MULHER
Tu que trazes a semente na semente,
a terra na terra para ser ramos e frutas
para a continuidade do gene e da gente
que caminha da fundura do templo
para os confins do tempo!
Tu que afinas a voz para a cantoria
da vida espalhando na água e no sal
que se torna sol e lua no meio do céu
no dia e na noite dos homens ávidos
de amor na eterna idade de eros!
Tu que caminhas silente e falante
para melhor completar a palavra
primeira perdida no in illo tempore,
mas que se resgata em cada gravidez
presa no olhar e na fala, confissão
de que se não pode fugir nem negar.
Tu que tens um dia nos dias, mas és
todos os dias na labuta para manter
o homem ligado ao homem para preservar
o ontem e o amanhã da véspera de todas
as manhãs.
Tu tens a missão de conservar o feminino
no masculino para que ele fecunde sempre
a tua semente e faça-a germinar no teu cio
de árvore e de eterno animus pecandi
de que nunca se deve esquecer nas lides
divinas do paraíso em que te transformaste.
VERBO
VERBO
Quando o verbo se pintava em cavernas,
o homem louvava os deuses com hinos,
e a poesia nascia no seio de alguma deusa,
e as mulheres começavam a vestir-se
de poemas que voavam aos seus ouvidos.
Naquele tempo, o sol era o grande deus,
que permitia às flores o beijo das borboletas
e às florestas, a orquestra dos pássaros:
despertadores, recreio, alimento do homem
à beira de seus dolmens e de seus menires.
Quando o verbo pintou o verbo na música,
na pedra e no papiro, nasceram mulheres
vestidas de poemas e tornaram-se poesia,
e o homem escreveu poemas na pedra
que permanecem no agora de cada homem.
Além disso, a mulher se safou do ostracismo
e cultuou o amor em suas setenta faces.
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