A Morte de Ivan Ilicht, de Liev Tolstói
“A Morte de Ivan Ilitch” segue a linha da “denúncia filosófica” de uma existência vazia, mas com a peculiaridade de deitar seus olhos no carreirismo no serviço público e, num prisma mais geral, no modo de vida burguês.
Na novela de Tolstói, o moribundo Ivan Ilitch, antevendo a morte, reflete profundamente sobre sua vida. A angústia leva-o a perceber o quão infeliz foi sua trajetória, marcada pela obsessão com as aparências, com a busca incessante de cargos de prestígio, em jogos de interesse e poder que não serviam senão para alimentar seu ego inflado de juiz austero e bem sucedido. Perto do fim, sem chance de convalescença, o leito de morte leva-o a perceber que todo seu empenho havia sido em vão, que tudo aquilo pelo que ele lutara (uma vida de aparências, de prestígio social invejável, do temor reverencial dado ao juiz que desempenha rigidamente seu papel de “boca da lei”) o havia abandonado. Ilitch se vê sozinho diante da morte, inseguro até mesmo quanto à sinceridade do amor de sua esposa e filhos.
“A Morte de Ivan Ilitch” é uma novela curta, que em poucas páginas põe o “dedo na ferida” dos homens que fazem da carreira no serviço público um trampolim para a satisfação egoica, dispostos a tudo pelo poder. É uma história pungente e genial. Mas, acima de tudo, é um relato assustador, sobretudo para quem sabe que a cúpula do serviço público brasileiro, em qualquer dos seus Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), é pródiga em exemplos de “Ivan Ilitch” — infelizmente sem o mesmo escrúpulo.
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