JOSÉ FERNANDES: ENTREVISTA A DAVID GONÇALVES E ODENILDE NOGUEIRA MARTINS EM O LANÇAMENTO DO LIVRO "SAGANOSSA", JOINVILLE, 07/04/2014.
1 - Como é o seu modo de produzir sua literatura? De quais livros seus você mais gosta?
JF - Quando faço crítica de ficção, observo como o narrador estruturou a narrativa, como trabalhou a linguagem, os símbolos, a fim de tornar o texto literário realmente belo, atraente para o leitor. Quando critico o texto poético, verifico todo o trabalho efetuado pelo poeta para instaurar o poético, que se esconde na forma do texto e, sobretudo, tratando-se de poesia moderna, em uma linguagem essencialmente imagética, responsável pela ambiguidade do discurso, porque não existe poesia, se a linguagem for denotativa. Quando escrevo poesia, procuro, exatamente, seguir os passos que percorro na leitura dos poemas dos outros poetas em relação à linguagem. Por isso, uso muitas imagens, pois tento esconder, nelas, pessoas que ironizo ou satirizo, a fim de que o texto e a crítico se universalize.
2 - Em que situação se encontra a literatura brasileira?
JF - Para lhe dizer a verdade, a literatura me assusta, porque, no mesmo momento em que se prega a sua morte, em que se a julga morrente, surgem escritores novos, raros, mas que lhe imprimem um novo vigor, mediante a criação de obras realmente fabulosas. A poesia, por exemplo, viceja em Alto Araguaia, com um estudante de Letras, chamado Paulo David, que apresenta todas as qualidades do poético, e que transforma a linguagem em arte. Evidentemente que ele está muito bem assessorado por seus professores, mormente Isaac Ramos, também excelente poeta.
3 - Quem, no Brasil, está produzindo boa literatura?
JF - Há uma geração de escritores que se encontra entre os 70 e os 100 anos que continua produzindo excelente literatura, como Manoel de Barros, Gilberto Mendonça Teles e Antonio Miranda. Há uma outra, entre os 30 e 70, nas várias regiões do país, que nos deixa muito tranquilos com relação ao futuro da arte literária. Entre eles, destacam-se Isaac Ramos e Marta Cocco, em Mato Grosso; Rosidelma Fraga, no Acre; David Gonçalves, em Santa Cartarina; Sinésio di Oliveira, em Goiás; Rubenio Marcelo, no Mato Grosso do Sul; Carla Andrade, em Brasília; Jameson Buarque, no Pernambuco; Avelino de Araújo, no Rio Grande do Norte, para ficar fora do eixo Rio-São Paulo.
4 - Quais são os autores da literatura catarinense que você recomendaria?
JF - Por sua força literária, penso em David Gonçalves, Amilcar Neves e Alcides Buss, entre os mais novos; Guido Wilmar Sassi, Tito Carvalho, Flávio Cardoso, Holdemar Menezes, Silveira de Souza, Péricles Prade, Salim Miguel e o consagrado simbolista Cruz e Sousa.
5 - Você é membro da Academia Goiana de Letras. Qual a importância das Academias? Elas estão cumprindo o seu papel?
JF - A função das Academias de Letras é cuidar e preservar a Língua Portuguesa, além de congregar, pelo menos em tese, os melhores nomes da literatura de determinado estado da federação. Mas, grosso modo, não cumpre a sua função, porque a maioria senta-se sobre o nome que conquistou e não produz mais nada. Em decorrência, não dispõe de poder para se impor política e literariamente no seu meio, ao ponto de algumas dessas academias não terem significado algum. A mais eficiente que conheço é a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, que, além de exercer um papel literário proeminente, ainda exercita uma função política no Estado de Mato Grosso do Sul, como poucas, muito poucas, o fazem.
6 - O que significa a literatura para sua vida? É hobby? É compromisso?
JF - A literatura, para mim, significa tudo, porque, com ela, consegui um status econômico e social que jamais conseguiria sem ela. Por isso, faço literatura com o compromisso de bem exercer o papel de crítico literário, realmente procurando mostrar aquele lado invisível que marca as grandes obras ao leitor que, infelizmente, está cada vez mais desprovidos das qualidades de bons leitores. Como poeta, procuro, dentro de minhas limitações, porque não me julgo bom poeta - sou mais crítico que poeta - trabalhar o poema para que ele se aproxime do sublime, ou seja, do superlativo do belo. Assim vista e sentida, a literatura constitui a razão primeira de minha vida como homem, à medida que ela me permitiu conquistar o humano, naquele sentido de essência, de substância do ser.
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