MÃE: SER SINGULAR / JOSÉ FERNANDES - GOIÂNIA


A Sônia, mãe singular plural de meus encantos
de ser homem, pai de meninos!

A singularidade do nome mãe reside já em sua etimologia, pois, do verbo sâns-crito, “meter”, provieram os nomes “mutter” e “mother”. Nomes, porque o substantivo é a substância do ser nomeado. Mas, temos dois substantivos, e a palavra, o logos mãe começa a ser plural; talvez para representar a sua magnitude, ao se multiplicar nas inú-meras línguas oriundas do indo-europeu em que é “mater”. 
– Você foi longe, Ãngelo! Mas, “mater” não é latim, e, “mother”, inglês?
– É aí que se encontra o x da questão! A palavra, naquele sentido de verbo e de logos, estará presente em todas as línguas dos humanos. Assim, temos “máteros”, em grego; mater, em latim; mother, em inglês; moeder, africâner e holandês; maui, bielo-russo; manka, búlgaro; mare, catalão; majka, macedônio, croata, sérvio e eslovaco; matka, polonês e checo; mor, sueco, dinamarquês e norueguês; mutter, alemão; mathair, irlandês; materi, ucraniano; nai, mate, letão; motina, lituano; matere, russo; mati, esloveno; mamma, suaile; me, vietnamita; mam, galês; minol, yiddish; mayr, armênio; mathir, velho irlandês; muotar, velho alto alemão; modi, islandês. 
– E as línguas neo-latinas? Por que fez questão de não mencioná-las?
–Simplesmente pelo fato de, entre elas, situar-se nossa palavra tão plural singu-lar, mãe! Mas, temos madre, em romeno, italiano, galego e espanhol; mère, francês!
– Acho que ela é mais singular do que plural, pois em todas estas línguas, ela reproduz a raiz sânscrita! Não lhe chama a atenção o fato de todos os logos começarem com a letra eme? Isso se deve apenas à sua origem?
– Você está sempre me colocando em xeque! Uma explicação lógica se prende ao alfabeto sânscrito em que eme é ma, com sonoridade semelhante nos idiomas que se lhe seguiram. Mas, há um motivo ainda mais profundo, encontrado nos hieróglifos, a chamada escrita sagrada, pois a representação da letra eme se dá por intermédio de um símbolo que imita as ondas do mar de onde originaram as grafias sânscrita, fení-cia, persa, aramaica, hebraica, grega e latina. Ora, ao significar água, a letra eme nos mostra o ser mãe como a máxima expressão da vida. Talvez seja por isso que, em de-terminadas tribos africanas, as mulheres não podem ver os mortos e nem participar de sepultamentos, pois nestas culturas a mulher é a própria substância da vida. O contato com a morte pode eliminar a função inerente à capacidade de criar. 
– Isto é realmente singular! A minha preocupação é saber se os homens sabem disso? Se as próprias mulheres tem noção dessa condição ímpar que lhes é inerente e que as faz sublimes! 
– Acredito que, infelizmente, poucas pessoas o sabem! E tem mais, as línguas em que a designação de mãe não inicia com a letra eme, o faz com o signo, com o sinal e com o símbolo ene, que significa peixe! Ora, o ser nascituro, ao gerar-se em meio a líquido amniótico, se assemelha ao peixe que vive na água. Ainda mais que, segundo dizem os cientistas, os dois, liquido amniótico e água do mar, tem a mesma espessura e, sobretudo, o mesmo sabor! 
– O senhor poderia exemplificar com algum idioma em que mãe inicia com ene? 
– O próprio Deus que deu origem à criação, o mais antigo de que se tem notícia, tem como hieróglifo as ondas do mar e, como pronúncia, o fonema ene, uma vez que ele se chama nun, a água, naquele sentido de fonte, de que as mães herdaram o simbolismo. Mas, não indo mundo longe, em galego, temos nai, e, em albanês, nenê, em que ela se reitera, materializando o singular e o múltiplo da substância desse ser ímpar. Em filipino, tagalo e em indonésio, mãe não inicia com a letra ene; mas a tem em seu interior, como a tornar ainda mais transcendente, uma vez que “ina” e “iibi” começam com a letra i, inicial de Iavé, mostrando que mãe possui aquele sentido egípcio de a amada de Deus. Além disso, o fato de a letra final ser a, nos mostra, em seu sentido intrínseco impresso pelo simbólico, o fundo significado de criar, que é essencialmente amor e união. Aquela união imprescindível entre o princípio feminino e o masculino, tão corrente na concepção metafísica hebraico-chinesa!
Olha, seu Ângelo, para mais nos admirarmos com esse nome, em hebraico, um idioma demasiado simbólico, por que seu alfabeto provém da evolução dos hieróglifos, a plavra mãe, “ama”, inicia e termina com a letra a, matéria de fecundação, com a letra eme incrustada entre as duas, não lhe parece um mistério? Em turco, meu caro, “ane”, mãe, alem da letra a, que é princípio, ainda se lhe acresce a letra e, que significa sopro, alma! Existe vida, sem ar?! Não sem razão, os teósofos dizem que também as plantas têm alma, pois a natureza é a imagem e a matéria da Grande Mãe! Mas, o mistério se substantiva no idioma maltês, em que mãe reduplica aquele som mântrico do om, uma vez que “omm”, mãe, naquela língua, se escreve com dois emes, a nos mostra, como que com o dedo, o fundo sentido de mar, de criação, naquela acepção mitológica egípcia e, sobretudo, na hindu, em que o som “om”, mediante repetição mântrica, é capaz de criar a coisa a que se roga ao Deus. Se nas línguas grafas a palavra mãe carrega o simbolismo de água através das letras eme, ene e o, precisamente, mar, peixe e fonte, inclusive em árabe, olema, e híndi, mam, nas línguas ideogrâmicas, também verificamos a mesma fonia, como em japonês, okasan; chinês e coreano, muchin; tailandês, “maê”, e urdu, alfa, nos causa aquele “stupore” dos italianos, pois todas as designações se compõem de letras e sons relacionados à água e à fecundação. 
– Isso é a lógica! 
– É! Mas, não deixa de me parecer estranho, pois, o nome, na babel lingüística, conserva aquele mistério típico do sagrado, do mesmo modo que Maria, a Mãe, segundo o cristianismo e na etimologia mais remota, também se inicia com a letra eme! A linguagem, manifestação do ser por excelência, revela exatamente o mistério que envolve esta palavra divina e este ser plural singular! Nada mais me resta que agradecer a Deus por me transformar em amor, através de sua amada Efigênia, mãe no ontem menino, e de Sônia, mãe nos hojes meninos netos! Deo gratias et Mariae!

JOSÉ FERNANDES - https:/ GRUPO TECENDO TEXTOS

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