SENTENÇA
Eu te condeno, meu Deus,
Por ter me dado este vicioso coração,
Esta alma que insiste em enxergar,
Estes olhos cegos de razão.
Eu te condeno, meu Deus,
Por ter me dado o dom da carícia,
Por ter me dado a palavra fácil
E tão peçonhenta malícia.
Condeno, sim, sem escrúpulo,
Pois nasci para adorar-Te
Mas revelei-me juiz
Do Teu incauto juízo.
Tu, que ora condeno, perdoe-me
Pela arrogância com que o faço
E quando chegar Tua vez de fazê-lo
Tende piedade deste meu cansaço!
Que de tanto amar tornei-me rebelde,
De tanto sentir tornei-me insensato,
De tanto sofrer tornei-me duro,
De tanto morrer mantenho-me vivo!
-Nelson Bortoletto-
SONHO DE CONSUMO
Se me faltasse fôlego e
Se as pernas doessem
Eu não desistiria
De alcançar o horizonte
Onde acaba um arco-íris
Onde há um pote de ouro
Imaterial,
Mítico,
Lúdico,
Com o qual eu compraria
O bem mais caro do mundo.
Numa loja de sapé,
Com grandes letras azuis
Está escrito assim
Pela menina Inocência
Num grande cartaz cor de cobre:
“VENDO FELICIDADE
E DOU DESCONTO PRÁ POBRE”
-Nelson Bortoletto-
MULHERES
As mulheres são todas iguais (certo?).
Diferentes, se o forem , só em pequenos detalhes.
Umas altivas e renitentes,
Outras sem vergonha e ainda irreverentes.
Outras então, dependentes.
Algumas delas sem dentes.
A maioria, indecentes no silêncio da intimidade.
Algumas deixam saudade e outras deixam verdade.
São espelhos dos homens que as amam,
Aventuras de passagem ou grandes eternidades.
Mulheres são intensidade!
As únicas capazes de em sonho
Construírem realidades.
Mães, esposas, beldades,
Tias, primas, descartes,
Musas de todas as artes,
Imprescindíveis companheiras.
Os homens são passageiros,
Mulheres são derradeiras!
-Nelson Bortoletto-
A NOITE
(insônia)
Sinto saudades da noite.
Gosto dos dias, claridade...
Mas, tenho saudades da noite.
Ela possui o dom do encantamento,
Do sonho, do mistério.
É quem induz ao medo as criancinhas
Ao simples ato de esconder o derredor.
A noite, na carícia de suaves brisas,
No ardor do amor
E de sussurros vários,
Me faz duvidar dos calendários
E desafiar a lucidez do tempo.
Quantas noites viverei num só momento?
Quantas idéias à luz da escuridão?
Quantas verdades cruas de minh’alma?
Ela me dá a mais bela das paisagens
Só percebida no acalanto do silêncio
Que sucede o burburinho dos meus dias.
Ah, noite!
Da viagem astral, da nostalgia...
Do repousar o corpo e a rebeldia
De persistir na mais gentil viagem.
Num mágico rito de passagem
Me dá o hiato entre a velhice e a juventude,
A sensação de reviver a plenitude,
De reclamar o meu espaço no Universo.
Me abraça e serei teu,
Serei teu verso.
Murmurarei teu nome pela eternidade.
Ah, Noite amada,
Que saudade!
-Nelson Bortoletto-
QUESTÃO DE OPÇÃO
Há que fazer-se a opção:
Ser pensador ou poeta.
Poetas não pensam bem,
Por causa da sua dor.
Colecionar pensamentos,
Soltos,
Vários,
Espalhados,
Pensá-los com sobriedade,
Torná-los organizados.
Não é fácil para um poeta...
Há que fazer-se a opção:
Pensados ou poetados?
-Nelson Bortoletto-
PUBLICADOS NO GRUPO TECENDO TEXTOS
PUBLICADOS NO GRUPO TECENDO TEXTOS
2 comentários:
Muito honrado, Ode Martins, muito grato a você pela deferência!
nelson, o famoso VEIO DA PIZZA... SAUDADES.....
Postar um comentário