Vivo de grandezas: lesmas e visgos
rolando pelos meus impedimentos,
mas sem perdimentos do que não tenho.
Por isso, tudo está ao alcance do olhar
que enxerga nadas e coisas nenhumas
fora do amanhã em que viverei de ontes.
Ainda bem que o poetar requer apenas
conjugar verbos e conferir-lhes sentidos
de barro e limo a escorrerem desde dentro.
Requer apenas ocupação de éter e nuvem
a despejarem-se no rio a correr em direção
de lodo e silêncio que levam a lugar algum.
Poesia prolifera no vazio, sem ponteiros,
mas sempre em horas abertas ou fechadas
para enxergar muito além das venezianas.
Esse nada que é tudo convertido em verso
se deve ao fato de o poeta passar a vida
a cavar inutensílios e pedras em si mesmo.
José Fernandes / 3-8-2014
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