CLÁSSICOS DA LITERATURA - André Augusto Gazola

 Escrito pelo professor André Augusto Gazola

André Augusto Gazola é formado em Letras, professor de Literatura e História da Arte, pós-graduando em Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa e Literatura e fundador do blog lendo.org.É casado e mora em Bento Gonçalves-RS.
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Alguma vez você já imaginou o motivo de alguns romances antigos serem considerados clássicos e outros não? Nesse texto pretendo dar alguma luz ao conceito de clássico da literatura, essa denominação tão volátil e, em alguns casos, tão subjetiva. Além disso, trago a lista que elaborei com todos os romances clássicos dos quais consegui lembrar-me. Será você capaz de fazer alguma adição a ela?

Romances clássicos são celebrados por acadêmicos, críticos e professores como sendo leituras obrigatórias para qualquer pessoa que pretenda seriedade em relação à literatura. Esses livros são cobrados em vestibulares e concursos por todo o Brasil, sendo alvo de análise em qualquer escola, nas aulas de Literatura.

Apesar disso, são livros temidos pela maioria dos alunos de Ensino Médio, que não costumam ter o menor interesse na leitura de um volume empoeirado, com palavras difíceis, escrito por alguém que morreu muito tempo atrás.

Existe ainda muita confusão, no entanto, em relação ao que exatamente torna um livro clássico ou não. Com uma variedade tão grande de gêneros e centenas de títulos para escolher, o que faz com que essas obras valham a pena?
Crítica Social e Política na Literatura Clássica

Um romance clássico deve ser produto de seu próprio tempo. Escritores têm sido influenciados, ao longo da história, pelo mundo que os rodeia, de forma que seus livros refletem suas realidades e as usam para criticar o cenário social e político da sociedade de determinada época. Ou seja, a literatura clássica serve para ensinar aos leitores algo a respeito de seu próprio mundo.

Um bom exemplo disso é o romance Frankenstein (1818), de Mary Shelley, com o qual eu trabalhei ano passado nas oitavas séries da escola onde leciono Literatura. Shelley, através da narrativa de um experimento científico que deu muito errado, aborda os problemas do mundo que se deparava com a Revolução Industrial em meio aos valores iluministas. Ela usa o monstro criado pelo Dr. Frankenstein para demonstrar os problemas de brincar com a força divina, bem como o conflito entre o homem a natureza.

Outro exemplo é o aclamado Orgulho e Preconceito (1813), de Jane Austen, que, apesar de não se ater a problemas sociais ou políticos de nível global, aprofunda-se no estudo das expectativas e decoro social da Inglaterra Vitoriana. Seus romances, que estão entre os meus preferidos, são uma ótima forma de um leitor de hoje entender o que significava ser mulher (e pertencer à sociedade) no século XIX.
Atemporalidade e Universalidade na Literatura Clássica

Para ser considerado um clássico da literatura, um romance não precisa apenas abordar algum problema de seu tempo, mas também ser atemporal. Isso significa que apesar de lidar com problemas sociais e/ou políticos do passado, um livro clássico possui um tema geral que continua sendo relevante para o mundo de hoje.

A universalidade de um romance é outro fator que ajuda a torná-lo um clássico. Embora todo livro seja escrito em um lugar específico, seu enredo precisa ser significativo em qualquer país, sob influência de qualquer cultura, para ser considerado universal.

Anna Karenina (1877), do russo Leon Tolstoy, é um incrível exemplo de romance universal e atemporal. Ele ainda é muito popular nos dias de hoje, apesar de ter sido escrito há mais de cem anos. Anna Kareninaexplora temas como ciúme, casamento, expectativas sociais e paixão, temas completamente atemporais e relevantes em qualquer lugar do mundo.

Todos os grandes clássicos lidam com temas morais, que fazem parte da natureza humana, ou com simples emoções e desejos, de um modo que transcendem tempo e espaço.
A linguagem dos clássicos da literatura

A linguagem é importante em qualquer obra de ficção, por isso um romance clássico deve usá-la efetivamente. Um livro que não for bem escrito não resistirá ao teste do tempo. Madame Bovary (1856), de Gustave Flaubert, é um exemplo de romance que tem sido saudado como o mais bem escrito e perfeitamente organizado de todos os tempos. Com uma recomendação dessas, é natural que ele seja indicado para todos os amantes da literatura.
Influência na literatura futura

Romances considerados clássicos têm grande influência na literatura. Eles causaram e ainda causam uma impressão duradoura em nossa cultura literária. Qualquer bom escritor deve ter lido, relido e estudado os clássicos antes de embarcar em sua própria jornada literária. Aí está o porquê de você frequentemente ver menções a textos clássicos em romances atuais, já que os autores costumam prestar homenagem àqueles que os antecederam e formaram a literatura da forma como é vista hoje.
Romance clássico x Clássico contemporâneo

Existe, ainda, uma distinção que pode ser feita entre romance clássico e clássico contemporâneo. Não existe nenhuma regra em torno disso, mas costuma ser aceito que romances clássicos devem ter sido escritos antes do século XX.

