DAVID GONÇALVES / SAGANOSSA / LANÇAMENTO HOJE


Presidente da Associação Confraria das Letras, David Goncalves fala ao Orelhada sobre o presente e o futuro da cooperativa literária, que, entre outros frutos, lança a antologia "Saganossa" hoje, na Feira do Livro de Joinville.http://migre.me/iG1ow
http://wp.clicrbs.com.br/orelhada/2014/04/07/a-frente-do-arquipelago/?topo=84%2c2%2c18%2c%2c%2c84


- Os escritores, por natureza, são intimistas.
Veja bem, David Gonçalves não fala em isolamento, mas de uma certa retração em prol do ambiente perfeito para a criação literária. É um sentimento que o paranaense radicado em Joinville conhece bem – são quatro décadas de escrita nas costas e mais de 30 títulos lançados. Mas a “solidão” teve fim quando os encontros com outros autores locais na Biblioteca Pública tornaram-se tão produtivos que resultaram na Confraria das Letras, que depois evoluiu para uma associação homônima focada em publicar obras e divulgar o trabalho de seus integrantes. Após cinco mini-antologias, a união de forças chegou a Saganossa, uma coletânea de textos de 22 escritores que será lançada nesta segunda-feira (7), às 19h30, na Feira do Livro de Joinville. Presidente da cooperativa literária, Gonçalves conta nesta entrevista as vantagens do sistema e seus planos de levar as letras joinvilenses para todo o País.

Qual o maior ganho que a Confraria das Letras possibilitou até agora?
David Gonçalves – A Confraria, um projeto da Biblioteca Pública, reuniu e agitou o meio literário de Joinville. Dela nasceu a Associação dos Escritores, que, de fato, mexeu com a produção literária, não só de Joinville, mas do Estado. Juntos, os escritores se fortaleceram.

Como você avalia a realidade literária de Joinville antes da Confraria?
David - Antes da associação, cada um produzia em seu canto e muitos não conseguiam publicar e divulgar sua obra. Os escritores, por natureza, são intimistas, não gostam de participar de grupos, até porque a criação literária é exclusiva – pensamentos, estilos, gêneros etc. Então, havia um certo marasmo. Com a associação, houve maior incentivo, maior desenvoltura, e iniciantes e veteranos voltaram a produzir e a mostrar os seus trabalhos. Pode-se afirmar que há uma explosão criativa. Isto se deve ao trabalho da associação, que não é algo fechado, como as academias de letras.

Aliás, em Jaraguá há uma iniciativa semelhante, a Ciranda Literária…
David - Por meio da Biblioteca Pública de Jaraguá do Sul, a Ciranda Literária também está criando condições para novos e veteranos terem uma produção literária constante e intensa. Mas eles ainda não criaram uma associação, uma entidade independente. Como a nossa associação não se restringe a Joinville (temos associados de outras cidades e de outros Estados), esperamos que os escritores de Jaraguá e região venham a compartilhar dela.

Então ela já é uma ideia concretizada.
David – Sem dúvida! Ela fomenta a criação literária. Já produzimos e editamos cinco miniantologias num ano e meio de atividades, com recursos próprios. Fizemos o 1º Encontro de Escritores Catarinenses com recursos próprios, sem ajuda do Estado, que foi um sucesso. Neste ano, já estamos programando para novembro o segundo encontro. No ano passado, reunimos 120 escritores. Neste ano, queremos reunir 200 e, juntos, discutir a produção literária catarinense. Nesta Feira do Livro, estamos lançando o livro Saganossa, no sistema cooperativado, com 22 autores. Esse sistema não é novidade alguma, mas na literatura sempre foi pouco usado. Juntos, os autores se sentem mais fortalecidos.

Quais os planos da associação? Continuar publicando antologias ou há algo além?
David - Vamos continuar incentivando a literatura e publicando e divulgando, não só para os joinvilenses, mas para o País. Até pouco tempo, quando se pensava em Joinville, o que vinha na cabeça das pessoas é que aqui se produziam geladeira, parafusos, PVC etc. Queremos dizer ao Brasil que fazemos também boa literatura. Aos poucos, queremos ter escritores de outros Estados. A ideia é transformar o título Saganossa num selo editorial. Todas as nossas publicações sairão também em forma de e-book.

Publicar ainda é o maior obstáculo dos escritores?
David - Publicar é uma coisa, divulgar é outra. Muitos estão publicando, mas encontram fortes barreiras na distribuição. Distribuir é o grande problema para os escritores que ainda não estão na mídia. Sozinho, há poucas chances.

Você percebe uma tendência de formato e temática entre os autores da cidade e da região?
David - O que se percebe é uma grande quantidade de escritores se dedicando à crônica, à poesia e à literatura infantil. Poucos estão produzindo contos e romances. Alguns, ansiosos por editar, acabam escrevendo livretos com dez frases.

O quanto as feiras do livro de Joinville e Jaraguá impulsionaram os escritores da região, inclusive em termos de produção?
David - Elas são vitrines onde os autores expõem suas obras. Sem dúvida, elas mexem com o marasmo literário e ajudam a criar o hábito de leitura. Hoje, no Brasil, parece que há mais escritores do que leitores. Todos sabem que o brasileiro não dá muita importância à leitura. Por incrível que pareça, o que mais reprova nos vestibulares é a redação. Muitos se formam na universidade sem saberem elaborar um bom texto.

Você concorre a uma vaga na Academia Catarinense de Letras (ACL). É um sonho ser imortal?
David - Não. Meu ideal valioso é a literatura. Vejo que as academias de letras deveriam ser mais ativas. Se um dia estiver nela, quero mexer com o marasmo. Até parece que alguns autores, depois que entram, deixam de produzir. Por sua vez, já é hora do Norte de Santa Catarina ter um representante na ACL. Mas a boa literatura vive sem as academias.

Rubens Herbst, joinvilense, 20 anos de jornalismo, é colunista do Anexo, e quando não está fechando o Orelhada impresso, corre atrás de novas (ou nem tanto) do maravilhoso universo pop - daqui, dali e acolá - para contar para os internautas.http://wp.clicrbs.com.br/orelhada/2014/04/07/a-frente-do-arquipelago/?topo=84%2c2%2c18%2c%2c%2c84

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