Exercícios de interpretação de Textos

Leia o texto I para responder às questões de 1 a 3.

Texto I
O tempo não é experiência. Pode ser esclerose. Numa visão ligeira, envelhecer seria um caminhar no sentido do futuro – o que não corresponde à verdade. Caminhar em direção ao futuro é a característica do jovem, ocorrendo envelhecimento quando se inicia o processo inverso: a volta ao passado, sua preservação, dele se fazendo sempre mais dependente. No que envelhece, o risco é o hábito – a infindável repetição daquilo que foi antes uma resposta criadora.
O perigo é a tensão inerente ao passado em buscar perpetuar-se, oferecendo as mesmas respostas a questões que agora são outras. Esta, a ameaça do passado. Mas há outro ângulo.
O passado não se acumula somente sob a forma de hábito, mas, virtualmente, introduz a possibilidade da memória. E se o hábito faz com que se repitam mecanicamente respostas caducas, a memória é o potencial criador sempre disponível com o qual a história pode contar.
O jovem está, num certo limite, livre de um passado que ameace escravizá-lo – simplesmente por não existir ou por não ter atingido a intensidade necessária. Na aparência – como se isso não dependesse de uma posição do espírito – sendo o Brasil um país jovem, estaríamos menos próximos dos perigos da esclerose. Mas com o que podemos contar? Já foi dito, de resto, ser o Brasil um país sem memória.
Nosso ceticismo destruiria esta consideração – no sentido de levar em conta – com relação ao passado. Parece que estamos condenados a sempre partir do zero. (GOMES, Roberto. Crítica da Razão Tupiniquim. Porto Alegre, RS: Mercado Aberto, 7a ed. 1984)

1. Após uma leitura atenta do fragmento, julgue os itens a seguir, quanto aos aspectos da compreensão e interpretação.
a) O autor estabelece uma visão antitética em relação ao conceito usual de tempo.
b) Envelhecimento é a dependência em relação ao passado.
c) Pode-se inferir que o jovem, para manter-se fiel a suas características, preserva incólumes os valores herdados dos antepassados.
d) Hábito e memória excluem-se, na medida em que o hábito é pura repetição, enquanto a memória abre possibilidades criadoras.

2. Julgue os itens em relação à teoria linguística e normas gramaticais.
a) A próclise do pronome em “não se acumula” é facultativa.
b) As duas ocorrências da partícula se, no segundo parágrafo equivalem-se no plano morfossintático.
c) Num certo limite está entre vírgulas por ser expressão internalizada em uma oração.
d) O agente da ação verbal no último período do texto é indeterminado.

3. Julgue os itens a seguir, em relação aos aspectos semânticos e estilísticos.
a) Experiência, esclerose, passado, futuro e envelhecer, no texto, pertencem ao mesmo campo semântico.
b) “Virtualmente” poderia ser substituído por potencialmente ou factível mente, sem alterar substancialmente o sentido do texto.
c) “Sendo o Brasil um país jovem”instaura uma condição concessiva em relação à oração seguinte.
d) Ceticismo liga-se semanticamente a sem memória, na mesma linha.

Leia o texto II para responder às questões 4 e 5.

Texto II
Periodização da Filosofia


Não se pode afirmar que a história do pensamento filosófico obedeça a uma evolução linear, de tal modo que cada posição atingida pelos grandes pensadores no plano epistemológico, ético, metafísico, estético, etc., condicione o desenvolvimento sucessivo.
Em primeiro lugar, há uma multiplicidade de áreas diversas de indagação e, a não ser em casos bem raros, raramente surgem pensadores geniais capazes de abrangê-las de maneira sincrônica ou unitária, marcando pontos cardeais da história das ideias. O que prevalece, em geral, são contribuições especializadas que cuidam de determinado campo de pesquisa, não se devendo esquecer que essas indagações setoriais podem, às vezes, repercutir sobre o curso do pensamento geral, inspirando novos paradigmas, ou seja, pressupostos fundamentais que passam a condicionar as meditações subsequentes.
Como se vê, as linhas de indagações filosóficas resultam de preferências individuais dos pensadores assim como de fatores das mais diversificadas configurações, não sendo possível,pois, afirmar que as várias correntes de pensamento se entrelacem ou atuem umas sobre as outras. Há até mesmo hipóteses em que determinadas escolas ou círculos de pensamento são tão ciosos de suas convicções que chegam a olhar com desprezo as demais perquirições, como se deu, por exemplo, em certos momentos do escolasticismo medieval; no apogeu do naturalismo positivista da passada centúria; no predomínio ideológico do marxismo que, no dizer de Raymond Aron, foi “o ópio dos intelectuais”; ou, em tempos mais recentes, a corrente do positivismo
lógico, alguns de cujos mentores chegaram a considerar meaningless, isto é, desprovido de sentido tudo que não se ajustasse a seus parâmetros.

(Miguel Reale Jr. – O Estado de São Paulo – Jun/98)

4. A primeira instância da interpretação textual situa-se na esfera da compreensão dos significados vocabulares e organizacionais. Atentando para esta afirmação, julgue os itens a seguir segundo os critérios semânticos e estilísticos.
a) “Multiplicidade de áreas diversas de indagação” trata do caráter unívoco do conhecimento e, por conseguinte, do objeto da filosofia.
b) “abrangê-las de maneira sincrônica”, é o mesmo que visão superficial sobre o objeto do conhecimento.
c) A partícula pois grifada no texto, instaura uma circunstância explicativa entre duas afirmações que a circundam.
d) O autor utiliza-se de um registro predominantemente metafórico, dificultando a apreensão das ideias que veicula.

5. Considerando que paráfrase é o desenvolvimento de um texto conservando-se suas ideias originais, expressas por palavras diferentes, julgue os itens a seguir, caso sejam ou não paráfrases de segmentos do texto II.
a) A progressão do pensamento filosófico não se sujeita a parâmetros evolutivos lineares.
b) Raros filósofos conseguem abarcar simultaneamente diferentes campos da perquirição filosófica.
c) O pensamento geral é modificado por paradigmas fundamentais.
d) A crença de que as várias correntes de pensamento se excluem é confirmada pela individualidade do pensamento filosófico ocidental.
Gabarito dos exercícios de interpretação

01. V-V-F-V
02. F-F-V-F
03. F-V-F-F
04. F-F-F-F
05. V-V-V-V

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