AGENDE-SE!

SANGUE VERDE - ROMANCE / DAVID GONÇALVES - TRECHO 2


Um garimpeiro, com mais de cinquenta anos, dizia com amargura alguns trechos de sua vida:

— Se eu fosse jovem e forte, por Deus, não me enterraria aqui. Faria de tudo para partir. Isso é uma draga, chupa todas as forças. É ilusão pura. Não ficaria aqui chafurdando na lama, com gosto de barro na boca. Não mais colocaria minha vida numas poucas pepitas de ouro.

— Velho de uma figa! Cale essa boca!

— Deixe ele falar. Pelo menos, sua alma se torna mais leve – ordenou Doca mirando as sombras das lamparinas dançando nas paredes.

— Essa conversa me dá nojo! – confessou outro garimpeiro.

— O que não dá nojo nessa vida?

O velho principiou novamente com sua voz cansada e alterada.

— Joguei minha vida fora. Queria a fortuna!

— Quem não a quer? Ninguém está por aqui por bonito. É o ouro! O resto não importa.

— Que ilusão! O que tenho hoje? Reumatismo, perebas e cansaço. Meus braços, que eram fortes, podiam até nocautear um boi, só com um soco, e hoje já não aguentam os trancos. Mas vocês, vejo por essa febre que está em cada olhar, jamais me ouvirão. Estão neste garimpo como urubus numa carniça. Sei lá por que estou falando nessas coisas...

— Não se tocam urubus de cima de uma carniça – disse Doca, enfarado. – Só quando não houver nenhum naco de carne podre.Mesmo depois de Serra Pelada ter virado um açude, um alagado, água jorrando como um rio, ainda tem gente que vai todo dia contemplar a grande lâmina d’água, ainda enfeitiçado, à espera do borbulho do ouro...

Voltou a enxugar o suor no rosto.

— Bem, pessoal, vou dar uns giros. Estou vertendo água. Alguém me acompanha?

Ninguém mostrou-se interessado. O calor os deixava prostrados, como sacos inúteis. Então saiu barraco afora. A rua torta estava enlameada. Garimpeiros, nas portas de seus barracos, trocavam conversa mole. 

Que noite tivera! Foi de arrasar. Gastara o pouco dinheiro com aquela mulher. Por isso, sentia-se novamente homem. E isso era tudo que podia sentir de bom. Caminhou sem rumo. De repente, alguém o interpelou no escuro. Era o estranho da noite anterior. O tal de Antonio Russo. Também caminhava absorto. Doca queria ficar só. Cumprimentou e saiu a passos largos, mas o outro o interpelou novamente. 

— Sente fogo sob os pés?

— Esse mormaço! 

— Pensei que fosse na casa de madame Teresa. Parece que se deu bem ontem. 

— Fiz o que pude.

— Aquela mulher é de revirar as ventas!

— Estou apressado. Quero estar só. 

E desapareceu no escuro. De fato estava atordoado. Aquela mulher fizera estragos em seus sentimentos. Chovera o dia todo e, recostado na rede, enquanto os demais no barraco jogavam baralho, ele ardia em desejos. 

Matildes, Matildes, Matildes!. Tinha bom corpo e voz macia. Os cabelos longos e pretos desciam-lhe sobre os ombros nus. Sem dúvida, caíra como mosca no mel. Estava se debatendo no melaço e, quanto mais se debatia, mais ficava preso. Queria a todo custo espantar a sua presença e seu cheiro adocicado, mas não conseguia. Ele não era menino bobo, que se engabelava por qualquer fêmea. Experiente, calejado pelo andar da vida, sabia livrar-se de rabo de saia. Não era tolo de amarrar o burro num único pau. 

Um luar esmaecido subia sobre a floresta.


                                                                         6


GARIMPO — terra rica de gente pobre...

Um pedaço no meio da Amazônia transformado em turbulento reduto de aventureiros.

Com as notícias de riqueza fácil, toda a espécie de gente acorria desordenada como um formigueiro desfeito. Vinha tentar a sorte. Cada forasteiro, sem nada nos bolsos, se mostrava mais ganancioso do que o outro.

Era uma massa de gente que não prestava, desbandeirada, sem pouso nem destino certo. Por toda parte, existia gente que não prestava, mas em menor proporção. Ali, a maioria não valia um níquel, numa ânsia de enriquecer de qualquer jeito. Na luta pela posse do ouro, a ambição cega atropelava. Homens cegos sedentos por ganhos rápidos.

A maioria vinha só, sem mulher e filhos. Para que levar a família no meio da floresta? Logo, entretanto, a fome por sexo falava mais alto. Não havia mulheres para todos e isso causava pânico. Os homens se tornavam nervosos e inquietos, como se os corpos ardessem em chamas. Então, bebiam. Por qualquer palavra desentendida, as brigas, seguidas de mortes, explodiam. O pequeno cemitério crescia como um organismo vivo.

Já se cogitava em fabricar caixões. Zeca Maranhão percebera a necessidade e, numa marcenaria improvisada, desenhava caixões grotescos e os construía com tábuas toscas. Mas os enterros, em sua grande parte, aconteciam em redes, que ninguém queria pagar as despesas do defunto.

O bom negócio, a princípio, se revelava desastroso. Zeca Maranhão esperava por dias melhores. De uma coisa tinha certeza: as mortes sucediam-se irremediavelmente. Quanto mais os homens sentiam necessidade de sexo, mais eles se tornavam insuportáveis e brigões.

Mulheres eram disputadas à força. A cada leva de mulheres que chegava no cabaré era motivo de ansiosas conversas e expectativas. Mesmo os que nada tinham e estavam roendo as unhas queriam entrar no cabaré para espiar as madames recém-chegadas. Em geral, mulheres maltratadas pela vida, com seios caídos e cinturas deformadas, deixando ver abertamente dobras de gordura e calombos de celulite. Bem vestidas, com maquiagem espessa, sob as luzes fracas e coloridas, elas se transformavam em princesas aos olhos dos garimpeiros. 

