Triste das almas
que não amam e não jogam
com os minutos do silêncio.
São como as noites sem estrelas
as flores sem vento,
a terra sem chuva.
As almas que se castigam
numa aridez de deserto.
Almas que se castigam
numa aridez de deserto.
( Aridez )
Imobilidade
A vida passa, e vou continuando
imóvel, cega para a lei do tempo.
Há longos anos que molhei meus olhos
nas águas de outro mar.
Pouco de fuga, muito de silêncio,
dorme o silêncio feito em lúcido
momento, como as aves que procuram
os rumos da antiga solidão
para o seu canto.
Agora, que fazer desta tristeza,
se estou cansada de buscar no rio
a sombra da memória?
Agora, que fazer dos ombros curvos,
se os olhos se resvalam na paisagem?
Esta tarde que acaba me entristece
e ninguém mais pode me devolver
meu sonho muito a medo revelado.
Agora, que fazer da minha angústia?
Cai sobre mim a lâmina da tarde
e um desespero fundo se estremece
na minha solidão.
Desencanto
Eu quero andar à toa,
quero fechar os lábios sem raiva
e deixar o silêncio que cerca
penetrar bem fundo no meu ser.
Quero estender os braços
como em prece
e mostrar minhas mãos vazias.
Eu quero andar à toa,
sem nada compreender,
sem pensar em nada,
inútil e vazia
como uma poça d'água,
uma poça d'água vazia,
vazia e inútil,
depois da chuva.
Descrença
Mas eu não quero pensar
não quero perguntar,
não quero nada,
nada.
Desejo apenas
fechar os olhos e sonhar,
imaginar outro tempo,
outra distância,
outro silêncio,
outra coisa qualquer
como uma rosa
sozinha, na noite.
Tumulto interior
Cheia de angústia e de medo
murmura a chuva lá fora
e a solidão enche a noite
de outro murmúrio maior.
Que diz a água da chuva
que não seja a cantilena
dos que sozinhos na noite
vão cofiando as estrelas
seu tumulto interior.
FONTE: CRISTAL DO TEMPO & A COR DO INVISÍVEL
Muito obrigada, Gilberto Mendonça Teles, pelo livro "Cristal do tempo & A cor do invisível" de autoria de sua querida Maria! Estou a deliciar-me com seus versos.
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