ATIVIDADE / PORTUGUÊS / NONO ANO


      Da influência dos espelhos

Tu lembras daqueles grandes espelhos côncavos ou convexos que em certos estabelecimentos os proprietários colocavam à entrada para atrair os fregueses, achatando-os, alongando-os, deformando-os nas mais estranhas configurações?
Nós, as crianças de então, achávamos uma bruta graça, por saber que era tudo ilusão, embora talvez nem conhecêssemos o sentido da palavra ''ilusão''.
Não, nós bem sabíamos que não éramos aquilo!
Depois, ao crescer, descobrimos que, para os outros, não éramos precisamente isto que somos, mas aquilo que os outros veem.
Cuidado, incauto leitor! Há casos, na vida, em que alguns acabam adaptando-se a essas imagens enganosas, despersonalizando-se num segundo ''eu''.
Que pode uma alma, ainda por cima invisível, contra o testemunho de milhares de espelhos?
Eis aqui um grave assunto para um conto, uma novela, um romance, ou uma tese de mestrado em Psicologia.

(Mário Quintana, Na volta da esquina. Porto Alegre, Globo, 1979, p. 79)


01-Nesta crônica, Mário Quintana 
A)vale-se de um incidente de seu tempo de criança, para mostrar a importância que tem a imaginação infantil. 
B)alude às propriedades ilusórias dos espelhos, para mostrar que as crianças sentiam-se inteiramente capturadas por eles. 
C)lembra-se das velhas táticas dos comerciantes, para concluir que aqueles tempos eram bem mais ingênuos que os de hoje. 
D)alude a um antigo chamariz publicitário, para refletir sobre a personalidade profunda e sua imagem exterior. 
E)vale-se de um fato curioso que observava quando criança, para defender a tese de que o mundo já foi mais alegre e poético. 

02-Considere as seguintes afirmações:
I.O autor mostra que, quando criança, não imaginava a força que pode ter a imagem que os outros fazem de nós.
II.As crianças deixavam-se cativar pela magia dos espelhos, chegando mesmo a confundir as imagens com a realidade.
III.O autor sustenta a ideia de que as crianças são menos convictas da própria identidade do que os adultos.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em 
A)I, II e III. 
B)III, apenas. 
C)II e III, apenas. 
D)I e II, apenas. 
E)I, apenas. 

03-Está INCORRETO o seguinte comentário acerca do emprego de termos ou expressões do texto: 
A)A expressão ''Há casos, na vida'' indica que o autor está interessado em generalizar e absolutizar a verdade da tese que acaba de expor. 
B)Na frase ''Nós bem sabíamos que não éramos aquilo'', o termo sublinhado acentua bem a distância e a superioridade com que as crianças avaliavam suas imagens deformadas. 
C)Na frase ''Não éramos precisamente isto que somos, mas aquilo que os outros vêem'', os pronomes sublinhados reforçam a oposição entre somos e veem. 
D)Ao afirmar que algumas pessoas despersonalizam-se ''num segundo 'eu' '', o autor deixa implícito que todos temos um ''eu'' original e autêntico. 
E)No penúltimo parágrafo, ''uma alma invisível'' e ''testemunho de milhares de espelhos'' representam, respectivamente, a personalidade verdadeira e suas imagens enganosas. 

04-Na interrogação ''Que pode uma alma, ainda por cima invisível, contra o testemunho de milhares de espelhos?'' há a admissão de que 
A)só a força do olhar e do interesse alheio capta as verdades de nossa alma. 
B)a verdade essencial da alma não tem como se opor às imagens que lhe atribuem. 
C)o essencial da alma só é reconhecível na soma de suas múltiplas imagens. 
D)a fragilidade da alma só é superada quando adquire a consistência de uma imagem. 
E)a legitimidade do nosso modo de ser depende inteiramente do reconhecimento alheio. 

05-Segundo Mário Quintana,a despersonalização num segundo ''eu'' 
A)é a causa, e as ''imagens enganosas'' são a sua consequência. 
B)e a adaptação às imagens enganosas são fatos paralelos e independentes. 
C)é uma consequência, cuja causa é a adaptação às imagens enganosas. 
D)é uma consequência, cuja causa é a invisibilidade da alma. 
E)é a causa, cuja consequência é a invisibilidade da alma. 

06-Todas as palavras estão corretamente grafadas e acentuadas na frase: 
A)A reminicência dos espelhos côncavos e convexos levou o autor a expecular sobre a consistência da alma. 
B)A assepção da palavra ilusão era desconhecida pelas crianças, o que não impedia que elas descriminassem entre o que era fato e o que era impressão. 
C)Quando somos condecendentes com as imagens que os outros têm de nós, tornamos-nos cumplices do equivoco alheio. 
D)Acreditar na consistência da imagem que os outros fazem de nós em nada contribui para o reconhecimento da nossa personalidade íntegra e verdadeira. 
E)No ambito de uma pequena crônica, o autor trata de um tema que bem poderia ser objeto de uma ampla pesquiza em Psicologia. 

07-Está inteiramente correta a frase: 
A)Se nos vermos exatamente como os outros nos veem, talvez nos surpreendemos. 
B)Ele já havia despersonalizado-se, de tanto se preocupar com a própria imagem. 
C)O autor acha prudente que nos acautelemos diante das imagens enganosas. 
D)É como se o olhar alheio fosse um espelho que contivesse para sempre a nossa alma. 
E)Uma vez perdida a nossa identidade, haverá um modo de a reouver? 

08-As normas de concordância verbal estão inteiramente respeitadas na frase: 
A)Aos incautos leitores recomendam-se cautelas com os poderes do olhar alheio. 
B)O autor nos adverte de que, em sua pequena crônica, condensa-se muitas ideias para ficção ou ciência. 
C)Para muitos, as imagens que os outros lhes fornecem é tudo o que lhes interessam. 
D)Não parece atemorizar as crianças as imagens deformadas que veem nos espelhos. 
E) Quando houverem dúvidas sobre quem de fato somos, será prudente confiarmos nos espelhos? 

09-Transpondo para a voz passiva a frase Talvez nem conhecêssemos o sentido da palavra ''ilusão'', a forma verbal resultante será 
A)tivesse sido conhecido. 
B)seria conhecido. 
C)fossem conhecido. 
D)tivéssemos conhecido. 
E)fosse conhecido. 

10-Os tempos verbais estão corretamente articulados entre si no período: 
A)Se olhássemos para aquelas imagens, não nos reconheceremos nelas. 
B)À medida que se adaptem às imagens enganosas, alguns se despersonalizaram. 
C)Que poderes terá tido uma alma contra milhares de espelhos que venham a refleti-la? 
D)Depois que tivermos crescido é que poderemos avaliar a importância que tem o olhar alheio. 
E)Não acreditássemos que éramos aquilo, apenas nos riremos de nossas imagens.

GABARITO: 01-D | 02-E | 03-A | 04-B | 05-C | 06-D | 07-C | 08-A | 09-E | 10-D
ANÁLISE DE TEXTOS

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