Sob o sol escaldante, os comentários circulavam pejados de angústias e desejos, e todos desejavam bamburrar, mesmo que fosse porção pequena de ouro, para que pudessem pagar àquelas princesas.

— Desta vez, só uma se salva... aquela morena alta, de quadris redondos, seios erguidos...

Outro rebatia:

— Pra mim, mano velho, qualquer uma serve. Quem não tem cão, caça com gato! Estou a matar cachorro a grito...

— Por que não usa o cinco contra um? — pilheriava o companheiro, sorrindo abertamente. — Pelo menos, você se livra de doenças.

— Ah, de boa consciência, quem aqui neste fim de mundo já não usou? Estou até com cabelos nas mãos!

E todos riam. Os desejos, entretanto, aumentavam, afloravam, e deixavam os homens irascíveis.

O Pastor achava-se dono daquela riqueza. Para entrar no formigueiro desordenado, cobrava das pessoas. Com isso, ele ganhava na entrada, na igreja, na venda dos produtos do armazém, na venda do ouro e na saída. Os devedores fugitivos eram perseguidos por caçadores de recompensas.

E a primeira coisa que o garimpeiro faz, quando acha uma boa pepita, é comprar uma arma e andar com ela na cintura, debaixo da camisa, desconfiado até da própria sombra. Depois do comércio do ouro, o de armas é o que mais prospera. Tio Nico, a cada três meses, aporta por lá com uma mala recheada de pistolas, todas da Fronteira, onde não há lei alguma e o tráfico corre solto. Para entrar no garimpo, Tio Nico dá polpudas comissões ao Pastor.

Ninguém está no garimpo para salvar o mundo. Todos desejam salvar a própria pele. 

Há os que chegam e ainda trazem bons preceitos. A miséria os empurrou para este tipo de trabalho. Mas, com os dias se arrastando de forma selvagem, tudo passa. Dentro de algum tempo, compreendem que a vida não vale nada. Pois o que vale o homem? Exatamente o que ele tem nos bolsos.

Levas de ambiciosos abandonavam suas terras distantes, reunindo apenas o indispensável para a viagem, e se dirigiam para o garimpo Boa Fortuna. Sem dinheiro para pagar o Pastor, eram despejados de volta, ou se arranchavam na ponta das ruelas, espalhando-se pelo formigueiro à procura de trabalho. Decepcionados, logo descobriam que o garimpo tinha donos, e um deles, sem dúvida, era o Pastor. Sem alternativas — os bolsos vazios, a fome rondando a cada dia, e a grande floresta como muralha, iam ficando, as ruelas cresciam, novos ranchos cobertos de buriti se ajuntavam. Viviam ao deus-dará, como podiam, com os seus cachorros magros e filhos carcomidos por vermes. 

Garimpo — terra rica de gente pobre.

                                                                     7

NO POVOADO DESAPRUMADO havia uma meia-água tosca, com uma tabuleta pendente da porta, onde se lia “A FLUTARIA DU GARIMPU”, escrita a piche, as letras desengonçadas, fora do prumo. Mais pareciam bonecos desenhados por crianças.
Havia chegado de barco uma carga de frutas, e o dono, um baiano, sabia que, naquele dia, não teria sossego. Frutas eram iguarias. No dia a dia, feijão, arroz, farofa e carne seca. Uma vez, a cada quinze dias, o barco trazia caixas de madeira com frutas – abacaxis, mangas, laranjas, e tubérculos.

— Tem abacaxi? — perguntou Doca, exausto, sujo de terra, no final da tarde, quando o sol se escondia na floresta feito uma bola de fogo.

Zé do Coco picava fumo despreocupadamente, só de bermuda, nu da cintura para cima. Distraído, esmigalhava o fumo de corda com um canivete gasto de cabo de osso, lambendo a palha de milho para enrolar o cigarro.

— Abacaxi, veio desta vez? — voltou a perguntar Doca. – Amanheci com as lombrigas atiçadas!

Sonhara à noite com balaios lotados de abacaxis amarelos, cheirosos e suculentos. Revirava na rede. 

— Lá vem o barco! – trabalhando na mina, ficava de olhos no rio, lembrando do sonho da noite. – Será que trouxe abacaxi?

Era uma frutaria improvisada. Havia cachos de bananas pendurados, envolvidos por telas de nylon, para afastar os pássaros e os macacos famintos. Eram cachos raquíticos cultivados por ribeirinhos, ao longo do rio, ao deus--dará. Muitas vezes, apodreciam antes de madurar. Os ribeirinhos, antes de granar, vendiam, gananciosos. Protegidos por telas, os pássaros não conseguiam bicar, mas os macacos... Atacavam em bandos. Eram rápidos e ardilosos.

— Tão aí, mininu!

Em cima de uma banca de tábua suspensa por estaca, que também abrigava carás e mandioca já passados, os abacaxis espalhados, com parte da polpa apodrecida. O cheiro adocicado atiçava as abelhas, atiçando também a gula de Doca.

— Tão aí, mininu, pode pegá, é deis real cada.

Doca se assustou. 

— Cada um?

— Sim, mininu. Tá tudo muito caro. Vem di longi, ocê sabi. Pur metro, vai dobrano o preçu. Nu garimpu, custa o zóio da cara!

Queria cinco abacaxis. Mas, no preço que estava, contentou-se com dois. Depois da janta, descascaria um.

— Faz um desconto, seu Zé. Aí levo mais um.

— Nun tem jeito, não. Tudo mundo qué ganhá o seu. Quandu chega nu garimpu, tá o zóio da cara!

