Taça de tristeza

Sentada numa esquina ensombreada,
uma senhora idosa estende a mão...
Sem forças, leva a vida na calçada, 
haurindo os coquetéis da servidão...

O sistema da vã encruzilhada
do mundo deu-lhe a tal obrigação.
Assim, poucos têm tudo; e muitos, nada;
uns repousam em luxo, outros no chão...

Enquanto isto, em hospitais, clamores
ecoam – aos milhões – em corre/dores
sem leitos, sem um lenço e sem lençol...

Ah... Até quando, em aflição sem-fim,
iremos contemplar cenas assim
neste nosso 'país do futebol'?

Rubenio Marcelo



         CARAVELAS

E descubro nestas caravelas
as paisagens levitadas em sintonia
com os pássaros e estrelas...
naturalmente translúcidas
não precisam de carta das marés
talvez das auras que arejam o espírito
e edificam passadiços para
a estesia do ser... ...
de repente
milhares de milhas são vencidas
sem as incursões de corsários
e sem os rangidos
das noturnas lendas dos mares

nos ares
os ecos azuis dos vilancetes
desancorados das amuradas
e refletidos nos rochedos flamejantes
convocam os ventos
para turnos extras de renovos
e para embalar a solidão
das sonâmbulas nuvens
cravejadas de elegias...

e vejo sobre o convés principal
destas caravelas
vistosos cavaletes
com telas tridimensionais
e nelas
prismas e pincéis de sóis
a delinear símbolos lúdicos
e a recriar elos de primazias intermináveis...

há códigos discretos
nas velas dianteiras destas caravelas...
inconvencionais mensagens
[quais champanhas
com sabor de segredos]
aos legítimos
navegantes da essência.

® Rubenio Marcelo

*poema do nosso novo livro “Veleiros da Essência”, que teve lançamento oficial em 29/04 p.p. – aqui registros/imagens do evento:
https://www.facebook.com/rubenio.marcelo/media_set?set=a.10203995616193741.100000877634503&type=3

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