Então é isso. Já vão longe a espera, o frio na barriga, a data agendada. Nós conseguimos! Entre sete bilhões de pessoas no mundo, você e eu nos encontramos. Sabe-se lá por obra do quê, de quem, mas nos achamos. Somos dois e cá estamos, cada um em seu canto e a seu tempo dizendo: enfim, nós.
Mas e depois disso? Vem o quê? O que acontece agora que não há mais segredo, que passou o encontro breve depois da espera longa? Agora que passamos da condição de completos estranhos para a de recém-conhecidos tateando no escuro corredor que leva ao coração do outro? O que vem depois da primeira vez?
Você não sabe, não deve ter percebido, mas no instante ligeiro da nossa garrafa de vinho inicial eu saltei várias vezes para um tempo em que jamais estivemos, mas que desde sempre se fez nosso. Vi nossos futuros encontros, nossas próximas vezes, nossos dias seguintes, nossas noites vindouras.
Enquanto estivemos ali, nos descobrindo, apertados a uma mesa pequena e redonda, afastando nossos medos com as pontas dos dedos, como você queria, meu olhar perdido escorregou para longe, deslizou na enxurrada que corria franca com a chuva lá fora. E foi parando nos buracos, nos vãos e nas curvas do que há de vir.
Vi você e vi a mim mesmo nessas paragens, construindo nosso depois de amanhã, multiplicando nossas lembranças. Porque o amor deve ser isso mesmo, né? Esse escandaloso milagre da multiplicação. Vi encontros e partidas, esperas, chegadas. Vi nossos enganos, nossa saudade, nossa alegria do encontro seguinte, nossa paixão avassaladora, nosso amor se acalmando e se deitando em nosso colo, sob a sombra de uma tristeza sempre à espreita, uma sensação de que a qualquer tempo a festa acaba.
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Lá estávamos nós, eu vi, namorando o amor de cada um, juntos, certos de que a vida terá sempre uma manhã de domingo preguiçosa para nossos pés cansados do caminho. Lá estavam a Terra girando azul, a manteiga derretendo amarela no pão. E a vida seguindo em preto, branco e todas as cores.
Então o tempo breve que dura uma primeira garrafa de vinho acabou. Meus olhos voltaram do futuro para a presença dos seus e o nosso início chegou ao fim. Passou a chuva, a noite, o café, o piano esperando na sala.
A mim, a nós, não cabe perguntar o que será depois. Porque a resposta é simples: depois da primeira vez vem a segunda. Depois a terceira, a quarta, a quinta e a sexta, os sábados e os domingos, e todas as outras vezes se sucedendo em fila, como eucaliptos num bosque infinito de expectativas. Como a vida que recomeça sempre, ao final de cada encontro que lhe dá sentido e som e fúria. O resto é o nada, o único caminho que a tudo leva.
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