Uma velha desdentada, acompanhada de uma cabocla nova e de um menino sardento, que coçava constantemente a cabeça desalojando os piolhos que disputavam o sangue aguado pela maleita e pelas lombrigas, queria comprar fiado, pagar no fim do mês. Zé do Coco fechou os cenhos, alterou a voz:

— Minha sinhora! Tenhu um loti de cabecinha chata, pançudu e lubriguentu pra criá, i a sinhora vem pedí fiadu. Pru inferno! Aqui, nu garimpu, só nu dinhêro! Nun adianta ficá cum essa cara de cachorro caídu de mudança, não. Quem tem coração moli nun vévi pur essas bandas...

Doca se apiedou.

— Que gente pobre... Coitados!

— Coitadu é fio de rato que nasci peladu! Quem nun tem dinhêro qui nun si estabeleça! A lei da vida. Si eu for ter pena dessa genti, tô fudido e mal pagu. Vá pedi as coisa pru Pastor... Nun vai recebê nadinha! É um mão di vaca. 

Sempre o Pastor, a mesma conversa.

— Vê si o home, essi tar de Pastor, vai pegá nu cabu du machadu pra rachá lenha, nem vai amassá barru, muitu meno trepá na iscada pra tirá goteira du ranchu. Nun vai pegá nu cabu da inxada pra plantá mantimenu, nem vai cavá o chão pra tirá ouro. O home manda e dismanda nesti garimpu. Aqui, o pobre se ferra e pur um nadinha é encontradu de boca pru chão, a boca cheia de furmiga. Sabi, seu moçu, eu só queru vendê minhas frutinha. Queru ficá rico, não. Mais nem pobri. Remediadu, é mio. Os dedo da mão é iguá? Nun é. Tudo diferenti. Si tudo mundu fosse rico, morria tudo de sujeira. Sabe pur quê? Quem ia lavá rôpa? Quem ia cavucá o barru pra achá ouro? Quem ia vendê essas fruta? O que mai aborreci e não aceitu, e mi fais perdê o sonu, é qui os rico nun gosta de pagá a genti direito. Eles pode comprá tudo, inté a justiça. Aí, que palavrão! Pur aqui, justiça é na basi do revólve, na bala de açu. Nun adianta gritá, os rico, esse tar de Pastor, pode botá quarqué um fora du garimpu, ou intão mandá pro ôtro mundu. Já viu pobri tê razão?

Anoitecia. Um vento forte, mas morno, vindo da mata próxima, passou repentinamente, agitando os cabelos de Doca. O menino sardento e empiolhado, enquanto Zé do Coco conversava, havia surrupiado várias frutas e, sorrateiro, saíra correndo. Doca o percebera, mas fizera de conta que não havia visto. Mais adiante, o menino se reuniu à mãe e seguiam pela rua tortuosa.


Zé do Coco cuspiu violentamente e passou o chinelo enorme em cima da cusparada. No brilho de seus olhos havia raiva e decepção.

— O sinhô veio da onde? Nun parece cabra encruadu cumo essa leva de genti de vesti esfarramada acenanu ao vento...

Para disfarçar, Doca fez que não ouviu, jogando duas notas de dez reais sobre o balcão improvisado.

— Vou levar dois, seu Zé. Outro dia, levo mais. Quando vem outra carga? Só de quinze dias?

— Tá certu! Si nun qué falá, nun fale. Possu nun sê detetivi, mais nunca saio da pista. Cumo qui si diz, quem isquenta a cabeça é palitu di fósfo! Aprendi a respeitá, seu moçu. Pur aqui, o passadu é sempre feio. Em cada rostu, só a cobiça. Tudu mundu qué ficá ricu, bamburrá. A vida, pur aqui, inté pareci venda de bilheti de loteria. Sempri o memo consêio: “seu dia chegará!”. Mais, inté agora, só pôca genti viu a grandi sorti. Mais, prus pobri, chega nunca!

— Há como sair daqui com o ouro, seu Zé?

— Nun mi fale nistu. Daqui, ninguém sai cum o ouro. O Pastor nun deixa. A mina é dele. Já vi uma purção querê saí, e acabaro na valeta ou no riu, banqueti das piranha. Ocê já ouviu falá do Djalmão? O negão mata sem piscá os zóios! Notro dia memo, arrancô as pepita de ouro do rabu de um garimpêro. O pião tinha escondido o ouro no cu. Puis o Djalmão rancô as pepita lá di dentro. Tava cheio de merda. Qui nojeira! Mais nun perdeu o ouro. Aqui, é assim qui funciona. 

Anoitecera. O lampião clareava frouxamente. Muriçocas atacavam famintas. Fregueses chegavam. Zé do Coco abandonou a conversa e foi atendê-los. Doca saiu em direção do rancho, carregando os abacaxis.

Mais adiante, avistou Matildes, que entrara na loja “Butike de ouro”. Ela olhava as bugigangas, enquanto o negociante atendia os numerosos fregueses, na maioria prostitutas e garimpeiros gastadores. O mulherio comprava braceletes, brincos, sapatos e bolsas. Pelo balcão engendrado de caixotes de pinho viam-se cortes de tecido e bermudas, saias, sutiãs, calcinhas por preços absurdos. Os olhos de Doca apalparam avidamente o corpo da prostituta, de cima para baixo, de baixo para cima, feito olhar de bisturi. No meio da rua escura, quedou-se cheio de desejo, segurando um abacaxi em cada mão.

— Para casa! – ordenou a si mesmo, contendo-se. – Sai, satanás! 

Se fizesse como os outros garimpeiros, que gastavam tudo com mulheres, jamais sairia daquele inferno com os bolsos forrados. Naquele lugar, o mundo viera parar com todas as tentações, toda a sua hipocrisia, as suas grandezas e misérias. Ali, havia dinheiro, miséria e imundície a granel. O que aquelas mulheres queriam? Sapatos e vestidos bonitos, brincos, colares, bebidas que espumavam.