Para ser considerado um clássico contemporâneo, um livro também precisa resistir ao teste do tempo, já que pelo menos 40 anos de sua publicação devem ter passado antes de merecer tal denominação. As qualidades acima — dar uma boa visão sobre seu tempo ao leitor, ser atemporal, universal e usar efetivamente a linguagem — também são necessárias, evidentemente.
Lista de Clássicos da Literatura

Num exercício não apenas de memória, mas também de pesquisa, resolvi criar uma lista de clássicos da literatura que seja mais completa do que tudo que já vi pela internet. Eu mesmo já havia publicado uma lista de 48 livros, mas senti que o número de títulos é tão grande que criar uma nova faria mais sentido.

Os critérios de escolha que uso são aqueles dos quais falo no texto acima, com exceção da distinção entre romance clássico e clássico contemporâneo, pois não a considero relevante. Uso, no entanto, um critério que aprendi com o grande filósofo Arthur Schopenhauer, através da seguinte citação:

Como as pessoas lêem sempre apenas as novidades em vez das melhores obras de todos os tempos, os escritores permanecem no âmbito restrito das idéias circulantes, e a época afunda-se cada vez mais na sua própria mediocridade.

Por isso, no que concerne à nossa leitura, a arte de não ler é de máxima importância. Ela consiste no fato de não se assumir a responsabilidade por aquilo a que todo o instante ocupa imediatamente a maioria do público, como panfletos políticos e literários, romances, poesias e similares, que são rumorosos justamente naquele determinado momento, e chegam até a atingir várias edições no seu primeiro e último ano de vida. É preferível então pensar que quem escreve para loucos encontra sempre um grande público, e que o escasso tempo destinado à leitura deve ser exclusivamente dedicado às obras dos maiores espíritos de todos os tempos e de todos os povos, que sobressaem em relação ao restante da humanidade e que são assim designados pela voz da glória. Apenas estes instruem e ensinam realmente.

Espero que você goste da lista e use-a vastamente como fonte de indicações de leitura. 

