GUY DE MAUPASSANT - BOLA DE SEBO - INTERTEXTO: GENI E O ZEPELIM - CHICO BUARQUE





     Bola de Sebo”, conto de Guy de Maupassant, escrito em 1880, é um retrato da sociedade burguesa da França do fim do século XIX. O título do livro é uma alusão à alcunha de uma prostituta que divide lugar em uma carruagem com membros da nobreza, da burguesia e do clero.
   Pouco após a ocupação do território francês pelo exército alemão, o grupo heterogêneo consegue autorização de um general tedesco para saírem da cidade de Ruão com destino a Havre. Durante a viagem, são acometidos por intensas nevascas e são obrigados a se refugiar em Tótes.
   É nessa pequena aldeia francesa que ocorre o grande acontecimento do livro. O oficial prussiano responsável pelo alojamento em que se encontrava o grupo recusa-se a permitir o prosseguimento da viagem caso Bola de Sebo não concorde em prestar-lhe seus serviços mundanos. Diante da resistência indignada da prostituta, todo o grupo se despoja de suas diferenças sociais no esforço de convencer a meretriz  a aceitar a proposta.O desfecho da história procura enaltecer a mendacidade da teia social que contaminava a Europa no contexto da  pós-Revolução Burguesa. 


Bola de Sebo - Resumo

Guy de Maupassant


    A história se passa na França, em 1870. Numa pequena cidade da Normandia, a população está em pânico, pois os invasores prussianos se aproximam. As famílias mais ricas da cidade alugam um carro para fugir da invasão. No entanto, sem que se saiba exatamente como, nele também se instala a mais famosa prostituta da cidade, apelidada de Bola de Sebo, por ser gorda e muito redonda. Os homens ficam embaraçados e as senhoras ficam indignadas. Resolve-se ignorar a presença da moça. Contudo, logo todos começam a sentir fome. Apenas Bola de Sebo teve a ideia de trazer um saco de provisões, que ela oferece aos demais. Relutantemente, eles aceitam.
    Tudo parece correr bem, até que o carro é interceptado por uma coluna de prussianos. Todos precisam se identificar. O comandante resolve que os franceses somente poderão seguir viagem se Bola de Sebo passar uma hora com ele. Em caso contrário, todos serão presos. A moça se recusa terminantemente, pois não quer dormir com o inimigo. Horrorizados com a possibilidade de ficarem nas mãos dos bárbaros prussianos, os nobre cavalheiros e as finas damas se esforçam durante longo tempo para convencer Bola de Sebo a aceitar a proposta do comandante. Finalmente, ela cede e vai com ele. Aliviados, os outros aproveitam o tempo para comprar alimentos.
    Algum tempo depois, Bola de Sebo reaparece. A viagem pode prosseguir. No entanto, aos olhos dos outros, ela voltou a ser a prostituta desprezada. Sua presença é ignorada. Todos comem, sem convidá-la. O carro passa pelos prussianos, e o único ruído que se ouve são os soluços da moça.



Geni E O Zepelim

Chico Buarque

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada.
O seu corpo é dos errantes,
Dos cegos, dos retirantes;
É de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina,
Atrás do tanque, no mato.
É a rainha dos detentos,
Das loucas, dos lazarentos,
Dos moleques do internato.
E também vai amiúde
Co'os os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir.
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir:
"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!"
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante,
Um enorme zepelim.
Pairou sobre os edifícios,
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim.
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia,
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de idéia!
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqüidade,
Resolvi tudo explodir,
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir".
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar;
Ela é boa de cuspir;
Ela dá pra qualquer um;
Maldita Geni!
Mas de fato, logo ela,
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro.
O guerreiro tão vistoso,
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro.
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela),
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre,
Tão cheirando a brilho e a cobre,
Preferia amar com os bichos.
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão:
O prefeito de joelhos,
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão.
Vai com ele, vai Geni!
Vai com ele, vai Geni!
Você pode nos salvar!
Você vai nos redimir!
Você dá pra qualquer um!
Bendita Geni!
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco.
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira,
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir,
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir:
"Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

2 comentários:

João Francisco disse...

Relação oportuníssima e acertada.....Sensibilidade sempre à flor

da pele do grande Chico Buarque....

Rilva Muñoz disse...

Intertexto ou plágio?

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