— Depois de três trepadas, já não é uma aventura, mas um caso – ruminou, apressando os passos.

No meio do caminho, um grupo de garimpeiros conversava alto:

— Hoje, o Djalmão teve serviço!

— Não diga! O que ele fez?

— O de sempre! Esculhambou três cabras. Estavam escondendo ouro. Ouvi os urros de um. Aquilo deve ter ficado com a bunda sem conserto..
.
Doca apressou mais os passos. Cachorros vadios perseguiam cadelas, num cortejo cego. Sobre a mata, a lua começava a pratear.

TRECHO 2 DO ROMANCE "SANGUE VERDE" DE DAVID GONÇALVES ( Pg.12 a 18)

SINTAXE – EXERCÍCIOS COM GABARITO – SUJEITO E PREDICADO

1.Na oração: “Foram chamados às pressas todos os vaqueiros da fazenda vizinha”, o núcleo do sujeito é:
a) todos;
b) fazenda;
c) vizinha;
d) vaqueiros;
e) pressas.

2. Assinale a alternativa em que o sujeito está incorretamente classificado:

a) chegaram, de manhã, o mensageiro e o guia (sujeito composto);
b) fala-se muito neste assunto (sujeito indeterminado);
c) vai fazer frio à noite (sujeito inexistente);
d) haverá oportunidade para todos (sujeito inexistente);
e) não existem flores no vaso (sujeito inexistente).

3.Em “Éramos três velhos amigos, na praia quase deserta”, o sujeito desta oração é:
a) subentendido;
b) claro, composto e determinado;
c) indeterminado;
d) inexistente;
e) claro, simples e determinado.

4.Marque a oração em que o termo destacado é sujeito:
a) Houve muitas brigas no jogo;
b) Ia haver mortes, se a polícia não interviesse;
c) Faz dois anos que há bons espetáculos;
d)Existem muitas pessoas desonestas;
e) Há muitas pessoas desonestas.

5. Indique a única frase que não tem verbo de ligação:
a) O sol estava muito quente;
b) Nossa amizade continua firme;
c) Suas palavras pareciam sinceras;
d) Ele andava triste;
e) Ele andava rapidamente.

6.Considere a frase: “Ele andava triste porque não encontrava a companheira”, os verbos grifados são respectivamente:

a) transitivo direto - de ligação;
b) de ligação - intransitivo;
c) de ligação - transitivo - indireto;
d) transitivo direto - transitivo indireto;
e) de ligação - transitivo direto.

7.Na praça deserta um homem caminhava - o sujeito é:
a) indeterminado;
b) inexistente;
c) simples;
d) oculto por elipse;
e) composto.

8.Na oração:”Anunciaram grandes novidades” - o sujeito é:
a) simples;
b) composto;
c) indeterminado;
d) elíptico;
e) inexistente.

9. “O toque dos sinos ao cair da noite era trazido lá da cidade pelo vento”. O termo grifado é:
a) sujeito;
b) objeto direto;
c) objeto indireto;
d) complemento nominal;
e) agente da passiva.

10.“Eu andava satisfeito com o mundo e comigo mesmo”, o período é:
a) simples;
b) composto por coordenação;
c) composto por subordinação;
d) composto por coordenação e subordinação;
e) composto de duas orações.

11. Na oração “Mestre Reginaldo, o impoluto, é uma sumidade no campo das ciências” - o termo grifado é:
a) adjunto adnominal;
b) vocativo;
c) predicativo;
d) aposto;
e) sujeito simples.

12.Na expressão: “Por todos era apedrejado o Luizinho”, o termo grifado é:
a) objeto direto;
b) objeto indireto;
c) sujeito;
d) complemento nominal;
e) agente da passiva.

13. Dentre as orações abaixo, uma contém complemento nominal. Qual?
a) Meu pensamento é subordinado ao seu.
b) Você não deve faltar ao encontro.
c) Irei à sua casa amanhã.
d) Venho da cidade às três horas.
e) Voltaremos pela rua escura ...

14. Assinale a alternativa em que o termo grifado é adjunto adnominal:
a) Sua falta aos encontros sufocava o nosso amor.
b) Ela é uma fera maluca.
c) Ela é maluca por lambada nacional.
d) Não tenho medo da louca.
e) O amor de Deus é o primeiro mandamento.

15.Em “a linguagem do amor está nos olhos” – os termos grifados são respectivamente:
a) complemento nominal e predicativo do sujeito;
b) adjunto adnominal e predicativo do sujeito;
c) adjunto adnominal e objeto direto;
d) complemento nominal e adjunto adverbial;
e) adjunto adnominal e adjunto adverbial.

16. “Diga ao povo que fico” é um período:
a) simples;
b) composto por coordenação;
c) composto por subordinação;
d) composto por coordenação e subordinação;
e) composto de três orações.

17. “Saúde e felicidade são as minhas aspirações na vida” – nessa expressão o sujeito é:
a) simples;
b) composto;
c) indeterminado;
d) oculto;
e) oração sem sujeito.

18.Na expressão: “Ordem e progresso, esse é o nosso lema” – o sujeito é:
a) simples;
b) composto;
c) indeterminado;
d) oculto;
e) inexistente.

19. Já na expressão “O prefeito Odorico nomeou Dirceu Borboleta ajudante de ordens” – as palavras grifadas funcionam como:
a) objeto direto;
b) objeto indireto;
c) predicativo do sujeito;
d) aposto;
e) predicativo do objeto

20.O verbo de “confio este carro à distinção dos senhores passageiros” é:
a) transitivo direto;
b) transitivo indireto;
c) transitivo direto e indireto;
d) intransitivo;
e) de ligação.

21. Em: “Era inverno e fazia frio” – há duas orações cujos sujeitos são respectivamente:
a) inexistente e indeterminado;
b) indeterminado e inexistente;
c) inexistente e inexistente;
d) indeterminado e indeterminado;
e) N. R. A. porque ambos são compostos.

