Por Maíra Althoff De Bettio
Monteiro Lobato apresentava em suas obras a realidade brasileira, que possuía (e ainda possui) características preconceituosas, ou seja, traços racistas em relação aos negros. Diante deste panorama, muitos consideravam o autor em questão preconceituoso. O que chama muito a atenção nas obras do autor é a ambiguidade, justamente o que gera esta discussão acerca do racismo ou não do escritor.
Particularmente, não vejo Monteiro Lobato como um escritor racista, apenas como alguém que representava a realidade brasileira em suas obras. Se ele assim o fosse, não intitularia uma de suas publicações com “Histórias de Tia Anastácia”, que conta com muitos causos populares e folclóricos, contados oralmente pela própria.
Tia Anastácia, como muita gente sabe, é uma das figuras criadas por Monteiro. Negra, trabalha na casa de uma família matriarcal branca e passa a maior parte do tempo na cozinha. Retomando a publicação que leva o nome da personagem, na qual constam desacatos da Emília (boneca de pano que tem vida) com a empregada, segue um exemplo:
“Parecem-me muito grosseiras e até bárbaras – coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia. Não gosto, não gosto, e não gosto!”
Mas a boneca tagarela não é mal-educada apenas com Tia Anastácia, ela passa dos limites com qualquer pessoa que vá de encontro ao seu gosto. Como continuação do exemplo anterior, na passagem em que Dona Benta (dona do sítio em que trabalha Tia Anastácia) censura Emília, esta retruca mostrando-lhe a língua. Aqui, a hierarquia também está presente, tendo em vista que Emília afronta de maneira diferenciada Dona Benta e Tia Anastácia.
Ao mesmo tempo em que Emília faz pouco caso das histórias que ouve de Tia Anastácia, Pedrinho (neto de Dona Benta) enaltece a cultura popular contada pelos negros:
“As negras velhas são sempre muito sabidas. Mamãe conta de uma que era um verdadeiro dicionário de histórias folclóricas, uma de nome Esméria, que foi uma escrava de meu avô. Todas as noites ela sentava-se na varanda e desfiava histórias e mais histórias”
E o menino ainda conclui:
“Tia Nastácia é o povo. Tudo o que o povo sabe e vai contando de um para outro, ela deve saber. Estou com o plano de espremer Tia Nastácia para tirar o leite de folclore que há nela”
Lobato utiliza características africanas na construção de outro de seus personagens negros, Tio Barbabé (que também é um sábio dos costumes populares e do folclore), e reconhece a importância desta influência africana na cultura brasileira. Além disso, o autor – no conto “Negrinha” – denuncia crueldades presentes no escravismo.
Fonte:A Figura do Negro em Monteiro Lobato, por Marisa Lajolo. Disponível em:http://www.unicamp.br/iel/monteirolobato/outros/lobatonegros.pdf
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