A Poesia, o Poético, a Poética e o Poema

Na Antiguidade, poesia era ação de fazer qualquer coisa com excelência (um muro, um barco, uma lei, uma canção etc.). Esse é o significado mais amplo dessa palavra, em grego antigo ("poíesis").

Em sentido estrito, os antigos entendiam por poesia a habilidade de construir bem uma composição de palavras, capaz de despertar nas pessoas o sentimento do belo, de elevá-las a um plano espiritual superior e, com graça encantadora, proporcionar o prazer decorrente dessa ordem de coisas. É ainda esse o sentido básico do vocábulo na atualidade, que enfatiza a noção de poesia como arte de refinada construção verbal.

O objeto inventado pela poesia chama-se poema, de modo que este vem a ser um artefato, o produto acabado resultante do fazer artístico. Poema é a obra de arte verbal realizada concretamente.

Poética é o nome da disciplina que estuda a poesia e suas obras, considerando o que elas têm de específico, ou seja, aquilo que lhes é próprio: o poético. Este, por sua vez, é constituído dos elementos fundamentais do poema; o poético é a matéria da poesia, é tudo aquilo de que ela pode falar e o modo como ela fala num poema.

Poética, poesia, poético e poema se confundem e se realizam na prática deste último, cujos elementos estruturais devem ser conhecidos para podermos avançar em nosso estudo.

São três os elementos básicos que constituem um poema, tradicionalmente escrito em versos:
som — elemento musical: sistema de harmonias, ritmos e melodias criado pelas palavras;
imagem — dados visuais de um poema;
pensamento — estrutura intelectual de escolha, combinação e disposição de palavras para a expressão de conteúdos: ideias, sensações, sentimentos etc.

Esses três elementos fundamentais do poema chamam-se, respectivamente, melopeia, fanopeia e logopeia.

Melopeia é a música de palavras; melopeia é o elemento sonoro de um poema; é também o conjunto de técnicas aplicadas para criar efeitos acústicos, musicais, por meio da palavra. O poeta norte-americano Ezra Pound (1885-1972) afirma que a melopeia carrega a palavra de significado, acima e além de seu significado comum. A melopeia insere o poema no tempo, mas o leva a sobrepor-se à cronologia.

Fanopeia é a matéria visual do poema; é seu elemento cístico (figurativo ou abstrato); é também o conjunto de técnicas aplicadas para criar imagens que afetam a imaginação visual. A fanopeia configura o poema no espaço físico e imaginário, mas o faz transpor fronteiras.

Logopeia é a matéria intelectual do poema; é o elemento que se revela na sintaxe do texto, na lógica de sua organização, em sua carga semântica, nas referências e influências artísticas e culturais que contém. Logopeia, segundo Ezra Pound, é a "dança do intelecto entre palavras". Por meio da logopeia, o poema viaja no tempo e no espaço, dialogando com a memória da civilização.
Uma parada pra respirar… e aprender mais
Os poetas se esforçam para fundir esses três elementos e com eles compor uma só totalidade significativa, um verdadeiro organismo, em que cada parte e solidária às demais, de modo que o som seja o eco do sentido e a imagem, o seu reflexo. Em outras palavras, o som sugere e reforça o conteúdo de emoções, ideias e acões; o mesmo acontece com as imagens, que adquirem força de arquétipos e símbolos. O poeta busca correspondências significativas entre sons, imagens e ideias.
Há poetas com mais talento musical, enquanto outros têm maior habilidade plástica e, outros ainda, maior desenvoltura para os torneios intelectuais. Geralmente, os poemas tendem mais para um ou outro desses três elementos, de modo que um deles acaba predominando sobre os demais, sem eliminar nenhum. Nesse sentido, chama-se poesia de melopeia àquela em que predomina o elemento sonoro: poesia de fanopeia à que tem a imagem como elemento principal; poesia de logopeia àquela em que prevalece o elemento intelectual.
Grosseiramente falando, a forma de um poema e o "como" ele diz as coisas; o seu conteúdo são as coisas; o seu conteúdo são as coisas que ele diz.
Num poema, forma e conteúdo constituem uma unidade orgânica. Não se separam.
Imaginação, imagem e sentido na poesia

Os nomes das coisas servem para indicá-las e têm a propriedade de suscitar suas imagens visuais em nosso espírito. Quando se aponta uma flor e se diz "rosa", a palavra é usada em sua função indicativa. Quem vê a rosa indicada, capta diretamente da coisa nomeada a sua imagem óptica. Mas, quando se diz "rosa" na ausência dela, o som do vocábulo evoca na mente de quem ouve uma imagem virtual² da flor. A faculdade que permite esse fenômeno de presença na ausência chama-se imaginação. Imaginar é criar imagens mentais, que são representações das coisas nomeadas.

Definimos anteriormente “Imagem" como elemento visual, mas as imagens podem ser classificadas em vários tipos, dos quais dois se destacam:
imagens sonoras: são aquelas associadas à audição. Em Literatura, trata-se dos sons das palavras, da melopeia.
imagens visuais: são as que se associam ao sentido da visão. Em Literatura, são sugestões plásticas das coisas nomeadas, que se formam em nossa mente quando lemos ou ouvimos as palavras, como no exemplo simples da rosa.

Há também as imagens olfativas, tácteis, gustativas e cinestésicas, isto é, imagens do movimento dos corpos. Em Literatura, é sempre bom lembrar, essas imagens são despertadas, em última análise, pelas palavras. As sugestões de frio e quente, áspero ou suave; as sugestões odoríferas de perfumes e cheiros diversos; o doce e o amargo; a rapidez e a lentidão; tudo isso é evocado pelas palavras.

É isso, no próximo artigo falarei, novamente a respeito de sentido próprio e sentido figurado.

² As noções de imagem real e imagem virtual são aqui empregadas em sentido diverso do usado pela ciência. Por imagem real, entende-se aqui a imagem formada na visão direta de um corpo; por imagem virtual, entende-se a seguinte acepção registrada no Dicionário Aurélio Eletrônico: "Representação mental de um objeto, de uma impressão, etc; lembrança, recordação."

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