22. Qual o período simples?

a) Encontrará, talvez, no caminho da vida, asperezas, ingratidões, grosserias, injustiças, brutalidades. . .;
b) Quem sabe se não encontrará inimigos cruéis e “amigos” pérfidos;
c) Dorme, dorme meu anjinho, que a “Mamã” vela por ti . . .;
d) Ela defende-o e protege-o;
e) Faz cinco anos que o procuro.

23.Confiamos no futuro. Desconhecemos as coisas do futuro. Temos confiança no futuro
- Nas expressões acima, os termos grifados funcionam respectivamente, como:

a) objeto indireto; adjunto adnominal; complemento nominal;
b) objeto indireto; complemento nominal; objeto indireto;
c) objeto indireto; objeto indireto; complemento nominal;
d) objeto direto; adjunto adnominal; objeto indireto;
e) objeto direto; sujeito; complemento nominal.

24. Em: “Faz anos que não chove no sertão” – há duas orações com sujeito:
a) simples;
b) composto;
c) indeterminado;
d) inexistente;
e) elíptico.

25.Em: “Pediram-me papai e mamãe que eu fosse mais audacioso”:
a) o sujeito da primeira oração é simples e o da segunda é inexistente;
b) o sujeito da primeira oração é composto e o da segunda, é simples;
c) o sujeito da primeira oração é indeterminado e o da segunda, inexistente;
d) o sujeito da primeira oração é inexistente e o da segunda indeterminado;
e) o sujeito da primeira oração é composto e o da segunda inexistente.

26. Em: “À boca da noite a cata-piolhos rezava baixinho . . .” , o sujeito é:
a) simples;
b) composto;
c) indeterminado;
d) inexistente;
e) oculto.

27.Em qual das alternativas o verbo grifado é de ligação?
a) Quando você para, eu continuo.
b) Amélia continua mulher de verdade.
c) Esta “droga” de relógio não anda.
d) Andei dois quilômetros a pé.
e) Nos primeiros dias aprendi as notas musicais.

28.O predicado é nominal em:

I - Você acha Cristina bonita, mamãe?
II - O mundo podia ser tranqüilo.
III - “Zé Mané” não estava embriagado.
IV - O guarda noturno permanece atento a todos os perigos.
V - Os transeuntes ficaram assustados.

a) I - II - III;
b) II - III;
c) II - IV;
d) III - IV - V - II;
e) I - II - IV.

29. Dentre as orações abaixo, uma tem sujeito indeterminado. Qual?
a) A nossa casa parecia uma arca de Noé.
b) Não iria além de um vice-campeonato.
c) As águas trafegam furiosas.
d) Atropelaram um boi lá na gentil.
e) No lugar só ficou a surpresa.

30.Na oração: “Diziam que ele era igualzinho a meu pai”, o sujeito da primeira oração é:
a) simples;
b) composto;
c) indeterminado;
d) inexistente;
e) oculto.

31.Dê a função sintática do elemento grifado: “Mestre Cupijó, ouviu-se há dias a sua grande obra”.
a) adjunto adnominal;
b) sujeito;
c) vocativo;
d) aposto;
e) objeto direto.

32. Em: “O homem não gosta de reconhecer a inevitabilidade de uma morte natural . . .”, a expressão grifada é:

a) adjunto adnominal;
b) adjunto adverbial;
c) complemento nominal;
d) agente da passiva;
e) sujeito.

33. “Ué, gente: vocês ainda não foram pra sala? !” – o sujeito:
a) simples;
b) composto;
c) indeterminado;
d) inexistente;
e) oculto.

34. Em: “Bebe que é doce, papai” – a palavra grifada funciona como:
a) sujeito;
b) aposto;
c) vocativo;
d) adjunto adverbial;
e) adjunto adnominal.

GABARITO

1. D. ; 2. E ;  3. A ; 4. D ;  5. E ; 6. E ; 7. C ; 8. C;  9. E ; 10 A ; 11.D ; 12.E 13. A;  14. C ; 15. E ; 16. C ;17. B ; 18. B ; 19. E ; 20. C ; 21. C ; 22. A ; 23.A 24. D ; 25. B ; 26. A ; 27. B ; 28. D ; 29. D ; 30. C ; 31. C ; 32. C ; 33. A 34. C
http://valdemarreboucas.blogspot.com.br/2011/05/sintaxe-exercicios-com-gabarito-sujeito.html


VERDADES NEGADAS

NO DELITO CRU DAS MENTIRAS DITAS,
PASSEIAM ALTIVAS PALAVRAS TORTAS.
NA BOCA DOCE, INVERDADES BROTAM
NO PEITO MEU, ESPERANÇA MORTA.

ODENILDE N. MARTINS


VERSOS

RENDO HOMENAGEM À TARDE DADIVOSA
QUE ME TRAZ O CHEIRO DA FLOR, 
A BELEZA DA BORBOLETA MIMOSA,
DA BRISA MANSA O FRESCOR.

O MEU VERSO LIVRE, SIMPLES! VOA!
SEM MÉTRICA, EXPLODE EM MINHA BOCA
DO MEU SER BROTA, EM MIM GRITA, ECOA!
É MINH’ALMA REBELDE, INSENSATA E LOUCA.

COM A SIMPLICIDADE DA TARDE DADIVOSA,
ESCREVO MEUS VERSOS COM SINGELEZA
QUE ME IMPORTA SE A RIMA É DUVIDOSA
E DESTOA, DOS VERSOS PURISTAS NA BELEZA.

ODENILDE N. MARTINS


Rios

Rios que correm e escorrem,
Descem e sobem e fazem curvas
Perseverantes batem, rebatem
com águas, por vezes, turvas.

No contornar de obstáculos
arremansam-se, seguem faceiros
do pequeno fazem-se gigantes,
ignorando insignificantes argueiros.

