sueca, Peter Englund, indicou ante a televisão pública SVT que a instituição não conseguiu contactar o vencedor antes do anúncio.
O nobel foi concedido em face "da arte da memória com a qual ele tem evocado o mais insondável dos destinos humanos e revelou a vida-mundo (do período) da ocupação", disse a Academia. O último francês a ganhar o Nobel de Literatura foi Jean-Marie Gustave Le Clézio, em 2008.
Peter Englund, secretário permanente da Academia Sueca, afirmou que Modiano é um nome bem conhecido na França, mas não em todo lugar. Ele escreve livros infantis, roteiros de cinema, mas principalmente romances. Seus temas são memória, identidade e tempo.
O autor teve alguns de seus livros publicados no Brasil, entre eles "Dora Bruder", "Uma Rua de Roma", "Ronda da Noite", "Vila Triste", "Meninos Valentes", "Filomena Firmeza" e "Do Mais Longe ao Esquecimento".
Reflexão sobre a memória
Sua obra mais conhecida, "Uma Rua de Roma" ("Rue des Boutiques Obscures", no título original), vencedor do prêmio Goncourt em 1978, conta a história de um detetive que perdeu a memória e seu caso final é descobrir quem ele realmente é. "É um livro divertido, que brinca com o gênero policial, ao mesmo tempo que diz coisas fundamentais sobre a memória e o tempo. Como uma pessoa preocupada com a memória, o que todos nós somos, ele é tomado pelas tentativas de voltar no tempo, e você pode se identificar com isso, além de sua maneira muito original de fazer isso", disse Englund.
O escritor francês Patrick Modiano não figurava nas listas de apostas de críticos para o Prêmio, que até então mantinha o queniano Ngugi wa Thiong'o, o japonês Haruki Murakami e a bielorrussa Svetlana Aleksijevitj entre os favoritos.
Modiano nasceu um subúrbio a oeste de Paris, dois meses depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em julho de 1945. Seu pai era de origem italiana judaica e conheceu sua mãe, uma atriz belga, durante a ocupação de Paris. Os efeitos da ocupação nazista na França também são tema frequente em suas obras.
Entre os candidatos frequentemente mencionados que ainda estão na espera, então o escritor tcheco Milan Kundrea, o escritor albaniano Ismail Kadare, o romancista argelino Assia Djebar e o poeta sul-coreano Ko Un. Outros críticos ainda sugeriram os israelenses Amos Oz e David Grossman, assim como os americano Richard Ford e Philip Roth. Em 2013, o Nobel premiou a escritora Alice Munro, que se concentra nas fraquezas da condição humana, também conhecida como a "Chekhov canadense".
O prêmio de Literatura foi o quarto Nobel a ser concedido este ano. A premiação recebe o nome do inventor da dinamite Alfred Nobel e é entregue desde 1901 por feitos em ciência, literatura e paz, de acordo com seu testamento.
Selo que a Academia Sueca criou para Patrick Modiano, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2014
Nobel de Literatura, Modiano faz estudo da ocupação nazista em livros
A memória, o esquecimento e a identidade são temas comuns na obra do escritor Patrick Modiano, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2014, divulgado na manhã desta quinta-feira (9).
Considerado o escritor francês mais importante da atualidade, Modiano fez, ao longo da vida, um verdadeiro estudo da ocupação nazista e seus efeitos na França. Os eventos que ocorreram na época servem, quase sempre, como pano de fundo para suas histórias – construídas, inclusive, sob uma base autobiográfica muito forte.
O próprio Prêmio Nobel, ao anunciar o vencedor, realçou a "a arte da memória" de Modiano "com a qual evocou os destinos humanos mais inalcançáveis e descobriu o mundo da vida da ocupação".
Patrick Modiano, cujo romance "Uma Rua de Roma" ganhou o prestigiado Prêmio Goncourt em 1978, nasceu em 30 de julho de 1945, em Boulogne-Billancourt, um subúrbio de Paris. Seu pai, de origem italiana judaica, era um homem de negócios e sua mãe belga, atriz. Foi durante a ocupação que o casal se conheceu.
Ele estudou no Lycée Henri-IV em Paris, onde seu professor de geometria era Raymond Queneau, um escritor que desempenharia um papel decisivo para o desenvolvimento do futuro escritor. Já em 1968, Modiano fez sua estreia com "La place de l'Etoile", um romance que atraiu muita atenção.
A porção autobiográfica vem diluída em histórias de entrevistas, artigos de jornais ou notas que ele acumula desde que começou a escrever. Todos esses elementos servem como base de suas obras. Sendo assim, alguns personagens se repetem em outros livros ou contos. Paris não é apenas o cenário principal da maioria de seus livros, mas é considerada quase como um participante criativo e ativo de suas histórias.
Uma obra de caráter documental, com a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo, é "Dora Bruder" (1997), que se baseia, na verdade, no conto de uma menina de quinze anos em Paris, vítima do Holocausto. Já "Un pedigree" (2004) ressalta a veia autobiográfica.
Algumas das obras de Modiano foram traduzidos para o Inglês e ganharam edições nacionais pela editora Rocco e pela Cosac Naify, como "Vila Triste", "Dona Bruder", "O Horizonte", "Ronda da Noite", "Uma Rua de Roma" e "Meninos Valentes". Seu último livro, "Filomena Firmeza", foi lançado neste ano pela Cosac Naify.
Abaixo, veja os vencedores do Nobel de Literatura dos últimos anos:
2013: Alice Munro (Canadá)
2012: Mo Yan (China)
2011: Tomas Tranströmer (Suécia)
2010: Mario Vargas Llosa (Peru)
2009: Herta Müller (Romênia)
2008: Jean-Marie Gustave Le Clézio (França)
2007: Doris Lessing (Reino Unido)
2006: Orhan Pamuk (Turquia)
2005: Harold Pinter (Reino Unido)
2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
2003: John Coetzee (África do Sul)
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