Ilíada (séc. VIII a. C.), de Homero
Odisseia (séc. VIII a. C.), de Homero
As mil e uma noites (850 a.C.), de autor desconhecido
O asno de ouro (1469), de Apuleio
Gargântua e Pantagruel (1532-64), de François Rabelais
Os Lusíadas (1572), de Luiz Vaz de Camões
Dom Quixote (1605-15), de Miguel de Cervantes Saavedra
Robinson Crusoé (1719), de Daniel Defoe
As viagens de Gulliver (1726), de Jonathan Swift
Tom Jones (1749), de Henry Fielding
Cândido (1759), de Voltaire
Emílio ou da educação (1762), de Jean Jacques Rousseau
O Castelo de Otranto (1765), de Horace Walpole
Os 120 dias de Sodoma (1785), de Marquês de Sade
Razão e Sensibilidade (1811), de Jane Austen
Orgulho e Preconceito (1813), de Jane Austen
Mansfield Park (1814), de Jane Austen
Emma (1816), de Jane Auten
Frankenstein (1818), de Mary Wollstonecraft Shelley
Ivanhoé (1820), de sir Walter Scott
O último dos moicanos (1826), de James Fenimore Cooper
O vermelho e o negro (1831), de Stendhal
O corcunda de Notre-Dame (1831), de Victor Hugo
Oliver Twist (1833), de Charles Dickens
Pai Goriot (1834-35), de Honoré de Balzac
A queda da casa de Usher (1839), de Edgar Allan Poe (apesar de ser um conto, decidi incluí-lo)
Almas mortas (1842), de Nicolai Gógol
Ilusões perdidas (1843), de Honoré de Balzac
Os três mosqueteiros (1844), de Alexandre Dumas
A moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo
O conde de Monte Cristo (1845-46), de Alexandre Dumas
Jane Eyre (1847), de Charlotte Brontë
O morro dos ventos uivantes (1847), de Emily Brontë
David Copperfield (1850), de Charles Dickens
Moby Dick (1851), de Herman Melville
A cabana do Pai Tomás (1852), de Harriet Beecher Stowe
Walden ou A vida nos bosques (1854), de Henry David Thoreau
Memórias de um sargento de milícias (1854 e 1855), de Manuel Antônio de Almeida
Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert
Grandes Esperanças (1861), de Charles Dickens
Os miseráveis (1862), de Victor Hugo
Memórias do Subsolo (1864), de Fiódor Dostoiévski
Iracema (1865), de José de Alencar
Alice no País das Maravilhas (1865), de Lewis Carroll
Viagem ao centro da Terra (1866), de Júlio Verne
Crime e Castigo (1866), de Fiódor Dostoiévski
O Idiota (1868-9), de Fiódor Dostoiévski
Guerra e Paz (1869), de Leon Tolstói
Alice através do espelho (1871), de Lewis Carroll
A volta ao mundo em 80 dias (1873), de Júlio Verne
Senhora (1875), de José de Alencar
O crime do Padre Amaro (1876), de José Maria Eça de Queirós
Anna Karenina (1877), de Leon Tolstói
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Joaquim Maria Machado de Assis
A Ilha do Tesouro (1883), de Robert Louis Stevenson
A morte de Ivan Ilitch (1884), de Leon Tolstói
As aventuras de Huckleberry Finn (1885), de Mark Twain
Germinal (1885), de Émile Zola
O Ateneu (1888), de Raul Pompéia
Os Maias (1888), de José Maria Eça de Queirós
O Cortiço (1890), de Aluísio de Azevedo
O retrato de Dorian Gray (1891), de Oscar Wilde
Quincas Borba (1891), de Joaquim Maria Machado de Assis
As aventuras de Sherlock Holmes (1892), de sir Arthur Conan Doyle
A máquina do tempo (1895), de H. G. Wells
Drácula (1897), de Bram Stoker
A guerra dos mundos (1898), de H. G. Wells
Dom Casmurro (1899), de Joaquim Maria Machado de Assis
A cidade e as serras (1901), de José Maria Eça de Queirós
Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha
Tarzan (1914), de Edgar Rice Burroughs
Triste fim e Policarpo Quaresma (1911, folhetim), de Lima Barreto
Retrato do artista quando jovem (1916), de James Joyce
Ulisses (1918-21, folhetim), de James Joyce
A montanha mágica (1924), de Thomas Mann
O processo (1925), de Franz Kafka
O grande Gatsby (1925), de F. Scott Fitzgerald
O Castelo (1926), de Franz Kafka
Em busca do tempo perdido (1913-27, em sete volumes), de Marcel Proust
O lobo da estepe (1927), de Hermann Hesse
O amante de Lady Chatterley (1928), de D. H. Lawrence
Orlando (1928), de Virginia Woolf
Macunaíma (1928), de Mário de Andrade
O quinze (1930), de Rachel de Queiroz
Reinações de Narizinho (1931), de Monteiro Lobato
Admirável mundo novo (1932), de Aldous Huxley
Menino de Engenho (1932), de José Lins do Rego
… E o vento levou (1936), de Margaret Mitchell
Angústia (1936), de Graciliano Ramos
Capitães de Areia (1937), de Jorge Amado
O Hobbit (1937), de J. R. R. Tolkien
Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos
Finnegans Wake (1939), de James Joyce
Por quem os sinos dobram (1940), de Ernest Hemingway
Xadrez (1942), de Stefan Zweig
Fogo morto (1943), de José Lins do Rego
O pequeno príncipe (1943), de Antoine de Saint-Exupéry
Ficções (1944), de Jorge Luis Borges
A revolução dos Bichos (1945), de George Orwell
Sagarana (1946), de João Guimarães Rosa
Doutor Fausto (1947), de Thomas Mann
1984 (1949), de George Orwell
O tempo e o vento (1949-62, em 5 volumes), de Érico Veríssimo
O velho e o mar (1952), de Ernest Hemingway
Grande Sertão: veredas (1955), de João Guimarães Rosa
Lolita (1955), de Vladimir Nabokov
O Senhor dos Anéis (1954-55), de J. R. R. Tolkien
On the Road (1957), de Jack Kerouac
Gabriela, cravo e canela (1958), de Jorge Amado
Bonequinha de luxo (1958), de Truman Capote
Almoço Nu (1959), de William Burroughs
Laranja Mecânica (1962), de Anthony Burgess
A redoma de vidro (1963), de Sylvia Plath
A paixão segundo G. H. (1964), de Clarice Lispector
A sangue-frio (1966), de Truman Capote
Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez
2001: uma odisseia no espaço (1968), de Arthur C. Clarke
O poderoso chefão (1969), de Mario Puzo
As cidades invisíveis (1972), de Italo Calvino
Terras de sombras (1974), de J. M. Coetzee
Lavoura arcaica (1975), de Raduan Nassar
Entrevista com o vampiro (1976), de Anne Rice
A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector
O iluminado (1977), de Stephen King
O guia do mochileiro das galáxias (1979), de Douglas Adams
O nome da rosa (1980), de Umberto Eco
O centauro no jardim (1980), de Moacyr Scliar
A casa dos espíritos (1982), de Isabel Allende
A lista de Schindler (1982), de Thomas Keneally
O livro do desassossego (1982), de Fernando Pessoa
O ano da morte de Ricardo Reis (1984), de José Saramago
A insustentável leveza do ser (1984), de Milan Kundera
Os versos satânicos (1988), de Salman Rushdie
O pêndulo de Foucault (1988), de Umberto Eco
História do cerbo de Lisboa (1989), de José Saramago
Desonra (1999), de J. M. Coetzee
O filho eterno (2007), de Cristovão Tezza
Indignação (2008), de Philip Roth

Fonte: http://www.lendo.org

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