ODENILDE N. MARTINS


Amanhã

De pérolas bordada, a madrugada orvalhada
Saúda o dia que chega, mansinho,
Encolhe-se aurora pelo Sol subjugada. 
É preciso ir! Já se ouve dos pássaros o burburinho.


Recolhem-se corujas e morcegos,
Um galo canta apressado,
Os picos se vê dos rochedos
Vem o sol, fraco, quase descorado.

Ouça o trinado dos pássaros ... 
Amanhece.
Vai-se a noite com seus segredos!
- Fica!- pede-lhe o poeta. – Mais um pouco, ainda é cedo!
- Não posso! Ouça! É o som do passaredo!

Vai-se a noite, vem o dia
Sofre o enamorado da Lua
- Vai-te, vadia! Vai-te! Minha agonia perpetuas!
- Não chores, poeta, não chores,
Amanhã, a Lua é só tua!

ODENILDE N. MARTINS

SANGUE VERDE - ROMANCE / DAVID GONÇALVES - TRECHO


É COM CERTA SABEDORIA que se diz: pelos olhos se conhece uma pessoa. Bem, há olhares de todos os tipos – dos dissimulados aos da cobiça, seja pelo vil metal ou pelo sexo.

Garimpeiro se conhece pelos olhos. Olhos de febre, que flamejam e reluzem. Há, em suas pupilas, o ouro. O brilho dourado tatua a íris. Trata-se apenas de um reflexo de sua alma e daquilo que corre em suas veias. É um vírus. A princípio, um sonho distante, mas, ao correr dos dias, torna-se uma angustiante busca. Na primeira vez que o ouro fagulha na sua frente, na bateia, toda a alma se contamina e o vírus se transforma em doença incurável.

Todos, no garimpo, têm histórias semelhantes. Têm família, filhos, empregos em suas cidades, nos distantes Estados, mas, de repente, espalha-se a notícia do ouro. Então, largam tudo, vendem a roupa do corpo e lá se vão. Caçar o rastro do ouro é a sina. Nos olhos, a febre – um brilho dourado doentio. Sim, é fácil conhecer um garimpeiro...

Todos sabem que, no garimpo, não é lugar para se viver. Mas ninguém abandona o seu posto. Suor, lama, pedregulhos, pepitas douradas, cansaço – é a vida que até o diabo rejeita.

Por onde passam, o rastro da destruição. A Amazônia é nossa. Tratores e retroescavadeiras derrubam e limpam a floresta; as dragas chegam, os rios se contaminam rapidamente de mercúrio. Quem pode mais, chora menos. Na trilha do brilho dourado, nada se preserva. Ai daqueles que levantarem alguma voz... No dia seguinte, o corpo é encontrado no meio da selva, um bom prato aos bichos.

Tal lugar tem ouro – a notícia se espalha. De planícies e montanhas, mar e sertão, de Norte a Sul, Leste a Oeste, mais de dez mil almas atendem ao chamado. Surgem do nada, como mágica: de barco, ônibus, avião, moto, calhambeques estropiados, até a pé. Mas atendem ao chamado. De repente, a floresta se transforma em um formigueiro. E lá se vai a Amazônia...
( PG.5) 

Da noite para o dia, a corrutela está pronta. Ali se pode comprar de tudo: balas de revólver, picaretas, pás, tecido, carne de paca e de veado, e, naturalmente, o amor de uma fêmea.
Não se sabe quem ganha mais: se os garimpeiros, os comerciantes ou os marreteiros. Muitos carregam a fortuna dos imprudentes sem precisar chafurdar o corpo na lama.
Tudo se agita pela fúria da alma que clama pelo ouro. E as noites são consumidas pelas paixões da carne.

DOCA LEVANTOU-SE DA REDE e arredou a cortina da janela da construção rústica, um madeirame serrado desigual, e deu com a cortina de plástico salpicada de gotículas em formas geométricas estranhas. Era uma chuvinha teimosa, do tipo molha-bobo. O céu estava pardo-escuro, carregado de nuvens negras. Na rua enlameada, viu um bando de cachorros molhados perseguindo uma cadela magra no cio. 

Chovia há três dias. E, pelo jeito, não daria trégua. Os garimpeiros estavam entediados. Todos jogos de baralho já haviam esgotados. As histórias já haviam sido reviradas e acrescidas de novos detalhes. Quando o corpo de um garimpeiro fica parado, as paixões da carne o consomem. Ele fica impaciente, nervoso, anda de um lado para outro, por qualquer palha voando é capaz de arrumar um pé-de-briga. Ele gosta mesmo é do chão de lama, chafurdado no buraco, misturando o seu suor com a terra encharcada. Por isso, quando a chuva vem, e ninguém pode trabalhar, o espírito fica inquieto, as angústias explodem.
No barraco, oito garimpeiros acampam. Cada um de uma região distante. Mas, no fundo, o mesmo drama. Doca conhece a história de cada um. Todos trazem a febre na íris. Os olhos expelem uma flama dourada. Damião veio do Acre. Afonso, de Pernambuco. Marcão, de Brasília. Ele, Doca, que importância tinha? Mulheres e filhos foram deixados para trás. Amigos, também. Todos procuravam deixar sua história no alforge do esquecimento.
Damião fala muito. Abre bem a boca para exibir seis diamantes incrustados na dentadura estragada. Perdera os dentes quando jovem, mas tivera a sorte de garimpar algum ouro e, agora, exibe a todos um sorriso brilhante. De todo o tempo que estivera em Serra Pelada, do ouro que garimpara a granel, pois fora um dos primeiros a chegar lá, sobrara somente os dentes. Carrega na boca o seu patrimônio. E sua história.

— A vida é uma ilusão, mas gosto dela! – exclama, olhando a chuva, e relembrando suas façanhas.

