3 REQUISITOS PARA INTERPRETAR MELHOR


Para interpretar corretamente um texto precisamos mais que listas de 10 dicas infalíveis que pretendem solucionar anos de falta de interesse nos estudos. Compreender as pistas que o texto traz, relacioná-las e, depois, apenas depois disso, assinalar a resposta correta numa questão ou emitir uma opinião sobre o texto lido passa, certamente, por alguns requisitos básicos que serão tratados neste artigo. Não há nada de mágico nisso. O que precisamos é de ferramentas que podem ser estudadas e capacidade para usar estas ferramentas a nosso favor. Dentre os aspectos a serem estudados aqui veremos: Conhecimento de mundo, a progressão textual e o implícito.

CONHECIMENTO DE MUNDO

Por vezes, o significado do texto depende de um conhecimento de mundo, de situações vivenciadas pelo leitor. Se este não teve acesso ao conhecimento de mundo exigido, o entendimento do texto será parcial. Veja o exemplo a seguir.

O conhecimento de mundo, nesse caso, é fundamental para a interpretação. Se o mesmo anúncio fosse veiculado em um país onde não fosse comercializado esse produto, dificilmente o texto seria entendido, uma vez que a marca "OMO" (pressuposto no texto) não existiria naquele país.

A PROGRESSÃO TEXTUAL

Um texto não é um amontoado de partes, há uma articulação entre os parágrafos, uma organização dos períodos (período: de ponto a ponto; de maiúscula a maiúscula); enfim, há uma progressão lógica que organiza o texto, fazendo com que o leitor entenda claramente o que está sendo exposto. O texto a seguir foi propositalmente alterado, leia-o:

Presidido pelo Senador Gorot., acabado o congresso em Berlim, em Turim e Paris, publicar extratos do artigo do “Mensageiro de Bale", onde os leitores de minhas obras me ofereceram um banquete fiz.

As orações foram mudadas de sua ordem original de modo que o texto se tornou incompreensível; releia-o em sua ordem natural:

Acabado o congresso, fiz publicar extratos do artigo do "Mensageiro de Bale ", em Berlim, em Turim e Paris, onde os leitores de minhas obras me ofereceram um banquete, presidido pelo Senador Gorot.

A oração "Acabado o congresso" estabelece o tempo em que se realizou a ação da oração subsequente ("fiz publicar...); o conectivo "onde", por sua vez, recupera os antecedentes "Berlim","Turim" e "Paris", precisando o local em que foi oferecido o "banquete"; a última oração ("presidido...") compartilha um saber a respeito do "banquete". A progressão lógica do texto se dá por meio de marcadores de coesão, como conjunções, preposições, pronomes relativos, marcadores temporais (advérbios, locuções adverbiais), e por meio do encadeamento lógico dos períodos e orações (portanto, coesão e coerência).
O IMPLÍCITO

O termo "implícito" refere-se ao fato de algo estar pressuposto, subentendido, nas entrelinhas. Por não estar na superfície do texto, é mais difícil de ser percebido. No discurso literário, o implícito está presente na relação que se estabelece entre a obra e o leitor. Ao ler uma poesia, um conto ou um romance, o leitor sempre vai à procura da mensagem que a obra quer passar e do tema tratado, os quais costumam estar implícitos; tome como exemplo a poesia de Mário Quintana:

Função

Me deixaram sozinho no meio do circo
Ou era apenas um pátio uma janela uma
rua uma esquina
Pequenino mundo sem rumo
Até que descobri que todos os meus gestos
Pendiam cada uma das estrelas por longos
fios invisíveis
E havia súbitas e lindas aparições como
aquela das longas tranças
E todas imitavam tão bem a vida
Que por um momento se chegava a esquecer
a sua cruel inocência de bonecas
E eu dizia depois coisas tão lindas
E tristes
Que não sabia como tinham ido parar na minha boca
E o mais triste não era que aquilo fosse
apenas um jogo cambiante de reflexos
Porque afinal um belo pião dançante
Ou zunindo imóvel
Vive uma vida mais intensa do que a mão
ignorada que o arremessou
E eu danço tu danças nós dançamos
Sempre dentro de um círculo implacável de luz
Sem saber quem nos olha atenta ou
distraidamente do escuro...

Mário Quintana. Antologia poético. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.

No poema, a existência é comparada a uma encenação num palco ou picadeiro, em que o indivíduo é submetido aos caprichos do 'destino. Implicitamente, o poeta faz uma reflexão da existência humana, esse é o tema. Num próximo artigo veremos como é que o implícito atua no nível da frase.

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