A literatura na Idade Média (séculos XI a XIV)
Novelas de cavalaria: narrativas de aventuras, protagonizadas por heróis da cristandade, envolvidos em fatos milagrosos ou maravilhosos. Primeira prosa das línguas modernas.
Hagiografias: biografias dos santos da religião cristã.
Nobiliários: livros que registram as histórias e a genealogia das famílias nobres.
Cantigas trovadorescas: compostas para serem cantadas e/ou dançadas nos paços reais ou feudais (para entretenimento da nobreza). No século XIII, foram reunidas em cadernos - os cancioneiros trovadorescos -, dos quais restam quatro: o Cancioneiro da Ajuda, o da Vaticana, o da Biblioteca Nacional e o de Santa Maria.
Gêneros das cantigas: lírico (cantigas de amor e de amigo) e satírico (cantigas de escárnio e de maldizer). Foram desenvolvidos a partir do cruzamento enire duas correntes de influências: a peninsular, que incorporava a cultura popular ibérica; e a provençal, mais sofisticada, trazida dos palácios do sul da França.
Cantigas de amor
Influência da canso provençal: circulação em ambiente aristocrático.
Noção de fin amors (amor cortês): o cavaleiro rende "vassalagem" amorosa a sua dama.
Eu-lírico masculino: o trovador amante lamenta-se da indiferença da amada. Palavra-chave:coita.
Uso do português formal.
Monotonia de composição; pouco paralelismo.
Cantigas de amigo
Influência da lírica peninsular ibérica, de origem folclórica.
Eu-lírico feminino, resultante do travestimento psicológico do trovador: é a mulher quem "fala", lamentando a ausência do amigo.
Classificação quanto à circunstância: alba (cantadas ao raiar do dia); serena (cantadas no fim da tarde); romaria (viagem a santuários); barcarola ou marinha (ambiência fluvial ou marítima); pastoreia (contexto agrário, de pastoreio); bailia (acompanhadas por dança); pura soledade (sem menção a nenhuma das circunstâncias anteriores).
Presença constante do paralelismo (semelhança entre versos de estrofes diferentes) e do refrão (um ou mais versos que se repetem idênticos no fim de cada estrofe).
Uso do português oral.
Acompanhamento musical, para o canto e para a dança.
Cantigas satíricas
Correspondem ao sirventês provençal: intenção crítica, em tom de ironia ou deboche, para provocar riso.
Em Portugal, subdividiam-se em cantigas de escárnio (crítica indireta, de forma velada e sutil: a identidade do alvo permanecia um pouco na sombra) e cantigas de maldizer (ataque nominal e direto, em linguagem desbocada).
Mistura dos registros oral e formal do português.
Texto para os exercícios de 1 a 3
Senhor fremosa, pois me non queredes
creer a coita en que me ten amor,
por meu mal é que tan ben pareeedes
e por meu mal vos filhei por senhor,
e por meu mal tan muito ben oí
dizer de vós, e por meu mal vos vi,
pois meu mal é quanto ben vós havedes.
E, pois vos vós da coita non nemorades,
nem do afan que m’amor faz prender,
por meu mal vivo mais ca vós cuidades
e por meu mal me fezo Deus nascer
e por meu mal nom morri u cuidei
como vos viss'e por meu mal fiquei
vivo, pois vós por meu mal ren non dades.
Martim Soares
1. Nesta cantiga, o trovador confessa amor a uma dama da nobreza e procura os artifícios mais finos e manhosos para sugeri-lo. Quais os motivos da desgraça sentimental do trovador expressos na primeira estrofe?
2. O que o trovador acrescenta na segunda estrofe a respeito de seus sentimentos?
3. O que o trovador reitera no verso final?
Texto para os exercícios 4 e 5
Rogo-te, ai Amor, que queiras migo morar
tod'este tempo, enquanto vai andar
a Granada meu amigo.
Rogo-te, ai Amor, que queiras migo seer
tod'este tempo, enquanto vai viver
a Granada meu amigo.