Doca está aborrecido. Damião fala demais. Arre, como aguentar tanta conversa! E a boca cheia de diamantes! Aquilo o incomoda. 
(PG.6)

— Cão que ladra!

Damião não gosta da observação. Rebate.

— Pois fique sabendo: esse punhal – e aponta o punhal de cabo de osso junto à mala onde guarda os seus pertences – ,já despachou algumas almas para o outro mundo. Por besteira! Eu não levo desaforos comigo.

Sabe-se que a metade do que fala é verdade e a outra não passa de invenções. Mas ninguém duvida. Para quê? Crie corvos e um dia eles te arrancarão os olhos. Doca não gosta de encrencas. Prefere ficar quieto. No garimpo, boca fechada dá direito a viver o dia seguinte. Para que criar corvos?

— Sabem da novidade? – atiça o Marcão, baforando um cigarro barato.

Todos se calam à espera.

— Oito novilhas na praça!

Os ânimos voltam aos olhos dos garimpeiros.

— O que está dizendo?

— É isso mesmo! Oito novilhas! Madame Teresa acabou de recebê-las. Aportaram pelo meio-dia, debaixo de chuva.

— Vieram de onde? 

— De Santarém, Sorriso, Cuiabá... Lá é um ninho de mulheres bonitas. 

— Quem quiser me achar hoje à noite, vá na casa de Madame Teresa. Quero carne nova! – conclui Damião mostrando os diamantes na dentadura.

Os garimpeiros sonham acordados. A chuva cai, o tempo se arrasta.

LÁ ESTÁ O HOMEM. Sempre sério, compenetrado, costeletas abaixo das orelhas. Não sorri por nada. Não se mistura com a turba. Os olhos bem abertos, raramente piscam.

Tem a fortuna sem nunca ter colocado suas botas na lama. Ele não usa os braços, ele não sua, ele não precisa pagar as contas do armazém e ainda tem as melhores mulheres. Por onde vai, é respeitado e onde está as pessoas se calam. 

Usa um chapéu de feltro escuro, comprado em Santarém, camisa pólo vermelha e calças jeans surradas. Na cinta grossa, duas capangas, uma de cada lado. Numa, o ouro comprado; na outra, sabe-se lá o quê! Rosário de reza que não é. Uma arma, talvez, do tamanho de uma mão pequena. 

O cara não é louco de sair no meio do garimpo sem proteção. É o gato, o comerciante que compra os frutos da lama e, de avião, numa fazenda próxima, despacha para lugares distantes e desconhecidos. Ele fica o dia todo numa tenda, protegido por alguns homens taludos. 

O garimpeiro acha as pedras e logo está dentro da tenda, sentado numa cadeira de palhinha, oferecendo-as por algum dinheiro. O homem olha as pedras, usa de uma lente grande, observa, deixa as pedras de lado, desconversa, fala sobre qualquer assunto, depois se queixa, os tempos estão ruins, o dólar desvalorizou e, em seguida, volta a mirar as pedras sobre a mesa, agora com mais atenção.
(PG.7)

— São ruins... Vale pouca coisa. Estão com várias manchas e rachaduras. Até parece que alguém as esmigalhou com a picareta!

O garimpeiro fica surpreso.
— Como?! Umas pedras graúdas, tão bonitas, isso deve valer um dinheirão! Não tem defeito nenhum nelas.

Mas o homem tem experiência. Levanta-se. Caminha pela tenda de chão batido. Observa a multidão de garimpeiros sob o sol escaldante. Com as mãos, espanta os mosquitos.

— Quero deixar claro: eu não o procurei. Venda pra outros. Eles, talvez, possam oferecer mais.

Existe outro comprador. O garimpeiro sai da tenda. Seus olhos brilham. Ele não quer desfazer de sua pequena fortuna. Mas tem que pagar as contas no armazém da mina. O fornecimento já está ameaçado de corte. 

— É uma pena desfazer dessas pedras...

O outro comprador age do mesmo jeito. Farinha do mesmo saco. Não há concorrência. Talvez eles comprem para as mesmas firmas. 

Quando volta ao primeiro, com intenção de fechar o negócio, o preço cai mais um pouco. O garimpeiro sua frio. Mas fecha o negócio. Sai da tenda com raiva, apertando o dinheiro no bolso. O que fará com tão pouco? Apenas pagar o armazém. E depois? Bem, só Deus sabe... Começam novas dívidas e novos sonhos. E os dias vão rolando e as desilusões chegando.

— Essa gente não sua nem sangra – solta um desabafo, com vontade de cuspir. – Vence nos camarotes!
(PG.8)

— QUER UM TRAGO, GRINGO?

Doca se mexe na cadeira. O que o estranho lhe propõe? Sua mente divaga. Está longe. Do que se lembra? Dos casos de amor? Dos tropeços impostos pelo destino? Atrás do balcão, um aparelho três-em-um expele uma música dolorida. Ele ouve e remexe os seus sentimentos. Sente falta de uma fêmea. O homem não vive sem mulher. Enquanto está no trabalho, nada o perturba. A febre do ouro o domina. Mas, quando a noite chega, as paixões se afloram.

Hoje eu te vi
Toda marcada pela vida.
Triste, abatida
Caminhando devagar.
(PG.8)

Um trago? Por que não? Olha o estranho vagarosamente e firme. Nunca vira aquela criatura. Seus olhos se apresentavam fundos e febris, as faces murchas e cavernosas. Uma parte da cabeça, bem no topo, perdera os cabelos. O bigode e o cavachaque eram ralos. 

— Aceito.

Depois perguntou:

— Perdão, não o conheço. É novo neste garimpo?

O estranho entortou a cabeça para o lado, como se o gesto mantivesse o seu equilíbrio.

— Cheguei há poucos dias. Vim de Cuiabá. Prazer, Antonio Russo.

— Doca.

