TEMPOS MODERNOS
O Filme Tempos Modernos (Modern Times) retrata o personagem Carlitos totalmente perdido numa sociedade que apresenta sinais da modernidade. Ele começa o filme trabalhando numa fábrica na qual o presidente os observa atentamente de sua sala através de câmeras.
O trabalho de Carlitos consiste na simples tarefa de apertar parafusos. De acordo com Karl Marx, as condições materiais determinam as formas de pensamento. Ou seja, para ele, Carlitos estaria alienado por não conhecer todo o processo de produção em série e apenas o trabalho de apertar parafusos ao qual fora submetido. Podemos perceber que, até mesmo depois de sair da fábrica, Carlitos continua a apertar parafusos de hidrantes e botões dos vestidos das mulheres que caminham pela rua. Servindo a assim para reforçar ideia de que o trabalho de produção em série torna o sujeito alienado.
Carlitos é tido como louco e é encaminhado a um hospital psiquiátrico. Esta transição da fábrica para o hospício nos remete a transição dos indivíduos dentro das instituições como bem descreve Michel Foucault em seu conceito de sociedade disciplinar.
Segundo Foucault, o poder disciplinar consistia na transição dos cidadãos dentre as mais variadas instituições como a Família, a Escola, o Hospital, a Fábrica e instituição suprema de poder disciplinar, o Presídio.
Esta sociedade disciplinar que, seguindo Foucault, perdurou até meados do século XX, disciplinava seus cidadãos fazendo-os transitar pelas mais diferentes instituições a fim de torná-los corpos dóceis. Ou seja, torná-los moldáveis de acordo com o interesse do Estado.
Porém, depois que deixa o hospício e encontra a fábrica fechada, Carlitos caminha pela rua e encontra uma bandeira que acabara de cair de um caminhão. A bandeira (supostamente vermelha, já que o filme é em preto e branco) reforça a ideia de manifestação comunista. Já que, logo em seguida, juntam-se a Carlitos inúmeros trabalhadores em tom de protesto.
Marx, afirma no Manifesto do Parido Comunista que a revolução é a força motriz para o desenvolvimento histórico da humanidade. E isto só é possível através de luta entre classes. Neste caso, sendo a burguesia, os opressores e o proletariado, os oprimidos. Carlitos, então, é preso como líder comunista e adentra a instituição disciplinar suprema descrita por Foucault, o Presídio.
Depois que cumpre a sua pena e ganha, mais uma vez, a liberdade, Carlitos encontra dificuldades para se estabelecer em algum emprego. Distante do modelo consumista, Carlitos já não sabe mais que rumo tomar e faz de tudo para retornar à prisão. Ele também conhece uma jovem com a qual irá sonhar ter uma casa e constituir uma família. No entanto, como ambos desconhecem os meios de produção da sociedade na qual estão inseridos, eles sonham que a casa ideal terá frutas a serem colhidas pela janela e vaca dando leite à sua porta.
O filme é uma ótima ilustração para questões descritas por Marx e conceitos de Foucault. E que consegue, graças ao brilhantismo do roteiro, atuação e direção de Charles Chaplin, fazer com que questões tão delicadas e pertinentes em nossa sociedade sejam retratadas de forma leve e sutil, mesmo num filme de humor.
CIBELE SOUZA
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