TEXTO: A BATALHA DO LEBLON
Foi à noitinha, aí por volta das
20 horas, que a notícia correu pelas esquinas do Leblon, ganhou amplitude,
espalhou-se pelo bairro e foi explodir como uma bomba na Delegacia de Polícia.
Os bichos do circo armado perto da pracinha tinham picado a mula. Foi aí que
começou a ignorância. O delegado não estava, é claro. O comissário também não,
é lógico, e a coisa sobrou na mão do prontidão.
___ Chamem a polícia! ___ berrou o infeliz.
___ Mas a polícia somos nós ___ advertiu um outro guarda.
Refeito da distração, o prontidão começou a procurar seus superiores
para saber como agir. A muito custo conseguiu telefonar para um primo da noiva
do comissário e localizar o distinto.
___ Peçam uma patrulha do Exército ___ recomendou o comissário.
Pediu-se. Mas havia outras corporações disponíveis. E apelou-se para o
Corpo de Bombeiros, para a Polícia Militar, Radiopatrulha e ___ ninguém até
agora sabe explicar por quê ___ um carro-socorro da Light.
___ Talvez seja para evitar um curto-circuito no leão ___ disse um
mulato magrela, com cara de gozador.
O elefante, segundo informações de um soldado desconhecido, seguira rumo
à praia. Elefante, ao que se presume, não nada. Ou será que nada? O povo dava
palpites e, como sempre, do povo saiu um mais bem informado pouquinha coisa,
para dizer que na África nada sim, mas não era o caso desse, que se chamava
Bômbolo, e que nascera num outro circo e nunca vira água a não ser em balde.
Já então havia uma multidão apreciando as manobras. A praça era uma das
trincheiras, o Jardim de Alá era a retaguarda das tropas. Pela rua principal
não passaria nenhum bicho que mata gente, salvo lotações, mas estes têm licença
especial pra matar.
Um homem de porte marcial, com muito mais estrelas do que os outros,
reclamava contra a demora do tanque. Sim, ele requisitara um tanque-de-guerra e
isto começou a parecer ridículo a uns tantos e emocionante para outros. A preta
gorda, que mal acabara de servir o jantar dos patrões, palpitou:
___ Só onça tem umas quatro.
Mas o garoto que estava perto desmentiu, dizendo que estava farto de ir
àquele circo e nunca vira onça nenhuma.
Nessa altura apareceu correndo, lá do outro lado da praça, um soldado.
Vinha acelerado e parou na frente do homem que tinha mais estrelas do que os
outros. Fez uma continência legal e avisou que não havia elefante na praia.
Imediatamente recebeu ordens de ir pelas casas avisando para que todo mundo
trancasse as portas por causa dos leões.
___ Manda espiar primeiro se o leão já não entrou, senão é fogo na
jacutinga, trancar porta com leão dentro ___ gozou o mulato.
O soldado explicou que não era preciso, porque não tinha leão. Nem leão,
nem tigre, nem onça. Apenas um “popótis”.
___ Hipopótamo ___ corrigiu o
que tinha mais estrelas do que os outros.
Então ___ já conhecido o inimigo ___ começou o cerco ao “popótis”. Dos
que estavam nas proximidades, poucos sabiam o que era um hipopótamo. Uns diziam
que era maior que o elefante, outros diziam que era menos, mas muito mais
feroz. E nessa troca de informações ficaram até que surgiu um outro soldado,
que, vindo correndo em diagonal pela praça, bateu continência e disse pro de
mais estrelas:
___ O “popótis” se rendeu-se.
___ Hipopótamo ___ voltou a corrigir o chefe, deixando passar a
abundância de pronomes.
Soube-se que, realmente, o hipopótamo fora localizado dentro de um
jardim, numa residência grã-fina, comendo girassóis. E logo depois apareceu na
esquina o dono do circo, puxando um bicho que não era maior que um cachorro
dinamarquês e que o acompanhava de passo pachorrento. Decepção geral, inclusive
dos soldados, preparados para mais uma batalha que, como tantas outras, não
houve.
___ Ainda por cima o bicho come flor ___ disse a preta gorda.
___ Come flor sim, uai! ___ explicou o de touca. ___ Então tu não sabia
que “popótis” é veterinário?
( Stanislau Ponte Preta )
VOCABULÁRIO
AMPLITUDE:extensão, grandeza, dimensão / CORPORAÇÃO:
órgão que administra serviço público/
PORTE
MARCIAL: aparência
guerreira / PRESUMIR: supor / PRONTIDÃO: soldado de serviço de uma
delegacia de polícia / REQUISITAR: requerer, exigir
1-
Relacione as frases a seus significados.
a-
Pare de “atiçar fogo” na discussão
b-
Quem gosta de “brincar com fogo”,
acaba de queimando.
c- Não se preocupe se cozinharmos a
situação a “fogo brando”.
d-
É horrível ficar “entre dois fogos”!
e-
Os jovens “pegaram fogo” ao som da
banda de reggae.
f-
Menino, você “é fogo”!
( ) difícil, trabalhoso (
) adiando a solução de um problema
( ) animaram-se, entusiasmaram-se (
) correr riscos, meter-se em encrenca
( ) pressionado do dois lados ( ) fomentar discórdia
2-
Transcreva o fragmento do texto em que o autor situa os fatos temporalmente.
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3-
Interprete a frase de acordo com o texto: “Foi aí que começou a ignorância.”
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4-
Que expressões revelam a ironia do autor ao referir-se aos funcionários da
delegacia?
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5-
Que piada o mulato magrela faz a respeito da participação de um carro-socorro
da Light no episódio? Cite suas palavras.
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6-
Releia o oitavo parágrafo. Transcreva o trecho em que o narrador mostra sua
opinião sobre o nível de conhecimento das pessoas envolvidas no caso da fuga dos
bichos. Cite suas palavras.
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7-
Transcreva o trecho em que o autor critica os meios de transportes públicos.
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8-
Por que o soldado fez continência para o homem que tinha mais estrelas do que
os outros? O que significa, de acordo com o texto ter mais estrelas?
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9-
Identifique.
A-
narração B-
descrição C- reflexão D- hipótese
( ) “Elefante, ao que se presume, não nada.
Ou será que nada?”
( ) “O elefante, segundo informações de um
soldado desconhecido, seguira rumo à praia.”
( ) “___ Talvez seja para evitar um
curto-circuito no leão...”
( ) “Uns diziam que era maior que o elefante,
outros diziam que era menor, mas muito mais feroz.”
10-
A personagem de touca não sabia o significado da palavra veterinário. Qual foi o significado que atribuiu a essa palavra?
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11-
Retire o trecho que mostra qual o espaço
físico em que ocorrem os fatos narrados.
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