Ambos ergueram os copos de aguardente. Depois, estalaram a língua. Só duas lâmpadas iluminavam o recinto. Mulheres gastas abordavam os garimpeiros sequiosos. Todas ávidas por dinheiro. Eram feias, havia banhas sobrando nos quadris, e o perfume barato grudava na pele. 

— Que mulherio desengonçado! – comentou Doca.

— Quem não tem a mulher ideal, deve-se contentar com a que está por perto – afirmou Antonio Russo. – Na necessidade, a bruxa se transforma em princesa.

O que é feito daqueles beijos
Que eu te dei?
Daquele amor
Cheio de ilusão
Que foi a razão
Do nosso querer?

Outros copos foram servidos.

Doca pensou: “Ah, se pelo menos a fortuna me rondasse! Com dinheiro, teria os melhores amores. Todo beijo se compra com moeda.” Bem, a esperança... sim, um dia, quem sabe, encheria a bolsa de pepitas de ouro e sua estima seria recuperada. Na situação que se encontrava não podia perder sua última crença: a esperança. Se perdesse, só restaria um tiro nos miolos.

— Quem é aquele? – perguntou Antonio Russo.—Que sujeito esquisito!

— É o gato, o capanga do Pastor..

— Oh, já ouvi falar desse animal. Diz que, para cada pepita que ele compra, há muitos mortos. É verdade?

Doca deu de ombros. A cachaça o deixava mais animado. Mas a música o empurrava para um matadouro.

— Sei lá. Não tenho olhos pra essas coisas. Aprendi a não reparar nos assuntos alheios.

— É uma boa escola.
(PG.9)

— Sim, se a gente quiser prolongar a vida. Do contrário, viramos um bom prato aos bichos.

Antonio Russo tirou do bolso das calças um embrulho de retalho de camurça. Estendeu sobre suas mãos grandes.

— Veja! Essa pedra me acompanha há anos. Não venderei a um porco.

Doca olhou-a, admirado. Era de bom tamanho e perfeita.

— Por que não vende? Se alguém a rouba? Ter bens e não usufruí-los é o mesmo que não ter.

— Eis minha proteção – mostrou-lhe o revólver debaixo da cinta, junto à barriga. – Está para nascer o atrevido.

Pediu outra cachaça.

— Já ofereceram por ela algum dinheiro. E poderão oferecer mais. Mas não me desfaço. É um talismã! 

Damião se aproximou. Estava meio bêbado. Ria muito e mostrava os diamantes na dentadura estragada.

— Aí, meu herói, já descarregou os testículos? Os meus ainda estão pesados!

— Não tenho pressa – respondeu Doca, sorvendo mais um gole de cachaça. – Ainda não vi as novilhas que chegaram.

— Elas são exibidas! Sequer apareceram. Devem estar escondendo as perebas com grossa maquiagem.

—Quem é esse? – perguntou Antonio Russo, ao mesmo tempo que mirava os diamantes na dentadura estragada de Damião.

— Somos parceiros no barraco. É boa gente.

— Mas é maluco. Onde se viu andar com diamantes na boca? Qualquer dia acaba com o corpo picado de balas.

— Maluco como você, que anda com uma pedra de ouro no bolso. Cada qual com suas manias...

— Qual é a sua?

— Sonhar...

— Com o quê? Com essas vagabundas – apontou as mulheres. – Saiba que elas não irão se transformar em princesas!

— A maior pedra!

— Não me espanta – deu de ombros e torceu de novo o pescoço como para equilibrar a cabeça. – É o sonho de todos.

— Pode ser. Mas, na minha cabeça, ela ocupa um grande espaço. Sonho com ela dormindo e acordado.

Num saco de estopa
Com embira amarrado
Eu tenho guardado
A minha paixão.
(PG.10)

Neste momento, madame Teresa, já trespassando os sessenta anos, num vestido vermelho e longo, debaixo do foco de luz alaranjada, anuncia a grande novidade da noite.

— Senhoras e senhores, boa-noite! Sejam bem-vindos a minha casa! É o grande momento de apresentar as novas princesas. Elas, com certeza, nos trarão muitas alegrias. Pedimos respeito e bebidas. Ei-las!

Oito moças desfilaram no salão pobre. Exibiram seus seios fartos em longos decotes e suas pernas descobertas. Nos rostos, grossas camadas de maquiagem; nos olhos, mais um capítulo de suas desilusões.

Doca mordeu os lábios. Tantas princesas! O sangue correu quente nas veias. O bolero invadiu o salão. Aplausos calorosos rebentaram por todos os lados e o soalho rústico e as paredes pareceram tremer..

Aquela colcha de retalho
Que tu fizeste
Juntando pedaço em pedaço
Foi costurada...

Os homens esfaimados saíram à caça.

NO DIA SEGUINTE, quando a chuva parou, era noite. Ficou, porém, o calor. E muitos enxames de mosquitos.

Doca passou o dia modorrando. O rangido das redes o embalava. O calor infernal dopava o corpo e o cérebro. Calor dos infernos! Passara na pele uma erva usada pelos índios, que fedia, para espantar os mosquitos sedentos.

No barraco, todos andavam jururu e suavam profusamente, respirando com dificuldade. Ali, não havia luz elétrica, que era luxo só para alguns, por causa do gerador a diesel. Só o pavio fraco da lamparina a dançar de um lado para outro criando grandes sombras nas paredes e no teto.

— Se pelo menos houvesse gelo... 

— Largue de sonhar acordado – corrigiu o outro.

Reclamavam por que tinham que tomar água morna e também a cachaça, que descia quente goela abaixo.

Doca dirigiu-se ao fogão improvisado. Destampou as duas panelas. Numa tinha feijão e na outra arroz, carne e aipim. Restos do almoço. Preferiu tampá-las de volta por causa dos mosquitos. Estava cansado daquela gororoba. O que não daria por um bom cabrito assado?
(PG.11)