HOMENAGEM AO DIA DOS PAIS - PAI - POEMA - JOSÉ FERNANDES


PAI

Pai, queria fazer-te um poema, o melhor, 
mas as palavras se parecem pequenas
para fazer-te poesia nesse dia de sempre
em que és presente e memória em minhas
retinas fatigadas pelo tempo imponderável!


Queria falar-te que te seguia madrugada
afora, quando saias a tecer paredes e pintar
casas na paisagem com telhados de vidro
que espatifavam os teus sonhos de vida
prosseguindo nos filhos a que alimentavas
com as dores e as alegrias do teu trabalho.

Pai, queria lembrar-me de tuas mãos calejadas
carcomidas pela areia e pelo cimento que te
impediam de acarinhar a pele macia dos filhos
que trazias sempre dentro dos olhos marejados
do vermelho e das necessidades do existir.

Queria revelar-te o sentimento dorido, quando,
após andarmos dez quilômetros, reclamaste
do cansaço que me apagou da memória aquele
homem incansável dos meus tempos menino.

Queria dizer-te da saudade doida de quando 
chegavas e retinias a campainha acompanhada
de tua inconfundível voz: ─ É o João Bello! 
─ e corríamos para receber-te e matar a saudade 
de um tempo que o tempo não cura jamais.

Queria dizer-te que viraste estrela e estás junto 
de outro Pai, que, certamente, recompensa-te 
pelo tempo que te mantiveste com as mãos duras
e ásperas, usadas também na construção da casa
tua em uma dimensão que te fazia sentires acima 
do existir de areia e pedra e cimento e tijolos.

10-8-2014

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