Tod'este tempo, enquanto vai andar,
lidar con mouros e muitos matar
a Granada meu amigo.
Tod'este tempo, enquanto vai viver,
lidar con mouros e muitos prender
a Granada meu amigo.
4. Assinale com X as duas classificações possíveis para esta cantiga, com base nos seguintes itens:
( ) romaria
( ) barcarola
( ) alba
( ) dialogai
( ) bailia
( ) pura soledade
( ) pastoreia
( ) monologal
5. A cantiga faz referências a determinados a tecimentos históricos. Faça uma pesquisa situe-os no contexto da época trovadoresca.
Texto para os exercícios 6 e 7.
Não me posso agradar tanto
do canto
das aves nem da ambição
nem de canseira ou paixão
nem de armas com que me espanto,
por quanto
perigosas elas são,
como de um bom galeão
que me arrebate à vizinha
maldição desta campina
onde vive o escorpião;
pois dentro, no coração
dele senti a espinha.
D. Afonso X. Adaptado para o português moderno por Natália Correia.
Comentário: Nesta cantiga de escárnio, o trovador zomba de si mesmo por ter-se deixado picar pelo "escorpião" da vizinha...
Ai, dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi pardom,
pois avedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero ja loar toda via;
e vedes qual sera a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
(João Garcia de Guilhade)
Comentário: O trovador zomba de uma senhora que reclamava por nunca ter sido exaltada numa cantiga. Maldosamente, afirma que, agora, vai homenageá-la e, no refrão, bate sem piedade: diz que tal não acontecera por ser ela feia, velha e louca!
Instrução para os exercícios 6 e 7
Preencha as lacunas, representadas pelo sinal “( )” dos exercícios a seguir.
6. As cantigas de ( ) são do gênero ( ) em que se criticam pessoas, costumes e acontecimentos. Diz-se mal, mas "encobertamente", com expressões ( ) e ( ) que exploram o ( ) das palavras, ou como se dizia na época, "per palabras cubertas que ajam dous entendimentos pêra lhe non entenderem ligeiramente".
7. Desbocadas, as cantigas de ( ) abandonam a sutileza para promover críticas de forma ( ) fazendo uso de "palavras descubertas". Falam mal ( ), permitindo-se até a inclusão de ( ) .
Gabarito dos exercícios sobre Trovadorismo
1. Como a mulher não quer acreditar no sofrimento que o amor causa ao poeta, este se mostra um "coitado" por vários" motivos: a beleza incomparável dela; o dia em que passou a servir-lhe de vassalo; o fato de ter ouvido alguém dizer muito bem a respeito dela e a confirmação, por seus próprios olhos, do quanto ela era realmente bela. Enfim, todos os bens dela, físicos e morais, contribuam para intensificar o sofrimento dele.
2. O drama continua: sob o pretexto de que a mulher não se lembra do tormento amoroso do amante, ele diz que vive a revelia da própria vida e que Deus é o responsável pelo seu nascimento e, por conseguinte, pelo seu mal. O queixume se amplia com a constatação de que, por infelicidade, ele não morreu no dia em que a conheceu.
3. O trovador reitera a causa de seu drama sentimento "dona" não dá a menor importância ao drama dele.
4. Pura soledade e monologal.
5. A cantiga faz referência à dominação muçulmana, mourisca, na Península ibérica, durante a Idade Media. Certamente, o "amígo" fora recrutado para participar da luta.
6. As cantigas de escárnio são do gênero satírico em que se criticam pessoas, costumes e acontecimentos. Diz-se mal, mas "encobertamente", com expressões irônicas e ambíguas que exploram o duplo sentido das palavras, ou como se dizia na época, "per palabras cubertas que ajam dous entendimentos pêra lhe non entenderem ligeiramente".
7. Desbocadas, as cantigas de maldizer abandonam a sutileza para promover críticas de forma direta fazendo uso de "palavras descubertas". Falam mal abertamente, permitindo-se até a inclusão de palavrões.
http://www.analisedetextos.com.br/2014/09/trovadorismo-resumo-e-exercicios.html
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