MARIA DO ROSÁRIO TELES - POEMAS / PARTE 2

Cansaço

Oh esta vontade de chorar
este desejo de lágrimas,
este querer inundar-me
de seu bem-querer!

Esta vontade de me deixar levar
com o vento, diluída no ar
como um perfuma, uma nuvem,
uma lembrança de nada.

Este cansaço de coisas
impossíveis e ternas.
Esta procura de ser
enfim compreendida.


Sonhos

Vão nascendo tantos sonhos,
tantos sonhos de encantar
que por vezes nem sabemos
se é bom mesmo acreditar.

Em sonhos nos construímos,
de sonho é feito o luar;
estrelas são sempre sonhos,
o mundo inteiro é sonhar.


Esfinge

Braços caídos ao longo do corpo,
assisto calma ao sol sangrando
e sigo rindo o sonho redivivo
e as aves que regressam.

Andei passeando ao longo do oceano
para encontrar meu tempo, e agora escuto
este rumor de amor onipresente.

Lábios calados, meu amor de esfinge
nem conhece as ânsias do atropelo.
Entrego-me ao sonhar - sou plena e viva
e cheia de ternura.

Confusão

Se amaste tantas Marias,
todas tão cheias de graça,
todas tão cheias de vida
(Marias em profusão),
por certo nem saberás
qual das Marias terás
gravada em teu coração.


A cor do cotidiano

Invisível como a rosa sonhada
é a cor do cotidiano
o rastro de estrela infinita,
o sorriso do menino que passa,
que nada busca, nada idealiza
na correnteza dos súbitos
acontecimentos.

Mas alguma rosa brotou
do invisível ideal do homem
que dormia na porta da igreja
e cultivava a sua solidão.

FONTE: CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISÍVEL. MARIA DO ROSÁRIO TELES.




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